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PIB brasileiro no 3º tri, instabilidade política na França e bolsas americanas em alta: veja destaques de hoje (3) no mercado

Bolsas europeias acompanham alta de mercados internacionais, apesar da cotação do euro mais pressionada. Leia mais.

Por Matheus Spiess

03 dez 2024, 09:05 - atualizado em 03 dez 2024, 09:05

bolsa de valores frança paris

Imagem: iStock/ GoodLifeStudio

O excepcionalismo americano continua evidente nos preços dos ativos, com as bolsas dos EUA mantendo um ritmo positivo de valorização. Esse mesmo movimento, embora de forma mais moderada, pode ser observado na Europa, mesmo em meio à instabilidade política na França. A fragilidade política no país, que culminará amanhã em um voto de confiança no governo, pode resultar na saída do primeiro-ministro, que está no cargo desde setembro.

Embora esse cenário pressione o euro na região, não tem prejudicado as ações europeias, que seguem resilientes. Assim, o dólar segue fortalecido — notadamente, impulsionado também pelo chamado “Trump Trade” e pela incerteza fiscal brasileira, a depreciação do real frente à moeda americana é ampliada.

Na Ásia, os mercados também registraram ganhos, refletindo um discurso interpretado como estimulativo do Banco Popular da China (PBoC), sugerindo medidas para apoiar o crescimento econômico da região.

No Brasil, o destaque do dia (3) é o PIB do terceiro trimestre de 2024. As expectativas apontam para um crescimento anual de 4% e uma alta trimestral de 3,3%, números que reforçam o dinamismo econômico doméstico, apesar dos desafios fiscais e do cenário internacional adverso. Enquanto isso, a agenda global começa a focar na sequência de dados sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos, que serão cruciais para avaliar o ritmo de crescimento da economia americana e as próximas decisões de política monetária. 

· 00:53 — O jantar está servido

No Brasil, além da expectativa em torno do dado do PIB, que é crucial para balizar a percepção sobre a atividade econômica e orientar o impacto do aperto monetário em curso, o foco permanece na questão fiscal. Ontem, o governo finalizou a PEC que integra o pacote de medidas de contenção de gastos, trazendo alterações significativas nas regras do abono salarial, entre outros pontos, complementando as duas propostas já enviadas anteriormente (o projeto de lei complementar que estabelece novos gatilhos para o arcabouço fiscal e o PL que limita o crescimento real do salário mínimo a um teto de 2,5% ao ano). Apesar de ser um avanço (incluir os supersalários), o pacote claramente não convence. O mercado entende que será necessário muito mais para lidar com os desafios fiscais. Prova disso é que a curva de juros permaneceu pressionada, o dólar fechou em nova máxima, e o Ibovespa voltou a cair.

Curiosamente, até mesmo a equipe econômica do governo admite que as medidas propostas são insuficientes para solucionar o problema fiscal de maneira definitiva. Segundo a própria Fazenda, o pacote deve oferecer algum alívio até 2026, corroborando a tese de que o Brasil atravessará um cenário crítico até as eleições presidenciais.

Como tenho reiterado, o pacote atual deveria atuar como uma ponte fiscal, facilitando a transição por 2025. Porém, ao adotar uma abordagem confusa e limitada, o governo escolheu o caminho mais difícil. Nem mesmo a postura mais dura do Banco Central, prevista nas falas de Gabriel Galípolo, que chega à presidência em 2025, tem sido capaz de aliviar por completo o estresse. O ciclo de aperto monetário deve continuar, como indicado pelas recentes deteriorações nas expectativas do relatório Focus. Enquanto isso, a liberação das emendas parlamentares acalma temporariamente o Congresso e dá mais celeridade aos processos legislativos. O Presidente Lula janta hoje (3) com ministros e lideranças políticas, e o pacote fiscal estará na pauta principal. Resta saber se o governo aprendeu a lição…

· 01:47 — Voltou com força

Nos Estados Unidos, o retorno do feriado de Ação de Graças trouxe uma onda de otimismo aos mercados financeiros. As ações do setor de tecnologia apresentaram um desempenho expressivo na segunda-feira, impulsionando dois dos três principais índices americanos a novos recordes. O S&P 500 registrou seu 54º recorde de fechamento no ano, enquanto o Nasdaq Composite avançou quase 1%, também alcançando um novo recorde. Por outro lado, o Dow Jones Industrial Average recuou 0,3%, reflexo de sua menor exposição relativa a gigantes da tecnologia.

Além disso, os mercados podem ganhar novo fôlego com declarações recentes de Christopher Waller, governador do Federal Reserve, que sugeriu a possibilidade de mais um corte na taxa de juros. Como venho apontando, um corte de 25 pontos-base em dezembro parece provável. A grande questão, no entanto, é o ritmo dos cortes em 2025, especialmente diante da resiliência da atividade econômica americana.

Isso torna os dados do mercado de trabalho desta semana ainda mais importantes para balizar as expectativas. A agenda econômica começa hoje com a divulgação do relatório JOLTS de outubro (Pesquisa de Vagas de Emprego e Rotatividade de Mão de Obra), que será fundamental para avaliar a dinâmica do mercado de trabalho e seus impactos sobre a política monetária do Fed. 

