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A tensão nos mercados globais é evidente nesta manhã, à medida que investidores aguardam ansiosamente a divulgação do payroll de janeiro nos EUA, considerado o dado econômico mais importante da semana. O relatório trará uma visão detalhada sobre o desempenho do mercado de trabalho americano no primeiro mês do ano e pode ter implicações significativas para a política monetária do Federal Reserve.
Caso os números venham acima do esperado, reforçando a resiliência da economia americana, as expectativas de novos cortes de juros pelo Fed podem ser reduzidas drasticamente. Isso, por sua vez, tende a intensificar o sentimento de aversão ao risco nos mercados globais, impulsionar os yields dos Treasuries e fortalecer o dólar, ampliando a pressão sobre os ativos de risco.
Esse ambiente de cautela já se reflete nos mercados internacionais. As bolsas europeias operam predominantemente em baixa, enquanto os índices asiáticos encerraram o pregão sem uma direção definida. Nos EUA, os futuros de Wall Street também recuam, com os investidores repercutindo os resultados da Amazon (AMZO34), que decepcionou o mercado na noite de ontem.
No mercado de commodities, o petróleo registra alta após os EUA anunciarem novas sanções contra as exportações de petróleo do Irã. No entanto, a commodity caminha para encerrar sua terceira semana consecutiva de queda, pressionada pela escalada da guerra comercial entre Trump e a China, além das ameaças do ex-presidente de ampliar as tarifas a outros países. A promessa de Trump de expandir a produção doméstica de petróleo também contribui para a fraqueza dos preços no médio prazo.
· 00:56 — Experimente substituir o suco de laranja pelo de cenoura, por exemplo
Por aqui, o dólar voltou a recuar frente ao real na quinta-feira (6), atingindo seu menor patamar desde novembro do ano passado – quando o governo apresentou o seu pacote tímido e insuficiente para conter o crescimento dos gastos públicos. O movimento de queda da moeda americana ocorreu em paralelo à alta do Ibovespa, impulsionado principalmente pelo desempenho das ações de mineração e siderurgia.
Para esta sexta-feira (7), os investidores acompanham a repercussão do resultado do Bradesco (BBDC4), divulgado nesta manhã. A reação inicial não foi positiva, com as ações do banco registrando queda no pre-market dos EUA, o que pode pressionar todo o setor financeiro ao longo do pregão. Além disso, o dia conta com uma entrevista do ministro Fernando Haddad pela manhã (espera-se mais do mesmo) e discursos de diretores do Banco Central, que podem trazer novos sinais sobre a condução da política monetária.
No campo político, declarações recentes do presidente Lula chamaram atenção e trouxeram preocupações ao mercado. Em tom claramente eleitoreiro, o presidente voltou a adotar uma retórica populista, reforçando a percepção de que o governo pode intensificar medidas para tentar recuperar popularidade – um esforço que, na prática, deve esbarrar em um cenário econômico desafiador. Com inflação e desemprego em alta, a piora do índice de miséria já está contratada para este ano, o que limita a capacidade do governo de reverter sua trajetória de aprovação. Não quero nem ver…
Entre as declarações mais controversas, uma frase específica gerou grande repercussão: “Se você vai ao supermercado e vê que um produto está caro, não compre.” A recomendação, além de desconectada da realidade da população, remete a outras tentativas do governo de terceirizar a responsabilidade pelo aumento dos preços. Em episódios anteriores, membros do governo sugeriram substituir carne de primeira por carne de segunda, alface por chicória e, mais recentemente, suco de laranja por suco de cenoura. A fala virou munição para a oposição, mas o ponto mais crítico segue sendo a insistência do governo na proposta de isenção do IR.
A equipe econômica propõe uma nova alíquota mínima para aqueles que ganham acima de R$ 50 mil e atualmente não são tributados, como forma de compensação, mas os números não parecem fechar. Como já discutimos antes, há méritos na revisão da tributação sobre a renda no Brasil, mas não da forma como está sendo conduzida – claramente uma estratégia eleitoral para 2026. Além disso, a ideia de isentar 90% da população do IR transformaria o Brasil em um experimento global sem precedentes, colocando o país na contramão das tendências econômicas internacionais, que hoje priorizam um modelo mais pró-mercado, fiscalmente responsável e menos estatizante.
