Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam predominantemente em queda nesta quinta-feira (6), acompanhando os sinais receosos dos mercados globais durante o pregão de ontem (5), dando sequência às preocupações sobre as perspectivas econômicas após a divulgação de alguns dados econômicos decepcionantes que reacenderam o medo de uma recessão — os investidores agora aguardam a divulgação do relatório mensal de empregos dos EUA para mais pistas. Pelo menos o PMI de serviços da China veio bom, dando fôlego marginal para emergentes.
Na véspera do feriado de Sexta-Feira Santa, os mercados globais estão nervosos. Até conseguimos ver certo tom positivo nos mercados europeus nesta manhã, mas os futuros americanos operam predominantemente em baixo. Os dados de payroll saem só amanhã, sendo natural um movimento mais contido hoje, mas as falas de autoridades monetária podem afetar o humor, principalmente depois que a presidente regional do Fed Bank de Cleveland, Loretta Mester, disse que a taxa de juros deve caminhar para cima de 5% este ano, mantendo-se por lá por algum tempo.
A ver…
· 00:50 — Um pequeno afago na curva de juros
No Brasil, encerramos a semana mais curta e menos movimentada com uma entrevista de Fernando Haddad pela manhã. Nos últimos dias, suas falas e a de Roberto Campos Neto foram bem recebidas, o que pode tornar a entrevista de hoje um vetor positivo. Aliás, destaque para as palavras de Campos Neto, que ajudaram o mercado a dar continuidade à remoção de prêmios na curva de juros. Seu elogio aos esforços da Fazenda e ao arcabouço fiscal soaram bem, mas não mudaram o jogo em minha visão.
O motivo? Bem, primeiro que ele sabe que precisamos dos detalhes do texto formal a ser enviado ao Congresso até terça-feira. Em segundo lugar, ainda precisamos avaliar as eventuais mudanças à proposta realizadas durante a tramitação no Congresso ao longo do trimestre. Por fim, para a redução dos juros, o próprio presidente do BC insistiu que tudo depende do impacto nas expectativas — em outras palavras, o arcabouço é necessário, mas não o suficiente. Mas o mercado estava carente.
· 01:39 — Nervosismo no ar
Nos EUA, os investidores jogaram na defesa pelo segundo dia consecutivo durante o pregão de ontem. Mesmo que os rendimentos dos títulos tenham caído, apenas as ações mais seguras do mercado subiram. A história se repete. Os últimos dados econômicos dos EUA foram relativamente fracos e as preocupações com o crescimento levaram a uma fuga para a segurança.
Há um mês, os mercados estavam em um clima de “boas notícias são más notícias”, uma vez que uma economia em desaceleração significava um Federal Reserve menos agressivo. Hoje em dia, porém, com o fim do aperto monetária à vista, as más notícias sobre a economia são simplesmente más notícias, que significam ganhos corporativos provavelmente mais baixos e menor tolerância ao risco.
Para hoje, na véspera do feriado e dos dados de payroll, o Departamento do Trabalho relata os pedidos iniciais de auxílio-desemprego para a semana que se encerrou em 1º de abril — os pedidos de auxílio-desemprego tiveram uma média de 198.250 em março. Alguns sinais de arrefecimento do mercado de trabalho foram detectados, embora alguns deles possam sinalizar apenas uma normalização do mercado.
· 02:35 — Perspectivas indianas
O banco central da Índia manteve sua taxa de juros (recompra) em 6,5%, marcando a primeira vez que a autoridade monetária mantém a taxa desde abril de 2022, quando o Reserve Bank of India iniciou seu ciclo de aperto monetário — a taxa de recompra é a taxa na qual o Reserve Bank of India empresta dinheiro a bancos comerciais ou instituições financeiras na Índia contra títulos do governo.
Com isso, podemos entender que o pior já passou para a inflação na Índia, e espera-se que tanto o núcleo quanto a inflação principal caiam nos próximos meses. As expectativas do mercado, tanto para o índice cheio quanto para o núcleo, estão na faixa de 5,5 a 6%. Daqui para frente, a inflação deverá estar mais próxima de 5% do que superior a 5,5%. A desinflação pode ser verificada em outras regiões do globo.
· 03:17 — Os caminhos para o petróleo
O petróleo permanece próximo de US$ 85 por barril, patamar com que tem flertado desde que os novos cortes de produção visados pela OPEP+ foram anunciados, movimento aprofundado pela queda nos estoques de petróleo dos EUA — o Brent ganhou mais de 6% esta semana, caminhando para um terceiro ganho semanal.
Naturalmente, dados econômicos fracos dos EUA aumentaram a preocupação dos mercados globais com o crescimento econômico (o setor de serviços dos EUA desacelerou mais do que o esperado em março e as vagas de emprego nos EUA em fevereiro caíram para o nível mais baixo em quase dois anos). Isso prejudica o preço, que vinha subindo.
O momento de alta do mercado de petróleo pode ter parado, mas o potencial de alta permanece devido ao cenário de oferta mais apertada. Com isso, apesar da desaceleração nas perspectivas econômicas dos EUA estar prejudicando o sentimento do investidor, devemos ver novas dos preços do petróleo até o final do trimestre.
· 04:04 — O pós-pandemia e a desglobalização
A Organização Mundial do Comércio (OMC) alertou sobre um crescimento comercial abaixo da média este ano. Como costuma explicar Paul Donovan, do UBS, há uma razão cíclica e uma estrutural para a desaceleração do comércio nos mercados globais:
i) Em termos cíclicos, a economia pós-pandêmica teve um aumento nos gastos com bens, em vez de serviços. Os bens foram mais comercializados do que os serviços, o que impulsionou o comércio para uma participação recorde na economia. À medida que os gastos com bens e serviços se normalizam, contudo, é provável que o comércio caia como parcela da economia.
ii) Ao mesmo tempo, quando falamos em termos estruturais, a desglobalização e a localização reduzirão a participação comercial da economia global ao longo dos próximos anos. A desglobalização é a interferência política no comércio (tarifas e embargos, por exemplo). Paralelamente, a localização é quando os bens são produzidos de forma mais eficiente, perto dos clientes.
Ambos os movimentos descritos acima reduzem o comércio. A nova dinâmica que será imposta em nível global deverá caminhar para uma regionalização das cadeias produtivas, o que deve frear o crescimento do comércio internacional, pelo menos comparativamente ao que tínhamos entre a década de 1990 e a primeira década deste século. Resta saber como o Brasil conseguirá capitalizar sobre isso.
Um abraço,
Matheus Spiess