Bom dia, pessoal.
Lá fora, os mercados asiáticos operaram sem uma única direção nesta quarta-feira, com investidores de vários países voltando do feriado de Ano Novo Lunar. O tom predominante foi positivo, ainda que haja temores de recessão global. Algumas regiões ainda não voltaram e só saem do feriado na semana que vem, como a própria China.
Embora as ações tenham desfrutado de um forte início de ano, já que a desaceleração da inflação dá aos bancos centrais espaço para moderar seus aumentos nas taxas de juros, o foco agora está voltado para o impacto dos aumentos dos juros no ano passado sobre a economia, contrabalanceado pela reabertura da China.
Os mercados europeus e os futuros americanos voltaram a ter dificuldade nesta manhã, depois de números de atividade fabril e de serviços dos EUA mostrarem os setores em contração. No Brasil, estamos um pouco afastados da realidade global, ainda que atentos aos caminhos das commodities.
A ver…
· 00:46 — Na festa de 469 anos de São Paulo, a comemoração é trabalhar
Por aqui, no meio do aniversário de São Paulo (o mercado opera normalmente), os investidores acompanham alguns dados no exterior que podem fortalecer o euro frente ao dólar, em um movimento que pode ser favorável para mercados emergentes, como o brasileiro. Ainda vemos certa cautela com o contexto político, em especial sobre os movimentos da equipe econômica frente ao Conselho Monetário Nacional (CMN), Banco Central e novo arcabouço fiscal.
Ontem foi dia de recuperar um pouco o que perdemos com a volatilidade recente e talvez hoje, com liquidez reduzida, possamos dar continuidade a esse movimento. Nós aguardamos a formalização de Jean Paul Prates para o comando da Petrobras, que deverá ter seu nome aprovado pelo Conselho de Administração na quinta-feira. Suas primeiras medidas como presidente da companhia devem ter caráter sistêmico, considerando o peso da companhia no Ibovespa.
· 01:27 — Mais resultados corporativos
Nos EUA, o tom negativo voltou a comandar o sentimento dos investidores, com os índices experimentando bastante volatilidade, abalados por alguns relatórios de resultados e dados econômicos. Mais de 40% do S&P 500 vem divulgando os resultados do quarto trimestre esta semana, de uma ampla gama de setores.
Os destaques de ontem incluíram a 3M, que ofereceu uma visão sóbria da economia e dos gastos do consumidor, fazendo com que as ações caíssem 6%. A General Electric mostrou progresso em sua recuperação, enquanto a Johnson & Johnson alertou sobre a economia, mas deu uma perspectiva financeira melhor do que o esperado.
No geral, os últimos resultados mantiveram o sentimento de uma temporada decididamente mista até agora. Poucas empresas estão mostrando o forte crescimento dos lucros de 2022 e as perspectivas para 2023 não são tão boas. Hoje, teremos a digestão dos números da Microsoft, que chegaram a subir mais de 4% no after-hours de ontem, mas devolveram tudo na sequência.
A companhia foi a primeira gigante de tecnologia a comentar seus resultados, anunciando a demissão de mais de 10 mil pessoas. O crescimento mais lento da empresa desde 2016 impede um otimismo mais claro. Hoje temos Tesla, AT&T, Boeing e IBM. O mercado definitivamente estará de olho.
· 02:29 — Como vai a inflação europeia?
Na Europa, os investidores se debruçam sobre a inflação de preços ao produtor de dezembro no Reino Unido e na Espanha. A expectativa geral é de que as pressões de preços continuem desacelerando, como temos visto nos últimos meses, dando espaço para que o BCE reduza o tom agressivo em seu aperto monetário. Os preços ao produtor representam o poder de precificação das empresas; isto é, acabam tendo em um segundo momento desdobramentos mais evidentes sobre o consumidor.
Enquanto isso, na Alemanha, temos a tradicional pesquisa de sentimento empresarial. Depois de um inverno quente, a narrativa da mídia tem sido mais positiva na Europa, com dados de sentimento apoiando a tese de aprimoramento do ambiente. É importante para que não tenhamos uma recessão tão dura no continente, apesar da alta dos juros em diferentes países, não só na Zona do Euro. Mesmo que a desaceleração venha, ela não deverá ser tão brutal.
· 03:15 — Um ponto a se observar na China
Uma mudança histórica está ocorrendo na China e deve ter impactos de longo prazo para a economia global. Acontece que a população total do país caiu 850 mil em 2022 para 1,4 bilhão, marcando o primeiro declínio desde 1961. A China tem sido uma fonte importante de mão-de-obra e demanda, mas sua taxa de natalidade continua a diminuir à medida que os casais adiam ou decidem não ter filhos.
O movimento ocorre apesar do fim da política do filho único do governo em 2015 e dos incentivos lançados em 2021, que encorajam as pessoas a ter mais bebês (deduções de impostos, subsídios de moradia e licença maternidade mais longa). Os altos custos da educação também levaram a uma das taxas de fertilidade mais baixas do mundo, bem como a uma tendência de rápida urbanização em um país historicamente rural.
A tendência demográfica questiona se a China envelhecerá antes de distribuir a riqueza para todos. As Nações Unidas também projetam que, em 2023, a China perderá seu status de país mais populoso do mundo para a Índia, cuja população estimada em 1,4 bilhão ainda está crescendo. No longo prazo, projeta-se que a Índia tenha a maior população em idade ativa, podendo se tornar o principal polo de fabricação mundial.
· 04:17 — A dívida global
O mundo está endividado e alcançou recentemente um patamar recorde para a dívida: US$ 300 trilhões — esse é o valor total que governos, famílias e corporações em todo o mundo deviam em 2022, conforme estimado pelo Institute of International Finance. Esse número representa cerca de 350% do produto interno bruto global e o equivalente a US$ 37.500 em dívidas para cada pessoa no mundo.
A alavancagem mundial é muito maior do que era antes da crise financeira global. O problema é que a demanda por dívida para ajudar os consumidores com a inflação, reconstruir a infraestrutura e enfrentar a mudança climática continua aumentando. Ao mesmo tempo, o aumento das taxas de juros e a desaceleração das economias estão tornando o fardo da dívida mais pesado.
Os fundos do Fed e as taxas do Banco Central Europeu subiram em média 3 pontos percentuais em 2022. Isso pode significar US$ 3 trilhões a mais em despesas com juros. Ao mesmo tempo, a dívida tornou-se menos produtiva desde 2007, o que significa que o efeito multiplicador de cada dólar adicional emprestado diminuiu.
Não há saída fácil para uma crise da dívida global. Evitá-la exigirá ações impopulares e uma “grande redefinição” da mentalidade dos formuladores de políticas públicas. Nos próximos anos, os empréstimos serão mais cautelosos, reduzindo o consumo excessivo e reestruturando projetos ou entidades que não dão lucro.
Um abraço,
Matheus Spiess