Bom dia, pessoal.
Lá fora, os mercados asiáticos encerraram o dia predominantemente em baixa nesta quinta-feira (10), seguindo as movimentações negativas dos mercados globais durante o pregão de ontem (9), com o dólar mais forte pesando sobre os preços do petróleo bruto e sobre a maioria de seus principais rivais asiáticos. Os investidores também estão cautelosos antes da divulgação dos dados cruciais da inflação dos EUA, que podem ter um impacto significativo nas perspectivas de aumento das taxas de juros.
Os mercados europeus caem nesta manhã, enquanto os futuros americanos até conseguem sustentar uma modesta alta, pelo menos por enquanto. O dia, além dos dados de inflação, também reserva o boletim econômico do Banco Central Europeu (BCE), que poderá contar um pouco mais sobre a percepção da autoridade monetária do velho continente sobre a situação econômica atual. O Brasil ainda acompanha a sua dinâmica política, com investidores também aguardando dados de inflação local.
A ver…
00:40 — Entre dados de inflação e incertezas políticas
Por aqui, contamos com os dados de inflação oficial (IPCA) do mês de outubro, que deverá registrar o primeiro período sem deflação depois de três meses. O mercado espera uma alta de 0,49% na mediana das expectativas, frente à queda de 0,29% em setembro. Vale reforçar que, ainda que haja inflação no mês, o acumulado de 12 meses deverá continuar cedendo. Eventuais surpresas podem afetar os vértices mais curtos da curva, podendo fazer com que o BC mantenha os juros altos por mais tempo.
Enquanto isso, no ambiente político, a conversa entre Lula-Alckmin e os presidentes dos demais poderes foi bem recebida, ainda que reserve mais incertezas do que qualquer outra coisa. A ideia é que haja realmente uma PEC de Transição para ajustar o Orçamento de 2023. Como envolve o fiscal, o nosso calcanhar de Aquiles, a chance de um esgarçamento muito grande do teto assusta o mercado. Mais do que o gasto adicional em 2023, o governo tem que apresentar logo uma nova âncora fiscal.
01:25 — O Bradesco pesou
Ontem, a queda bruta das ações do Bradesco contaminou o setor e, consequentemente, o Ibovespa, muito pesado no setor financeiro, como dissemos que era mais provável de acontecer. A temporada de resultados tem se mostrado difícil para os bancos, com Santander e Bradesco frustrando as expectativas. Ao mesmo tempo, os números do Banco do Brasil não foram lá tão ruins, sentimento que também deverá ser registrado no resultado do Itaú, a ser divulgado esta noite (também importante).
Para que o valor de mercado perdido tenha sido de mais de R$ 30 bilhões, algo muito errado teria que ter acontecido sobre os números do Bradesco, devendo ser provavelmente um caso mais isolado do que semelhante aos seus pares. Entretanto, a piora no indicador de inadimplência, o aumento das provisões e projeções deterioradas podem ser uma nova normal para 2023, quando os efeitos de uma taxa de juros mais alta já estarão tomando forma na economia brasileira.
02:06 — Preços americanos
Os investidores internacionais prestarão atenção nos números de inflação americana hoje, que devem registrar alta de 0,6% no mês, ou 8% em relação ao ano anterior. O dado vem depois de um aumento de 0,4% em setembro. O núcleo, que exclui os componentes mais voláteis do índice, como alimentos e energia, deve subir 0,5% em outubro e 6,5% em relação ao ano anterior.
Entre os investidores, as apostas são altas para que os dados indiquem uma desaceleração na taxa do núcleo da inflação. Claro, o ritmo dos aumentos de preços continua muito alto, mas uma desaceleração pode levar o Federal Reserve a um aumento menor da taxa de juros em sua reunião de dezembro. As probabilidades implícitas são aproximadamente iguais entre um aumento de 50 e 75 pontos-base.
