Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos encerraram o dia predominantemente em alta nesta sexta-feira, acompanhando as movimentações positivas dos mercados globais durante o pregão de ontem, apesar das preocupações contínuas sobre as perspectivas para as taxas de juros após dados econômicos recentes.
O desconforto internacional vinha ofuscando o otimismo sobre a recuperação da China depois que as autoridades encerraram três anos de medidas estritas de contenção zero-Covid que atingiram a segunda economia do mundo. Cada vez mais a economia chinesa mostra sinais de força, o que é positivo para o mundo de maneira geral.
Os mercados europeus e os futuros americanos começam o dia em alta, seguidos pelas principais commodities, dando espaço para certo otimismo para o Brasil, principalmente depois das realizações recentes, muito pautadas pela agenda confusa de Brasília. Para o dia, temos falas de autoridades monetárias no exterior, enquanto esperamos que governo brasileiro faça uso de seus bombeiros depois do caos recente.
A ver…
· 00:43 — Crescimento fraco deixou o governo em modo desespero
Por aqui, nota-se que o governo ficou desgostoso com os dados mais fracos de PIB para encerrar o ano de 2022, quando a economia brasileira cresceu 2,9%. O número é bom, mas foi muito ajudado por esteróides, em especial os provenientes da PEC das Bondades. Agora, a história é diferente e devemos ter uma desaceleração considerável em 2023, o que faz o governo voltar a pressionar o Banco Central.
O desconforto se estendeu a várias personalidades do governo, não apenas Lula e Gleisi, como de costume. Agora, até Tebet e Haddad falaram de maneira um pouco mais agressiva, o que é prejudicial. Francamente, não ajuda em nada; muito pelo contrário, só atrapalha. Melhor seria se ficassem quietos pelo menos, mas não conseguem, precisam desesperadamente explodir o Brasil com falas irresponsáveis.
Para piorar a situação, o novo presidente da Petrobras também cumpriu a sua cota de abobrinhas, o que piorou o clima para a companhia, relevante em termos de peso no interior do índice. Até a indústria naval passou a ser comentada — chegou a hora da geração atual pagar parte do sonho impossível de reviver a indústria naval, que não vai sair do papel, como sempre, mas já mostra um pouco do cunho da nova gestão da estatal. O Brasil ama perder tempo com discussões que não levam a lugar algum.
A redução dos juros está 100% na mão do governo, que deverá apresentar neste mês o novo arcabouço fiscal. Enquanto entender equivocadamente que a culpa é exclusiva da taxa de juros e de Roberto Campos Neto, não vai sair do lugar. Pelo menos o Ministério da Agricultura informou que o caso isolado da vaca louca, registrado no Pará em fevereiro, foi confirmado como atípico, o que deve provocar uma retomada das exportações em breve (antes da viagem de Lula para a China, no dia 27) — o Brasil agiu de maneira exemplar. Pelo menos uma notícia boa.
· 01:50 — Falas sem uma única direção
Nos EUA, após uma reversão no meio da quinta-feira, os principais índices fecharam em alta, apresentando seus melhores ganhos em mais de duas semanas. A recuperação ocorreu depois que o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, recuou contra a necessidade de um aumento de meio ponto nas taxas na próxima reunião do Fed de 21 a 22 de março.
Os investidores estão cada vez mais preocupados com o fato de que os dados econômicos ainda robustos devem forçar o Fed a voltar a altas maiores, o que não parece ser o caso, francamente (nas últimas semanas, o mercado futuro precificou uma chance de 30% para uma alta de meio ponto no final deste mês, algo que ninguém pensava ser possível apenas um mês atrás, mas Powell deverá seguir com 25 pontos).
Sobre a atividade, vale acompanhar o PMI de serviços americano hoje, com expectativa de registrar 54,5 pontos, cerca de um ponto a menos que o relatório anterior. Se surpreender o mercado para cima, contudo, pode voltar a reforçar a tese de atividade econômica ainda robusta, o que pressionaria a curva de juros, como observamos em 2022 e ao longo de fevereiro de 2023.
· 02:36 — Uma Europa contracionista
Na Zona do Euro, teremos mais membros do banco central falando ao mercado hoje, mas é improvável que os mercados fiquem muito surpresos, uma vez que boa parte das próximas movimentações já estão no preço. Mas será mesmo? Afinal, os números divulgados na quinta-feira mostraram que a inflação da região permaneceu rígida em fevereiro, levando a chefe do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, a dizer que é necessário mais aperto.
Com as surpresas de uma inflação alta e em crescimento, o mercado passou a precificar juros mais elevados.No momento, o consenso aponta para taxas terminais de juros de 4% na Zona do Euro, o que é bem contracionista para os padrões europeus. Inevitavelmente, o prognóstico será de contração econômica como consequência, assim como poderemos ver nos EUA e em outras regiões ao redor do mundo. É o que o governo brasileiro teme que aconteça por aqui, por isso pressiona o BC.
· 03:21 — Uma China forte
Uma pesquisa na sexta-feira mostrou que o setor de serviços da China expandiu em um ritmo mais rápido do que o esperado em fevereiro. A leitura seguiu dados do governo que mostraram que a atividade empresarial chinesa cresceu em seu ritmo mais rápido em mais de uma década, à medida que a recuperação econômica pós-Covid ganhou força.
O índice de gerentes de compras (PMI) de serviços subiu para 55 pontos em fevereiro, superando as expectativas de um aumento para 54,7 e superior à leitura do mês anterior de 52,9. O crescimento também estava em seu ritmo mais rápido em sete meses. Ao mesmo tempo, as empresas registraram maior número de clientes e pedidos de exportação durante o mês, com a maioria das empresas chinesas também ficando muito mais otimistas em relação à recuperação econômica neste ano.
Os fortes dados indicam que a economia chinesa está em um caminho estável para a recuperação após o alívio da maioria das restrições da política de zero-Covid. Isso é bom para o mercado de commodities, bem como para mercados emergentes. O Brasil é um claro beneficiado do movimento na China, que poderia servir de amortecedor para o mundo em meio às desacelerações dos países centrais.
· 04:07 — A recessão está chegando?
Em uma época em que os dados econômicos transmitem mensagens contraditórias ou frustram as expectativas, as previsões dos economistas para o próximo ano estão se tornando cada vez mais opacas. Nos EUA, por exemplo, a última pesquisa da National Association for Business Economics, divulgada nesta semana, mostra uma divergência significativa entre os entrevistados sobre a direção que eles acham que a economia dos EUA está tomando em 2023.
Estimativas de produto interno bruto real, inflação, indicadores do mercado de trabalho e taxas de juros estão muito diferentes entre si, refletindo uma variedade de opiniões sobre o destino da economia, variando de recessão a crescimento robusto. Ainda assim, quase 60% dos entrevistados disseram acreditar que os EUA têm mais de 50% de chance de entrar em recessão nos próximos 12 meses. Muito provavelmente, estamos nos aproximando de uma recessão por lá, mesmo que breve.
Um abraço,
Matheus Spiess