Investimentos

Pronunciamento de Campos Neto, dividendos da Petrobras (PETR4) e mais; veja o que está no radar do mercado nesta terça (9)

Mercado também vive expectativa pela divulgação dos dados de inflação nos EUA e no Brasil, que ocorrem na quarta (10)

Por Matheus Spiess

09 abr 2024, 09:06 - atualizado em 09 abr 2024, 09:06

Roberto Campos Neto mercado
Imagem: Raphael Ribeiro/BCB

Bom dia, pessoal. Às vésperas da divulgação dos indicadores de inflação no Brasil e nos EUA, o cenário mercadológico é pautado por um turbilhão de informações secundárias. Essa agitação foi intensificada pelas declarações variadas dos membros do Federal Reserve ao longo da semana, oferecendo aos investidores um leque de perspectivas a escolher, possibilitando a confirmação de visões ideológicas já estabelecidas. A perspectiva de três reduções na taxa de juros neste ano ainda paira, embora sua probabilidade oscile diante dos recentes dados, especialmente os empregatícios. Aguarda-se ansiosamente os números inflacionários de amanhã para esclarecer a direção futura das políticas monetárias.

No cenário internacional, os mercados asiáticos apresentaram uma recuperação na terça-feira, reagindo às quedas pronunciadas da semana anterior provocadas pelo receio de taxas de juros elevadas nos EUA por um período prolongado, que desencadeou uma onda de vendas em ativos de risco. Em contraste, o mercado europeu demonstra certa hesitação nesta manhã, apesar dos resultados positivos na pesquisa de vendas no varejo do Reino Unido de março. Por outro lado, os futuros americanos registram ganhos, destacando-se na paisagem financeira de hoje. No calendário econômico, destacam-se os dados sobre empréstimos bancários na Zona do Euro e uma pesquisa sobre o sentimento das pequenas empresas nos EUA.

A ver…

· 00:54 — É difícil de enxergar o trajeto no meio da neblina

No Brasil, à véspera da divulgação do IPCA de março, o mercado financeiro volta suas atenções para pronunciamentos de figuras-chave do Banco Central, incluindo o presidente Roberto Campos Neto e o diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, este último cotado como um potencial sucessor de Campos Neto. Paralelamente, a Petrobras ocupa um espaço significativo no radar dos investidores, aguardando uma resolução na gestão de Prates, em meio a negociações delicadas que envolvem a distribuição de dividendos extraordinários. Os bastidores do governo fervilham com debates entre os ministros Fernando Haddad da Fazenda e Rui Costa da Casa Civil, divididos entre a distribuição total (R$ 43,9 bilhões, dos quais a União recebe cerca de 30%, ou R$ 13,7 bilhões) ou parcial (50%) dos lucros extraordinários da estatal.

Além disso, o X (ex-Twitter), de Elon Musk, ganhou destaque negativo após o início de uma investigação por suposta desobediência a uma ordem da Suprema Corte, exacerbando as preocupações sobre a permanência de investimentos estrangeiros no país. Outro ponto de preocupação? O quadro fiscal, com o governo considerando estabelecer a meta fiscal de 2025 num intervalo entre 0% e 0,25% do PIB, um ajuste em relação à previsão anterior de 0,5%. A definição dessa nova meta fiscal, prevista para integrar o Projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias a ser entregue ao Congresso até 15 de abril, promete intensificar as tensões no mercado de juros, que já reflete uma expectativa de taxa real de 6% nos prazos mais extensos.

· 01:48 — Um novo equilíbrio?

Nos Estados Unidos, os mercados de ações experimentaram um dia de calmaria antes da aguardada divulgação dos dados de inflação, com alguns atribuindo a tranquilidade do mercado até à curiosidade em torno do eclipse solar. Simultaneamente, as taxas de juros dos títulos do Tesouro de 2, 5 e 10 anos escalaram para novos picos recentes, antecipando a possível reação aos iminentes dados de inflação. Caso estes se revelem desfavoráveis, a taxa de juros de 10 anos pode alcançar os 5%, uma perspectiva preocupante para os investimentos globais em ativos de risco. Por outro lado, um resultado melhor que o esperado poderia manter a esperança de três reduções na taxa de juros ao longo do ano.

Uma análise intrigante do Morgan Stanley reacendeu o debate sobre a quantidade de empregos necessários para manter a economia dos EUA equilibrada. Este estudo sugere que o número ideal de novos postos de trabalho por mês seria cerca de 260 mil, significativamente acima da estimativa anterior de 100 mil vagas. Com a criação média de 276 mil empregos nos últimos três meses, a economia americana parece estar se ajustando a uma nova realidade, possivelmente alinhada com a NAIRU, a taxa de desemprego que não acelera a inflação, indicando uma nova dinâmica de mercado que demanda uma abordagem de política monetária ajustada a um patamar estruturalmente mais elevado de juros.

