Investimentos

No Brasil, semana é marcada por IPCA de junho e formalização do corte de gastos; confira

Nos EUA, são aguardados o CPI de junho e o início da temporada de resultados corporativos.

Por Matheus Spiess

08 jul 2024, 08:26 - atualizado em 08 jul 2024, 08:26

calendário de dividendos

Bom dia, pessoal. A semana passada foi marcada por um desempenho positivo nos mercados globais, impulsionado pelas declarações de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, que destacou avanços importantes no combate à inflação.

Embora Powell não tenha definido uma data específica para o início dos cortes nas taxas de juros, as expectativas do mercado apontam para uma possível redução em setembro.

Essa perspectiva foi reforçada pela divulgação do relatório de empregos de junho nos EUA, que, apesar de ter superado ligeiramente as expectativas, apresentou revisões para baixo nos dados de abril e maio, além de um aumento na taxa de desemprego.

Esses fatores indicam que o Fed pode estar se aproximando do primeiro corte de juros. Os dados de inflação que serão divulgados nesta semana são aguardados com grande expectativa, pois podem fortalecer ainda mais a expectativa de corte de juros.

Na Europa, os mercados financeiros abriram em alta hoje, apesar dos resultados das eleições legislativas francesas que levaram a uma coalizão de esquerda a ganhar terreno. No entanto, a França não conseguiu formar uma maioria coesa, o que sugere que, mesmo com um possível primeiro-ministro de esquerda, o país pode enfrentar um período de paralisia governamental nos próximos dois anos.

Na Ásia, a maioria das bolsas de valores fechou em baixa nesta segunda-feira, com os mercados chineses liderando as perdas devido às preocupações contínuas sobre uma guerra comercial com o Ocidente.

Simultaneamente, os futuros do mercado americano estão em queda, indicando uma possível continuidade da cautela entre os investidores.

Por aqui, a grande dúvida é se a paz que vimos da quarta-feira passada em diante vai durar.

A ver…

· 00:56 — Ainda há espaço para melhorar, apesar do presidente

No Brasil, o cenário dos mercados financeiros se estabilizou após duas semanas de intensas tensões no câmbio e nos juros futuros.

A mudança de postura do governo e o anúncio de um corte de quase R$ 26 bilhões em despesas do Orçamento do próximo ano, com o objetivo de cumprir a meta fiscal, contribuíram significativamente para esse alívio.

No entanto, persiste a incerteza sobre a continuidade dessa abordagem mais conciliatória. Um exemplo disso foi a declaração do presidente Lula, após o fechamento do mercado na sexta-feira, indicando uma falta de preocupação em alocar recursos para gerar superávit primário, contrariando os compromissos fiscais estabelecidos.

Se essas declarações problemáticas continuarem, novas turbulências poderão surgir. Uma escalada no dólar e nos juros, impulsionada por tais declarações, teria repercussões negativas para toda a economia brasileira, não apenas para o mercado financeiro. É fundamental que a equipe econômica oriente o presidente sobre a gravidade disso.

Esta semana será crucial para a política econômica, com a formalização dos cortes de gastos prometidos recentemente.

Em Brasília, ainda há incertezas sobre como esses ajustes serão implementados. A ministra do Planejamento, Simone Tebet, destacou a necessidade urgente de revisar as concessões fiscais, que aumentaram de 2% para 6% do PIB.

Tais medidas visam estabilizar as expectativas do mercado. Um marco esperado para agosto é a nomeação oficial do presidente do Banco Central.

Enquanto isso, a agenda legislativa se intensifica com a proximidade do recesso parlamentar, que começa em 17 de julho, com a expectativa de que a regulamentação da reforma tributária seja votada ainda esta semana.

Além disso, dados econômicos importantes serão divulgados: o IPCA de junho na quarta-feira, as vendas do varejo na quinta-feira e o volume de serviços na sexta-feira, oferecendo um panorama econômico atualizado.

· 01:47 — A semana dos dados de inflação

Na semana passada, nos EUA, os índices S&P 500 e Nasdaq atingiram novos recordes no fechamento de sexta-feira. O mercado reagiu positivamente ao resultado do payroll de junho, que mostrou a criação de 206 mil empregos, superando a previsão de 190 mil.

No entanto, os dados de abril e maio foram revisados para baixo em 111 mil, sinalizando um possível arrefecimento da economia.

Essa revisão abriu caminho para o Federal Reserve considerar cortes nas taxas de juros em breve, com a probabilidade de uma redução de 25 pontos-base em setembro estimada em 70%.

