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Queda de commodities, dólar mais forte e debate presidencial dos EUA; veja o que deve ecoar no noticiário nesta quarta-feira (11)

Enquanto o debate presidencial na terça-feira (11) animou o partido dos Democratas e deve fortalecer o dólar, medo de recessão ainda persiste.

Por Matheus Spiess

11 set 2024, 09:06 - atualizado em 11 set 2024, 16:24

Após uma boa performance na segunda-feira (9), o mercado voltou ontem a demonstrar uma clara aversão ao risco, impulsionada pelo temor crescente de uma recessão global. Isso se refletiu na queda das commodities e das ações, além do fortalecimento do dólar, que seguiu o conhecido padrão do “dollar smile”, no qual a moeda americana se valoriza tanto em cenários de economia muito forte quanto muito fraca, enfraquecendo apenas em momentos de moderação econômica.

Uma das grandes preocupações atuais é a possibilidade de uma desaceleração desordenada, embora este não seja o meu cenário principal. Ainda vejo espaço para a concretização de um “Goldilocks” ou “soft landing“, em que a economia desacelera de forma controlada.

A trajetória de queda dos juros nas economias desenvolvidas será um fator crucial para que esse cenário se materialize. Por isso, o índice de preços ao consumidor dos EUA, divulgado hoje (11), é tão relevante. O mercado está com grande expectativa em relação a esses números, o que contribui para a queda dos futuros americanos nesta manhã.

Esse movimento também reflete as repercussões do debate entre Donald Trump e Kamala Harris, no qual a vice-presidente foi considerada vencedora. Embora o evento tenha sido pouco propositivo e o desempenho de Harris apenas razoável, foi suficiente para superar Trump, o que bastou para o contexto do debate.

Enquanto isso, os mercados europeus mostram maior resiliência em comparação com o cenário americano, distanciando-se da queda observada nos mercados asiáticos na quarta-feira (11). As commodities, por sua vez, tentam uma recuperação gradual.

A ver…

· 00:56 — Inflação sem efeito

No Brasil, a queda das commodities neutralizou qualquer impacto positivo trazido pela inflação mais amena, resultando em uma queda de 0,31% no Ibovespa, que fechou aos 134.320 pontos. Isso se deve, em grande parte, ao peso significativo das ações de empresas de petróleo e mineração no índice. Os investidores estão apreensivos quanto à possibilidade de que a desaceleração econômica nos Estados Unidos e na China reduza a demanda por combustíveis e derivados de petróleo, justamente em um momento em que os estoques e a produção continuam elevados.

A deflação de 0,02% registrada em agosto, abaixo da expectativa de +0,02% e do índice de julho de 0,38%, mal pôde ser comemorada. No acumulado do ano, o IPCA registra alta de 2,85%, e nos últimos 12 meses, 4,24%, abaixo dos 4,50% observados no período anterior. No entanto, isso deve influenciar a decisão do Copom? Muito provavelmente, não. É improvável que essa deflação evite um aumento da Selic na próxima semana, embora possa justificar uma elevação mais modesta de 25 pontos-base em vez dos 50 pontos anteriormente cogitados.

O Banco Central já vinha ajustando sua comunicação, sinalizando a possibilidade de um aumento menos agressivo do que o inicialmente esperado pelo mercado, então não temos nenhuma surpresa aqui. Em teoria, uma comunicação mais firme lá atrás poderia ter evitado a necessidade de elevação agora, mas a postura vocal da autoridade monetária entre julho e agosto alterou essa percepção, e o mercado absorveu essa expectativa. Agora, o aumento parece inevitável, embora seja improvável que o teto da meta de inflação para 2024 seja ultrapassado.

Além disso, o dado de inflação foi qualitativamente positivo, com a média dos índices caindo para 0,25% (o que equivale a 3% em termos anualizados). Mesmo com a possibilidade de um período sazonalmente desfavorável para a inflação no final do ano, um ciclo de alta mais moderado parece ser o caminho mais adequado.

Na agenda de hoje (11), destacam-se os dados de serviços, que ajudarão a calibrar melhor as expectativas de atividade econômica para o restante do ano, além da votação da desoneração na Câmara. Caso a desoneração não seja aprovada, a decisão de Zanin, que determina a retomada da reoneração, prevalecerá, o que seria positivo para o ajuste fiscal.

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· 01:41 — Dando uma olhada na inflação

Nos EUA, as ações dos grandes bancos foram os principais responsáveis pela pressão negativa no pregão de ontem. O setor financeiro do S&P 500 fechou o dia em queda superior a 1%, impactado por um trio de bancos que divulgaram projeções desfavoráveis para seus acionistas. No entanto, os índices mais amplos terminaram mistos, sustentados por um desempenho sólido das ações de tecnologia de megacapitalização. 

No mercado de títulos, os preços subiram, e os rendimentos continuaram a cair à medida que o Federal Reserve se aproxima de um corte iminente nas taxas de juros. 

Em relação a isso, hoje será divulgado o último dado relevante antes da reunião de política monetária do Fed, marcada para os dias 17 e 18 de setembro: a inflação ao consumidor de agosto. As expectativas do mercado apontam para um aumento de 0,2% na comparação mensal, o que levaria a uma desaceleração da taxa anual para 2,6%. Já o núcleo da inflação, que exclui itens mais voláteis como alimentos e energia, deve registrar 3,2% na comparação anual. Um resultado em linha com as expectativas, ou ligeiramente acima, fortaleceria a perspectiva de um corte de 25 pontos-base na próxima semana.