Outro ponto de atenção é a intenção do governo de anunciar novas medidas para ampliar o crédito, em um momento em que o Banco Central mantém uma postura restritiva, com os juros ainda elevados. A estratégia lembra a imagem de um motorista acelerando com o freio de mão puxado, tentando estimular a economia enquanto a política monetária segue restritiva. Resta saber se as novas lideranças do Congresso conseguirão impor um mínimo de racionalidade ao debate econômico. Pelo menos, as primeiras declarações do novo presidente da Câmara, Hugo Motta, foram bem recebidas pelo mercado. Ele reforçou a posição de que não há espaço para aumento de impostos e que o verdadeiro problema está nos gastos públicos – um sinal positivo, mas que precisa se traduzir em medidas concretas para restaurar a confiança fiscal.
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· 01:43 — Um mercado de trabalho ainda forte
Nos EUA, todas as atenções do mercado estão voltadas para a divulgação do relatório de emprego de janeiro, que será publicado nesta manhã. A expectativa é de que a economia americana tenha adicionado 170 mil postos de trabalho, um número inferior aos 256 mil empregos criados em dezembro, mas que ainda indica força no mercado de trabalho. A taxa de desemprego, por sua vez, deve permanecer estável em 4,1%.
Alguns fatores sazonais, no entanto, podem ter influenciado negativamente os números deste mês. Incêndios florestais na Califórnia, que afetaram a região de Los Angeles, e um janeiro excepcionalmente frio em grande parte do país podem ter reduzido a criação de empregos em até 70 mil vagas. Além dos dados principais, os investidores também acompanharão possíveis revisões nos números dos meses anteriores, que podem trazer novos sinais sobre a real dinâmica do mercado de trabalho.
Caso o relatório venha abaixo das expectativas, pode haver um aumento nas apostas de cortes de juros pelo Federal Reserve ao longo do ano, o que teria impacto direto nos mercados. Além do payroll, o calendário econômico de hoje inclui a pesquisa de sentimento do consumidor de Michigan, que pode trazer mais pistas sobre a confiança da população na economia americana.
No campo corporativo, a temporada de balanços segue no radar dos investidores. O destaque negativo do dia fica para a Amazon (AMZO34), que apresentou seus resultados na noite de ontem (6) e não agradou o mercado, pressionando os futuros americanos e influenciando o tom das negociações nesta sexta-feira (7).
· 02:38 — As grandes já foram
Ainda nos EUA, a temporada de resultados do quarto trimestre já está próxima da metade, com os balanços das principais gigantes da tecnologia praticamente todos divulgados. Empresas como Alphabet, Amazon, Apple, Meta Platforms e Microsoft já apresentaram seus números, enquanto a Nvidia ainda divulgará seus resultados em 26 de fevereiro, cobrindo o trimestre fiscal de novembro a janeiro.
O desempenho das Big Techs neste início de ano tem sido misto, refletindo tanto os desafios quanto as oportunidades do setor. Meta Platforms (M1TA34) foi o grande destaque positivo, com uma valorização impressionante de 21% desde o início de 2025, impulsionada pelo forte crescimento em publicidade e uma perspectiva otimista para inteligência artificial. Já a Apple (AAPL34) segue no sentido oposto, acumulando uma queda de 7% no ano, pressionada por preocupações com o desempenho na China e a estagnação das vendas do iPhone. Amazon (AMZO34) subia 9% no acumulado de 2025 (até ontem), enquanto Alphabet (GOGL34) avança 1% e Microsoft (MSFT34) apresenta uma leve queda de 1%. Em comparação, o S&P 500 já acumula alta de 3,6% no ano, o que indica que, até o momento, o desempenho das gigantes não tem sido o principal motor do índice.
Os números combinados dessas cinco empresas são expressivos: US$ 128 bilhões em lucro líquido sobre US$ 523 bilhões em receita apenas no último trimestre de 2024. O crescimento na receita de publicidade se destacou como um dos principais impulsionadores, mas, ao mesmo tempo, as empresas anunciaram planos agressivos de investimento em infraestrutura para inteligência artificial, o que deve elevar significativamente o capex nos próximos trimestres. Olhando para frente, uma possível tendência para 2025 pode ser um desempenho menos concentrado nessas gigantes e um retorno mais equilibrado entre os componentes do S&P 500, o que abriria espaço para uma recuperação mais ampla e menos dependente das Big Techs.
