O otimismo do início da semana se desfez no pregão de ontem (7), abalado por dados mais fortes de emprego nos EUA e pelo tom agressivo adotado por Trump em sua coletiva em Mar-a-Lago. Uma economia americana mais robusta do que o esperado gera incertezas sobre a possibilidade de cortes adicionais na taxa de juros ao longo de 2025. O ânimo inicial, alimentado pela percepção de um Trump mais moderado, foi rapidamente dissipado por sua retórica protecionista e impositiva.
Como reflexo, os mercados asiáticos encerraram esta quarta-feira (8) em queda, sem que nem mesmo a ampliação do programa chinês de troca de bens de consumo – uma tentativa de impulsionar o crescimento – fosse suficiente para reverter o pessimismo.
Enquanto isso, no Ocidente, os índices europeus e os futuros americanos tentam uma recuperação tímida das perdas de terça-feira. No radar do mercado estão mais dados de emprego nos EUA e a aguardada ata da última reunião do Federal Reserve, que pode oferecer novas pistas sobre os rumos da política monetária. Qualquer sinal de manutenção de juros elevados nos EUA, combinado com a postura agressiva de Trump, tende a fortalecer ainda mais o dólar globalmente.
Sobre Trump, já adianto: não, ele não está prestes a se lançar como um “conquistador”. No entanto, sua retórica deve continuar a sustentar seu estilo de negociação impositivo, causando impacto direto em questões econômicas globais. No Brasil, os desafios fiscais, somados à força renovada do dólar, mantêm a pressão sobre o câmbio e, consequentemente, sobre a curva de juros.
· 00:52 — As medidas vêm aí…
No mercado brasileiro, o Ibovespa conseguiu registrar alta mesmo sob a pressão contínua sobre juros e câmbio, em contraste com o pessimismo observado nos mercados internacionais. O movimento descolado reflete, em parte, a resiliência momentânea dos ativos locais, que já apanharam demais no final do ano passado, mas o cenário permanece repleto de desafios estruturais. Enquanto isso, as atenções por aqui estarão divididas entre os atos em Brasília, que relembram o 8 de janeiro de 2023, e os dados econômicos que devem movimentar o mercado.
Entre os destaques, está a divulgação da produção industrial de novembro pelo IBGE, que deve apontar uma contração de 0,6%. Além disso, possíveis novidades sobre medidas adicionais de corte de gastos também estarão no radar. Em entrevista concedida ontem à GloboNews, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, projetou um crescimento do PIB de 3,6% para 2024 e 2,5% para 2025, além de prever um déficit primário de 0,1% em 2024, quando ajustado pelas despesas extraordinárias com o RS — número suficiente para cumprir a meta fiscal.
O grande ponto de interrogação, no entanto, recai sobre 2025. Questionado sobre novas iniciativas de contenção de gastos, Haddad afirmou que a Fazenda está focada exclusivamente nesse tema. Contudo, sem medidas concretas de ajuste fiscal, os ativos locais permanecerão sujeitos a movimentos voláteis e de curto prazo, refletindo a desancoragem das expectativas. Um exemplo claro desse risco está na aceleração da inflação ao produtor, que avançou 1,23% em novembro de 2024, marcando a maior alta em quatro meses. Essa pressão deverá inevitavelmente chegar ao consumidor, agravando ainda mais as perspectivas inflacionárias.
Nesse contexto, o governo parece avaliar novos cortes de gastos depois do fracasso do pacote anunciado no ano passado para tranquilizar os investidores sobre o compromisso fiscal da atual gestão. A situação fiscal do país é alarmante, com o déficit nominal já atingindo 10% do PIB e o aperto monetário exacerbando as dificuldades. Resolver esse imbróglio no primeiro semestre de 2025 seria o cenário ideal, mas o calendário político é apertado, complicando a aprovação de soluções estruturais no curto prazo. Entre as opções em avaliação, estão regras mais rígidas para a execução de gastos públicos no início do ano, uma tentativa de demonstrar maior responsabilidade fiscal e reconquistar a confiança do mercado.
