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Mercado em 5 minutos

O terror tecnológico

“Lá fora, os mercados asiáticos sustentaram um desempenho positivo em grande parte dos índices nesta quinta-feira (27), apesar das movimentações negativas em Wall Street […]”.

Por Matheus Spiess

27 out 2022, 09:30 - atualizado em 27 out 2022, 09:30

O terror tecnológico
Fonte: Free Pik
Bom dia, pessoal.

Lá fora, os mercados asiáticos sustentaram um desempenho positivo em grande parte dos índices nesta quinta-feira (27), apesar das movimentações negativas em Wall Street durante ontem, impulsionadas por alguns resultados americanos abaixo do esperado. Ainda assim, os investidores seguem abraçando a ideia de que o Federal Reserve poderia desacelerar o ritmo dos aumentos dos juros nas próximas reuniões.

Ansiosos por novidades, os mercados europeus caem nesta manhã, no aguardo da definição da reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), que deverá subir os juros na Zona do Euro. Nos EUA, os futuros abrem sem uma única direção, mas tensionados com a temporada de resultados, em especial pelos números de Meta (dona do Facebook), que vieram abaixo das expectativas.

A ver…
00:36 — Juros, resultados e eleições
Por aqui, no Brasil, tivemos ontem de noite a conclusão do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a taxa de juros em 13,75% ao ano, conforme o esperado. O Banco Central manteve o tom duro no comunicado, indicando que a taxa de juros permanecerá elevada pelo tempo necessário para que a inflação verificada e suas expectativas consigam se ancorar estruturalmente para baixo. Assim que o mercado precificar uma eventual queda dos juros, uma janela de ganhos com os ativos brasileiros poderá ser aberta, assim como foi entre 2016 e 2019.

Como nos EUA, os resultados corporativos locais também estão trazendo certa volatilidade. Ontem, os números de Santander assustaram o mercado, provocando uma reação sistêmica de aversão ao risco no setor de bancos, relevante no Ibovespa. Hoje, contamos com Ambev e Vale, importantes nomes no mercado local (atenção especial para o segundo nome, que é responsável por mais de 10% de participação no índice). Os demais dados sendo divulgados, como a taxa de desemprego prevista para hoje, acabam ficando em segundo plano com o contexto eleitoral pegando fogo. 

Acusada de tentar tumultuar o segundo turno, a campanha de Bolsonaro se vê em uma situação delicada. Estamos a dois pregões do fim do processo eleitoral e a tensão tem escalado, elevando na margem o risco de um “terceiro turno”, que seria o equivalente a um questionamento da validade das eleições, em linha com o que aconteceu nos Estados Unidos. O estresse tem pressionado os ativos de risco, que estão devolvendo todos os ganhos da semana passada. Hoje, o favorito da disputa é Lula, mas os próximos quatro anos serão muito difíceis e o país estará longe de ser pacificado.
01:55 — Alguém pediu um PIB aí?
Nos EUA, além da temporada de resultados, o PIB do terceiro trimestre é aguardado. Após dois trimestres negativos (PIB contraiu 1,6% e 0,6% nos dois primeiros trimestres do ano, atendendo a uma definição de recessão técnica), o consenso é de uma aceleração no período mais recente. Atualmente, a estimativa é de uma taxa de crescimento anual ajustada sazonalmente de 1,7% para o trimestre.

Uma coisa a se notar é que, mesmo com a contração nos últimos dois trimestres, a economia americana ainda conseguiu criar quase 5 milhões de empregos no primeiro semestre. Ocorre que o dado de PIB tem passado por uma correção técnica na própria formatação dos dados, diante dos problemas com as importações nos EUA (o referencial é comprometido por conta da pandemia) e com o setor imobiliário.
02:38 — E as grandes empresas de tecnologia
Os resultados das empresas gigantes de tecnologia, as Big Techs, estão frustrando as expectativas dos investidores. Ontem, a Alphabet, controladora do Google, e a Microsoft tiveram seus piores dias desde a queda proporcionada pelo Covid, em meados de março de 2020, com suas ações caindo 9,1% e 7,7%, respectivamente.

Os números mostraram que mesmo as gigantes não estão imunes a uma desaceleração da economia — enquanto o Google perdeu com anúncios, como comentamos ontem, a Microsoft sofreu por conta do guidance e da desaceleração do negócio de nuvem pública da empresa, chamado Azure (deveria ser o mais resiliente).

Durante a noite, a Meta (dona do Facebook) divulgou números também bem frustrantes (a ação está caindo 20% no pre-market de hoje). Com uma queda de mais de 65% desde a máxima recente, em setembro do ano passado, e valendo mais de US$ 350 bilhões, talvez a empresa nem devesse mais ser considerada “Big Tech”.

Para piorar, nem a área responsável pelo suposto “metaverso” tem vingado, tendo reportado uma perda de US$ 9,4 bilhões até agora em 2022. Com isso, o lucro consolidado da companhia caiu mais de 50% em relação ao mesmo período do ano passado. Mais um dia de estresse deve marcar as ações de tecnologia nos EUA.

De noite, a Amazon e a Apple divulgam seus resultados…
03:44 — Mais juros…
Na Europa, espera-se que o Banco Central Europeu (BCE) deva aumentar a taxa básica de juros da Zona do Euro em 75 pontos-base. Vale acompanhar a tradicional coletiva da presidente da instituição, Christine Lagarde, na sequência da decisão, que poderá dar mais direcionamento ao mercado sobre os próximos passos da autoridade monetária (considerando o patamar de inflação, dificilmente vai parar por aqui).

Enquanto isso, no Reino Unido, o governo atrasou a entrega de seus planos fiscais, mas depois do desgaste recente, atrasar o plano fiscal está longe de ser o pior sinal de credibilidade que o governo britânico poderia dar. Considerando, porém, o perfil fiscalmente conservador de Sunak, não deveremos ter qualquer surpresa, com uma direção bem clara para restabelecer a previsibilidade das contas públicas.
04:21 — E os investimentos ESG?
Investir em ESG (avaliar empresas com base em fatores ambientais, sociais e de governança) foi uma das frases mais citadas nas chamadas de resultados durante o primeiro semestre do ano. Contudo, a recessão iminente, os mercados em queda e a volatilidade geopolítica global afastaram a responsabilidade ESG das empresas. Simplesmente, parece haver no momento algumas coisas mais importantes.

Ao que tudo indica, o rápido aumento da era da pandemia no investimento em fundos ESG parece ter cessado. Agora, os fundos ESG tiveram em setembro sua maior saída de caixa de investidores desde a recessão de março de 2020 — eles tiveram um pico de ativos sob gestão acima de US$ 8,5 trilhões no final de 2021, sendo que agora estão abaixo de US$ 7 trilhões. Deverá levar algum tempo para o segmento recuperar a atenção perdida ao longo de 2022.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.