Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados da Ásia e do Pacífico encerraram o dia sem uma única direção, com os temores bancários ressuscitados em Wall Street, levando os três principais índices dos EUA a uma sequência de quatro dias de perdas — as ações dos bancos regionais caíram bem, com o SPDR S&P Regional Bank ETF caindo 5,5%. Ainda assim, o humor asiático foi predominantemente positivo, mesmo com dados chineses abaixo da expectativa e volume de negociações mais fraco.
Os mercados europeus tentam se recuperar nesta manhã, assim como os futuros americanos. A tensão segue no ar, principalmente depois do nervosismo com o PacWest Bancorp e o First Horizon. A incerteza contínua sobre as perspectivas para as taxas de juros também pesou após a décima alta consecutiva do Fed, nos EUA. Dados americanos de emprego hoje devem nivelar um pouco melhor as expectativas dos investidores sobre a possibilidade de recessão.
A ver…
· 00:45 — Agenda fraca
Por aqui, sem agenda local de dados econômicos, nos debruçamos sobre os resultados corporativos, as vibrações políticas em Brasília e o noticiário internacional. Sobre o segundo tema, inclusive, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dá entrevista ao vivo pela manhã, podendo voltar a falar sobre arcabouço fiscal, reforma tributária e política monetária — ontem, o ministro se disse preocupado com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), mas nada muito drástico em sua fala.
O mesmo não pode ser dito para os demais participantes do novo Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e Sustentável, o “Conselhão”, que contará com 246 integrantes de diferentes setores da sociedade — diversas personalidades estarão presentes, como Luiza Trajano (Magazine Luiza), Rubens Ometto (Cosan), Abílio Diniz (Pão de Açúcar), Josué Gomes (FIESP), Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), Gilson Finkelsztain (B3), Cristina Junqueira (Nubank) e Ana Paula Vescovi (Santander).
Quem podia criticar o BC, o fez sem cerimônia. Pelo menos o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou e desembarca hoje no Reino Unido para um encontro nesta sexta-feira com o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, e para participar amanhã da coroação do rei Charles III. Enquanto viaja, Lula refletirá sobre como arrumar sua base política no Congresso depois da primeira derrota relevante nesta semana com a queda dos decretos de saneamento, no qual até supostos aliados votaram pela derrubada. De qualquer forma, seguindo a tradição, quando ele sai do país, a Bolsa sobe.
· 01:55 — Os problemas bancários
Nos EUA, os temores sobre a saúde dos bancos regionais ainda afetam as ações, fazendo com que o S&P SPDR Regional Banking ETF caísse 5,5% ontem. A queda também se espalhou pelos principais índices de ações. O péssimo desempenho dos bancos regionais ocorreu um dia depois que o Federal Reserve disse em comunicado que o sistema bancário dos EUA é sólido e resiliente. A perda de credibilidade na comunicação do Fed é tangível.
Outros vetores para hoje, além das discussões sobre a crise bancária, devem envolver o resultado da Apple, que reportou US$ 1,52 de lucro por ação e gerou US$ 94,8 bilhões em receita, superando as expectativas do mercado — as ações subiram cerca de 2% nas negociações após o expediente. Além disso, ainda temos os famosos dados de payroll hoje, os quais devem mostrar um aumento de 185 mil empregos não agrícolas, após um ganho de 236 mil em março, com a taxa de desemprego podendo avançar de 3,5% para 3,6%. Eventuais surpresas terão efeitos sobre os mercados.
· 02:45 — A profundidade do problema
Ontem, as ações do PacWest Bancorp caíram cerca de 50%, enquanto o First Horizon caiu 33% e o Western Alliance Bancorp cedeu 38,5%. Os aumentos das taxas pelo Federal Reserve e outros bancos centrais na Europa e na Ásia pressionaram os bancos, fazendo com que os preços de mercado dos títulos em seus balanços caíssem. Os investidores temem que os depositantes possam sacar dinheiro de credores considerados problemáticos, piorando suas pressões financeiras.
Nesta semana, os reguladores fecharam o First Republic Bank e venderam a maior parte do banco para o JPMorgan Chase. Sim, as autoridades enfatizaram que o sistema bancário é seguro, mas os investidores seguem preocupados, temendo que, mesmo sem mais falências de bancos, a turbulência do setor possa levar instituições menores a reduzir os empréstimos.
Isso pode aumentar os custos dos empréstimos, pressionando ainda mais o crescimento econômico. Esperamos pelo menos uma breve recessão nos EUA este ano, sem que o Fed derrube os juros para sustentar o crescimento econômico (as primeiras quedas devem ficar para 2024, apenas).
· 03:38 — A situação do mercado de trabalho americano
Há algo ligeiramente absurdo em tentar resumir algo como um mercado de trabalho complexo em uma única palavra. Apenas “fraco” ou “forte” realmente não faz justiça ao mercado de trabalho dos EUA, que simultaneamente tem desemprego muito baixo e crescimento real de salário muito baixo — o contexto pós-pandêmico foi um período excepcional com rotatividade muito alta no mercado de trabalho.
Há dois pontos para o relatório de emprego de hoje nos EUA.
Em primeiro lugar, os ganhos médios por hora não são salários diretos. Em outras palavras, eles são cada vez menos úteis como proxy para os salários em um momento de mudança estrutural no mercado de trabalho, até mesmo porque alguns trabalhadores estão assumindo múltiplos empregos (menos remunerados).
Em segundo lugar, a questão mais importante do mercado de trabalho não é medida diretamente: o medo. Se os trabalhadores americanos ficarem com medo de perder seus empregos, a poupança preventiva aumentará e os gastos cairão. Se os dados vierem acima do esperado, o Fed terá mais motivos para não mudar os juros.
· 04:29 — A atividade chinesa
No gigante asiático, o índice de gerentes de compras de serviços Caixin da China para abril caiu para 56,4 pontos em relação à leitura de março de 57,8, mas permaneceu em expansão, enquanto o PMI de manufatura Caixin caiu para o território de contração. De maneira geral, os dados apontam para uma recuperação modestamente mais lenta e pouco uniforme (nem todos os setores estão sustentando crescimento).