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· 01:49 — O calendário é apertado?
Se o calendário de um ano com eleições municipais já é complexo, imagine um ano marcado por revés econômico, perda de popularidade e reorganização de forças no Congresso. Com Brasília oficialmente em recesso, janeiro transforma-se em um período de intensas articulações nos bastidores para a sucessão de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco nas casas legislativas e para a definição do cronograma de prioridades parlamentares (já sabemos quem são os próximos presidentes das casas, mas a atenção está nas mesas diretoras e nas comissões). É o momento em que o governo tenta se reposicionar, buscando alinhar sua pauta às novas lideranças e pavimentar o terreno para a tão esperada Reforma Ministerial.
Enquanto isso, a população brasileira retorna gradualmente das férias de final de ano e se depara com as tradicionais despesas de início de ano — IPVA, IPTU e outras obrigações. Essa é uma época em que a inflação se torna mais palpável e dolorosa para o bolso, potencializando a sensação de deterioração econômica. Perda de popularidade na veia. O descontentamento popular cresce, mas o Carnaval, marcado para o final de fevereiro e início de março, oferece uma breve válvula de escape.
Quando março chega, com as novas lideranças do Congresso já empossadas, o governo ainda estará lutando para recuperar a credibilidade perdida em 2024. O cenário econômico permanecerá tenso: o câmbio elevado, os juros já em 14,25% ao ano e com possibilidade de novas altas, e os primeiros sinais mais evidentes do impacto desse aperto monetário sobre a economia real. A percepção de piora econômica, combinada com uma inflação ainda presente, alimentará a perda de popularidade do governo, forçando-o a agir. Entre março e abril, o governo deve promover a Reforma Ministerial, tentando equilibrar medidas adicionais de contenção de gastos com estratégias populistas destinadas a conter a queda de apoio popular. É uma dança arriscada, que determinará o tom da administração para o restante do ano.
A janela entre maio e junho marcará o encerramento do primeiro semestre, um momento crucial para definir os rumos políticos e econômicos até a eleição do ano seguinte. Será nessa ocasião que veremos se o governo optará por um caminho de total populismo, jogando o Brasil em uma espiral negativa de expectativas, ou se buscará uma abordagem mais equilibrada, ainda que minimamente aceitável. Essa incerteza, que paira sobre as decisões e as consequências, já está parcialmente refletida nos preços dos ativos. Mas pode piorar se for pelo caminho errado. É importante lembrar: 2025 é apenas uma ponte para 2026, o verdadeiro palco onde as grandes decisões e disputas políticas se materializarão. O jogo decisivo começa lá.
· 02:37 — Mercado forte
Nos Estados Unidos, a divulgação de dados acima do esperado pelo ISM Serviços (atividade econômica) e pelo relatório JOLTS (mercado de trabalho) desencadeou uma reação imediata no mercado, com a abertura das taxas dos títulos do Tesouro americano, fortalecimento do dólar e pressão sobre o mercado de ações. Esse movimento reflete a interpretação de que uma economia mais ativa implica inflação mais persistente, reduzindo o espaço para novos cortes nas taxas de juros.
A expectativa agora recai sobre a ata da última reunião do Federal Reserve, cuja publicação ganha relevância em um momento de incertezas sobre o direcionamento futuro da política monetária. Embora a economia americana mostre sinais de crescimento robusto, as atenções estão voltadas para o impacto das decisões políticas na economia ao longo de 2025. Essa incerteza confere um peso adicional às atas, tornando-as mais importantes do que normalmente seriam nesta fase do ciclo.
Além disso, o mercado aguarda o relatório de emprego ADP, que será mais uma peça no quebra-cabeça econômico antes do tão aguardado payroll na sexta-feira (10). Os dados mais recentes sugerem uma provável pausa no ciclo de cortes de juros já em janeiro, reforçando o tom de cautela entre os investidores.