· 03:25 — Peace maker?
O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou novas sanções contra o Irã, ampliando as restrições a empresas que facilitam o transporte de petróleo e energia do país. O governo americano alega que o regime iraniano continua utilizando suas receitas do setor energético para financiar o desenvolvimento de seu programa nuclear, a produção de mísseis balísticos e drones, além de apoiar grupos terroristas regionais aliados. Ou seja, as novas medidas visam estrangular essas fontes de financiamento.
Essa sanção faz parte de um conjunto mais agressivo de ações adotadas pelo governo Trump em diversas frentes geopolíticas. Outro exemplo desse endurecimento ocorreu na América Central, onde os Estados Unidos pressionaram o Panamá a reduzir a influência chinesa sobre o Canal do Panamá. Como consequência, o presidente panamenho, José Raúl Mulino, anunciou que irá cancelar o acordo econômico do país com a Nova Rota da Seda, um dos principais projetos estratégicos da China.
Por outro lado, enquanto eleva a pressão econômica sobre adversários estratégicos, Trump parece buscar um desfecho diplomático para a guerra na Ucrânia. Ontem, foi vazado um suposto plano de paz elaborado pelo governo americano, no qual Trump tentaria forçar o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky a aceitar um cessar-fogo com a Rússia até a Páscoa. O plano incluiria a exigência de que a Ucrânia desistisse de ingressar na OTAN e reconhecesse a soberania russa sobre as áreas anexadas. Além disso, Kiev teria que retirar suas tropas da região russa de Kursk, enquanto um contingente de soldados europeus seria mobilizado para patrulhar a região.
Se esse plano for bem-sucedido, é possível que boa parte do atual “prêmio geopolítico” nos mercados financeiros se dissipe, reduzindo a percepção de risco associada à guerra na Ucrânia. No entanto, resta saber se Zelensky e os líderes europeus aceitarão os termos dessa proposta — seria uma mudança significativa na posição ocidental.
· 04:14 — Consequências…
À medida que medidas protecionistas se tornam cada vez mais comuns, a economia global enfrenta um risco crescente de fragmentação. No entanto, a ideia de que a multipolaridade resultará no fim da globalização é equivocada. Embora o número de restrições comerciais e barreiras tarifárias esteja em ascensão, as grandes potências econômicas não podem simplesmente contar com alianças estáveis entre Estados para impor barreiras comerciais eficazes.
Na realidade, países terceiros tendem a atuar como intermediários, facilitando o comércio indireto entre as superpotências globais e ajudando a mitigar atritos comerciais diretos. Esse fenômeno já pode ser observado no caso da China, que aumentou significativamente seus investimentos estrangeiros diretos em países como Vietnã e México, utilizando esses mercados como plataformas de acesso indireto ao mercado dos EUA, contornando as restrições americanas.
Esse comportamento demonstra que as chamadas “guerras comerciais” são ineficazes em um mundo multipolar, pois as cadeias de suprimentos globais são altamente interligadas, complexas e lucrativas demais para que qualquer país consiga reconfigurá-las completamente sem custos expressivos. Ainda assim, a pressão governamental para fortalecer a resiliência das cadeias de suprimentos e reduzir a dependência de concorrentes estratégicos continua a crescer. Diversos países já implementam políticas para relocalizar parte da produção industrial, buscando maior controle e menor vulnerabilidade a rupturas externas. Ao mesmo tempo, esforços para restringir o crescimento econômico de rivais não alinhados devem continuar, gerando volatilidade nos mercados e impactando setores sensíveis ao comércio internacional.
O cenário que se desenha não é de um fim da globalização, mas sim de uma reconfiguração de fluxos comerciais, em que a interdependência global persiste, ainda que sob novas dinâmicas e com um grau maior de incerteza geopolítica.
· 05:09 — MEGA: Make Europe Great Again
As bolsas europeias vêm apresentando um desempenho excepcional em 2025, superando Wall Street nas primeiras seis semanas do ano e registrando sua melhor performance relativa em uma década. No entanto, ainda pairam incertezas sobre a sustentabilidade desse movimento, principalmente diante da fragilidade da economia da zona do euro. No livro A Estranha Morte da Europa (2017), Douglas Murray argumenta que o continente precisa reafirmar sua identidade e valores culturais para enfrentar a crise existencial que se desenhou ao longo das últimas décadas