Investimentos

Petrobras (PETR4) e Nvidia (NVDC34) nos holofotes, encerramento do G20 e nomeações de Trump são destaques econômicos nesta terça-feira (19)

A semana marcada pelo feriado nacional da Consciência Negra no Brasil segue uma agenda de expectativas fiscais desancoradas.

Por Matheus Spiess

19 nov 2024, 09:03 - atualizado em 19 nov 2024, 09:03

Petrobras (PETR4)

Imagem: Agência Brasil

Iniciamos o pregão no Brasil na véspera do feriado da Consciência Negra, que manterá os mercados fechados amanhã (20). As operações serão retomadas na quinta-feira (21), em um ambiente marcado por grandes expectativas tanto no cenário internacional quanto no doméstico.

No exterior, o foco estará nos resultados da Nvidia (NVDC34), cuja divulgação está prevista para a noite de quarta-feira (20), enquanto, no Brasil, todas as atenções se voltam para o aguardado anúncio do pacote de corte de gastos do governo federal, esperado para a quinta-feira (21).

Sem a materialização desses cortes, as expectativas de inflação permanecerão desancoradas, o que continua a justificar um mercado que precifica uma taxa Selic terminal acima de 14%, pelo menos na curva de juros. Reforçando o ponto, o que determinará o alcance do atual ciclo de aperto monetário (sua duração e limite máximo) será o tamanho e a qualidade do ajuste fiscal apresentado.

Lá fora, os mercados asiáticos encerraram a sessão em alta, em contraste com o desempenho mais fraco observado nas bolsas europeias nesta manhã e entre os futuros americanos. Na agenda econômica, destaque para os dados finais de inflação ao consumidor na zona do euro referentes a outubro e para pronunciamentos de autoridades monetárias, especialmente do Banco da Inglaterra. Nos Estados Unidos, a temporada de resultados corporativos se aproxima de sua reta final, com o mercado de olho no desempenho do Walmart, cujo balanço será divulgado hoje (19).

Paralelamente, continuam as atenções voltadas às movimentações do presidente-eleito Donald Trump, que segue montando seu futuro gabinete, enquanto os investidores ajustam suas estratégias após o recente esgotamento do rali impulsionado pela chamada “Trump Trade” — deve seguir influenciando o humor do mercado nas próximas semanas.

· 00:54 — O que está em jogo?

Na véspera do feriado, o cenário econômico apresenta uma agenda enxuta, com destaque limitado a uma declaração de Roberto Campos Neto. Em suas falas recentes, o presidente do Banco Central tem reiterado a relevância central da política fiscal para a estabilização econômica. Entretanto, a atenção do mercado permanece voltada para o aguardado anúncio do pacote de corte de despesas, visto como crucial para destravar o potencial dos ativos financeiros no Brasil.

A expectativa gira em torno de um ajuste de R$ 70 bilhões ao longo de dois anos — R$ 30 bilhões em 2025 e R$ 40 bilhões em 2026 —, com propostas estruturais como a limitação do reajuste do salário mínimo a 2,5% acima da inflação, em consonância com o arcabouço fiscal vigente. A ausência de uma definição concreta mantém o mercado em compasso de espera, o que pressiona tanto o câmbio quanto a curva de juros. Para os investidores, o diferencial estará na qualidade das medidas anunciadas (se é uma solução estrutural).

Além disso, a alta nas projeções de inflação no relatório Focus adicionou uma camada de preocupação. As expectativas para o IPCA seguem se afastando da meta, refletindo o ceticismo do mercado em relação à capacidade do governo de apresentar um ajuste fiscal confiável. Sem uma âncora fiscal robusta, torna-se cada vez mais difícil vislumbrar uma reversão dessa trajetória inflacionária. Apesar do cenário desafiador, o Ibovespa encontrou algum alívio ontem, impulsionado pelo desempenho positivo da Petrobras (PETR4). A estatal ganhou força após a divulgação de uma prévia promissora de seu Plano de Negócios para o período de 2025 a 2029, que foi bem recebida pelo mercado.

No entanto, mesmo com uma ou outra boa notícia corporativa, os investidores permanecem aguardando definições concretas sobre o pacote fiscal. Este é visto como um catalisador potencial para destravar novos impulsos positivos nos ativos brasileiros.

· 01:43 — Ritmo ainda forte

Na última semana, os Estados Unidos vivenciaram uma mudança significativa no sentimento do mercado, marcada pela alta nos yields dos títulos do Tesouro, sinais de que o Federal Reserve pode reconsiderar o ritmo de seus cortes de juros, e as polêmicas nomeações de Donald Trump para seu gabinete. O impacto combinado desses fatores resultou em uma das piores semanas para as ações nos últimos dois meses.

Contudo, a segunda-feira (18) trouxe uma tentativa de recuperação, ainda que os futuros apontem para queda nesta manhã. Apesar da volatilidade, o mercado acionário caminha para encerrar o ano como um dos melhores desempenhos desde 1928. O grande destaque desta semana será a divulgação dos resultados trimestrais da Nvidia, agendada para a noite de amanhã. A expectativa, no entanto, foi ofuscada por um início de semana conturbado para a companhia: suas ações registraram queda após relatos de superaquecimento em vários chips de inteligência artificial da série Blackwell, levantando preocupações sobre a confiabilidade de seus produtos de ponta.

