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Investimentos

O ano começou de verdade: veja a agenda econômica e os destaques da semana no mercado

Nesta segunda (19), mercados globais têm liquidez limitada devido ao Dia do Presidente, que celebra o aniversário de George Washington

Por Matheus Spiess

19 fev 2024, 09:04 - atualizado em 19 fev 2024, 09:07

Imagem representando o financial deepening, uma expressão que denota um avanço significativo na sofisticação dos produtos oferecidos no mercado financeiro.

Bom dia, pessoal. À medida que os mercados asiáticos retomam suas atividades após o término das celebrações do Ano Novo Lunar Chinês, os mercados globais enfrentam a ausência da atividade americana devido a um feriado, limitando a liquidez. Nesse cenário calmo, os mercados europeus exibem desempenhos variados, oscilando sem uma direção clara nas negociações matinais. Em contraste, as ações chinesas vivenciaram um dia promissor após o feriado, alimentando as expectativas de uma reviravolta econômica na China, apesar do persistente ceticismo dos investidores em relação ao país.

O reaquecimento chinês é derivado por perspectivas de estímulo governamental, anunciadas pelo primeiro-ministro Li Qiang. Esse otimismo é reforçado por um expressivo aumento nas atividades turísticas e nos gastos durante o feriado, que ultrapassaram os registros anteriores à pandemia. Especificamente, foram contabilizadas aproximadamente 474 milhões de viagens, um crescimento de 19% em relação a 2019, e um incremento de 8% nos gastos turísticos no mesmo intervalo. No entanto, essas notícias positivas não se estenderam ao setor de minério de ferro, que experimentou uma queda de quase 3%, sinalizando possíveis desafios para a Vale.

A ver…

· 00:47 — Um fiscal melhor que o esperado?

No cenário econômico brasileiro, esta semana traz à atenção o Boletim Focus e o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) referente a dezembro. Este último é de particular interesse, pois pode indicar a trajetória do crescimento econômico no término do último ano. Além disso, a divulgação da arrecadação federal de janeiro na sexta-feira adquire importância diante das atuais discussões fiscais. Tem gente esperando que as contas do governo central apresentem um superávit primário em torno de R$ 80 bilhões para janeiro, superando a maior das expectativas do mercado, que variam de R$ 60 a R$ 70 bilhões. Um resultado acima do previsto poderia permitir ao governo adiar a revisão da meta fiscal até maio, oferecendo maior flexibilidade à equipe econômica para negociações de suas pautas.

Essa perspectiva poderia contribuir para um ambiente mais estável, mesmo que a curto prazo o cenário permaneça tenso, refletindo em uma melhoria do ânimo do mercado de capitais, que enfrenta um momento desafiador com uma redução de 22% nos recursos captados em janeiro em comparação ao ano anterior. Adicionando à complexidade, o Brasil registrou o janeiro mais seco da história, ao lado de picos de demanda energética, apontando para a possibilidade de encararmos o período de estiagem com os reservatórios das hidrelétricas significativamente reduzidos, um prenúncio desfavorável que poderia levar a um aumento nos preços da energia devido a uma potencial crise hídrica.

· 01:35 — O dia depois do PPI…

Nos Estados Unidos, a pausa nos mercados devido ao Dia do Presidente, em celebração ao aniversário de Washington, proporciona um momento de reflexão para os investidores sobre os recentes dados inflacionários que surpreenderam o mercado com valores superiores aos esperados tanto no índice de preços ao consumidor quanto ao produtor. Essa pausa também dá espaço para ponderar sobre declarações recentes de autoridades monetárias, como Raphael Bostic, que sinalizou um caminho potencialmente turbulento na redução da inflação para a meta de 2%. A semana promete ser agitada nos EUA com a divulgação do resultado da Nvidia e a ata do Fed na quarta-feira, além de esperadas declarações de membros do Fed, que poderão influenciar as expectativas para o relatório do PCE na semana seguinte.

O ano de 2024 inicia-se com revisões significativas nas expectativas macroeconômicas, em grande parte devido ao ajuste de política monetária precoce feito por Powell no final de 2023, o que resultou em uma sincronização quase sem precedentes das taxas de juros e das expectativas inflacionárias—ajustes que eram inevitáveis. A mudança de Powell, ainda que prematura, destacou mais uma vez as dificuldades de comunicação do banco central americano. Resta a dúvida se a inflação nos EUA conseguirá reverter para 2% ainda em 2024. Embora incerto, o panorama pode permanecer otimista se a tendência de desinflação persistir, reforçando um cenário ainda favorável apesar dos desafios.

· 02:23 — O ano eleitoral

A dinâmica eleitoral nos Estados Unidos ainda não se reflete nos mercados financeiros, expectativa que deve se materializar a partir do segundo trimestre. Recentemente, um tribunal de Nova York determinou que Donald Trump deve pagar US$ 354,9 milhões por manipulação dos dados financeiros da Trump Organization, além de enfrentar uma proibição de negócios no estado por três anos. Tal cenário complica a imagem de Trump, considerado um dos favoritos na próxima eleição presidencial. Trump tem estrategicamente adiado processos judiciais para manter sua campanha presidencial em curso.