· 02:32 — Uma gigante

O valor de mercado da SpaceX pode alcançar impressionantes US$ 350 bilhões, à medida que a empresa de foguetes de Elon Musk avança em negociações para uma nova rodada de venda de ações. Esse montante representa um aumento significativo em relação aos US$ 255 bilhões discutidos anteriormente, refletindo o crescimento exponencial do império de Musk, que segue crescendo após as recentes eleições presidenciais nos EUA — a vitória de Donald Trump fortalece setores ligados à inovação tecnológica e à exploração espacial.

Em outro front, o pacote de remuneração recorde da Tesla (TSLA34) foi novamente contestado por um juiz de Delaware (não é a primeira vez). Apesar desse revés, Elon Musk mantém seu título como a pessoa mais rica do mundo, com seu conglomerado continuando a expandir em diversas frentes. Esse cenário reflete não apenas o impacto transformador de Musk nos setores em que atua, mas também o apetite dos investidores por suas empresas, que, apesar das controvérsias, seguem se destacando como símbolos de inovação e crescimento no mercado global.

· 03:27 — Caldeirão político francês

Ontem, o euro voltou a enfraquecer no mercado global, reflexo direto da crescente instabilidade política na França. O governo do primeiro-ministro Michel Barnier enfrenta um iminente voto de desconfiança, que pode ocorrer nesta semana, após a controversa decisão de forçar a aprovação de medidas orçamentárias sem o aval do parlamento. Para isso, Barnier recorreu ao artigo 49.3 da Constituição francesa, que permite a aprovação de um pacote legislativo sem votação, neste caso, a primeira parte de um ambicioso pacote fiscal de 60 bilhões de euros, que inclui aumentos de impostos e cortes de gastos.

Barnier, um tecnocrata escolhido pelo presidente Emmanuel Macron em setembro, foi nomeado com o objetivo de pacificar as divisões no parlamento francês após as eleições legislativas de junho. No entanto, sua incapacidade de formar uma maioria evidenciou as dificuldades de governabilidade enfrentadas pela França. A situação chegou a um ponto crítico, com o país se tornando, na prática, ingovernável.

A decisão unilateral de Barnier provocou reações contundentes da oposição. O partido de direita liderado por Marine Le Pen anunciou que apoiará a moção de censura contra o governo, enquanto o partido de esquerda liderado por Jean-Luc Mélenchon também apresentou sua própria moção. Essa convergência de forças opositoras torna a posição de Barnier praticamente insustentável. A crise política intensificou o estresse nos mercados financeiros.

A curva de juros dos títulos franceses sofreu uma pressão tão intensa que, atualmente, a dívida da França paga taxas de juros equivalentes às da Grécia, algo historicamente incomum para uma das maiores economias da Europa. A estratégia de Macron, ao nomear Barnier, era implementar um governo centrista capaz de equilibrar as contas públicas. Contudo, a incapacidade de avançar com um orçamento viável e de construir consenso no parlamento comprometeu esse plano. 

Sem um acordo sobre o orçamento, os arranjos fiscais devem ser adiados, prolongando a incerteza no país. A solução para o impasse parece distante, já que novas eleições parlamentares só poderão ser realizadas em julho do ano que vem. Enquanto isso, Macron deverá nomear um novo primeiro-ministro, presumivelmente com perfil semelhante ao de Barnier, mas que enfrentará os mesmos desafios de navegação em um parlamento fragmentado e profundamente polarizado.

· 04:11 — Estímulos?

Os investidores avaliam as recentes declarações de Pan Gongsheng, presidente do Banco do Povo da China (PBoC), que reafirmou o compromisso da autoridade monetária em manter uma política acomodatícia e garantir uma liquidez razoável ao longo de 2025. A fala reforçou as expectativas em torno da Conferência Central de Trabalho Econômico, marcada para a semana que vem, evento fundamental na agenda econômica chinesa, onde são tradicionalmente discutidas as metas de crescimento do PIB e possíveis medidas de estímulo.

A conferência, com duração de dois dias, contará com a participação do presidente Xi Jinping e de outros altos líderes do governo, sinalizando a importância das deliberações para os rumos da economia chinesa. Entre os tópicos de discussão, espera-se que os desafios econômicos associados ao retorno de Donald Trump à Casa Branca ganhem destaque, especialmente diante da possibilidade de intensificação das tarifas comerciais impostas pelos EUA.

Apesar do otimismo gerado pelo compromisso de apoio à economia, persistem as preocupações com o fraco desempenho do crescimento econômico e as tensões comerciais. Esses fatores têm desafiado os esforços do governo chinês para estabilizar o yuan, levando a moeda a atingir sua mínima em um ano, mesmo com o desempenho relativamente positivo das ações nos mercados domésticos. Esses desdobramentos sublinham os complexos desafios econômicos que a China enfrentará em 2024, equilibrando estímulos internos com a necessidade de lidar com pressões externas em um ambiente global cada vez mais volátil.

· 05:04 — Oportunidade de compra?

A Direcional (DIRR3) celebrou, no mês passado, 15 anos desde sua estreia na Bolsa, marco que reflete uma trajetória consistente de entrega de valor aos acionistas. Para marcar a ocasião, o diretor financeiro e de relações com investidores, Paulo Souza, concedeu uma entrevista ao Money Times, onde destacou os resultados robustos alcançados pela empresa ao longo desses anos…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.