Bom dia, pessoal. Lá fora, as ações asiáticas fecharam predominantemente em alta nesta quarta-feira (28), acompanhando as indicações amplamente positivas dos mercados globais durante o pregão de ontem, com os investidores reagindo a um lote de dados econômicos otimistas dos EUA, os quais podem impactar significativamente as opiniões sobre se o Fed seguirá em frente com suas projeções de alta nas taxas de juros — houve um aumento inesperado de novos pedidos para os bens duráveis manufaturados no mês de maio, além de um forte aumento nas vendas de casas novas e um aprimoramento na confiança do consumidor. O sentimento fez com que a contração dos lucros das empresas industriais chinesas fosse ignorada.
Os mercados europeus estão em alta nesta manhã, na contramão dos futuros americanos, que caem, pelo menos por enquanto. Os investidores aguardam ansiosamente por algumas falas de autoridades monetárias no Fórum de Sintra, em Portugal. Hoje, o evento contará com a participação de Jerome Powell, dos EUA, Andrew Bailey, do Reino Unido, Kazuo Ueda, do Japão, e Christine Lagarde, da Zona Euro. Qualquer novidade sobre a condução da política monetária pode ter um efeito importante sobre os ativos de risco ao longo do pregão, logo depois dos mercados interpretarem com mais certeza que os ativos de risco e a economia americana poderiam sobreviver ao processo de contração de liquidez conduzido até aqui.
A ver…
· 00:53 — Menos contracionista que o comunicado
No Brasil, enquanto podemos nos dar ao luxo de não nos preocuparmos tanto com a política de Brasília, pelo menos nesta semana, os investidores absorveram a prévia da inflação oficial e a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada. Apesar de os dois dados terem vindo em linha com as expectativas, reforçando a ideia de que estamos próximos de um ponto de inflexão para a política monetária (leia corte da Selic), o mercado acabou realizando por um segundo dia seguido. Ajuste faz parte do processo, principalmente depois de o Ibovespa ter conquistado nove semanas seguidas de altas, a maior sequência desde 2016. Mas algo chama a atenção.
Entendo que o mercado possa ter tomado para si um processo de precificação de juro neutro mais apropriado e, como efeito, temos observado uma atualização dos modelos utilizados para as ações brasileiras (ajuste na curva justamente a partir do miolo nos indica que foi mesmo a revisão de estimativa pro juro neutro o fator para a queda da Bolsa de ontem). Ainda assim, a janela para corte dos juros a partir de agosto está aberta. Até porque o parágrafo 19 da ata sinalizou a presença de dois grupos no interior do comitê, que, mesmo assim, deu a entender que a dependência de dados pode nos levar a um corte parcimonioso, ou de 25 pontos, a partir do terceiro trimestre.
· 01:48 — Teste de estresse
Nos EUA, um lote de dados econômicos melhores do que o esperado fez com que as ações subissem ontem, à medida que os investidores continuam a ficar mais otimistas no mercado — pela primeira vez desde janeiro de 2022, mais consumidores esperam preços de ações mais altos do que preços de ações mais baixos, encerrando a sequência de 17 meses de leituras líquidas negativas, a segunda mais longa na história. Houve uma mudança significativa nos últimos tempos em direção ao campo de alta, com mais de 40% dos investidores individuais se descrevendo como otimistas no mercado, contra menos de 30% dizendo que eram pessimistas — há 12 meses, o percentual era mais de 10% favorável aos pessimistas. O humor mudou.
O fato é que o sentimento excessivamente otimista do investidor tem sido historicamente um indicador contrário. Quando a porcentagem líquida de otimistas atinge 30%, o S&P 500 subiu um ano depois em menos da metade das vezes. Para a agenda, o Federal Reserve deverá divulgar os resultados de seu teste de estresse anual dos maiores credores do país. O teste é um fator-chave para determinar quanto os bancos podem retornar aos acionistas por meio de recompra de ações e dividendos. Sabemos dos problemas que o setor financeiro passou no começo do ano e qualquer vibração negativa vinda nesta frente poderá se transformar em uma dor de cabeça adicional para os investidores, principalmente em dia com fala de autoridade monetária.
