Bom dia, pessoal. Lá fora, a maioria das ações asiáticas caiu ainda mais nesta terça-feira, com o índice da Coreia do Sul despencando depois de uma leitura suave do PIB — a economia sul-coreana quase não evitou uma recessão no primeiro trimestre de 2023. Embora os gastos dos consumidores tenham ajudado a tirar o PIB do território negativo, o investimento em capital fixo e a atividade manufatureira no país continuaram a enfraquecer, indicando mais dificuldades econômicas. É um sinal negativo para economias emergentes.
Paralelamente, o desempenho de ontem das ações de tecnologia dos EUA foram espalhados pelos mercados regionais asiáticos em meio a preocupações com uma desaceleração nos lucros. Finalmente, o Japão era um dos poucos que conseguia subir com o novo presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda, reiterando que o banco manterá sua política dovish no curto prazo — os comentários vêm antes da reunião do BoJ na sexta-feira. Ativos europeus e futuros americanos caem nesta manhã.
A ver…
· 00:46 — Medindo as palavras
No Brasil, estamos acompanhando a nossa própria temporada de resultados, com os grandes bancos começando a relatar seus números para o trimestre com o Santander. Além disso, alguns indicadores de preços mais secundários conseguem lugar na agenda do dia, podendo nivelar um pouco mais as expectativas para o IPCA-15 de abril, a ser divulgado amanhã (26).
Contudo, o principal vetor do dia deverá ser a participação de Roberto Campos Neto, o presidente do BC, na audiência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal. Na ocasião, a autoridade poderá detalhar sua atuação e explicar a razão dos juros elevados no Brasil. Isso ocorre depois de Lula voltar a provocar a instituição. Se ele mantiver a ponderação, as coisas não devem sair do controle.
Eventualmente, caso algum comentário seja interpretado como afrontoso ou mais hawkish, o mercado poderá se incomodar, temendo que voltemos a ter conflitos mais diretos entre Poder Executivo e Banco Central, como aconteceu em fevereiro. O arcabouço é peça-chave para a redução dos juros no Brasil. Sobre o tema, uma notícia positiva: o relato do projeto na Câmara que manter as regras de enforcement atuais, de acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal. O mercado deve gostar.
· 01:46 — Digerindo os resultados
Nos EUA, as ações tiveram um dia misto ontem, com os investidores ansiosos diante de uma semana repleta de resultados corporativos. Cerca de 170 empresas do S&P 500 devem apresentar relatórios trimestrais, incluindo muitas das maiores empresas do mercado. Sim, a temporada de resultados teve um começo forte, pelo menos em relação às expectativas. No total, as empresas superaram as estimativas de consenso de Wall Street em quase 8%, em comparação com uma média de 4% desde 1994.
Contudo, isso não significa que os números sejam bons. Até agora, o lucro por ação das empresas do S&P 500 caiu 4,7% em relação ao trimestre do ano anterior, com um aumento de 1,9% na receita. Para hoje, contamos com nomes como 3M, Alphabet, General Electric, General Motors, Kimberly-Clark, McDonald’s, Microsoft, Moody’s, PepsiCo, Raytheon Technologies, Verizon Communications, e Visa. Fora isso, ainda temos o Índice de Confiança do Consumidor para abril e dados do setor imobiliário.
· 02:32 — O clima na Europa
No velho continente, vários membros do Banco Central Europeu (BCE) têm sinalizado uma alta de juros na próxima semana, com a possibilidade de uma alta de 50 pontos-base. A ideia aqui é a de combater continuamente a inflação na região, movimento que fortalece o euro frente ao dólar, ainda que esperemos mais uma alta de 25 pontos-base nos EUA. O aperto monetário está pressionando as ações hoje.
Adicionalmente, agora no Reino Unido, os investidores se debruçam sobre os dados de empréstimos do governo. É o detalhe das finanças públicas do Reino Unido que interessa a alguns agentes, principalmente depois do desastre chamado Liz Truss — as receitas fiscais tendem a surpreender positivamente desde a pandemia. Os britânicos estão adiantados em várias frentes, servindo de proxy para outros players.
· 03:10 — O ritmo do petróleo
Apesar de recuar levemente nesta manhã, o petróleo subiu na terça-feira, apoiado pelo otimismo dos investidores de que as viagens de férias na China aumentariam a demanda por combustível e pelas expectativas de que os estoques dos EUA poderiam apresentar uma queda no último período de referência.
As reservas na China para viagens ao exterior durante o próximo feriado de 1º de maio apontam para uma recuperação contínua nas viagens para países asiáticos, enquanto os estoques de petróleo dos EUA devem cair 1,7 milhão de barris nos relatórios semanais de oferta. Com isso, o petróleo se mantém por volta de US$ 83 por barril.
A demanda global por petróleo, ajudada pelo início da temporada de condução nos EUA e pelo renascimento econômico chinês, aumentará e atingirá novos picos. Adicionalmente, a produção da Opep+ permanecerá moderada e poderá se deteriorar ainda mais. Dessa forma, é possível ser construtivo para o preço do petróleo.
· 04:01 — Notícias ruins finalmente se tornaram notícias ruins
Houve uma mudança na perspectiva do investidor: más notícias não são mais boas notícias. No ano passado, Wall Street esperava por dados econômicos mensais mais fracos que pudessem encorajar o Federal Reserve a interromper seu ritmo agressivo de aumentos das taxas de juros para domar a inflação.
Agora que o banco central sinalizou que planeja interromper o aumento das taxas ainda este ano, os investidores pararam de tentar adivinhar o próximo movimento do Fed e se voltaram para a saúde da economia.
Isso significa que, enquanto a suavização dos dados econômicos costumava sinalizar boas notícias (que o Fed poderia potencialmente parar de aumentar as taxas), agora, as impressões econômicas mais frias simplesmente sugerem que a economia está enfraquecendo.
Isso deixa os investidores preocupados com a possibilidade de a economia em desaceleração cair em recessão. Agora que o mercado está no modo “más notícias são más notícias e boas notícias são boas notícias”, ele buscará sinais de que a economia continua robusta.