Bom dia, pessoal.
Lá fora, as bolsas asiáticas encerraram o dia predominantemente em baixa nesta quarta-feira (16), apesar das movimentações positivas de Wall Street durante ontem, enquanto os investidores ponderam sobre o impacto da situação geopolítica após relatos de ataques com mísseis russos cruzando a Polônia e matando duas pessoas.
Os mercados europeus amanhecem tensionados, enquanto os futuros americanos até conseguem ensaiar uma tímida alta. O que temos de alta deriva dos dados dos produtores de ontem, que mostraram um aumento menor do que o esperado nos preços, elevando as expectativas e que o Fed desacelere o ritmo do aperto monetário.
Ainda que os EUA possam ter lidado com o pico da inflação, o mesmo não pode ser dito para a Europa, com os preços dos alimentos e dos combustíveis elevando a taxa de inflação do Reino Unido em outubro. Mais dados econômicos são aguardados lá fora, enquanto seguimos acompanhando no Brasil a equipe de transição.
A ver…
· 00:36 — Nervosismo de transição
Por aqui, as fontes de Brasília se dividem sobre o nome para comandar a Fazenda nos próximos quatro anos de Lula — muitos falam de Fernando Haddad, enquanto alguns voltaram a especular a chance de Geraldo Alckmin na Fazenda (a chance de a pasta ser ocupada por um nome técnico, como Pérsio Arida ou Henrique Meirelles, perdeu força). Vale lembrar que só soubemos o nome de Palocci em 2002 no início de dezembro. Ou seja, o mercado ainda pode ficar mais um tempo nervoso com o tema.
Até mesmo porque o Lula está bem longe. O presidente eleito está no Egito para a COP27, onde tentará apresentar um novo posicionamento brasileiro para o mundo. No evento, poderemos ter o nome da pessoa que vai ocupar o Ministério do Meio Ambiente (Marina Silva é a favorita) e o anúncio da candidatura do Brasil para a COP30, em 2025 — sediaremos em 2023 o encontro com presidentes sul-americanos e, em 2024, o G20 e a Conferência dos BRICS. Enquanto isso, Alckmin seguiu no Brasil para tocar a equipe de transição. A expectativa é de que a PEC de Transição seja apresentada hoje e que conte com um waiver de um ano na casa dos R$ 130 bilhões.
· 01:23 — Inflação ao produtor
Nos EUA, ainda é prematuro concluir que um pivô dovish do Fed está a caminho, embora os comentários do vice-presidente da autoridade monetária, Lael Brainard, além das surpresas negativas nos relatórios de inflação de outubro, aumentem as chances. Ontem, por exemplo, os preços do produtor subiram 0,2% em outubro em relação ao mês anterior, bem abaixo da previsão dos economistas de alta de 0,5% — o relatório acompanha os preços ao consumidor melhor do que o esperado na semana passada e é mais uma indicação de que a inflação pode estar chegando ao pico.
Consequentemente, o mercado indica uma chance de 80,6% de o Fed aumentar as taxas em apenas 50 pontos-base no próximo mês (14 de dezembro) e uma chance de 19,4% de outra alta de 75 pontos-base. Os investidores parecem estar concluindo que o ciclo de aperto da política monetária do Fed atingirá o pico mais cedo, com uma taxa de fundos federais terminal logo ao redor de 5,00%. Resta ver outros dados de atividade, como as vendas no varejo para outubro, divulgadas hoje (devemos ter um ganho de 0,5% em relação ao mês anterior e surpresas vão afetar o mercado).
· 02:07 — O míssil
No exterior, a situação geopolítica também pesou no sentimento do mercado após relatos de ataques com mísseis russos cruzando a Polônia, membro da OTAN, e matando duas pessoas no leste do país. A Polônia convocou o embaixador da Rússia em Varsóvia para uma explicação depois que Moscou negou a responsabilidade. Se a Rússia for responsável, a OTAN pode ser forçada a responder em nome da Polônia.
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que os Estados Unidos e seus aliados da OTAN estão investigando a explosão, mas informações iniciais sugerem que ela pode não ter sido causada por um míssil disparado da Rússia. O medo é de que o evento pudesse desencadear uma escalada na guerra da Rússia com a Ucrânia. A menos que haja evidência em contrário, as preocupações do mercado devem se dissipar.
· 03:05 — O encontro do G20
Algum aprimoramento das relações parece estar acontecendo na cúpula do G20 depois que o presidente americano, Joe Biden, se reuniu com o líder chinês, Xi Jinping, por três horas na segunda-feira. Embora Taiwan ainda seja um problema, os dois lados concordaram em retomar as negociações sobre o clima e abordaram a estabilidade da cadeia de suprimentos, bem como a segurança alimentar.
A linguagem também foi mais calorosa, observando que deveria haver mais incentivos para trabalhar em conjunto. O próprio presidente americano disse que acredita absolutamente que não precisa haver uma nova Guerra Fria. A cúpula do G20 (cerca de 80% do PIB global) tomará o noticiário internacional durante os próximos dias, com expectativa de resoluções importantes sobre a guerra na Ucrânia.
· 04:10 — 8 bilhões
A população da Terra atingiu a marca de 8 bilhões nesta semana, segundo projeções da ONU. É o resultado de um surto de crescimento no último século: havia apenas 2 bilhões de humanos em 1925 e 4 bilhões em 1974 – então, mais uma vez, dobramos nossos números em menos de 50 anos.
E o que impulsionou o crescimento?
As pessoas estão vivendo melhor e por mais tempo. As taxas de mortalidade infantil e materna caíram, os cientistas desenvolveram curas para doenças mortais e as taxas de pobreza extrema despencaram. O crescimento, porém, está atingindo um limite e irá remodelar a sociedade.
Espera-se que a população mundial atinja o pico na década de 2080 em 10,4 bilhões de pessoas, permaneça lá por algumas décadas e depois caia no início do século 22, acompanhando a queda das taxas de fertilidade (muitos países não estão produzindo bebês suficientes para manter o crescimento). Para exemplificar, as populações de 61 países devem cair pelo menos 1% até 2050, com a Europa Oriental sofrendo as maiores perdas — o crescimento veio de países como Nigéria, Tanzânia e Paquistão, que serão responsáveis por mais da metade do aumento populacional projetado até 2050.
Isso gera desdobramentos importantes para a economia: menos crianças significa menos trabalhadores contribuindo para a economia, ao mesmo tempo em que o número crescente de idosos exigirá suporte. Para ter uma ideia, de acordo com a ONU, em 2050 o número de pessoas com 65 anos ou mais será mais que o dobro do número de crianças com menos de cinco anos. Tudo precisará ser reimaginado. Assim, com o pico da população humana no horizonte, devemos esperar que o declínio demográfico se torne uma questão política mais proeminente nos próximos anos.
Um abraço,
Matheus Spiess