Bom dia, pessoal. A última semana destacou-se pelas declarações emitidas pelos bancos centrais mundiais. O Banco do Japão (BoJ), por exemplo, iniciou os trabalhos com uma grande mudança, elevando as taxas de juros do território negativo após quase oito anos, marcando o primeiro aumento de juros em 17 anos. O Federal Reserve (Fed) americano, por sua vez, apaziguou as inquietações do mercado frente aos dados inflacionários robustos deste início de ano, reafirmando a previsão de três reduções de taxas em 2024, porém deixou em aberto quando os cortes começariam. Surpreendendo a todos, o banco central da Suíça iniciou o ciclo de cortes de juros na Europa, enquanto o Banco da Inglaterra (BoE) sinalizou uma transição significativa, com dois de seus membros anteriormente favoráveis a aumentos optando pela manutenção das taxas, abrindo o caminho para cortes a partir de meados do ano.
Nesta segunda-feira, as ações asiáticas mostraram-se relativamente estáveis, com o mercado em expectativa pelas importantes divulgações econômicas iminentes, especialmente após o Nikkei 225 do Japão recuar das máximas históricas registradas na semana anterior. Na China, a situação foi menos otimista hoje, após o governo orientar entidades estatais a cessarem o uso de chips da Intel e da Advanced Micro Devices, além de flertar com o abandono do sistema operacional Windows da Microsoft. Os mercados europeus iniciaram o dia em baixa, seguidos pelos futuros dos EUA. A semana será mais curta devido ao feriado da Páscoa, que interrompe as atividades de mercado na sexta-feira. Estamos atentos a qualquer esclarecimento adicional sobre o planejamento de cortes nas taxas de juros.
A ver…
· 00:54 — Sinais na ata
Nesta semana, a atenção do Brasil se concentra na iminente publicação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), prevista para amanhã. Esse documento trará luz sobre os rumos futuros da política monetária determinados pelo Banco Central, aspecto que será rigorosamente avaliado pelos agentes de mercado. Em sua recente reunião, o BC decidiu por uma diminuição da taxa Selic em 50 pontos-base e, adicionalmente, escolheu uma via mais adaptável para futuras decisões, ajustando sua comunicação ao retirar o plural do “forward guidance”. Tal ajuste, embora não elimine completamente a chance de mais reduções de 50 pontos na taxa após maio, sugere uma expectativa moderada. Elementos adicionais, como o IPCA-15 desta terça-feira e o Relatório Trimestral de Inflação na quinta, desempenharão um papel crucial, refinando as projeções para a Selic terminal, que pessoalmente ainda prevejo em 9%.
O ambiente externo tem exercido uma influência determinante sobre o mercado brasileiro, especialmente notável na recente performance inferior das ações de commodities e empresas estatais. Paralelamente, no âmbito doméstico, a situação fiscal do Brasil merece observação cuidadosa. A última semana culminou com a oficialização de um bloqueio orçamentário, não um contingenciamento (ainda), de R$ 2,9 bilhões — abaixo das previsões iniciais de R$ 5 bilhões. Contudo, essa medida não foi capaz de aplacar as inquietudes do mercado, sobretudo pela indefinição de como o governo enfrentará os iminentes desafios fiscais. Essa incerteza faz com que o Banco Central mantenha em aberto a possibilidade de ajustes adicionais pós-maio. Em um contexto onde a estabilidade fiscal permanece incerta, espera-se que a política monetária exerça seu papel de estabilizador (âncora monetária ao invés da fiscal).
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· 01:47 — O ritmo de atividade
Em síntese, os Bancos Centrais das nações desenvolvidas têm manifestado uma inclinação crescente para iniciar ciclos de redução das taxas de juros a partir de meados do ano, proporcionando uma sensação de estabilidade aos mercados financeiros devido à interconexão global das políticas monetárias. No entanto, as diferenças regionais quanto à execução dessas políticas revelam peculiaridades.
Nesta semana, abreviada pelo feriado, a atenção se volta para a divulgação do índice PCE de fevereiro, preferencial do Fed para mensurar a inflação, e para a atualização dos dados do PIB do último trimestre. Além disso, aguarda-se ansiosamente por novas declarações de figuras-chave como Jerome Powell, cujos comentários poderão esclarecer ainda mais a direção futura da política monetária.
Há expectativa por insights adicionais que possam ajustar as projeções do mercado. Por exemplo, Raphael Bostic, um dos membros do Fed, sugeriu que um único corte nas taxas seria suficiente para este ano, levantando dúvidas sobre a prevalência de sua visão na próxima reunião. O desafio, semelhante ao enfrentado no Brasil, é que novas informações possam desestabilizar a expectativa de três reduções na taxa de juros ao longo do ano. Mantenho a perspectiva de que haverá três cortes de 25 pontos-base, iniciando em junho, seguido por setembro e dezembro.