Eventuais surpresas negativas, porém, com a inflação vindo acima do esperado, não só aumentará a chance de uma continuidade de aperto monetário mais agressivo, mas também provocará uma correção nos mercados. De qualquer forma, o conjunto de números desta semana não representará a última palavra antes da próxima reunião de dezembro. Os desdobramentos afetam os mercados globais.
03:10 — Uma derrota para o trumpismo
O controle dividido de Washington pelos próximos dois anos continua sendo o resultado mais provável nas eleições de meio de mandato, com os republicanos devendo carregar a Câmara dos Deputados, ainda que por uma só cadeira (219 das 218 necessárias para uma maioria). O Senado continua incerto e o segundo turno na Geórgia poderia eventualmente construir uma maioria republicana por lá também, mas apenas por uma cadeira. Ainda assim, o resultado é muito aquém do esperado pelos republicanos.
Dentro do partido, a narrativa de derrota do trumpismo já é construída, enquanto a ala associada a Ron DeSantis, governador republicano da Flórida, se mostrou vitoriosa para uma possível campanha presidencial para 2024 (as primárias deverão ser disputadas contra Trump a partir do ano que vem). Considerando a situação econômica e a vulnerabilidade dos democratas para essas eleições, o partido republicano perdeu uma excelente oportunidade de esterilizar de maneira mais efetiva o presidente Biden.
O mercado costuma valorizar governos divididos, que poderiam oferecer poucas mudanças políticas importantes ou eventuais revisões no código tributário — um governo dividido significa que os dois partidos terão que trabalhar juntos, já que os democratas ainda mantêm o controle da Casa Branca. Ao mesmo tempo, uma Câmara controlada pelos republicanos significa que outro estímulo fiscal ou lei de alívio é improvável, como seguro-desemprego expandido ou ajuda a pequenas empresas.
Vale notar que no ano seguinte a cada eleição de meio de mandato desde 1950, o S&P 500 subiu, não importa qual partido tenha vencido. Aliás, dados desde 1932 mostram retornos médios anuais do S&P de 13% quando há um Congresso controlado pelo Partido Republicano sob um presidente democrata, comparado a 10 % quando os democratas têm ambos. Claro que o momento atual é muito diferente de tudo o que já vivemos, o que pode mudar o resultado, mas a sinalização histórica é importante.
04:15 — Momento Lehman
O mercado cripto está passando por seu momento mais delicado em muito tempo. A exchange de criptomoedas FTX, que no passado recebeu financiamento de empresas gigantes como BlackRock, SoftBank, Temasek e Tiger Global, pode ser forçada a declarar falência se não receber uma injeção de capital novo. A crise de liquidez na empresa contaminou o humor dos investidores e abalou os ativos digitais — nem a Binance, a maior exchange do mundo, parece disposta a comprar a FTX (o acordo seria mais um resgate).
E o que aconteceu?
As questões recentes giravam em torno do balanço da Alameda, empresa ligada à FTX, que teria uma quantidade muito grande de tokens FTT, nativos da corretora, em uma posição altamente ilíquida — como a Alameda está envolvida com inúmeros projetos, os investidores ficaram com medo, principalmente depois que o CEO da Binance, Changpeng Zhao (CZ), disse que venderia sua posição milionária em FTT. Nasceu então a preocupação de que a FTX talvez não tivesse reservas suficientes para honrar os saques de seus clientes, em uma situação de insolvência.
É uma reversão impressionante da sorte para uma das exchanges mais populares do setor, dado o fato de que FTX e Alameda resgataram vários players de criptomoedas no passado, incluindo BlockFi, Voyager Digital e Celsius. O futuro ainda é incerto. Não sabemos se a FTX será salva ou o que esperar do futuro da plataforma. O movimento deverá esterilizar a agitação do mercado cripto por algum tempo, ao mesmo tempo que nos lembra o quão importante é mandar os investimentos cripto em uma wallet sua.
Um abraço,
Matheus Spiess