No entanto, é prudente separar considerações políticas das decisões de investimento. A previsibilidade do impacto eleitoral nos mercados é limitada, e a história mostra que os resultados eleitorais nos EUA não determinam necessariamente as tendências do mercado. Por exemplo, a reação do mercado à vitória de Lula no Brasil contradisse as expectativas de muitos investidores em 2023, especialmente para aqueles que apostaram contra a Petrobras e a favor do dólar no ano passado. Historicamente, os anos de eleição presidencial nos Estados Unidos, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, mostram um retorno médio de 6,8% para o S&P 500, sem uma correlação direta entre as vitórias de partidos específicos e o desempenho do mercado.

Analisando dados desde 1928, o primeiro ano de mandatos democratas viu um retorno médio de 12% no S&P 500, comparado a 2,7% sob novas administrações republicanas. No entanto, o ano anterior às eleições favoreceu os republicanos com uma alta de 9,1% no índice, em comparação com 3% antes das vitórias democratas. Esses números sugerem que a influência dos ciclos eleitorais no mercado é complexa e multifacetada, desaconselhando estratégias de investimento baseadas exclusivamente em resultados eleitorais.

· 03:39 — Uma revolução energética

Ao longo dos últimos quinze anos, nenhuma outra nação superou os Estados Unidos na produção de petróleo e gás natural, graças à revolução do xisto. Este fenômeno, impulsionado por avanços tecnológicos significativos, habilitou métodos inovadores de exploração e extração, desbloqueando reservas energéticas previamente inacessíveis. Apesar das previsões de alguns analistas de que os benefícios da revolução do xisto poderiam diminuir, levando a uma eventual queda na produção global, os dados mais recentes sugerem um cenário diferente.

Conforme reportado pela Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos, a produção de petróleo no país, que já alcançou patamares recordes em 2023, está prevista para ultrapassar esses marcos nos próximos anos, em 2024 e 2025, e a mesma tendência é esperada para a produção de gás natural. Esse aumento na oferta pode ser uma das razões pelas quais os preços do petróleo se mantêm estáveis em torno de US$ 80 por barril, apesar das reduções na oferta pela Opep+ e das complexidades geopolíticas que envolvem a Rússia e o Oriente Médio.

No entanto, essa expansão na produção energética apresenta um desafio significativo para os Estados Unidos no que tange ao compromisso assumido no Acordo de Paris. O país se propôs a cortar pela metade suas emissões de gases de efeito estufa até 2030, em relação aos níveis de 2005, mas até o momento, apenas conseguiu uma redução de 17,2%. Este progresso lento destaca o conflito entre o avanço na produção energética e os objetivos climáticos globais.

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· 04:42 — Os problemas no Mar Vermelho

Os ataques Houthi no Mar Vermelho podem elevar significativamente os custos de transporte de mercadorias da Ásia para a Europa, ameaçando o alívio da inflação recentemente observado. A situação levou as transportadoras a optar por rotas alternativas, como a extensa viagem ao redor do Cabo da Boa Esperança, adicionando cerca de sete dias ao tempo de trânsito e aumentando os custos de combustível em pelo menos um milhão de dólares.

Essa mudança resulta em atrasos de entrega de 10 a 15 dias em portos como Barcelona e uma redução drástica de 70% no tráfego de contêineres pela rota do Mar Vermelho em dezembro. Consequentemente, as exportações da União Europeia diminuíram 2% e as importações 3,1%, com uma queda geral de 1,3% no comércio mundial. Os preços dos contêineres de transporte mais que triplicaram, exacerbando a escassez.

Apesar dessas adversidades, a crise no transporte marítimo, se resolvida na primeira metade do ano, pode não ter impactos duradouros no comércio global. Isto se deve ao fato de que os custos de transporte representam uma fração relativamente pequena do preço final dos bens de consumo e da energia. Portanto, embora a situação no Mar Vermelho possa causar preocupação imediata, é improvável que seja um motor significativo de inflação global a longo prazo.

· 05:34 — R$ 565 bilhões

Na última semana, a Petrobras (PETR4) atingiu um marco histórico ao superar o valor de mercado de R$ 565 bilhões, estabelecendo um novo recorde para a companhia. Este salto notável, com um ganho de mais de 65% em seus papéis nos últimos meses, reflete o crescente otimismo em torno do ambicioso plano da empresa de posicionar o Brasil como uma das principais potências energéticas globais. Prevê-se que, até o fim desta década, o Brasil se consolide entre os cinco maiores produtores de petróleo do mundo, com a Petrobras emergindo como a terceira maior produtora global de petróleo…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.