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Mercado em 5 minutos

Ouro, moeda forte e títulos do tesouro americano podem ser os vencedores na tensão da Rússia; confira os destaques desta terça (27)

Na última semana de junho, os EUA estão quebrando uma sequência de altas e a breve rebelião do grupo Wagner eleva os preços de petróleo.

Por Matheus Spiess

27 jun 2023, 08:47 - atualizado em 27 jun 2023, 08:47

Blocos de ouro empilhados
Reprodução: Pixabay

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados da Ásia e do Pacífico começaram a última semana de junho sem uma única direção, mesmo com os mercados dos EUA quebrando uma sequência de várias semanas de vitórias na sexta-feira. Paralelamente, os investidores estavam com os olhos voltados para os eventos extraordinários na Rússia no fim de semana. A breve rebelião do grupo paramilitar privado Wagner eleva os preços do petróleo nesta manhã, mas não está claro qual será o impacto imediato sobre o apetite ao risco e a demanda por ativos tradicionais do avanço dos mercenários russos sobre Moscou e posterior acordo com o presidente Vladimir Putin — “portos seguros”, como ouro, moeda forte e títulos do tesouro americano podem ser os vencedores do processo. 

Os mercados europeus caem nesta manhã, assim como futuros americanos. As preocupações econômicas ocupam o centro do palco novamente à medida que os temores de recessão aumentavam, com taxas de juros elevadas na Europa e nos EUA sacudindo os mercados globais — na semana passada, as autoridades monetárias assumiram um tom “hawkish” (contracionista) no combate à inflação, ainda presente em muitas regiões. Complementarmente, o Fórum de Sintra, em Portugal, poderá trazer novidades dos banqueiros centrais que participam do evento na quarta-feira (28). Na agenda, contamos com pesquisa de sentimento empresarial da Alemanha e dos EUA. Na semana, teremos PCE de maio, também nos EUA, e dado de atividade chinesa. 

A ver… 

· 00:57 — Semana importante por conta do CMN 

No Brasil, os gatilhos para os investidores não devem envolver a agenda do Congresso, uma vez que os parlamentares estão fora de Brasília para cumprir agenda nas diversas festas juninas pelo país. A pauta deve ser retomada antes do recesso, nas duas primeiras semanas de julho — tanto o arcabouço como a reforma tributária devem avançar. Enquanto não temos novidades nesta frente, contamos com a ata do Copom amanhã, mesmo dia que teremos a prévia da inflação oficial de junho, e o Conselho Monetário Nacional (CMN) na quinta-feira, junto do Relatório Trimestral de Inflação (RTI). Sobre o conselho, espera-se que a meta seja mantida e o horizonte de atuação seja alterado, dissociando a meta do ano-calendário. Se isso se materializar, podemos ter com mais assertividade um corte de juros já em agosto. 

Enquanto isso, duas notícias pesam contra o Ibovespa nesta semana. A começar pela fala do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que disse querer uma mudança gradual na política de distribuição de dividendos — algo entre o mínimo exigido pela lei e o que temos hoje em dia. Sabemos que essas aparições mais polêmicas de Prates costumam agir mais como atuação vocal e diálogo com as bases do governo do que algo realmente preocupante. Ainda assim, a notícia pode gerar repercussão negativa. Assim como a informação de que haja uma articulação para que o governo tenha mais poder na Vale, colocando Guido Mantega no comando da mineradora. Eu não preciso dizer que a ideia é péssima e não tem nada a ver. Como o mercado repudia Mantega por tudo o que ele representa, duvido que a ideia avance. Foi mais para testar mesmo. 

· 01:59 — Quebrando a sequência de vitórias 

Nos EUA, o S&P 500 quebrou sua sequência de cinco semanas de altas consecutivas após uma fraca sexta-feira. O problema? Os banqueiros centrais continuam mais agressivos do que nunca, com aumentos das taxas de juros globais avançando rapidamente na semana passada. Assim, os investidores entram na última semana do trimestre com um posicionamento um pouco mais cauteloso, já que os temores de recessão voltaram à tona. 

Na agenda, teremos a divulgação dos resultados dos testes de estresse anuais do Federal Reserve, um dos principais focos do setor bancário — embora os maiores bancos pareçam menos vulneráveis, certas mudanças nos requisitos de capital podem impactar significativamente a lucratividade dos bancos regionais, provavelmente pesando sobre as ações dos bancos por mais algum tempo. 