Esta semana traz outro indicador crucial: o índice de preços ao consumidor de junho, que será divulgado na quinta-feira. Além disso, a temporada de resultados corporativos começa na sexta-feira com os grandes bancos apresentando seus números. As expectativas atuais indicam um crescimento dos lucros de 10,1% para as empresas do S&P 500 no trimestre. Surpresas positivas nos resultados corporativos, especialmente se acompanhadas de dados de inflação desacelerando ou abaixo do esperado, podem impulsionar ainda mais o mercado. O mercado americano não para.

· 02:35 — O carro oficial do governo chinês

Pela primeira vez, os veículos da americana Tesla foram incluídos na lista de compras do governo chinês. A Tesla é a única marca de automóveis elétricos de propriedade estrangeira presente no catálogo de compras divulgado pelo governo da província de Jiangsu, no leste da China. Outras marcas mencionadas incluem a Volvo, pertencente à chinesa Geely e a estatal SAIC, também chinesa.

Essa inclusão permite que agências governamentais e grupos públicos da província adquiram veículos Tesla como carros de serviço, evidenciando a relação positiva que a China mantém com a empresa de Elon Musk. A Tesla, que possui uma gigantesca fábrica em Xangai, produziu cerca de 947 mil carros na China em 2023, com a maioria desses veículos sendo utilizada localmente. Essa medida pode ser uma estratégia para abordar as preocupações sobre o crescimento da empresa.

· 03:22 — A preocupação fiscal é global

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que os Estados Unidos estão enfrentando déficits elevados e uma carga excessiva de dívida, ressaltando os perigos das políticas comerciais cada vez mais agressivas do país. Embora tenha descrito a maior economia do mundo como “robusta, dinâmica e adaptável”, o fundo fez críticas ao quadro fiscal dos EUA. O problema é que ninguém parece ligar para isso, com ambos os candidatos presidenciais tendo aumentado trilhões ao déficit nacional durante seus mandatos (tanto Biden quanto Trump adotaram posturas expansionistas, o primeiro através de gastos e o segundo por meio de cortes de impostos).

Os EUA devem gastar US$ 892 bilhões em pagamentos de juros no atual ano fiscal, superando os gastos com defesa. Esse número deve ultrapassar US$ 1 trilhão em 2025, valor próximo ao orçamento total do Medicare. Como discutido anteriormente, Niall Ferguson argumenta que o aumento descontrolado dos gastos com dívida historicamente representa a decadência de um império. O próprio Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, expressou preocupação com a política fiscal, afirmando que a trajetória de endividamento é insustentável. É importante lembrar que déficits elevados também podem exacerbar problemas inflacionários para o banco central.

· 04:19 — Surpresa na França

O segundo turno das eleições francesas surpreendeu a todos no fim de semana. A coligação de esquerda Nova Frente Popular (NFP) ficou em primeiro lugar, com 182 assentos na Assembleia Nacional. A coalizão centrista Juntos, liderada pelo presidente Macron, veio em seguida, com 168 cadeiras. A extrema-direita, representada pela Reunião Nacional e seus aliados, obteve 143 assentos. Embora o partido de Le Pen tenha quase dobrado sua participação no parlamento, o terceiro lugar foi uma grande decepção para seus apoiadores. O partido de Marine Le Pen recebeu, de longe, o maior número de votos, mas a concentração desses votos em algumas regiões limitou o número de parlamentares eleitos, na eleição com maior participação desde 1981.

Como consequência, o primeiro-ministro da França, Gabriel Attal, anunciou que apresentará seu pedido de renúncia (ele deve ficar no cargo até um sucessor ser escolhido). A estratégia de Macron parece ter funcionado, apesar de ainda ter que lidar com um parlamento altamente fragmentado. O próximo primeiro-ministro provavelmente será da Nova Frente Popular, de esquerda, mas enfrentará dificuldades para implementar qualquer programa de governo. Vale lembrar que, como mencionei na semana passada, uma maioria ampla da direita ou da esquerda não seria bem recebida pelo mercado, devido ao quadro fiscal francês e ao risco de revisão das reformas pró-mercado. Com isso, a França entrou em um ciclo de paralisia governamental que provavelmente perdurará até as eleições presidenciais de 2027.

· 05:04 — O simples também é bom

Às vezes, a melhor regra para investir é optar pelo simples. Atualmente, há uma vasta gama de instrumentos financeiros para diversos objetivos, seja para gerar renda ou obter exposição a ativos específicos. Muitos desses produtos vêm acompanhados de um marketing inteligente e agressivo, fazendo-os parecer oportunidades imperdíveis. Isso pode levar investidores a complicarem excessivamente seus portfólios, quando frequentemente há soluções mais simples e eficazes.
Um exemplo disso são as…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.