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Outubro encerra ‘amargo’ no Brasil e temporada de balanços das Big Techs recebe Amazon (AMZO34) e Apple (AAPL34); confira os destaques da semana

Encerramos outubro com uma sensação mais amarga no Brasil, ainda incertos sobre o controle de crescimento desordenado dos gastos públicos.

Por Matheus Spiess

01 nov 2024, 09:09 - atualizado em 01 nov 2024, 09:09

Ibovespa IPCA mercado sep 500

Imagem: Freepik

Encerramos outubro com uma sensação mais amarga no Brasil, ainda rodeados de incertezas quanto à promessa de um projeto para controlar o crescimento desordenado dos gastos públicos. Parece que ainda vai demorar um pouco até que tenhamos clareza sobre os detalhes dessa questão, mas é possível que uma mudança se materialize em novembro, dependendo do alcance do esforço fiscal, após um setembro e outubro desafiadores. 

No cenário internacional, os investidores continuam analisando os resultados corporativos: Amazon e Intel se destacam nesta manhã, impulsionando os futuros americanos nesta sexta-feira (1º), que antecede uma semana com reunião de política monetária e eleições presidenciais nos EUA. A quarta-feira (6), promete ser uma “Super Quarta”, mas a conclusão da reunião do Fed foi adiada para quinta-feira (7).

Na Europa, as ações registram alta, encerrando bem uma semana difícil — talvez a pior em dois meses. Esse movimento ocorre após um dia negativo nos mercados asiáticos, mesmo com o PMI de manufatura da China em outubro superando as expectativas, enquanto o mercado seguiu o tom mais cauteloso observado nos mercados ocidentais ontem.

· 00:55 — Não fuja, ministro

No Brasil, outubro terminou de forma desafiadora, com o Ibovespa registrando uma queda de 1,6% no mês e acumulando uma desvalorização de 3,85% no ano (cerca de 20% em dólares). O mercado local foi impactado pelo desempenho negativo dos mercados internacionais e pela divulgação de balanços corporativos, além da já familiar preocupação com o quadro fiscal.

Ontem (31), tivemos um novo sinal de solidez da economia: os dados do mercado de trabalho superaram as expectativas dos investidores, com a taxa de desemprego caindo 0,2 ponto percentual para 6,4% em setembro, abaixo do consenso de mercado. Esse é o segundo menor índice da série histórica da PNAD Contínua, iniciada em 2012, ficando atrás apenas do trimestre encerrado em dezembro de 2013, quando alcançou 6,3%. Com ajuste sazonal, a taxa de desemprego caiu para 6,5%, o nível mais baixo desde março de 2012. A taxa de participação, porém, permaneceu estável em 62,2%, ainda em um patamar reduzido. Esses dados reforçam as expectativas de um aumento de 50 pontos-base na Selic na próxima reunião do Banco Central.

Além dos sinais atuais de atividade econômica, a principal preocupação segue sendo a desancoragem das expectativas. Combinado com uma economia americana ainda forte e o aumento das chances de vitória de Trump, fatores que impulsionam o dólar, o ceticismo local quanto ao cenário fiscal cria uma espiral negativa no câmbio.

Para agravar a situação, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estará na Europa na próxima semana, o que torna improvável a apresentação do pacote fiscal antes do dia 22 de novembro, quando será divulgado o relatório bimestral de receitas e despesas. Caso o governo não apresente as medidas até o final da próxima semana, é provável que isso ocorra apenas no final do mês.

Essa demora aumenta o receio dos investidores de que o corte de gastos fique abaixo da expectativa média de R$ 25,5 bilhões, sendo que o ideal seria algo em torno de R$ 50 bilhões. O governo busca maior flexibilidade para ajustar despesas no orçamento sem passar pelo Congresso, mas essa alteração não será simples de aprovar. Com isso, os juros voltam a subir e o câmbio se aproxima da marca de R$ 5,80.

· 01:47 — Ganhando tração

Nos Estados Unidos, novembro começa em um tom positivo após os bons resultados apresentados por Amazon e Intel na noite anterior. Esses números vieram em um momento oportuno, logo após uma quinta-feira turbulenta, onde os resultados de Microsoft e Meta, embora acima das expectativas, trouxeram preocupações em relação ao crescimento do serviço de nuvem da Microsoft e aos investimentos em infraestrutura da Meta, afetando o sentimento dos investidores.

Felizmente, Amazon e Intel agora oferecem algum alívio, contribuindo para uma melhora no clima desta sexta-feira (1º). Já a Apple, que também divulgou seus resultados, não obteve um desempenho tão expressivo e provavelmente não dominará as manchetes do dia.

Em relação à inflação, o índice de preços preferido pelo Federal Reserve indicou que a inflação continua convergindo para a meta anual de 2% em setembro, embora o ritmo mensal de crescimento dos preços tenha se acelerado levemente. Diante disso, a expectativa de que o Fed realize um corte nas taxas de juros na reunião de 6 e 7 de novembro segue como a mais provável, enquanto o mercado aguarda os dados de emprego de outubro, que serão divulgados hoje.

