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Mercado em 5 minutos

Notícias vindas de Brasília e da China deixam mercado com o ‘pé atrás’; veja os destaques desta terça-feira (15)

Renúncia do CEO da Eletrobras, conflito entre Haddad e Lira e atual cenário desafiador do Ibovespa, com 10 pregões seguidos em queda, deixam mercado receoso; saiba mais

Por Matheus Spiess

15 ago 2023, 09:03 - atualizado em 15 ago 2023, 09:03

brasília mercado ibovespa
Imagem: Unsplash

Bom dia, pessoal. No cenário internacional, as ações europeias caem na manhã desta terça-feira, influenciadas pelo corte inesperado da taxa de empréstimo de um ano realizado pelo banco central chinês. Esse movimento visa apoiar a economia estagnada do país. Na Ásia, o dia foi caracterizado por desafios consideráveis, especialmente na China, mesmo com os dados do PIB japonês do segundo trimestre superando as expectativas. Enquanto isso, os investidores estão absorvendo as informações sobre o mercado de trabalho no Reino Unido. A pesquisa ZEW, que avalia o sentimento econômico na Alemanha e na União Europeia, também está no radar do mercado.

Os futuros dos mercados americanos estão igualmente em declínio, refletindo a atual onda de pessimismo global. Um dos principais fatores é a segunda redução da taxa de juros na China em três meses. Os receios de que a economia chinesa não alcance a meta de crescimento de 5% do PIB e possa ter um impacto negativo no crescimento global estão exercendo pressão sobre as commodities. No momento, o preço do barril de petróleo está em queda, enquanto o preço do minério de ferro está em ascensão. No contexto brasileiro, a situação não se apresenta mais fácil após uma sequência de dez quedas consecutivas no mercado, especialmente devido ao ambiente político que voltou a criar obstáculos para os negócios.

A ver…

· 00:53 — Desavenças políticas e montanha-russa no mercado financeiro

Hoje, fomos surpreendidos pela renúncia do CEO da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr., o qual assumiu novamente o comando da empresa há aproximadamente um ano após o processo de privatização. Essa mudança de liderança ocorre em meio a desentendimentos com o Conselho de Administração, que busca uma reaproximação com o governo. Tendo em vista as críticas recentes do governo Lula à privatização, essa troca de comando sinaliza um cenário negativo. É provável que em breve ocorra um aumento na representação do governo no Conselho da companhia, o que pode gerar uma reação negativa imediata no mercado.

Além disso, houve um conflito público entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Arthur Lira, relacionado à taxação de empresas e fundos offshore. Haddad expressou sua frustração com o poder do Congresso de forma pública, resultando em uma reação negativa por parte dos parlamentares, que anteriormente o apoiavam. Apesar de ter se retratado posteriormente, o impacto já havia sido causado. Essa situação contribui para a possibilidade de adiamento do arcabouço fiscal, que deveria ter sido votado antes do recesso, possivelmente sendo postergado para o final do mês, próximo ao prazo de envio do Orçamento ao Congresso. Péssimo.

Esses acontecimentos se somam a um cenário já desafiador, no qual o Ibovespa enfrenta sua mais longa sequência de quedas recentes, acumulando 10 dias consecutivos de desvalorização. Embora a amplitude desse movimento não seja tão expressiva quanto em momentos anteriores, a marca histórica chama a atenção (superando o recorde anterior de nove sessões consecutivas de queda em 12 de agosto de 1998, pouco antes da Crise da Rússia). Agora, resta aguardar se a reforma ministerial será capaz de estancar essa tendência negativa, permitindo um retorno ao ciclo de redução das taxas de juros.

· 01:59 — Espaço para mais gente

Apesar de ter sido historicamente uma das principais opositoras à expansão do BRICS, a Índia cedeu às pressões recentemente e sinaliza, durante as negociações no grupo, sua disposição para aceitar a adesão de novos membros. Esse movimento é notável considerando que, por um longo período, a China tem defendido ardorosamente a inclusão de mais nações no BRICS, enxergando a ampliação como uma estratégia para criar uma coalizão de países em torno do eixo chinês, contrapondo-se ao Grupo das Sete principais economias (G7) que busca conter as ambições globais da China.

