Bom dia, pessoal.
Lá fora, as ações asiáticas ganharam espaço nesta quinta-feira (24), embora o otimismo sobre o tom mais flexível do Federal Reserve verificado na ata de ontem (desacelerar os aumentos agressivos das taxas de juros parece provável) tenha sido contrabalançado por alguma incerteza sobre as restrições do coronavírus na China.
Os mercados europeus abrem em alta apesar da menor liquidez por conta do feriado do Dia de Ação de Graças nos EUA, que fecha o mercado americano. Entre os europeus, o destaque fica por conta da ata do Banco Central Europeu. Por aqui, os investidores locais ainda acompanham as novidades de Brasília.
A ver…
· 00:24 — Na expectativa pelo hexacampeonato
No Brasil, sem agenda americana para acompanhar e ainda muito sensibilizados com os ventos vindos de Brasília, os investidores aguardam o IPCA-15 de novembro, sendo que a prévia da inflação oficial deverá apontar para uma alta de 0,54% no período, mostrando uma normalização do índice depois do choque recente de preços dos combustíveis que proporcionou uma sequência de meses de deflação — a curva indica que o mercado não acha improvável uma retomada do aperto; portanto, qualquer surpresa para cima desse número pode causar um mal estar adicional sobre os ativos.
Enquanto isso, a agenda continua em Brasília, com as indefinições do governo eleito estando no centro do debate. A PEC da Transição ficou para a semana que vem, tirando a pressão dos pregões de quinta-feira e sexta-feira. Ainda assim, a falta de clareza sobre os próximos passos deixa um clima tenso no ar. O PT e sua frente ampla correm contra o tempo para aprovar algum texto ainda este ano, mas há bastante reação contrária no Congresso (fato que pode ser lido de maneira positiva, uma vez que o legislativo, caso necessário, poderá controlar os ímpetos mais desenvolvimentistas do governo).
Se há dificuldade com o Congresso atual, imagine com o próximo, que é mais centrista, direitista e bolsonarista. Dois outros vetores positivos: i) parece que haverá dificuldades na aprovação de qualquer número acima de R$ 120 bilhões, o que é bom para a percepção de risco fiscal; e ii) Arthur Lira fechou acordo entre o PP, PL e União Brasil pela sua reeleição, já distribuindo as comissões mais importantes e excluindo o PT. Os movimentos enfraquecem as alas mais radicais e fortalecem a tese de uma necessidade de convergência ao centro por parte do governo.
Por fim, do lado negativo, temos novas turbulências desnecessárias. O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, não só negou o pedido do PL de verificação das urnas anteriores ao ano de 2020 para a anulação desses votos, como também impôs multa de quase R$ 23 milhões ao partido, o impedindo de acessar o fundo partidário até o pagamento da multa. O problema é que uma resposta agressiva como essa tão rapidamente só vai servir para piorar a situação ao redor do país. De qualquer forma, o mercado financeiro pode até fingir bem que está acompanhando Brasília, mas o dia é de jogo da seleção brasileira. Foco total.
· 01:56 — O feriado americano
Nos EUA, as autoridades do Fed estão se mostrando cada vez mais dispostas a desacelerar o ritmo de aumentos nas taxas de juros, tese que foi fortalecida depois da leitura das atas divulgadas na tarde de ontem sobre a última reunião de política monetária do Comitê Federal de Mercado Aberto (1 e 2 de novembro). Basicamente, segundo o documento, uma maioria de participantes julgou que uma desaceleração no ritmo de aperto provavelmente seria apropriada em breve.
O entendimento foi visto como um sinal dovish (flexível) pelos investidores, jogando as ações para cima após a divulgação da ata. Adicionalmente, os pedidos iniciais de auxílio-desemprego foram piores do que o esperado e chegaram ao nível mais alto desde agosto — sabemos que qualquer arrefecimento no mercado de trabalho daria ao Fed mais espaço para iniciar o seu tão esperado pivô. Contudo, vale ressaltar que os juros ainda vão subir, ainda que menos agressivamente.
Nesta quinta-feira, os mercados dos EUA estão fechados para o Dia de Ação de Graças, sendo que as bolsas de valores americanas voltam amanhã, mas com horário de negociação reduzido, fechando às 13h. O período de Black Friday pode ser interessante para o varejo (o início da temporada de compras natalinas é sempre importante), ainda que o consumo possa estar mais modesto por conta da inflação e dos juros.
· 02:50 — As movimentações inglesas
Em dia de apresentação da ata do Banco Central Europeu, que será importante para o entendimento de para onde vai a política monetária europeia (há uma divisão interna entre membros mais hawkish e outros mais dovish), os investidores internacionais também se debruçam sobre as falas das autoridades monetárias britânicas — vários funcionários do Banco da Inglaterra falam com o mercado hoje. As falas são particularmente importantes agora diante da expectativa com o premiê Sunak.
O governo inglês, depois do choque recente com Liz Truss, tem trabalhado para recuperar sua credibilidade. Agora, a expectativa do mercado é por um novo pacote de ajuda energética para empresas (os acordos de flexibilização atual acabam em abril). O tempo passa e acabamos por esquecer muitas vezes que a Europa vive hoje o seu momento mais dramático em muitas décadas do ponto de vista energético. A solução de curto prazo pode ser custosa, o que afeta os juros e, consequentemente, os ativos.
· 03:27 — Abre e fecha
Na China, o número de casos Covid-19 atingiu um recorde. Em resposta ao receio de novo impacto econômico, os formuladores de políticas monetária sinalizaram uma possível flexibilização por parte do banco central, mas é o medo do vírus que está incentivando a poupança preventiva dos consumidores domésticos, reduzindo o consumo. A flexibilização das políticas monetária pode não ter efeito sobre esse medo.
Ao mesmo tempo, se os últimos pregões o investidor pareceu estar evitando ativos de risco e as commodities, a quinta-feira serviu para dar um alívio. O próprio FMI espera que o crescimento da China acelere no ano que vem, apesar de ter revisado para baixo as projeções de crescimento para 2022. Sim, enquanto as restrições continuarem, o sentimento continuará ofuscado. Mas isso pode mudar em 2023.
· 04:01 — Nove meses de guerra
Hoje chegamos ao aniversário de nove meses da invasão russa à Ucrânia, um contexto consideravelmente diferente daquele que os líderes russos, inclusive Vladimir Putin, entendiam como o mais provável (boa parte dos especialistas pensavam que Kiev cairia em questão de dias, o que não foi o caso). A guerra está se arrastando por meses e ainda não há expectativa para acabar, pelo menos não tão cedo.
O fracasso militar da Rússia foi proporcionado pela resistência militar ucraniana, munida de armas ocidentais e sanções econômicas sobre o gigante eurasiano. Ainda assim, ainda que as sanções tenham parecido pesadas, estão demorando para dar frutos. Para se ter uma ideia, a Rússia ainda está extraindo quase tanto petróleo quanto antes da guerra, vendendo seu petróleo com grandes descontos na Ásia.
Agora, porém, suas vendas de petróleo estão finalmente começando a ser limitadas ou proibidas de forma mais ampla em todo o mundo. As sanções estão tirando a vida da economia da Rússia, o que plausivelmente deixou os russos comuns cada vez mais insatisfeitos com a loucura de Putin. De qualquer forma, Putin pode estar perdendo, mas a guerra e a crise dela derivada continuarão por mais tempo.
Um abraço,
Matheus Spiess