· 02:36 — Regulando
Recentemente, a União Europeia deu um passo pioneiro ao ratificar a primeira legislação extensiva dedicada à inteligência artificial (IA), estabelecendo normas de segurança para circunscrever esta tecnologia avançada. Prevista para vigorar em maio, esta regulamentação representa o culminar de três anos de deliberações (precedendo a era do ChatGPT) e categoriza as aplicações de IA conforme o nível de risco, variando de práticas “inaceitáveis” (ou seja, proibidas) a outras consideradas de baixo risco. As infrações a esta lei podem acarretar penalidades severas para as corporações, incluindo as titãs americanas de tecnologia.
Especificamente, a nova lei veta o uso de IA em maneiras que possam infringir direitos fundamentais, como sistemas de reconhecimento facial construídos a partir de imagens obtidas online ou câmeras de vigilância, e programas capazes de analisar emoções em ambientes laborais. Ademais, está previsto que conteúdos gerados por IA sejam devidamente identificados para prevenir a disseminação de desinformação por meio de falsificações avançadas, e que os algoritmos de IA respeitem as normativas europeias de direito autoral (com empresas como Microsoft e OpenAI enfrentando ações legais significativas por supostas violações desses direitos).
Este marco legislativo surge em uma conjuntura em que autoridades globais buscam regular uma tecnologia que evolui a passos largos. Uma porção considerável das corporações europeias já implementou algum tipo de IA, e cerca de 27% dos cidadãos americanos reportaram interações diárias com a tecnologia no último ano. Gigantes da indústria, como Microsoft, OpenAI e Meta, participaram ativamente do processo legislativo, visando influenciar a formatação dessas normas. As iniciativas regulatórias anteriores da UE já impuseram mudanças significativas nas operações das empresas de tecnologia americanas, marcando este evento como o início de um extenso e complexo debate sobre o futuro da IA.
· 03:22 — O R-estrela
Na reunião da semana passada, o Federal Reserve manteve sua perspectiva para 2024, mas revelou um ajuste significativo nas expectativas de longo prazo para o crescimento econômico e as taxas de juros, sugerindo uma abordagem mais cautelosa da política monetária nos anos vindouros. Conforme os comentários de Powell, prevalece a sensação de que as taxas de juros não retornarão aos níveis historicamente baixos experimentados na década seguinte à crise financeira de 2008. Esta noção foi reforçada pelo Sumário de Projeções Econômicas (SEP) do Fed, que manteve as projeções de taxas para 2024 consistentes com as anteriores, mas ajustou para cima as expectativas para os anos subsequentes.
O “gráfico de pontos”, que reflete as previsões de membros do Fed sobre os principais indicadores econômicos, incluindo taxas de juros, para os próximos anos, evidenciou um aumento nas medianas para a meta da taxa de fundos federais até o final de 2025, 2026, e além, cada uma elevada em 25 pontos-base. Essa revisão aponta para uma normalização mais gradual das elevadas taxas de juros, as mais altas em mais de duas décadas nos EUA, com a faixa-alvo para o final de 2025 ajustada para 3,75% a 4%, e para 2026, a 3% a 3,25%. A projeção de médio prazo dos oficiais sugere uma faixa-alvo de 2,5% a 2,75%, indicativo de uma taxa de equilíbrio (R-estrela ou R*) superior, em antecipação a um crescimento econômico reforçado e inflação elevada. Essa perspectiva ampliada sugere uma política monetária do Fed adaptada a um ambiente econômico mais robusto e inflacionário nos próximos anos.
· 04:15 — O atentado
A Rússia está em luto depois do ataque terrorista que matou pelo menos 137 pessoas na última sexta-feira em Moscou. Dezenas de outras pessoas também ficaram feridas no ataque. O massacre foi reivindicado pelo Estado Islâmico, que ainda incendiou o complexo da sala de concertos com explosivos. Vale lembrar que, no início deste mês, a Embaixada dos EUA alertou que um ataque do ISIS era iminente, depois de a Rússia ter afirmado ter frustrado um ataque planejado a uma sinagoga.
O governo russo, por sua vez, está fazendo tudo o que pode para passar a culpa aos ucranianos. As autoridades ucranianas negaram o envolvimento, mas o petróleo subiu devido ao crescente risco geopolítico, já flertando novamente com US$ 86 por barril. A guerra na Ucrânia está longe de acabar, mas tragédias como essa podem servir de desculpa para o governo russo escalar o tom no conflito. Caminhamos para uma possível divisão do território ucraniano, algo inédito em décadas.
· 05:09 — Dividendos nos EUA
Na última semana, discutimos a estratégia de investir em empresas que distribuem dividendos, um método altamente eficaz tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Nos EUA, particularmente, essa abordagem tem ganhado destaque, evidenciado pelo aumento de 5,1% nos dividendos pagos por empresas americanas em 2023, atingindo um recorde de US$ 602,1 bilhões. Este aumento nos dividendos não é um fenômeno isolado, mas sim parte de uma tendência global, com os pagamentos de dividendos mundiais alcançando um novo recorde de US$ 1,66 trilhão e expectativas de crescimento contínuo.
Entre os maiores distribuidores de dividendos, se destacou a…