Fora isso, contamos com o relatório de bens duráveis para maio e os dados de vendas de casas novas para maio, ambos na terça-feira. Por fim, mas não menos importante, teremos o relatório de dados pessoais de renda e despesas para maio na sexta-feira. O compêndio de informações, que incluem o famoso Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE, na sigla em inglês), deve mostrar um aumento de 0,4% na renda e um aumento de 0,3% nos gastos no mês passado. 

· 02:48 — Os avanços das criptos 

A Ásia está rapidamente se tornando o novo centro de gravidade dos mercados de criptomoedas. Como os reguladores americanos estão processando três grandes empresas de criptomoedas só neste ano, bilhões de dólares em volumes de negociação migraram para a Ásia. Essa mudança pode acelerar à medida que os investidores movem recursos para uma região onde várias jurisdições introduziram estruturas regulatórias e estão competindo por comerciantes de ativos digitais. Em outras palavras, os investidores estão migrando para Cingapura, Japão, Coreia do Sul, e Hong Kong, que este mês introduziu um novo regime regulatório para cripto. 

Paralelamente, o Bitcoin na última sexta-feira subiu para seu nível mais alto em cerca de um ano, subindo para mais de US$ 31.400 por moeda antes de reduzir seus ganhos de volta para a casa dos US$ 30.000. Os ganhos com o Bitcoin ocorrem logo após várias empresas financeiras aparentemente se aventurarem no mercado de criptomoedas. A BlackRock, por exemplo, se inscreveu recentemente para registrar um fundo negociado em bolsa de bitcoin. Outros nomes importantes também querem ganhar um espaço, como Charles Schwab, Fidelity Digital Assets e Citadel. Os esforços, porém, não muda o fato de que os negócios estão migrando para a Ásia. 

· 03:36 — As frustrações chinesas continuam 

Os dados do fim de semana da China enfatizaram como o consumo chinês difere do consumo da economia desenvolvida, à medida que as restrições do Covid diminuíram. Por exemplo, as viagens turísticas internas aumentaram em comparação com os níveis pré-pandêmicos, mas os consumidores estão gastando menos dinheiro em cada viagem, um forte contraste com os gastos imprudentes dos consumidores das economias desenvolvidas. 

Para se ter uma ideia, os gastos com viagens durante o feriado do festival do barco-dragão ficaram abaixo dos níveis pré-Covid, ressaltando a desaceleração do consumo. A receita do turismo doméstico atingiu US$ 5,2 bilhões no período, 94,9% do valor registrado em 2019 antes da pandemia. A economia da China está enfrentando evidências crescentes de desaceleração nas últimas semanas e vários bancos de investimento rebaixaram suas previsões de crescimento do PIB. 

· 04:08 — A fragilidade de Putin: os militares russos estão lutando entre si 

O final de semana foi emocionalmente volátil na Rússia. Existe muita confusão sobre o que de fato aconteceu, mas, em linhas gerais, o líder do grupo de mercenários Wagner, Yevgeny Prigozhin, contratado pelo governo russo para atuar ao seu lado na guerra contra a Ucrânia, se revoltou contra o Ministério da Defesa russo, tomando cidades e avançando regiões em poucas horas, demonstrando intenção de se dirigir à capital russa. A movimentação, ainda que não seja completamente explicada, parece derivar de uma insatisfação das tropas de Wagner com a estratégia militar russa, que não alcançou os resultados esperados em mais de um ano de conflito. 

O problema é que a possibilidade de queda de Vladimir Putin preocupa até mesmo seus adversários, como Estados Unidos e Europa, devido à posse de armamento nuclear pela Rússia; afinal, ninguém sabe quem o substituiria (substituir Putin por Prigozhin seria uma péssima ideia, por exemplo). A rebelião fracassou, mas se a instabilidade doméstica russa afetar o fornecimento de energia (e, portanto, os preços da energia), os mercados podem reagir mais fortemente. Putin parece enfraquecido e ninguém sabe muito bem para onde vamos, mas um acordo para finalizar a guerra na Ucrânia parece provável. O petróleo sobe nesta manhã, repercutindo a questão. 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.