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Petróleo sobe e dados de emprego nos EUA enfraquecem bolsas asiáticas: veja o que mais acontece nesta segunda-feira (13)

O mercado brasileiro e internacional conta com uma agenda econômica movimentada nesta semana. Confira detalhes.

Por Matheus Spiess

13 jan 2025, 09:13 - atualizado em 13 jan 2025, 09:13

Imagem para representar o value investing, uma estratégia de investimento que se baseia na busca por ações que estejam subvalorizadas no mercado.

Iniciamos a semana analisando os números da balança comercial chinesa referentes a dezembro, que apresentaram desempenho robusto e impulsionam os preços das commodities na manhã de hoje (13). Esses resultados vêm em um momento crítico, dado o ceticismo persistente sobre a capacidade de recuperação da economia chinesa. Dados como esses são cruciais para sustentar o mercado e já podem refletir os impactos iniciais dos mais recentes estímulos econômicos implementados pelo governo chinês.  No entanto, o pregão asiático, incluindo o mercado chinês, mostrou fraqueza, ainda influenciado pelos sólidos números de emprego divulgados nos EUA.

Nesta semana, o foco estará dividido entre os desdobramentos econômicos na China e nos Estados Unidos. Do lado chinês, o mercado aguarda ansiosamente os indicadores econômicos mais abrangentes programados para a noite de quinta-feira (16). Esses dados incluem o PIB do quarto trimestre, a produção industrial e as vendas no varejo.

Nos EUA, a atenção estará voltada para a inflação, com os índices de preços ao produtor e ao consumidor de dezembro. Esses dados serão acompanhados de perto, pois podem moldar as expectativas para os próximos movimentos do Federal Reserve. Complementando a agenda, o Fed divulgará na quarta-feira (15) o Livro Bege, que trará um panorama atualizado da atividade econômica regional. 

Outro ponto alto será o início da temporada de resultados corporativos, com destaque para os balanços dos grandes bancos americanos. Entre quarta e quinta-feira, Citi, Goldman Sachs, JPMorgan, Wells Fargo, Bank of America e Morgan Stanley divulgarão seus resultados, dando o tom para as expectativas do setor financeiro em um ambiente de taxas de juros ainda elevadas e incertezas econômicas globais.

· 00:56 — Sentindo o calor local e estrangeiro

Nesta semana, o foco no Brasil recai sobre dois importantes indicadores econômicos: o volume de serviços, a ser divulgado na quarta-feira (15), e o IBC-Br, proxy do PIB, programado para quinta-feira (16). Apesar disso, a ausência de avanços significativos em Brasília mantém o mercado doméstico refém do cenário externo, como vimos na última sexta-feira (10). Na ocasião, o Ibovespa recuou para os 118 mil pontos, pressionado por dois fatores principais: o IPCA de dezembro, que não apenas estourou o teto da meta de inflação de 2024, mas apresentou uma composição qualitativamente desfavorável, indicando que o limite poderá ser ultrapassado novamente em 2025; e os dados robustos de emprego nos EUA, que impulsionaram a curva de juros americana e fortaleceram o dólar globalmente. Um início de ano difícil, para dizer o mínimo.

Nesta semana, a inflação nos EUA será novamente um tema central, e o Brasil, como de costume, será um passageiro nesse cenário global. Os mercados locais seguem aguardando com ansiedade qualquer sinal do governo sobre a aguardada Reforma Ministerial e as medidas adicionais para conter o crescimento dos gastos públicos. Contudo, se o padrão medíocre deste governo persistir, entregando soluções insuficientes ou cosméticas, dificilmente veremos uma melhora no humor do mercado.

O governo parece mais preocupado com questões alheias às urgências econômicas do país, como a recente mudança de políticas da Meta Platforms (M1TA34), do que com a condução de medidas efetivas para estabilizar a economia. Paralelamente, a popularidade do governo está em franco declínio, com índices de desaprovação já superando os de aprovação, o que levanta preocupações sobre a governabilidade no médio prazo. Ao mesmo tempo, essa queda na popularidade pode carregar uma lição importante para as eleições de 2026, reforçando a tese de que o pêndulo político poderá oscilar em direção a um governo mais fiscalista e pró-mercado. Como tenho argumentado neste espaço há bastante tempo, essa mudança é não apenas provável, mas essencial para resgatar a confiança na economia brasileira e criar condições para um ciclo favorável.

· 01:43 — Economia robusta

Nos EUA, o relatório de empregos divulgado na última sexta-feira (10) provocou uma correção significativa nas ações, refletindo uma redução nas expectativas de cortes de juros pelo Federal Reserve em 2025. Até pouco tempo atrás, os investidores contavam com ao menos alguns cortes nas taxas este ano. No entanto, os dados robustos do mercado de trabalho indicam que o Fed pode adotar uma abordagem mais contida em seus esforços de estímulo monetário nos próximos meses. Embora ainda acredite que o ciclo de flexibilização monetária não tenha terminado, é provável que a intensidade dos cortes projetados para este ano seja menor do que o esperado inicialmente.

Donald Trump assumirá a presidência em um contexto de economia americana notavelmente robusta. A produção econômica já supera as tendências pré-pandêmicas, enquanto a taxa de desemprego permanece próxima de 4%. O desafio agora será compreender como as políticas do novo governo serão estruturadas nos primeiros 100 dias e qual será o grau de agressividade com que serão implementadas. Quanto mais moderado for o início do mandato, melhor será para os mercados.