Entre os resultados corporativos que se destacam na agenda, temos Charter Communications, Chevron, Dominion Energy e Exxon. O foco, porém, estará sobre o aguardado relatório de payroll de outubro. O consenso do mercado estima um acréscimo de 108 mil vagas nas folhas de pagamento não agrícolas, após um aumento de 254 mil em setembro, com a taxa de desemprego projetada para permanecer estável em 4,1%. Vale destacar que o relatório de outubro pode refletir efeitos temporários, como greves e eventos climáticos, mas ainda assim, deve fornecer mais um indicativo da solidez da economia americana.

· 02:34 — Notícias amargas

No Reino Unido, o recém-eleito governo trabalhista apresentou esta semana seu aguardado plano fiscal, com o objetivo de estimular o crescimento de longo prazo e reduzir a crescente dívida pública. Em sintonia com boa parte da Europa, o país busca um equilíbrio fiscal enquanto enfrenta desafios econômicos complexos.

Rachel Reeves, a primeira mulher a ocupar o cargo de chanceler do Tesouro, está determinada a impulsionar a economia britânica, mas seu plano inclui uma alta de impostos, somando US$ 52 bilhões em novas arrecadações, com o intuito de expandir os gastos em serviços públicos. Desde o anúncio, o mercado reagiu negativamente, refletido na elevação dos juros, na desvalorização da libra e na queda das ações.

A situação fiscal preocupante não é exclusiva do Reino Unido. Na França, o governo anunciou medidas de austeridade no início do mês passado para lidar com seu déficit público, que está entre os mais graves da Europa. Na Alemanha, que enfrenta o risco de recessão, o governo implementou cortes drásticos nos gastos. Essa situação reflete o legado da pandemia: as principais economias da Europa já não possuem o vigor de antes, e o eco da “hegemonia dos EUA” soa cada vez mais forte entre os formuladores de políticas externas europeias. Esse momento serve como um alerta para economias altamente endividadas e reticentes em adotar ajustes fiscais consistentes e eficazes.

· 03:23 — Uma grande oportunidade

A inteligência artificial (IA) tem o potencial de ser a tecnologia que oferece à humanidade uma oportunidade sem precedentes de avançar em áreas como crescimento, educação, cura, inovação, criação e construção de um mundo mais próspero e justo, tudo em uma escala global jamais vista. Há quem acredite que essa onda de inovação tecnológica poderia impulsionar uma nova forma de globalização, já que o modelo antigo se vê limitado pelos desafios geopolíticos do mundo atual.

Nas últimas décadas, a globalização criou uma classe média global, mas concentrou riqueza, deixando muitas pessoas ainda à margem. Agora, com o avanço da IA e tecnologias relacionadas, aqueles anteriormente excluídos podem ter acesso a uma educação de qualidade, assistência médica e novas oportunidades de crescimento profissional e pessoal. Isso sugere que as novas tecnologias poderiam beneficiar especialmente países com altos níveis de desigualdade, como Índia e Brasil.

Essa visão não é unânime: alguns argumentam, por outro lado, que essas inovações poderiam acentuar a concentração de renda. É possível, realmente. No entanto, mesmo que as principais empresas do setor sejam americanas, tendo a ver as ferramentas de IA como promissoras para promover a inclusão social, assim como outras inovações tecnológicas recentes no Brasil, como a expansão da telefonia móvel e a própria criação do PIX, que trouxeram impacto positivo à população em geral.

· 04:16 — Partição

É improvável que a Ucrânia consiga recuperar todo o seu território, e Vladimir Putin tampouco devolverá essas terras voluntariamente. Assim, com ou sem um acordo de paz, a Ucrânia provavelmente terminará dividida de fato. Essa é a visão predominante entre especialistas no tema, como destaca a Eurasia Group. A questão central passa a ser se uma Ucrânia pós-guerra poderá vislumbrar um futuro mais seguro e próspero, integrado ao restante do mundo e livre da ameaça de novas agressões russas.

O alcance desse cenário depende do quanto de apoio diplomático, econômico e de segurança Kiev receberá de seus aliados ocidentais nos próximos dois a três anos. Afinal, estamos diante do primeiro conflito direto da chamada Nova Guerra Fria: uma guerra híbrida, não oficialmente declarada, contra a Rússia.

O apoio diplomático à Ucrânia continua firme. Embora o processo de integração à União Europeia seja longo e enfrente oposição crescente à medida que partidos pró-Rússia ganham força na Europa, o objetivo permanece endereçado. Com o apoio europeu amplamente consensual e uma liderança pró-Ucrânia na UE, pelo menos por mais um mandato, a perspectiva de adesão ainda parece viável. No âmbito econômico, porém, o apoio deve continuar, embora em níveis menores que os atuais. O suporte em segurança, por sua vez, permanece o maior desafio, seja por meio de uma adesão à OTAN ou de uma garantia de segurança formal.

Ainda que o conflito em solo ucraniano se estabilize nos próximos anos, o confronto mais amplo entre a Rússia e o Ocidente tende a se tornar cada vez mais delicado.

· 05:02 — Arrancada

Após o fechamento do mercado ontem, a Amazon (AMZN) divulgou seus resultados do terceiro trimestre de 2024, superando as projeções dos analistas. Como reflexo, as ações registraram uma valorização superior a 7% no pre-market desta sexta-feira. Com uma valorização em dólares de mais de 35% nos últimos 12 meses, surge a questão: ainda há espaço para crescimento?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.