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Mercado em 5 minutos

Nesta quarta-feira (5), Roberto Campos Neto traz percepções sobre o arcabouço fiscal e, lá fora, investidores aproveitam alta dos mercados para embolsar lucro

Confira os principais tópicos para ficar de olho hoje

Por Matheus Spiess

05 abr 2023, 08:48 - atualizado em 05 abr 2023, 08:48

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam mistos nesta quarta-feira (5), acompanhando os sinais predominantemente negativos de Wall Street durante o pregão de ontem (4), com os investidores aproveitando a recente alta dos mercados para realizar lucros por conta das preocupações sobre as perspectivas econômicas globais.

O receio com qualquer aperto agressivo do Fed dos EUA desapareceu depois que os dados mostraram uma queda nas vagas de emprego e uma queda na atividade manufatureira. Agora, os investidores aguardam pelo relatório mensal de empregos na sexta-feira, que pode impactar as perspectivas para as taxas de juros e a economia.

Os mercados europeus estão apresentando fragilidade nesta manhã, sem uma única direção, enquanto os futuros americanos caem. Há alguma expectativa pelos dados de atividade da Zona do Euro e de outros países (China), sem falar nos EUA. Os números medem a chance de uma recessão global, que poderá afetar o humor no Brasil.

A ver…

· 00:36 — O espaço para otimismo

Por falar no Brasil, em mais um dia de agenda esvaziada, os investidores acompanham a fala da manhã de Roberto Campos Neto, presidente do BC, em evento do Bradesco BBI. Será a primeira vez que Campos Neto poderá explorar um pouco mais as próprias percepções sobre o arcabouço fiscal apresentado, uma peça importante para a queda da Selic nos próximos meses. Ontem, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou no mesmo evento e deu algumas percepções mais positivas.

Segundo ele, há espaço para crescimento no Brasil caso o reequilíbrio das contas públicas com o novo arcabouço fiscal seja combinado por uma boa política de crédito e queda dos juros. Precisa combinar com as expectativas e com o Congresso, uma vez que tudo depende de mais arrecadação. De onde virá o dinheiro? Ainda não sabemos, mas Haddad precisa de uns R$ 150 bilhões para zerar o déficit público. A Reforma Tributária ainda neste ano será fundamental para o processo.

O grande ponto é que o texto não tem tempo a perder. Se deixarmos para o ano que vem, eleitoral, podemos perder a melhor janela em 30 anos para aprovar uma Reforma Tributária que consiga combater distorções no imposto de renda, na matriz de subsídios e nas perversões sobre consumo — para o último ponto, a criação de um IVA será o mais importante, mas sabemos que o ponto é polêmico. De fato, há um encadeamento positivo, mas será difícil o mercado comprar a ideia cegamente.

· 01:34 — A preocupação com a atividade

Nos EUA, as preocupações com a desaceleração da economia americana interromperam ontem a sequência de alta de quatro dias para o S&P 500. Os culpados foram os últimos dados de manufatura e abertura de empregos. Começando pelo primeiro, o PMI industrial caiu para 46,3 – o menor desde maio de 2020 e a quarta leitura consecutiva abaixo de 50, indicando contração no setor manufatureiro.

Para piorar, a Pesquisa de Vagas de Emprego e Rotatividade de Mão de Obra de fevereiro (ou Jolts), mostrou um declínio acentuado nas vagas de emprego. O mercado antecipava 10,45 milhões de vagas de emprego no último dia útil de fevereiro, o que seria quase 400 mil a menos do que em janeiro. Em vez disso, os dados mostraram uma queda muito maior para 9,9 milhões, com quedas em todos os setores.

Isso se compara a cerca de 12 milhões de vagas de emprego no pico de março de 2022, tendo sido a leitura mais baixa desde maio de 2021 — para contextualizar, o recorde pré-pandêmico de vagas de emprego foi de cerca de 7,5 milhões. O Federal Reserve espera um mercado de trabalho mais fraco, que exerça menos pressão sobre a inflação e permita flexibilização da política monetária, ou ao menos do discurso.

