Às vésperas do feriado de Ação de Graças nos EUA, que começa a impactar a liquidez dos mercados globais a partir de amanhã (28), o dia de hoje (27) é marcado por importantes divulgações econômicas, como o PIB do terceiro trimestre dos EUA e o PCE de outubro, o indicador de inflação preferido do Federal Reserve.
Esses dados serão cruciais para avaliar as perspectivas econômicas e monetárias, especialmente em um cenário de crescente incerteza global. No plano internacional, o mercado segue reagindo às ameaças de Donald Trump de impor novas tarifas sobre importações do México, Canadá e China. Caso implementadas, essas medidas poderiam pressionar a inflação, dificultando o ciclo de afrouxamento monetário esperado para o próximo ano.
Essa tensão afeta particularmente o mercado europeu, onde os principais índices estão em queda, impactados principalmente pelo recuo nas ações de fabricantes de automóveis. Na Ásia, o desempenho dos mercados foi misto, mesmo diante de sinais de melhora na margem de lucro industrial em outubro, que recuou menos do que em setembro.
Já os futuros americanos apresentam correções nesta manhã, após o fechamento em novos recordes no dia anterior.
No front geopolítico, uma notícia positiva: Israel e o grupo Hezbollah no Líbano chegaram a um acordo de cessar-fogo, o que reduz significativamente um dos principais riscos do cenário internacional.
· 00:55 — Atrasou demais
No Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem uma agenda importante com reuniões previstas para hoje com Arthur Lira e líderes da Câmara, e apenas amanhã com Rodrigo Pacheco e líderes do Senado. Com isso, a apresentação do aguardado e já muito atrasado pacote fiscal deve ser adiada (mais uma vez) para quinta (28) ou sexta-feira (29). Embora o governo insista em tentar votar o pacote ainda este ano, enfrentará sérias dificuldades. O maior problema é que pode ter esperado tempo demais, comprometendo o momento ideal para sua aprovação.
Nesse contexto, o Ibovespa em dólares acumula uma desvalorização de cerca de 20% no ano, marcando o pior desempenho desde 2015, quando o índice despencou 41,03%. A falta de credibilidade nas ações do governo está pesando sobre os mercados, mantendo o dólar em R$ 5,80 e a curva de juros precificando uma Selic de 14%. Essa situação é agravada pelo resultado do IPCA-15 de novembro, que acelerou para 0,62% na comparação mensal, superando as expectativas e adicionando pressão.
Diante desse cenário, não seria surpreendente que o Banco Central optasse por uma nova alta de 75 pontos-base na Selic em dezembro, decisão que poderia ter sido evitada caso o governo tivesse sido mais ágil e transparente tanto na apresentação do pacote quanto na sua comunicação. A situação piora com declarações como a do líder interino do governo no Senado, Otto Alencar, que começou a sinalizar que o pacote pode ficar para 2025, uma mensagem extremamente negativa para o mercado.
A desorganização no Congresso Nacional também contribui para o pessimismo. A agenda legislativa está claramente desordenada, a ponto de Arthur Lira cogitar uma convocação extraordinária da Câmara para janeiro, com o objetivo de votar a regulamentação da reforma tributária. Esse conjunto de fatores reflete não apenas a fragilidade do cenário político e fiscal, mas também a ausência de uma estratégia clara que possa restaurar a confiança dos mercados no curto prazo.
· 01:44 — O que buscamos?
Diante da demora no anúncio do pacote fiscal pelo governo, um grupo de parlamentares está finalizando uma PEC com medidas próprias de corte de despesas e já busca assinaturas para protocolar um texto alternativo. A proposta foi elaborada com o apoio da Consultoria de Orçamento da Câmara e prevê uma economia de R$ 1,5 trilhão em dez anos. Entre suas medidas, destaca-se a desvinculação dos benefícios previdenciários do INSS, do BPC e do abono salarial do salário mínimo. Além disso, a PEC sugere a revogação dos pisos constitucionais de Saúde e Educação, bem como da complementação da União ao Fundeb, além de limitar o crescimento das emendas parlamentares a um percentual fixo das despesas discricionárias. Embora seja improvável que essa proposta avance, sua existência evidencia o vácuo deixado pelo governo ao adiar indefinidamente a apresentação de seu próprio plano fiscal.
O cenário econômico tornou-se significativamente mais adverso, e é imperativo que o governo implemente um ajuste estrutural na política fiscal. Atualmente, as despesas obrigatórias, sob o limite de gastos, crescem em um ritmo mais acelerado do que o teto, comprimindo as despesas discricionárias ao longo do tempo e tornando o quadro fiscal insustentável. Sem mudanças, é improvável que a rigidez orçamentária seja superada, especialmente sem desvincular benefícios sociais, como pensões, do salário mínimo.