· 02:37 — Kamala venceu a batalha

Na noite de ontem, o primeiro (e possivelmente único) debate entre Donald Trump e Kamala Harris teve um resultado bem diferente do confronto entre Trump e Joe Biden. Kamala Harris foi amplamente considerada a vencedora, ainda que o evento, com poucas propostas concretas, dificulte a definição de um vencedor claro.

O mercado de apostas reagiu, elevando as chances de vitória de Kamala, enquanto o preço do Bitcoin recuou, refletindo a preferência dos investidores dessa criptomoeda por Donald Trump. São sinais importantes, mas isso significa que ela vencerá as eleições? Não necessariamente. A corrida ainda está bastante equilibrada, e há muito a se desenrolar até o dia da votação.

Mesmo assim, foi uma noite favorável para Harris, que pode usar o momento para revitalizar sua campanha, recentemente estagnada. Embora seu desempenho não tenha sido extraordinário, foi suficientemente melhor que o de Trump, que recorreu a suas tradicionais frases de efeito. Continuo acreditando que, independentemente de quem vencer, o Congresso provavelmente continuará dividido, o que limitará o avanço de medidas radicais ou ideias mais heterodoxas.

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· 03:23 — Medo de recessão

Ontem foi um dia difícil para os bancos americanos, mesmo com algum alívio regulatório em relação às novas exigências de capital. As projeções mais pessimistas sobre o futuro do mercado de crédito indicam que o período de tomadores de empréstimos saudáveis e margens robustas pode estar chegando ao fim, conforme apontado pelos relatórios recentes de instituições como JP Morgan, Goldman Sachs e Ally Financial.

Paralelamente, os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA caíram para seus níveis mais baixos no ano, refletindo crescentes preocupações com uma possível recessão no país. Esses temores foram intensificados pela queda nos preços do petróleo e por indicadores econômicos fracos da China. Embora a queda no preço do petróleo seja parcialmente influenciada por questões de oferta, o receio de uma diminuição da demanda global parece ser ainda mais preocupante.

Em relação à China, há estimativas de que o governo precisaria injetar US$ 1,4 trilhão para revitalizar a economia. Considero improvável que esse montante seja alocado, já que representa até 2,5 vezes o valor gasto após a crise financeira global de 2008. O aumento das preocupações com a deflação na China, somado à desaceleração econômica nos EUA, tem intensificado a volatilidade do mercado, especialmente em um mês que, historicamente, já é sazonalmente desafiador. Apesar das dificuldades, continuo acreditando que uma recessão pode ser evitada, embora o curto prazo deva continuar apresentando desafios significativos.

· 04:12 — O interesse pela África continua

O presidente Xi Jinping recebeu em Pequim líderes africanos para o Fórum de Cooperação China-África, onde conduziu dezenas de reuniões com representantes de todo o continente, muitos deles buscando apoio para impulsionar o desenvolvimento de suas economias. Como parte de seus compromissos, Xi prometeu fornecer US$ 50 bilhões em apoio financeiro à África nos próximos três anos, enquanto também fortalece laços diplomáticos e militares.

Essa conexão com a África é fundamental para a estratégia de Pequim em se posicionar como líder do “Sul Global” — termo usado para descrever as nações em desenvolvimento — e desafiar a influência dos Estados Unidos ao redor do mundo. Dado que os EUA não têm o continente africano como uma de suas principais prioridades, a China parece estar pronta para expandir ainda mais sua presença nos próximos anos.

Refletindo o interesse profundo de Pequim na região, Xi Jinping já visitou a África cinco vezes desde que assumiu o poder, enquanto presidentes americanos como Joe Biden e Donald Trump não fizeram visitas durante seus mandatos. Os esforços chineses parecem estar rendendo frutos, com o comércio entre China e África em alta. No ano passado, o superávit comercial da China com o continente atingiu um recorde de US$ 64 bilhões. 

Atualmente, a estratégia de investimentos da China na África está mudando, com Pequim buscando acordos menores e mais seletivos, priorizando aqueles que ofereçam maior lucratividade. No entanto, apesar dos avanços, a abordagem chinesa enfrenta desafios, como acusações de armadilhas de dívida, exploração e corrupção. Mesmo assim, o ímpeto de Pequim na África continua firme, com a China empenhada em obter maior influência, além de acesso a recursos energéticos e minerais estratégicos.

· 05:08 — Acabou o gás?

Nas últimas semanas, a situação no Brasil apresentou uma deterioração notável. Desde o final de agosto, a volatilidade no mercado financeiro aumentou, e, embora o Ibovespa tenha superado recentemente a marca dos 137 mil pontos, tem enfrentado obstáculos significativos. Esse cenário é marcado pela incerteza fiscal, questionamentos sobre a política monetária e o temor de uma recessão global, que tem pressionado negativamente os preços das commodities.

Além disso, estamos em um período historicamente mais desafiador para os mercados — agosto e setembro são meses que frequentemente expõem as vulnerabilidades fiscais do Brasil, com debates intensos sobre o orçamento do próximo ano, e ajustes nas carteiras dos investidores se preparando para o fim do ano.

Com isso, a pergunta que surge é: esse pessimismo veio para ficar ou é apenas uma fase temporária?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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