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· 03:21 — O conquistador
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, realizou ontem uma coletiva de imprensa repleta de declarações que variaram entre o sério e o excêntrico, desafiando investidores a distinguir o que deve ser levado em consideração. Entre as preocupações mais plausíveis estão a política comercial, com a possibilidade de novas tarifas, e a política imigratória, que pode afetar o mercado de trabalho e, por extensão, a inflação. Contudo, o que realmente chamou atenção foram as declarações sobre uma suposta intenção de absorver o Canadá, acompanhadas de referências à Groenlândia e ao Canal do Panamá, incluindo menções a possíveis ações coercitivas.
A fixação de Trump na Groenlândia, que já havia sido motivo de controvérsias durante seu primeiro mandato, colocou a Dinamarca novamente no centro das atenções. O presidente também fez uma exigência audaciosa de que os aliados da OTAN aumentem seus gastos com defesa para 5% do PIB, embora tenha evitado entrar em detalhes sobre como essas propostas seriam implementadas. Autoridades dos países mencionados se apressaram em desmentir qualquer sugestão de seriedade nas ideias.
Embora seja evidente que algumas dessas afirmações beiram o surreal (ainda que o Canal do Panamá tenha sido administrado pelos EUA por décadas e a Groenlândia tenha despertado interesse americano várias vezes no passado), o ponto crítico aqui não é a literalidade dessas declarações, mas a estratégia de retórica agressiva que Trump parece estar adotando. Esse estilo, que provavelmente será ainda mais exacerbado do que em seu primeiro mandato, deve ser entendido como uma ferramenta de negociação, especialmente em questões geopolíticas.
Neste caso, o foco estratégico de Trump parece estar em áreas de importância militar, logística e econômica. O Canal do Panamá é vital para o comércio global, enquanto o interesse no Canadá e na Groenlândia pode estar ligado à crescente relevância do Ártico, com suas novas rotas comerciais e militares que emergem com o derretimento das calotas polares, fora a pressão para aumentar gastos militares na OTAN. Investidores e observadores devem se preparar para uma dose diária de volatilidade e declarações inesperadas relacionadas a essas questões nos próximos quatro anos.
·04:15 — Mais estímulos
A China anunciou uma nova rodada de incentivos destinados a estimular o consumo interno, numa tentativa de reverter a queda nos gastos domésticos. Entre as medidas, destacam-se subsídios de 15% para a compra de uma ampla gama de produtos, incluindo smartphones e diversos eletrodomésticos. Além disso, os incentivos foram ampliados para equipamentos agrícolas, reforçando o apoio a setores estratégicos.
No front monetário, as autoridades intensificaram suas ações para sustentar o yuan, que enfrenta crescente pressão de desvalorização. A preocupação de Pequim é clara: o crescimento econômico desacelerado, somado à perspectiva de tarifas comerciais iminentes e à ampliação do diferencial das taxas de juros em relação aos Estados Unidos, aumenta o risco de uma liquidação em massa de ativos denominados em yuan. Esse cenário poderia agravar ainda mais a já delicada situação econômica.
Apesar dos esforços, os novos estímulos não foram suficientes para reverter o pessimismo dos investidores na região. O mercado continua cauteloso, sinalizando que medidas mais robustas e abrangentes serão necessárias para restabelecer a confiança e impulsionar a recuperação econômica.
· 05:04 — Conferência relevante
Teve início ontem, em Las Vegas, a Consumer Electronics Show (CES), a maior exposição anual de tecnologia do mundo, que reúne mais de 150 mil participantes. O evento, que se estenderá até sexta-feira, destaca a presença massiva da inteligência artificial (IA), aplicada a uma variedade de soluções em hardware e software, tanto para uso comercial quanto pessoal.
Mais de 4 mil expositores esperam atrair a atenção de investidores interessados em inovações capazes de alavancar a produtividade…