Para restaurar a credibilidade, o governo precisa demonstrar que seu arcabouço fiscal é eficaz e que, ao cumprir suas metas, será capaz de estabilizar a relação dívida/PIB em níveis administráveis. Esse movimento é essencial para recuperar a confiança do mercado e traçar um caminho mais positivo para a economia, definindo se o Brasil terá ou não condições de consolidar um 2025 mais promissor.
· 02:32 — Gradual
Nos EUA, o destaque permanece nas ameaças do presidente eleito Donald Trump de impor tarifas punitivas sobre bens importados de seus três principais parceiros comerciais: México, Canadá e China. Essas declarações impulsionaram o dólar americano em relação ao peso mexicano e ao dólar canadense, enquanto exerceram pressão sobre as ações de várias empresas industriais norte-americanas, especialmente montadoras e setores dependentes do comércio internacional. Apesar desse impacto, os índices S&P 500 e Dow Jones alcançaram novos recordes em seus fechamentos, refletindo o otimismo do mercado com outros fatores econômicos.
Além do cenário político, o Federal Reserve divulgou ontem (26) a ata de sua reunião de política monetária de 6 a 7 de novembro. O documento reforçou o tom de gradualismo adotado pelo Fed. A instituição permanece confiante de que a inflação está convergindo para sua meta de 2% ao ano, o que sustenta a manutenção de uma postura cautelosa. Sobre o tema, hoje o mercado estará atento à divulgação do índice de preços de despesas de consumo pessoal (PCE) referente a outubro, o indicador de inflação favorito do Fed. As projeções indicam um aumento de 2,3% na comparação anual, enquanto o núcleo do índice (que exclui itens mais voláteis) deve acelerar para 2,8%. Caso os números fiquem abaixo das expectativas, isso pode reforçar as apostas em um corte adicional de 25 pontos-base na reunião do Fed de dezembro.
· 03:29 — Entre a confiança e a contradição
A vitória de Donald Trump parece ter gerado um impulso de otimismo na economia. No entanto, um dos desafios para os investidores ao tentar interpretar as implicações de um novo governo Trump é a aparente contradição em seus objetivos econômicos: por um lado, busca tarifas de importação mais altas e um dólar mais baixo para beneficiar os fabricantes norte-americanos; por outro, deseja que o dólar continue sendo a moeda de reserva global e que a inflação permaneça controlada.
A força do dólar está intrinsecamente ligada a fatores como taxas de juros, que por sua vez respondem à inflação. Curiosamente, durante o primeiro mandato de Trump, a taxa tarifária efetiva sobre as importações chinesas aumentou em 18 pontos percentuais, mas a inflação não acelerou. O motivo disso foi que a China depreciou sua moeda em cerca de 14%, compensando mais de três quartos do impacto das tarifas. Além disso, muitos importadores optaram por absorver os custos, reduzindo o impacto inflacionário.
A questão agora é se as propostas mais agressivas de Trump em um eventual segundo mandato levariam a um cenário semelhante. Isso dependerá da forma como as medidas forem implementadas. Caso as novas tarifas sejam introduzidas de forma gradual, o impacto sobre a economia global e sobre a inflação pode ser atenuado, minimizando os choques. Quanto mais gradual e coordenada for a implementação, maiores as chances de mitigar distorções e evitar rupturas significativas.
· 04:18 — Finalmente
Israel e o grupo extremista Hezbollah, apoiado pelo Irã no Líbano, chegaram a um acordo para interromper um conflito que se estendia há mais de um ano. O anúncio foi feito pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que desempenhou papel crucial na mediação do acordo. O entendimento prevê um cessar-fogo de 60 dias, ao qual Israel concordou, permitindo uma pausa nas hostilidades na fronteira norte.
Apesar desse avanço, o conflito em Gaza, iniciado após os ataques terroristas de outubro do ano passado, continua sem solução, já que as negociações com os terroristas do Hamas não resultaram em um acordo, pelo menos até o momento.
No entanto, a trégua na fronteira com o Líbano é vista como uma oportunidade para Israel redirecionar seu foco para as ameaças iranianas e isolar ainda mais o Hamas. Para a comunidade internacional, essa trégua é uma notícia positiva, reduzindo o risco de uma escalada ainda maior no conflito regional. No mercado global, o preço do petróleo até apresenta uma leve alta nesta manhã, mas permanece abaixo dos níveis levemente mais elevados observados na semana passada, refletindo a diminuição imediata das tensões na região e compensando pela escalada na Ucrânia.
· 05:06 — Um dos meus resultados favoritos da temporada
Com o encerramento da temporada de resultados do terceiro trimestre, algumas companhias apresentaram números muito positivos, e a Direcional (DIRR3) foi um dos grandes destaques, reforçando seu excelente momento operacional.
A dúvida que persiste é: após a ação acumular alta de 46% no ano e cerca de 70% nos últimos 12 meses, ainda há espaço para valorização?