· 02:32 — Data marcada

Ontem, o mercado de petróleo registrou uma queda no preço, fechando a US$ 90,38 por barril, refletindo uma momentânea serenidade em Gaza após a retirada das forças israelenses do sul, uma ação que pareceu aliviar a tensão na região em resposta aos apelos internacionais por paz.

Contudo, as negociações entre Israel e o Hamas, retomadas no Egito, foram breves, com o primeiro-ministro israelense indicando planos para uma futura operação em Rafah, um importante ponto de refúgio em Gaza, sem especificar datas. Esta manhã, o preço do petróleo apresentou alta, refletindo a contínua instabilidade. 

Netanyahu delineou três metas para essa iniciativa: a libertação dos reféns, a derrota definitiva do Hamas e a manutenção de sua posição política. Assim, a inquietação geopolítica na área se mantém, solidificando a posição do petróleo como um importante ativo de proteção geopolítica.

· 03:27 — Choque de realidade

As principais consultorias globais estão enfrentando um período desafiador, marcado por uma diminuição na demanda por seus serviços. A McKinsey, líder do setor, está oferecendo a centenas de seus funcionários sêniores no Reino Unido a opção de tirar uma licença de até nove meses para buscar novas oportunidades de emprego, mantendo-se remunerados durante este período. Uma iniciativa similar foi estendida a seus gestores nos Estados Unidos, evidenciando uma ironia do destino para profissionais acostumados a orientar empresas em processos de redução de pessoal. Outras gigantes do ramo, como Deloitte, EY, Bain e BCG, estão enxugando seus quadros em resposta ao decréscimo na procura por consultoria.

Esse cenário marca uma virada significativa para um setor que viu uma expansão robusta durante a pandemia, beneficiando-se da necessidade das empresas por suporte externo em questões logísticas e de digitalização. As recentes ondas de demissão no setor tecnológico também contribuíram para o aumento temporário de colaboradores em consultorias. Entretanto, após um aumento de 70% em seu quadro, alcançando 47 mil colaboradores em cinco anos, a McKinsey iniciou um corte de 1,4 mil posições no ano passado. Agora, a McKinsey e seus concorrentes, como Accenture, Deloitte, EY, KPMG e PwC, já demitiram quase 30 mil profissionais quando somadas, sugerindo um ajuste no setor em resposta às novas realidades do mercado.

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· 04:19 — Uma nova fronteira

A ascensão da Índia no cenário global tem capturado a atenção internacional. Enquanto membro dos Brics, a Índia mantém uma relação complexa com o Brasil, que merece uma análise cuidadosa. Apesar de recentes gestos de apoio do país asiático ao Brasil, especialmente em relação ao etanol, é crucial notar que a Índia possui um dos maiores programas de subsídios do mundo, superado apenas pela China. Essa realidade introduz uma dimensão adicional nas relações comerciais que não pode ser ignorada. Contudo, apresenta-se uma oportunidade estratégica de diversificar parcerias, possivelmente equilibrando a influência da China com a Índia ou mesmo potencializando relações com ambos os países.

Historicamente, o Brasil demonstrou capacidade de expandir suas exportações significativamente, multiplicando-as por oito de 2000 a 2022, de 20 bilhões de dólares para 167 bilhões de dólares, sem depender de acordos comerciais significativos. Diante de um crescimento populacional sem precedentes, com a expectativa de que a população mundial cresça de 8 para 10 bilhões nos próximos 25 anos, o Brasil, como líder agrícola global, está posicionado de maneira única para atender à crescente demanda por alimentos. Com a liderança nas exportações de uma variedade de commodities agrícolas e a potencial inclusão do algodão nessa lista em breve, o Brasil tem diante de si uma oportunidade singular. O desafio será garantir a competitividade e a abertura dos mercados internacionais para aproveitar ao máximo esse potencial de crescimento, especialmente nos mercados emergentes da Índia e da África.

· 05:03 — A loja de tudo

Nos últimos meses, dediquei esforços para orientar você na elaboração de um portfólio diversificado, atendendo às diversas facetas de um investidor exigente. Entre os assuntos discutidos, a alocação internacional se destaca, sugerindo-se uma composição de 15% a 30% do portfólio total. Essa parcela deve abranger uma variedade de classes de ativos, incluindo renda fixa e ações. Para as ações, tanto ETFs quanto uma seleção de 10 a 15 empresas são recomendáveis. Já compartilhei algumas dessas recomendações e hoje quero introduzir…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.