Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados da Ásia e do Pacífico caíram nesta quarta-feira (14), acompanhando a grande queda nos mercados dos EUA e de outras regiões no pregão de ontem (13), com os investidores reagindo ao fato de a inflação ao consumidor americano ter subido mais do que o esperado no mês de agosto. Você acredita que a tensão tenha acabado? Negativo. Conversamos diversas vezes sobre a possibilidade de a alta recente ter sido, na verdade, um “bear market rally” (uma pequena alta em meio a um mercado de baixa que renovaria suas mínimas em um segundo momento). A correção de ontem confirma a tese e gera preocupação. Os mercados europeus abrem em tom misto, sem uma única direção, mas predominantemente no negativo, corrigindo em adição o que não conseguiu cair ontem por ter fechado cedo demais. Os futuros americanos até tentam se recuperar nesta manhã (um rebound seria esperado, inclusive no Brasil), mas há tensão com relação ao índice de preços ao produtor americano, marcado para ser entregue hoje. A ver… |
00:43 — Reverberação americana e atividade aquecida |
Em terras tupiniquins, os investidores se voltam aos dados de atividade local. Ontem (13), o mercado foi agraciado por números de serviço melhores do que o esperado, tendo crescimento 6,3% na comparação anual, acima do 5,8% projetado pelo mercado. Para hoje, se esperado que as vendas no varejo tenham registrado alta em julho, com mediana das expectativas em 0,3% de crescimento na comparação mensal. Bom ou ruim? Bem, indicadores de atividade fortes reforçam a tese de um crescimento econômico robusto em 2022, depois de termos iniciado o ano bem pessimistas sobre o tema. Já temos casas esperando um PIB de +3% no consolidado do ano, o que não seria surpresa (claro, com esteroides fiscais do governo, mas está valendo). O problema é que com mais atividade vem mais inflação, o que pressiona a curva de juros. Aliás, os bancos centrais de países emergentes se veem muitas vezes “forçados” a aumentar as taxas mais do que desejam, de modo a evitar uma fuga de capitais ou uma desvalorização cambial grosseira, já que a inflação continua persistente nos EUA. Tradicionalmente, os banqueiros centrais desses países costumam seguir o Federal Reserve, o que não é o caso brasileiro desta vez, já que estamos no final do ciclo de aperto, mas ainda assim gera tensão e pressão sobre os nossos juros. |
01:36 — Uma inflação problemática |
Nos EUA, o relatório de inflação de ontem provocou a pior queda do mercado americano em um dia para os principais índices de ações desde junho de 2020, durante os primeiros meses da pandemia de Covid-19. Basicamente, foram apagados US$ 1,6 trilhão de valor de mercado, tendo sido a oitava queda de mais de 3% do S&P 500 no ano — apenas três outros anos nos últimos 70 anos caíram mais de oito vezes: 2008, 2009 e 2020 (durma com um barulho desses). O Índice de Preços ao Consumidor subiu 0,1% em agosto, enquanto se esperava uma queda de 0,1%. Esse ganho no índice no mês passado veio apesar de uma queda de quase 11% nos preços da gasolina e uma queda de 5% nos custos de energia em geral, o que significa que os preços em outras frentes subiram rápido o suficiente para superar esses declínios. Foi o caso dos preços dos alimentos, por exemplo, que subiram 0,8%. No ano, o índice normal (cheio) sobe 8,3%. E o núcleo, que exclui itens mais voláteis, como alimentos e energia? Ele não só acelerou frente à comparação anual de julho, como também veio acima do esperado, subindo 6,3% contra o mesmo período do ano passado. Os números de inflação acima do projetado lembraram os investidores de que o Federal Reserve ainda tem trabalho a fazer. A consequência foi um grande sell-off nas ações e uma forte alta nos juros — o yield de 2 anos, por exemplo, subiu para 3,75%, um aumento de mais de 3 pontos percentuais desde o início de 2022 e seu maior rendimento desde novembro de 2007. Com a taxa dos fundos federais atualmente entre 2,25% e 2,50%, o Fed claramente tem para onde caminhar, devendo subir pelo menos 75 pontos-base na reunião do final deste mês, no dia 21 de setembro, e podendo subir mais uma vez neste mesmo nível em novembro, consolidando a trajetória do aperto monetário mais agressivo das últimas décadas. Naturalmente, deveremos ter repercussão para o mundo e para as projeções de crescimento econômico, com recessão e queda dos lucros corporativos. |
02:59 — E hoje temos ao produtor… |
A verdade sobre a inflação é complexa. O processo vicioso nos preços de hoje tem implicações consideráveis para os lucros e os valuations das empresas, uma vez que pressiona as taxas de juros da economia. Basicamente, taxas de juros mais altas arrastam a economia, aumentando as chances de recessão e impactando negativamente o crescimento dos lucros. E se ontem foi o dia dos consumidores, hoje é dos produtores. O Escritório de Estatísticas do Trabalho dos EUA divulgará nesta quarta-feira o índice de preços ao produtor americano para agosto, sendo que devemos observar um aumento de 8,9% na comparação anual no índice cheio e 7% no núcleo. Se confirmados, os números representam uma desaceleração frente aos observados em julho. É um dado importante pois se verifica a necessidade de eventual repasse de preço ao consumidor por parte das empresas caso a inflação saia do controle. Possíveis surpresas hoje, assim como ontem, podem ter um efeito nocivo na tentativa de recuperação esboçada pelos mercados nesta manhã. |
03:39 — Europa em foco |
As vitórias ucranianas estão sendo bem recebidas pelos mercados europeus, apesar dos investidores por lá estarem neste momento dançando conforme a música americana. No bloco econômico, haverá divulgação hoje dos dados de produção industrial da Zona do Euro. Fora desse eixo, os mercados também digerem os dados de inflação do Reino Unido, que desaceleraram um pouco mais do que o esperado em agosto (bom sinal). De pano de fundo, a crise energética ainda impacta a realidade econômica europeia. Uma intervenção emergencial nos mercados de energia da União Europeia pode reduzir os preços, mas não os fará retornar aos níveis pré-crise ou remover o impacto sobre a inflação e a economia. Dessa forma, as medidas consideradas pela Comissão Europeia, que incluem uma redução da demanda de energia e tetos de preços nos produtos energéticos, podem ter efeito limitado para enfrentar a crise atual. |
04:16 — Um mercado de petróleo volátil |
Ontem, o mercado acompanhou o relatório da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que reiterou suas previsões de crescimento para a demanda global de petróleo em 2022 e 2023. O preço do barril caiu ontem (a necessidade de mais juros provoca recessão, o que é ruim para a demanda de commodities), mas tenta se recuperar nesta manhã, o que pode dar um fôlego para uma alta brasileira. Hoje, os investidores acompanham a publicação do relatório mensal sobre mercado de petróleo pela Agência Internacional de Energia (AIE). Ainda que a demanda esmoreça, as perspectivas para a oferta nos próximos anos ainda são bem apertadas, principalmente com o engasgo na negociação entre EUA e Irã, que reviveria o acordo nuclear de 2015, abandonado por Trump. Sem o acordo, a perspectiva de petróleo iraniano nos mercados globais fica mais fraca. |