Entre as propostas econômicas de Trump, cortes de impostos e desregulamentação surgem como medidas positivas para impulsionar o crescimento, desde que sejam acompanhadas de esforços consistentes para conter os gastos públicos. A ausência de medidas fiscais compensatórias poderia sobrecarregar o déficit, gerando preocupações de longo prazo. No entanto, se essas políticas forem equilibradas, há uma boa chance de que a economia americana continue em trajetória robusta nos próximos anos.

O ponto de maior atenção permanece sendo a inflação, que pode se tornar um fator crítico dependendo do tom e da intensidade das iniciativas políticas do novo governo. O mercado está em compasso de espera para avaliar as primeiras ações e declarações de Trump, que ajudarão a moldar as expectativas econômicas para o futuro próximo.

· 02:38 — O quão forte está o mercado de trabalho?

O mercado de trabalho dos Estados Unidos encerrou 2024 com força impressionante, mostrando resiliência acima das expectativas. Em dezembro, o número de folhas de pagamento não agrícolas aumentou em 256 mil, superando em cerca de 100 mil as previsões do mercado e marcando o maior avanço em nove meses. Esse resultado não só superou o forte desempenho de novembro, mas também representou uma recuperação notável em relação a outubro, quando os dados foram prejudicados por greves e condições climáticas adversas.

A taxa de desemprego surpreendeu ao cair para 4,1%, enquanto os ganhos médios por hora subiram 0,3% em relação ao mês anterior, reforçando a dinâmica positiva no mercado de trabalho. Esses números encapsulam um ano extraordinário para o emprego nos EUA, que criou 2,2 milhões de postos de trabalho em 2024, superando os 2 milhões gerados antes da pandemia em 2019.

O dado de dezembro também consolidou uma marca histórica: foi o 48º mês consecutivo de criação líquida de empregos, igualando a segunda maior sequência já registrada. Para encontrar o último mês em que a economia americana perdeu empregos, é preciso retroceder até dezembro de 2020, no meio da pandemia. Este desempenho evidencia não apenas a robustez estrutural do mercado de trabalho, mas também sugere que a contratação pode estar acelerando novamente.

Esse cenário robusto gera implicações importantes para a política monetária. Com a economia americana sustentando um dos períodos mais prósperos de sua história recente, aumenta a probabilidade de o Federal Reserve adiar cortes adicionais nas taxas de juros, aguardando mais evidências de enfraquecimento da inflação antes de avançar com medidas de flexibilização monetária.

· 03:25 — Novas sanções

O preço do petróleo Brent voltou a superar a marca de US$ 80 por barril nos últimos dias, alcançando o maior nível em quatro meses. Esse movimento foi impulsionado por uma decisão significativa do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que, a poucos dias antes de deixar a Casa Branca, anunciou o pacote mais abrangente de sanções contra o comércio de petróleo russo desde o início da guerra na Ucrânia.

As novas medidas visam grandes exportadores, seguradoras e uma frota de mais de 150 petroleiros, mirando diretamente na infraestrutura logística que sustentou as exportações russas, mesmo sob restrições anteriores. O impacto dessas sanções é particularmente relevante para países como China e Índia, que se tornaram os principais compradores do petróleo russo vendido a preços descontados desde o início do conflito. Estima-se que até 30% da chamada “frota paralela” de petroleiros russos pode ser afetada, potencialmente retirando cerca de 800 mil barris por dia do mercado.

Essa redução na oferta adiciona uma nova camada de pressão aos preços do petróleo, em um momento já marcado por incertezas geopolíticas e restrições logísticas. O aumento nestes valores traz implicações significativas para a economia global, especialmente para os bancos centrais, incluindo o Federal Reserve. Se os preços elevados persistirem, podem alimentar uma inflação mais resistente, complicando ainda mais os esforços de política monetária para conter os aumentos de preços.

·04:11 — Superávit recorde

O superávit comercial da China alcançou um recorde histórico de US$ 992 bilhões em 2024, impulsionado por um desempenho notável nas exportações. Este marco reflete, em grande parte, a corrida das empresas chinesas para enviar produtos ao exterior antes da posse de Donald Trump como presidente dos EUA — durante sua campanha, Trump reiterou promessas de impor tarifas mais altas sobre produtos importados pela maior economia do mundo, o que estimulou exportadores a anteciparem seus envios.

Em dezembro, as exportações chinesas cresceram 10,7% na comparação anual, superando confortavelmente a projeção de 7,4%. No mesmo período, as importações também surpreenderam positivamente, com alta de 1%, contrariando as expectativas de retração de 1,2%. Além do fator de antecipação às políticas de Trump, o desempenho robusto das exportações pode ser atribuído à resiliência do consumidor americano, que se manteve relativamente saudável, como já destaquei anteriormente.

Olhando para frente, a China enfrentará novos desafios. As autoridades chinesas indicaram que pretendem adotar medidas para defender o yuan contra as pressões esperadas com a implementação das tarifas prometidas pelo governo Trump. A antecipação dessas políticas comerciais americanas já cria um cenário de incertezas, o que pode exigir ações mais enérgicas de Pequim para estabilizar sua moeda e proteger a competitividade de suas exportações em meio a um cenário global desafiador.

· 05:04 — Driblando Trump

A Gerdau (GGBR4) anunciou no início de 2025 um acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), encerrando um processo que se arrastava há mais de duas décadas por suposta formação de cartel na venda de vergalhões de aço.

A companhia, que já havia sido destacada como uma alternativa para diversificação e dolarização de carteiras, ganha novamente os holofotes com essa resolução favorável…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.