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Mercado em 5 minutos

O que Roberto Campos Neto tinha a nos falar? Veja os destaques do mercado nesta terça (14)

As repercussões da excelente entrevista de Roberto Campos Neto e do bom resultado do Banco do Brasil são temas do mercado nesta terça-feira, 14 de fevereiro

Por Matheus Spiess

14 fev 2023, 09:13 - atualizado em 14 fev 2023, 09:13

roberto campos neto
Imagem: YouTube/Roda Viva

Bom dia, pessoal. Por aqui, o destaque do dia é a digestão da excelente entrevista de Roberto Campos Neto ao Roda Viva ontem, além da repercussão do resultado do Banco do Brasil, que foi muito bem no quarto trimestre de 2022. 

Lá fora, as ações asiáticas entregaram um desempenho misto nesta terça-feira, com os investidores se preparando para a divulgação de dados cruciais sobre a inflação nos EUA. No âmbito internacional, depois de um bom janeiro, os investidores passaram por algumas semanas instáveis, enquanto contemplavam a perspectiva de mais aumentos nas taxas de juros do Federal Reserve, com o objetivo de esfriar a ainda robusta economia americana (teremos mais juros por mais tempo). 

O principal golpe veio de um relatório de empregos no início do mês, que levou vários membros do Fed a insistir que continuarão a apertar a política monetária até que os preços estejam sob controle. Os mercados europeus e os futuros americanos têm uma boa manhã.

A ver… 

· 00:46 — A entrevista 

No Brasil, tivemos ontem a entrevista de Roberto Campos Neto, presidente do BC, no Roda Viva. A ideia de seu movimento era esclarecer algumas dúvidas para o público em geral, buscando uma trégua com o governo e sua base — os gritos de algumas personalidades hoje mais secundárias, como Hoffmann e Boulos, incomodam, mas pouco indicam as reais intenções do Poder Executivo, mais bem representado por Haddad. Como sabemos, há uma grande pressão sobre a autoridade monetária local. 

Roberto Campos confirmou a discussão de estudos, conduzidos ao longo dos últimos anos pela equipe técnica do BC, sobre formas de aprimorar a política monetária e a dinâmica das metas de inflação (algo que o mundo faz formalmente na atualidade). Note que não há problema em se debater a meta, principalmente como colocado pelo presidente, a questão negativa se deu com a forma da ala política se expressar — como foi colocado, uma mudança nas metas poderia ser prejudicial às expectativas. 

De acordo com o que foi falado na entrevista, muito do debate ainda depende do caminhar da agenda fiscal (novo arcabouço e reforma tributária), que poderia dar espaço para a redução dos juros de maneira saudável e célere. A disposição em conversar de Campos Neto, se dispondo inclusive a ir ao Congresso, mostra boa intenção, o que poderá ser bem-recebido pelo governo, assim como já vem sendo feito pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad.  

· 01:56 — Resultados e algumas sinalizações 

Além da entrevista, ainda por aqui, devemos ter a repercussão do bom resultado do Banco do Brasil, divulgado na noite de ontem, que assim como no caso de Itaú, mostrou força e qualidade nos números — lucro de mais de R$ 30 bilhões em 2022, um crescimento de mais de 50% contra 2021, e ROE de 23%. Uma loucura que deve reverberar bem no setor, mostrando que há vida depois do caso de Americanas — o guidance aponta para um ano melhor ainda em 2023.  

Além do bom número, devemos ter continuidade da repercussão das notícias que começaram a circular ontem sobre a conversa que Haddad teve com Lula nos EUA. Ao que tudo indica, Lula concordou em não apresentar proposta de mudança na meta de inflação na reunião do CMN de quinta-feira, enquanto os nomes dos novos diretores do Banco Central deverão ser neutros (servidores de carreira). Esse debate foi adiado para depois da apresentação do novo arcabouço fiscal, o que é positivo. 

· 02:45 — A inflação americana 

A inflação dos preços ao consumidor nos EUA em janeiro provavelmente produzirá um frenesi de entusiasmo no mercado. A previsão de consenso entre os economistas é que o dado tenha subido 0,5% em janeiro, impulsionado por um aumento nos custos de energia. Os preços da gasolina caíram acentuadamente em novembro e dezembro, mas aumentaram substancialmente até agora em 2023. Com isso, se o índice principal chegar conforme o esperado, reduzirá o aumento do ano anterior para 6,2%, contra um aumento de 6,5% nos 12 meses até dezembro. 

Provavelmente, como já vem acontecendo, os detalhes técnicos do dado vão nos mostrar que a inflação está desacelerando, mas muito lentamente, até mesmo porque muitas empresas tradicionalmente aumentam os preços no início do ano. Além disso, temos o problema da ponderação da cesta de consumo, em que os diferentes componentes da inflação também podem retardar as pressões desinflacionarias temporariamente. 

O dado é um progresso, mas ainda representaria uma inflação desconfortavelmente alta. Eventuais surpresas podem facilmente determinar a direção do mercado até a reunião de política do Fed em março, que também apresentará as últimas projeções econômicas das autoridades — um dado mais quente do que o previsto pode aumentar as expectativas de aumentos futuros, fazendo com que as ações e títulos caiam, e vice-versa. 

· 03:48 — Entre a Ásia e a Europa 

Hoje, tivemos na Ásia os dados do PIB do quarto trimestre do Japão, que vieram mais fracos do que o esperado, com algumas revisões para baixo em relação aos meses anteriores, mas os detalhes foram mais favoráveis, tanto que o mercado subiu em Tóquio. Basicamente, o consumo foi relativamente bom e as quedas de estoque (que devem ser revertidas eventualmente) justificam boa parte da fraqueza. A atividade asiática deverá ser aquecida ao longo de 2023 com a reabertura da China. 

Enquanto isso, os investidores digerem os dados dos preços no atacado da Alemanha que vieram bem abaixo do esperado, mostrando uma alta de apenas 0,2% na comparação mensal. Consequentemente, o dado de comparação anual desacelerou de 12,8% para 10,6%. Se a notícia é boa para o BCE, as novidades não foram tão animadoras para o BoE, que viu hoje dados de mercado de trabalho no Reino Unido bem mais fortes do que o esperado, ainda que os salários reais ainda caiam. 

· 04:36 — Depois da corrida espacial 2.0, chegou a vez da corrida da I.A. 

Muito foi falado nos últimos meses sobre o potencial das ferramentas de chatbot de inteligência artificial, como o ChatGPT, da Microsoft (recentemente aumentou seu investimento na empresa para US$ 10 bilhões), abalando significativamente a maneira como as pessoas usam e interagem com os mecanismos de pesquisa. Isso também levantou questões sobre a ameaça ao domínio do Google no negócio — durante anos, o Google teve quase o monopólio do negócio de buscas. 

A crescente atenção aos negócios de IA gera volatilidade no mercado. Em resposta, na semana passada, o CEO da Alphabet, Sundar Pichai, apresentou o Bard, uma nova ferramenta de IA que adiciona funcionalidade à pesquisa do Google. Enquanto isso, a Microsoft realizou um evento para revelar as atualizações de seu mecanismo de busca Bing que funcionam em recursos do ChatGPT. Mais e mais novidades estão sendo apresentadas na frente IA, de concorrentes grandes e pequenos, o que provavelmente provocará uma corrida tecnológica nos próximos anos.    

Um abraço, 

Matheus Spiess 

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.