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Mercado em 5 minutos

Os impactos da alta do petróleo em ações de energia e a Finlândia na OTAN

Além da alta do petróleo, analista comenta o desempenho das ações de tecnologia e a inflação ao produtor na Zona do Euro.

Por Matheus Spiess

04 abr 2023, 09:00 - atualizado em 04 abr 2023, 09:08

Bom dia, pessoal. Lá fora, as bolsas de valores asiáticas fecharam predominantemente em alta nesta terça-feira (4), apesar das movimentações mistas em Wall Street durante o pregão de ontem (3). A força vem dos ganhos nas ações de energia, em meio a preços mais elevados do petróleo depois que a Opep+ anunciou um corte de produção surpresa de mais de 1 milhão de barris por dia. Ao mesmo tempo, as ações de tecnologia caíram devido aos temores sobre as perspectivas para as taxas de juros.

Ainda há preocupação com uma série de dados fracos da indústria ao redor do mundo, uma vez que indica uma desaceleração do crescimento econômico. Os mercados europeus e os futuros americanos tentam se recuperar nesta manhã do susto com o movimento da Opep+ — os investidores internacionais estão ligados hoje em dados de empregos americanos. Por aqui, sentimos o calor da alta do petróleo, o que beneficia o setor de commodities, mas prejudica as cíclicas domésticas por conta de receio inflacionário.

A ver…

· 00:47 — O ajuste arrecadatório

No Brasil, a agenda é um pouco esvaziada. O destaque fica por conta da participação do Secretário Extraordinário para a Reforma Tributária, Bernard Appy, no evento “Brazil Investment Forum”, do Bradesco BBI. Ele poderá dar mais detalhes sobre a reforma e sobre a própria abordagem predominantemente arrecadatória do novo arcabouço fiscal. Fernando Haddad, que também deverá participar do evento, jura de pé junto que não haverá aumento de imposto ou criação de novos impostos. A ver.

Precisamos de mais detalhes sobre o texto formal, que só virá nesta quarta-feira ou na segunda-feira da semana que vem, com a proposta a ser enviada ao Congresso. Não sabemos ainda, porém, se o desenho será o suficiente para estabilizar a trajetória de endividamento brasileiro. Em sendo o caso, as expectativas poderiam ficar mais comportadas, dando espaço para redução de juros por parte do BC — precisamos de R$ 110 bilhões a R$ 150 bilhões de arrecadação para zerar o déficit. É um desafio.

· 01:35 — O susto

O mercado teve que digerir sinais confusos. Nos EUA, as ações tiveram resultados mistos na segunda-feira em meio ao aumento dos preços do petróleo depois do corte de produção liderado pela Arábia Saudita e a um número mais fraco da indústria dos EUA. Contudo, há ceticismo quanto à durabilidade da recente alta nos preços do petróleo. Na verdade, o mercado futuro de petróleo parece mostrar que eles esperam que os preços recuem após o choque de preço de curto prazo.

Ainda assim, os preços mais altos do petróleo podem pressionar a inflação. Pelo menos um importante indicador econômico apontou para algum arrefecimento, tirando um pouco da pressão sobre o Fed. Neste caso, uma notícia ruim de atividade fraca acaba tendo um efeito positivo no mercado. Vale acompanhar hoje a Pesquisa de Vagas de Emprego e Rotatividade de Trabalho (ou Jolts). Se vier mais forte do que o esperado poderá causar mal-estar nos mercados.

· 02:21 — A inflação ao produtor europeu

No velho continente, a realidade econômica cobra seu preço hoje. Por enquanto, os mercados europeus sobem depois dos dados de inflação de preços ao produtor de fevereiro na Zona do Euro. O número ainda não se beneficiou dos efeitos da base de comparação de energia que reduziram os índices de preços ao consumidor em março, mas mostraram queda de 0,5% no mês, acumulando 13,2% de alta na comparação anual, abaixo dos 13,6% esperados pelo mercado.

Saindo da Zona do Euro, mas ainda na Europa, contamos hoje com algumas falas de membros do Banco da Inglaterra. O Reino Unido é provavelmente o país central mais próximo do pico do ciclo de política monetária, fazendo com que os palestrantes recebam um pouco mais de atenção do mercado. Vale acompanhar os comentários relacionados com a questão bancária e o choque de preços no petróleo. Mais aumentos nas taxas de juros ainda são esperados.

 03:16 — As ações de tecnologia

Com o primeiro trimestre de 2023 para trás, agora sabemos que se você tivesse visitado um bom vidente no primeiro dia do ano, ele teria dito para você colocar seu dinheiro em ações de tecnologia e evitar ações de bancos. Nos EUA, apesar da grande flutuação devido aos contínuos aumentos de juros do Fed e um inesperado pânico bancário, as ações de tecnologia tiveram um desempenho muito bom no trimestre.

Wall Street recompensou as demissões das empresas de tecnologia e outras medidas de corte de custos, dando um ressurgimento das ações de crescimento — com o ChatGPT se tornando um nome familiar, os investidores apostam em IA como a próxima grande tendência. Vale lembrar que as ações de tecnologia estão voltando a ficar caras, negociando com prêmio razoável frente ao resto do S&P 500.

· 04:03 — E a OTAN?

A primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin, perdeu por pouco uma eleição difícil no final de semana. No que há muito tempo é considerado uma disputa de três vias, o Partido da Coalizão Nacional de Petteri Orpo passou à frente com 20,8%, em comparação com 20,1% do nativista Partido dos Finlandeses e 19,9% dos Social-democratas atualmente no governo.

Marin admitiu a derrota, enquanto Orpo, ex-ministro das Finanças, disse que o compromisso da Finlândia com a Ucrânia permaneceria inalterado. A iminente adesão da Finlândia à OTAN apareceu apenas indiretamente durante a campanha, em grande parte porque não é um tema muito controverso na Finlândia, onde cerca de 80% das pessoas apoiam a adesão ao bloco. 

Orpo tentará formar um governo de coalizão e se tornará o próximo primeiro-ministro do país nórdico, mas a negociação pós-eleitoral levará tempo. Enquanto isso, a Finlândia está a um passo de se tornar um membro da OTAN depois que o parlamento da Turquia aprovou a expansão da aliança militar. Em breve, Finlândia e Suécia serão membros, o que significa que o presidente Putin está obtendo exatamente o oposto do que queria no começo de sua invasão.

Um abraço,

Matheus Spiess

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.