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Primeira semana de julho conta com discurso de autoridades monetárias e ata da última reunião do Fed; confira

No Brasil, com menos indicadores econômicos na agenda, o foco se volta para possíveis novidades monetárias antes do recesso legislativo.

Por Matheus Spiess

01 jul 2024, 09:16 - atualizado em 01 jul 2024, 09:16

Bom dia, pessoal. Iniciamos o segundo semestre de 2024 com uma semana mais tranquila no cenário internacional devido ao feriado de 4 de julho nos Estados Unidos, comemorando o Dia da Independência, que fechará os mercados na quinta-feira (com um pregão parcial na quarta-feira).

Isso resultará em menor liquidez global, mas não necessariamente em menos emoção. Durante a semana, teremos discursos de autoridades monetárias, incluindo Jerome Powell, presidente do Fed, a ata da última reunião do banco central americano e os dados de emprego de junho. Esses eventos podem reforçar ou enfraquecer a expectativa de um corte de juros em setembro, impactando os mercados.

Os mercados internacionais começaram a semana com ganhos. Na Europa, os ativos estão em alta, liderados pelas ações francesas, após o partido de Marine Le Pen liderar o primeiro turno das eleições parlamentares, embora por uma margem menor do que algumas pesquisas indicaram, deixando a disputa ainda acirrada para o segundo turno. O mercado teme um partido menos comprometido com reformas fiscais assumindo grande força.

Nos Estados Unidos, os futuros estão em valorização, acompanhando as principais commodities, como petróleo e minério de ferro, apesar de um desempenho mais fraco nas bolsas asiáticas. No Brasil, o principal foco será a política.

A ver…

· 00:56 — O modo eleitoral

Aqui no Brasil, com menos indicadores econômicos na agenda, o foco se volta para possíveis novidades monetárias antes do recesso legislativo.

Na semana passada, novos ataques do presidente Lula na sexta-feira (28) pressionaram os ativos locais, fazendo o dólar se aproximar de R$ 5,60. Isso é preocupante, pois pode aumentar a inflação.

A questão central é a trajetória fiscal brasileira, já que o governo falhou em apresentar um plano crível de execução do novo arcabouço fiscal. Uma solução direta seria desvincular o salário mínimo do reajuste dos benefícios assistenciais e previdenciários.

Contudo, Lula e o PT se opõem a isso, perpetuando o estresse. A curva de juros já precifica uma alta da Selic até o final do ano, o que provavelmente não ocorrerá, mas ilustra o nível de tensão. O sentimento geral não é positivo: em junho, o Ibovespa teve o menor giro financeiro médio mensal em 54 meses, refletindo a aversão ao risco.

Lula, em modo eleitoral e temendo um desempenho ruim nas eleições municipais de 2024, acaba agravando as falhas de seu governo. A situação é exacerbada por uma guerra ideológica e superficial. Bastaria pouco para amenizar a situação — um Copom rígido e uma sinalização concreta de corte de gastos seriam suficientes para acalmar os ânimos. No entanto, o presidente se recusa a aceitar a realidade.

Além disso, questões como a ampliação da cesta básica zero podem levar o IVA da Reforma Tributária para 27,1%. A transparência do imposto único revela a estrutura disfuncional dos gastos do orçamento brasileiro, que, mesmo com uma alíquota alta, não consegue equilibrar as contas.

Além disso, evidencia como o país é repleto de favores fiscais — a quantidade de exceções eleva a taxa do IVA. Isso é desmotivador e o mercado reflete essa desconfiança nos preços.

· 01:42 — O calendário pode ser curto, mas não deixa de ser importante

Nos EUA, a semana será mais curta devido ao feriado de 4 de julho, Dia da Independência. Mesmo assim, os investidores terão muitos eventos importantes para acompanhar. Na semana passada, encerramos mais um mês de ganhos para os principais índices americanos, que já acumulam altas expressivas em 2024. O Nasdaq, por exemplo, subiu mais de 18% nos últimos seis meses. Na sexta-feira, o índice de preços das despesas de consumo pessoal desacelerou sua taxa anual para 2,6%, em comparação aos 2,7% registrados em abril. Esta é uma boa notícia para aqueles que aguardam um possível corte de juros em setembro.

Para esta semana, os dados de emprego nos EUA estarão em foco. Iniciamos com a Pesquisa sobre Vagas de Emprego e Rotatividade de Trabalho (JOLTS) na terça-feira, seguida pela leitura da ADP sobre o emprego no setor privado na quarta-feira. Esses dados culminarão no relatório de sexta-feira sobre as folhas de pagamento não-agrícolas de junho, conhecido como payroll, que é o principal evento da semana. Espera-se que os ganhos na folha de pagamento diminuam de 272 mil em maio para 200 mil, enquanto a taxa de desemprego deve permanecer em 4,0%. Números abaixo do esperado podem fortalecer ainda mais a expectativa de um corte de juros em setembro.

· 02:35 — Haverá substituição ou não?