Tradicionalmente, a Índia e o Brasil adotaram uma postura mais cautelosa, receosos de que a expansão do BRICS pudesse diluir sua influência. No entanto, à medida que as negociações no grupo avançam, ambos os países parecem estar ajustando seu discurso. A China continua exercendo pressão para que o BRICS anuncie a decisão de admissão de novos membros durante a próxima cúpula na África do Sul, agendada para ocorrer de 22 a 24 de agosto. Caso o grupo dos emergentes realmente se amplie, ele adquirirá um formato mais robusto, o que o aproximará mais do perfil do G7.

· 02:48 — O que podemos esperar do consumidor americano?

No mercado dos Estados Unidos, voltamos a registrar valorizações ontem, especialmente durante a parte final do pregão. As ações do setor de tecnologia aparentemente começaram a recuperar parte de seu brilho. Empresas como Nvidia, Micron Technology e Advanced Micro Devices foram notáveis nesse ressurgimento. O mês de agosto, até este ponto, havia sido desafiador para as ações de tecnologia. No entanto, a atenção do mercado não estará majoritariamente voltada para esse setor hoje.

A agenda do dia traz os resultados de algumas empresas varejistas, incluindo a Home Depot, juntamente com o relatório de vendas no varejo. A previsão média é que os gastos tenham um aumento de 0,4% em comparação com o mês anterior, seguindo um aumento de 0,2% em junho. Essa estatística é relevante em um ano em que a resiliência dos consumidores tem impulsionado a economia, contrabalançando um setor manufatureiro em declínio. No entanto, é importante notar que esses números podem ser complexos, pois não abrangem integralmente a mudança em direção aos gastos com serviços.

· 03:28 — Outro acordo inesperado

A Arábia Saudita e os Estados Unidos alcançaram um acordo preliminar abrangente, no qual o país árabe está considerando o reconhecimento de Israel, com contrapartidas que abrangem concessões aos palestinos, garantias de segurança dos EUA e assistência no campo da energia nuclear civil. Os líderes envolvidos no processo estão otimistas, embora com prudência, sobre a possibilidade de nos próximos nove a doze meses finalizarem os detalhes de um acordo que poderia ter um impacto significativo como um marco de paz no cenário do Oriente Médio.

A busca por esse acordo teve início após um encontro entre o príncipe saudita Mohammed bin Salman e Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional de Biden. Agora, as negociações avançaram para a fase de detalhamento, abordando questões como a assistência dos EUA no desenvolvimento de um programa de energia nuclear civil pela Arábia Saudita e o fornecimento de garantias sólidas de segurança.

Além disso, os sauditas estão buscando compromissos substanciais por parte de Israel, visando promover a viabilidade de um estado palestino. Em contrapartida, os EUA estão pressionando a Arábia Saudita a impor limites em seu crescente engajamento com a China — uma iniciativa que reflete os esforços do governo Biden para conquistar conquistas de política externa antes das eleições de 2024.

· 04:17 — Mais um sinal amarelo

Sinais de alerta estão emergindo nos mercados financeiros chineses, gerando crescente apreensão entre os investidores quanto à saúde da economia e aumentando a pressão sobre os responsáveis pelas políticas para uma ação efetiva. Uma combinação de preocupações renovadas sobre o setor imobiliário, a inadimplência de pagamentos por parte de um dos maiores gestores de patrimônio privado do país e a ameaça de deflação está abalando o otimismo dos investidores.

Hoje, os dados de produção industrial da China para julho trouxeram desapontamento (repetindo um padrão visto ao longo deste ano, com exceção de junho), ao apresentar um crescimento anual de 3,7%, abaixo das projeções. Enquanto parte dessa desaceleração é atribuída à diminuição da demanda global por bens, vale notar que a maior parcela da produção chinesa é destinada ao mercado interno. Paralelamente, as vendas no varejo doméstico na China também ficaram abaixo das expectativas.

Respondendo à situação, a China anunciou inesperadamente uma redução de 15 pontos-base na taxa de empréstimos de médio prazo (que é a principal taxa de juros do país), levando-a para 2,5% ao ano. Essa medida representa o nível mais baixo desde 2020 e tem como objetivo fortalecer a economia, que enfrenta novos riscos devido à deterioração no mercado imobiliário e à fraca demanda dos consumidores. No entanto, é improvável que essa ação impulsione significativamente a demanda por produtos manufaturados chineses. Essa é uma situação que merece um acompanhamento atento nos próximos tempos.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.