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Mercado em 5 minutos

Quem jogou a bomba?

“Lá fora, as bolsas asiáticas encerraram o dia predominantemente em baixa nesta quarta-feira (16), apesar das movimentações positivas de Wall Street durante ontem […]”

Por Matheus Spiess

16 nov 2022, 08:47 - atualizado em 16 nov 2022, 08:47

Bom dia, pessoal. 

Lá fora, as bolsas asiáticas encerraram o dia predominantemente em baixa nesta quarta-feira (16), apesar das movimentações positivas de Wall Street durante ontem, enquanto os investidores ponderam sobre o impacto da situação geopolítica após relatos de ataques com mísseis russos cruzando a Polônia e matando duas pessoas.  

Os mercados europeus amanhecem tensionados, enquanto os futuros americanos até conseguem ensaiar uma tímida alta. O que temos de alta deriva dos dados dos produtores de ontem, que mostraram um aumento menor do que o esperado nos preços, elevando as expectativas e que o Fed desacelere o ritmo do aperto monetário. 

Ainda que os EUA possam ter lidado com o pico da inflação, o mesmo não pode ser dito para a Europa, com os preços dos alimentos e dos combustíveis elevando a taxa de inflação do Reino Unido em outubro. Mais dados econômicos são aguardados lá fora, enquanto seguimos acompanhando no Brasil a equipe de transição. 

A ver… 

· 00:36 — Nervosismo de transição 

Por aqui, as fontes de Brasília se dividem sobre o nome para comandar a Fazenda nos próximos quatro anos de Lula — muitos falam de Fernando Haddad, enquanto alguns voltaram a especular a chance de Geraldo Alckmin na Fazenda (a chance de a pasta ser ocupada por um nome técnico, como Pérsio Arida ou Henrique Meirelles, perdeu força). Vale lembrar que só soubemos o nome de Palocci em 2002 no início de dezembro. Ou seja, o mercado ainda pode ficar mais um tempo nervoso com o tema. 

Até mesmo porque o Lula está bem longe. O presidente eleito está no Egito para a COP27, onde tentará apresentar um novo posicionamento brasileiro para o mundo. No evento, poderemos ter o nome da pessoa que vai ocupar o Ministério do Meio Ambiente (Marina Silva é a favorita) e o anúncio da candidatura do Brasil para a COP30, em 2025 — sediaremos em 2023 o encontro com presidentes sul-americanos e, em 2024, o G20 e a Conferência dos BRICS. Enquanto isso, Alckmin seguiu no Brasil para tocar a equipe de transição. A expectativa é de que a PEC de Transição seja apresentada hoje e que conte com um waiver de um ano na casa dos R$ 130 bilhões. 

· 01:23 — Inflação ao produtor 

Nos EUA, ainda é prematuro concluir que um pivô dovish do Fed está a caminho, embora os comentários do vice-presidente da autoridade monetária, Lael Brainard, além das surpresas negativas nos relatórios de inflação de outubro, aumentem as chances. Ontem, por exemplo, os preços do produtor subiram 0,2% em outubro em relação ao mês anterior, bem abaixo da previsão dos economistas de alta de 0,5% — o relatório acompanha os preços ao consumidor melhor do que o esperado na semana passada e é mais uma indicação de que a inflação pode estar chegando ao pico. 

Consequentemente, o mercado indica uma chance de 80,6% de o Fed aumentar as taxas em apenas 50 pontos-base no próximo mês (14 de dezembro) e uma chance de 19,4% de outra alta de 75 pontos-base. Os investidores parecem estar concluindo que o ciclo de aperto da política monetária do Fed atingirá o pico mais cedo, com uma taxa de fundos federais terminal logo ao redor de 5,00%. Resta ver outros dados de atividade, como as vendas no varejo para outubro, divulgadas hoje (devemos ter um ganho de 0,5% em relação ao mês anterior e surpresas vão afetar o mercado).  

· 02:07 — O míssil 

No exterior, a situação geopolítica também pesou no sentimento do mercado após relatos de ataques com mísseis russos cruzando a Polônia, membro da OTAN, e matando duas pessoas no leste do país. A Polônia convocou o embaixador da Rússia em Varsóvia para uma explicação depois que Moscou negou a responsabilidade. Se a Rússia for responsável, a OTAN pode ser forçada a responder em nome da Polônia.  

O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que os Estados Unidos e seus aliados da OTAN estão investigando a explosão, mas informações iniciais sugerem que ela pode não ter sido causada por um míssil disparado da Rússia. O medo é de que o evento pudesse desencadear uma escalada na guerra da Rússia com a Ucrânia. A menos que haja evidência em contrário, as preocupações do mercado devem se dissipar.  

· 03:05 — O encontro do G20 

Algum aprimoramento das relações parece estar acontecendo na cúpula do G20 depois que o presidente americano, Joe Biden, se reuniu com o líder chinês, Xi Jinping, por três horas na segunda-feira. Embora Taiwan ainda seja um problema, os dois lados concordaram em retomar as negociações sobre o clima e abordaram a estabilidade da cadeia de suprimentos, bem como a segurança alimentar. 

A linguagem também foi mais calorosa, observando que deveria haver mais incentivos para trabalhar em conjunto. O próprio presidente americano disse que acredita absolutamente que não precisa haver uma nova Guerra Fria. A cúpula do G20 (cerca de 80% do PIB global) tomará o noticiário internacional durante os próximos dias, com expectativa de resoluções importantes sobre a guerra na Ucrânia. 

· 04:10 — 8 bilhões 

A população da Terra atingiu a marca de 8 bilhões nesta semana, segundo projeções da ONU. É o resultado de um surto de crescimento no último século: havia apenas 2 bilhões de humanos em 1925 e 4 bilhões em 1974 – então, mais uma vez, dobramos nossos números em menos de 50 anos.  

E o que impulsionou o crescimento? 

As pessoas estão vivendo melhor e por mais tempo. As taxas de mortalidade infantil e materna caíram, os cientistas desenvolveram curas para doenças mortais e as taxas de pobreza extrema despencaram. O crescimento, porém, está atingindo um limite e irá remodelar a sociedade. 

Espera-se que a população mundial atinja o pico na década de 2080 em 10,4 bilhões de pessoas, permaneça lá por algumas décadas e depois caia no início do século 22, acompanhando a queda das taxas de fertilidade (muitos países não estão produzindo bebês suficientes para manter o crescimento). Para exemplificar, as populações de 61 países devem cair pelo menos 1% até 2050, com a Europa Oriental sofrendo as maiores perdas — o crescimento veio de países como Nigéria, Tanzânia e Paquistão, que serão responsáveis ​​por mais da metade do aumento populacional projetado até 2050. 

Isso gera desdobramentos importantes para a economia: menos crianças significa menos trabalhadores contribuindo para a economia, ao mesmo tempo em que o número crescente de idosos exigirá suporte. Para ter uma ideia, de acordo com a ONU, em 2050 o número de pessoas com 65 anos ou mais será mais que o dobro do número de crianças com menos de cinco anos. Tudo precisará ser reimaginado. Assim, com o pico da população humana no horizonte, devemos esperar que o declínio demográfico se torne uma questão política mais proeminente nos próximos anos.  

  

Um abraço, 

Matheus Spiess 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.