A grande questão política nos EUA neste momento é se Joe Biden abrirá mão de sua candidatura à reeleição após o desastroso debate da semana passada. Desde então, como mencionei extensivamente na sexta-feira, os democratas estão desesperados; correm o risco de perder não apenas a Casa Branca, mas também o Senado (a Câmara já está sob controle republicano desde as últimas eleições de meio de mandato). Nas redes sociais e na grande mídia, tanto aliados quanto adversários de Biden destacam sua falta de energia, sua apresentação monótona e, talvez mais seriamente, suas respostas incoerentes, que não conseguiram contrapor adequadamente as declarações (muitas vezes falsas) de Trump. O problema é que Biden precisa desistir por vontade própria, pois o partido não pode forçá-lo a sair depois de sua vitória nas primárias. Isso coloca a responsabilidade de uma renúncia sobre seus assessores mais próximos, especialmente sua família.

Até agora, não há sinais de que ele vá desistir, mas isso pode mudar rapidamente. Outro problema é que as alternativas mais fortes ao nome de Biden também apresentam desafios. Gavin Newsom e Kamala Harris são frequentemente mencionados, mas têm suas próprias desvantagens: Harris é muito impopular e Newsom é considerado muito radical (basta observar suas políticas na Califórnia). Até os nomes de Hillary Clinton e Michelle Obama foram cogitados (pasmem). Harris enfrenta alta rejeição, Newsom é visto como extremo demais e Clinton já teve sua chance. Obama seria a melhor opção para atrair moderados, mas ela já declarou várias vezes que não tem interesse em se candidatar. Seja qual for o substituto, o tempo está passando. E vale lembrar que Trump ainda não escolheu seu vice. Um nome feminino ou da comunidade negra americana poderia agregar ainda mais votos. Neste contexto, vejo que Trump já está com um pé na Casa Branca.

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· 03:29 — Imbróglios franceses

O primeiro turno das eleições francesas produziu resultados praticamente alinhados com as pesquisas de opinião no que diz respeito ao voto popular. O partido de extrema direita Rassemblement National (RN) e seus aliados obtiveram 33,1% dos votos, a aliança de esquerda Nova Frente Popular (NFP) ficou em segundo lugar com 28%, e a coalizão de Macron obteve 20%. Embora o RN tenha ficado ligeiramente abaixo do esperado, ainda assim liderou a corrida eleitoral. No entanto, o resultado final só será conhecido após o segundo turno.

A aliança centrista do presidente Emmanuel Macron e a Nova Frente Popular estão agora ajustando suas estratégias para a próxima fase da eleição, que ocorrerá dentro de uma semana, a fim de evitar que o partido de Le Pen e seus aliados obtenham a maioria. Tradicionalmente, as correntes políticas dominantes na França se uniram para manter a extrema direita afastada do poder. Nesse contexto, parece que os próximos anos serão de paralisia política na França, com Macron esperando que isso fortaleça sua ala para as eleições presidenciais de 2027 (lógica “ruim comigo, pior sem mim”).

Em paralelo, quem também está focado em eleições esta semana é o Reino Unido, que vai às urnas no dia 4 de julho. Tudo indica uma derrota esmagadora para os conservadores, que estão no poder há 14 anos. O sentimento dentro do partido é de contenção de danos: como Keir Starmer, líder dos trabalhistas, é visto como fraco e pouco carismático, os esforços dos conservadores são para minimizar a maioria trabalhista e dificultar os trabalhos do governo nos próximos anos.

· 04:11 — É possível uma mudança no Irã?

As eleições presidenciais antecipadas no Irã ocorreram no fim de semana, após a morte do Presidente Ebrahim Raisi em um acidente de helicóptero em 19 de maio. Como nenhum candidato obteve a maioria no primeiro turno, um segundo turno será realizado em 5 de julho entre Saeed Jalili, de linha dura, e Masoud Pezeshkian, reformista. Com uma participação de 39,93%, esta foi a eleição presidencial com a menor participação na história da República Islâmica, superando os 48,48% registrados em 2021. Vale mencionar que estas eleições são bastante restritas e não são consideradas justas por vários órgãos internacionais devido à falta de transparência.

Pezeshkian, de 69 anos, enfrenta um desafio difícil. O candidato que ficou em terceiro lugar já pediu a seus apoiadores que votem em Jalili. Os outros candidatos, todos de linha dura, provavelmente seguirão o mesmo caminho. Para muitos, especialmente os jovens iranianos cuja revolta foi violentamente reprimida em 2022, Zarif e Rouhani são tão impopulares quanto figuras como Jalili, que desejam manter o Irã isolado do Ocidente. Naturalmente, em questões de política externa, o Líder Supremo Khamenei ainda tem a palavra final. No entanto, seria interessante ver alguma tentativa de modernização. O problema é que, na atual conjuntura, é improvável que o reformista consiga vencer no segundo turno. Vamos acompanhar a evolução da situação.

· 05:07 — Tempo seco

Previsões meteorológicas indicam uma alta probabilidade de chuvas abaixo da média e temperaturas elevadas nos próximos meses, cenário que pode resultar na queda dos níveis dos reservatórios das hidrelétricas e no aumento da demanda por energia elétrica. Esse contexto abre uma janela de oportunidade para a recuperação de empresas do setor elétrico, como Eletrobras e Eneva, cujas ações enfrentaram grandes desafios este ano. A dúvida: então vale a pena manter os papéis com base nisso?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.