O modelo GDPNow do Fed de Atlanta agora prevê que o produto interno bruto real dos EUA expandiu a uma taxa anual de 1,7% no primeiro trimestre. Não é um crescimento ruim, mas está abaixo da estimativa de cerca de 3,5% de algumas semanas atrás. Para complementar a percepção, temos que acompanhar os relatórios de empregos desta semana, culminando nos dados de payroll de sexta-feira.

· 02:30 — O futuro de Trump

A terça-feira foi um dia histórico para os EUA. Pela primeira vez na história, um ex-presidente compareceu como réu criminal em um tribunal. Donald Trump foi acusado de 34 crimes de falsificação de registros comerciais em sua acusação no Tribunal Criminal de Manhattan, das quais ele se declarou inocente de cada um deles.

Já sabíamos que Trump havia sido indiciado, mas não as acusações específicas contra ele, que foram mantidas sob sigilo até ontem. O caso é extremamente complexo, mas o ex-presidente é essencialmente acusado de classificar falsamente registros comerciais para contornar as leis de financiamento de campanha.

Para que as acusações passem de contravenção para crime, os promotores devem mostrar que o réu falsificou registros comerciais com a intenção de cometer ou ocultar um crime separado — um pagamento de US$ 130 mil que o ex-advogado de Trump, Michael Cohen, enviou à uma atriz de filmes adultos em troca de silêncio sobre seu suposto caso com Trump. Não tão bom para um representante “conservador”.

É importante porque Trump é pré-candidato à presidência dos EUA nas eleições do ano que vem. O ex-presidente se diz vítima de uma “caça às bruxas” dos democratas, que gostaria de o ver fora da corrida eleitoral. A equipe jurídica de Trump usará várias táticas para tentar descartar este caso antes mesmo de ir a julgamento. Se for à julgamento, serão necessários meses. Nada trivial para os republicanos.

· 03:35 — Os dados europeus

O velho continente está oferecendo hoje ao mercado algumas informações sobre o setor manufatureiro. Entre outros indicadores, destaque para as encomendas de fábricas alemãs e produção industrial francesa — o primeiro veio acima do esperado, enquanto o segundo veio mais fraco do que as projeções. Não sabemos se a manufatura seria representativa da economia como um todo (hoje, a demanda por bens está moderada), mas uma sinalização econômica definitivamente ela é.

Uma razão para desacelerar a demanda de bens manufaturados é a retomada da demanda por serviços. Vale lembrar que, com a reabertura, as pessoas passaram a se valer novamente de viagens de férias, bares e restaurantes. Por isso é importante ouvir também as autoridades monetárias sobre os dados, como o economista-chefe do BCE, Philip Lane, que fala hoje. Se acompanhar o economista-chefe do Banco da Inglaterra, Huw Pill, haverá espaço para que a expectativa por mais juros seja mantida viva.

· 04:11 — Dentro da OTAN

Como conversamos ontem, a Finlândia se juntou oficialmente à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), tornando-se a 31ª nação a se juntar à maior aliança militar do mundo, dobrando a fronteira da OTAN com a Rússia, exatamente o contrário do que Putin queria com sua invasão ao território Ucraniano. 

Fundada em 1949, a OTAN foi formada para servir de contrapeso contra a influência da União Soviética. Agora, a chegada da Finlândia, que se manteve neutra em relação aos russos desde a Segunda Guerra Mundial, destaca o quanto o Kremlin se isolou da Europa.

Quem é o próximo? A Suécia. O problema é que a candidatura do outro país nórdico vem sendo barrada pela Turquia, membro da OTAN, que diz que Estocolmo ainda não fez o suficiente para reprimir os grupos terroristas curdos que estão em guerra com o governo turco.

A Turquia abandonou objeções semelhantes sobre a Finlândia recentemente, mas ainda pressiona a Suécia. Entende que o presidente turno, Recep Erdoğan, esteja usando a questão para conquistar popularidade para as eleições neste ano (a situação econômica e a resposta aos terremotos o deixaram em maus lençóis). Questões geopolíticas fazem cada vez mais parte do dia a dia dos investidores, algo que deverá se aprofundar nos próximos anos, inclusive.

Um abraço,

Matheus Spiess

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.