· 02:45 — É uma questão de atração…
Ainda nos EUA, as ações simplesmente não são tão atraentes em relação aos títulos hoje em dia. Isso é especialmente verdadeiro depois que o recente rali do S&P 500 elevou o múltiplo do índice (preço sobre lucro projetado para os próximos 12 meses), enquanto os rendimentos dos títulos se mantiveram firmes ou subiram — o S&P 500 subiu 20% em relação ao ano anterior, incluindo um ganho de 16% no acumulado do ano (esse aumento ocorreu quando as estimativas consensuais de ganhos foram estáveis para baixo, tornando o índice mais caro).
Agora, o múltiplo preço sobre lucro futuro do S&P 500 está em mais de 19 vezes, acima das 16 vezes há um ano e 17 vezes no início de 2023. Enquanto isso, apesar de alguma volatilidade em torno de mudanças nas expectativas para a política do Federal Reserve, os rendimentos dos títulos permaneceram relativamente estáveis. Como consequência, enquanto o earnings yield (inversão do múltiplo P/L do S&P 500) indica 5,2% ao ano, a taxa dos tesouros de 10 anos (real) aponta para 3,7%. Isso nos dá um prêmio de risco de mercado de 150 pontos, o menor desde a crise de 2008.
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· 03:31 — Um cenário de juros mais elevados.
O Banco de Compensações Internacionais, popularmente conhecido como o banco central dos bancos centrais, alertou recentemente que a reta final do aperto monetário provavelmente será a mais difícil. Os ganhos fáceis contra a inflação já foram colhidos e a última milha será mais difícil. Até agora, as ações ignoraram a noção de um problema de inflação arraigado, com o índice S&P 500 conseguindo subir quase 15% no ano, embora a grande maioria dos ganhos tenha sido liderada por uma recuperação em tecnologia de grande valor de mercado.
Ainda vejo a economia mundial enfrentando uma conjuntura crítica, com chance de uma desaceleração mais acentuada do que o previsto; afinal, elevação de juros e estresse financeiro são obstáculos que conhecemos bem. Pela primeira vez em décadas, estamos diante da combinação de inflação elevada e problemas de estabilidade financeira. Ao mesmo tempo, o Brasil, juntamente com outros países emergentes, está liderando o movimento de desinflação ao redor do mundo, dando espaço para a redução das taxas de juros.
· 04:10 — Um grande player fragilizado
O chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, chegou à Bielorrússia logo depois de Vladmir Putin ter dito que a Rússia evitou a “guerra civil” com a rebelião do fim de semana. Como parte de um acordo para acabar com o levante armado que representou a maior ameaça aos 24 anos de governo de Putin, a Rússia encerrou sua investigação criminal sobre Wagner. Resta saber quanto tempo Prigozhin ainda tem de vida — depois de desafiar Putin, o líder dos mercenários tem seus dias contados.
A economia da Rússia é muito menor do que a dos Estados Unidos e da China, mas desempenha um papel descomunal na formação da economia mundial. Isso porque é um dos maiores fornecedores de energia para mercados globais, incluindo China e Índia. Para se ter uma ideia, a incerteza geopolítica nas principais nações produtoras de petróleo nos últimos 35 anos aumentou em média 8% o preço do petróleo nos cinco dias após o evento desencadeador. Qualquer perda de energia russa forçaria a China e a Índia a competir com as nações ocidentais pelo fornecimento energético.
Se o caos político restringir as exportações de outras commodities, como grãos ou fertilizantes, isso também pode desequilibrar a oferta e a demanda. E isso pode elevar os preços para todos. Em um momento de maior fragilidade global perante a inflação, qualquer estresse pode ser motivo para nervosismo. No final do dia, mais vale a pena ficar com um inimigo conhecido (Putin) do que com um desconhecido.