Nos bastidores políticos, cresce a especulação em torno de quem será escolhido para liderar o Departamento do Tesouro no segundo mandato de Trump. Entre os nomes cogitados estão Scott Bessent, gestor de fundos de hedge; Howard Lutnick, CEO da Cantor Fitzgerald; Marc Rowan, CEO da Apollo Global; Robert Lighthizer, ex-Representante Comercial dos EUA; e Kevin Warsh, ex-Governador do Federal Reserve. A decisão é vista como um teste inicial do que alguns analistas chamam de “Trump put” — a crença de que Trump pode ajustar suas políticas para evitar impactos negativos no mercado de ações e na economia em geral. Com o fim do ano se aproximando, o mercado enfrenta uma combinação de incertezas políticas, econômicas e corporativas, mas mantém um desempenho robusto até o momento. 

· 02:32 — Comunicado conjunto

Em uma vitória diplomática para o Brasil, o G20 alcançou um consenso em torno do comunicado oficial da cúpula, que se encerra hoje no Rio de Janeiro. O documento aborda os conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia, mas evita qualquer condenação explícita, mantendo um tom mais conciliador. Um dos destaques foi a inclusão da proposta de taxação dos “patrimônios ultra elevados” — uma medida voltada a financiar iniciativas contra a fome, a pobreza e a redução de desigualdades, alinhada aos principais objetivos da presidência brasileira no G20. Estima-se que uma taxação global de 2% sobre os super-ricos poderia arrecadar cerca de US$ 250 bilhões. No entanto, sendo bem franco, a ideia parece mais simbólica do que pragmática. O próprio comunicado enfatizou a soberania tributária de cada país, esvaziando qualquer tentativa concreta de implementar uma taxação global unificada.

Além disso, a cúpula foi marcada pela presença de líderes em posições políticas frágeis, como o presidente dos EUA, Joe Biden, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, que muito em breve não estarão mais no poder. Outro fator que influenciou o evento foi a recente eleição de Donald Trump à presidência dos EUA.

A perspectiva de uma mudança drástica na política externa americana, especialmente em relação a temas globais como mudanças climáticas, comércio internacional e conflitos geopolíticos, pairou como uma sombra sobre as discussões, evidenciando um contexto de transição e incerteza no cenário internacional. Embora o acordo no G20 represente algum avanço, os desafios políticos e econômicos enfrentados pelos líderes participantes limitaram a capacidade de traduzir as discussões em ações concretas e coordenadas.

· 03:25 — Mísseis de longa distância

Com as sanções econômicas contra a Rússia mostrando eficácia limitada, o governo americano tomou uma decisão estratégica sem precedentes ao autorizar, pela primeira vez, o uso de mísseis de longo alcance pela Ucrânia contra alvos militares em território russo. Essa mudança na postura dos Estados Unidos foi motivada pela escalada no conflito, marcada pela confirmação do uso de soldados norte-coreanos por Vladimir Putin em apoio à invasão da Ucrânia. A decisão também reflete a tentativa do presidente Joe Biden de fortalecer a capacidade ofensiva de Kiev antes da posse de Donald Trump, que já declarou sua intenção de reduzir significativamente o suporte militar americano à Ucrânia.

O anúncio ocorreu em meio a uma intensificação das hostilidades no fim de semana, quando a Rússia lançou uma ofensiva massiva com 120 mísseis e 90 drones, em ataques coordenados que atingiram infraestruturas energéticas em diversas regiões da Ucrânia, preparando o terreno para os desafios dos meses de inverno. Esses ataques representam a maior investida russa desde setembro, agravando a já delicada situação humanitária no país. Ao mesmo tempo, há uma clara expectativa por parte do Kremlin de que a eleição de Trump possa criar uma oportunidade para renegociar os termos de um possível acordo de paz. Essa aposta na diplomacia futura, somada ao enfraquecimento da posição de Biden à medida que seu mandato se aproxima do fim, alimenta a estratégia russa. O clima de aversão ao risco foi impulsionado.

· 04:19 — Colapso populacional

O mundo está sendo silenciosamente transformado por uma crise demográfica iminente: o declínio acentuado das taxas de natalidade e o rápido envelhecimento da população global. Atualmente, dois terços da população mundial residem em países onde as taxas de fertilidade estão abaixo do nível de reposição, estimado em 2,1 filhos por mulher. Embora a população global ainda esteja em crescimento, sustentada principalmente pelo aumento em países em desenvolvimento como Nigéria e Paquistão, especialistas alertam que esse crescimento poderá se inverter em cerca de 60 anos, desencadeando um declínio populacional com profundas consequências para o mercado de trabalho, os sistemas previdenciários e a economia global.

Esse cenário é agravado por projeções que indicam que, até 2050, uma em cada seis pessoas terá mais de 65 anos. Nações como Japão e Itália já enfrentam os desafios dessa dinâmica, lidando com uma força de trabalho em diminuição, sistemas de saúde sobrecarregados e custos previdenciários crescentes, que ameaçam a sustentabilidade econômica de longo prazo. Essa transição demográfica não é apenas uma questão de números, mas um fenômeno que remodelará os pilares do trabalho, da saúde e da aposentadoria.

A redução da população em idade ativa pode desacelerar a inovação, limitar o crescimento econômico e exacerbar a desigualdade, enquanto o aumento da expectativa de vida coloca uma pressão sem precedentes sobre os sistemas de saúde e de seguridade social. Se não forem enfrentados com políticas robustas e inovações significativas, esses desafios poderão culminar em uma verdadeira catástrofe demográfica, impactando gerações futuras de maneira irreversível.

· 05:06 — Planejamento

Na tarde de ontem, a Petrobras (PETR4) surpreendeu o mercado ao antecipar a divulgação de uma prévia do seu plano estratégico para os próximos cinco anos, originalmente programada para quinta-feira. A reação foi imediata e positiva: as ações da estatal registraram forte valorização no fechamento do pregão, refletindo o otimismo dos investidores em relação às informações reveladas.

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.