O mercado global retoma seu ritmo habitual nesta sexta-feira (10). Após um dia de pregão suspenso na quinta-feira devido ao funeral do ex-presidente Jimmy Carter, que reuniu rivais políticos como Barack Obama, Donald Trump, Hillary Clinton e Kamala Harris, a atenção se volta para a divulgação dos dados de emprego nos Estados Unidos. Caso os números venham em linha ou abaixo do esperado, há a expectativa de que o dólar, que alcançou R$ 6,30 em dezembro, possa recuar para abaixo de R$ 6,00 em breve. No Brasil, o dado de inflação ao consumidor também será um ponto central na agenda.
O pregão asiático encerrou em terreno negativo, com quedas generalizadas nas principais bolsas, lideradas pelos mercados chineses. A China enfrenta o desafio de equilibrar a flexibilização de sua política monetária sem fragilizar ainda mais sua moeda. Após uma série de medidas agressivas que levaram o yuan ao nível mais baixo desde 2007, o foco das autoridades agora está em reforçar a taxa de câmbio. Entre as iniciativas, foi anunciada a emissão recorde de títulos denominados em yuan em Hong Kong, acompanhada de custos de financiamento mais elevados, dificultando apostas contra a moeda chinesa. No entanto, foram evitadas ações de flexibilização esperadas.
Na Europa, os mercados também operam em queda nesta manhã, pressionados pelos rendimentos elevados dos títulos governamentais. Os gilts britânicos, em particular, voltaram aos holofotes devido à memória do colapso financeiro durante o breve mandato de Liz Truss há pouco mais de dois anos. Apesar de previsões de recuperação desses títulos com a esperada desaceleração da inflação, a libra esterlina segue pressionada, atingindo seu menor nível em mais de um ano. A preocupação com a capacidade do governo de controlar o déficit permanece como um fator de tensão.
· 00:56 — Vai estourar o teto da meta mais uma vez…
No Brasil, o dólar continua em queda, aproximando-se da marca de R$ 6,00, acumulando uma desvalorização de 2,24% frente ao real nesta semana. O movimento reflete uma tímida recuperação após a alta expressiva de 27% registrada em 2024. Enquanto isso, o Ibovespa permanece abaixo dos 120 mil pontos.
Na agenda econômica, o destaque é o dado de inflação ao consumidor referente a dezembro, que deve apontar uma alta de 0,53% no mês, após o avanço de 0,39% em novembro. Caso confirmado, o índice encerrará o ano com um aumento de 4,84%, ultrapassando mais uma vez o teto da meta estabelecida pelo Banco Central (a meta é de 3%, enquanto o limite da banda superior de tolerância é de 4,50%). Este será o terceiro descumprimento da meta nos últimos quatro anos, evidenciando as dificuldades enfrentadas pelo Banco Central no período pós-pandemia.
As expectativas de inflação seguem desancoradas e 2025 pode repetir o histórico recente de metas não cumpridas. Nesse contexto, o ciclo de alta da Selic deve continuar nos próximos meses, numa tentativa do Banco Central de conter os efeitos inflacionários exacerbados, que também são reflexo da falta de credibilidade fiscal.
Sobre o tema, ainda aguardamos anúncios concretos de medidas adicionais para conter o crescimento dos gastos públicos, que, ao que tudo indica, devem vir acompanhadas da esperada reforma ministerial do presidente Lula. Segundo Rui Costa, ministro da Casa Civil, a reforma pode ser anunciada até o dia 21, durante uma reunião ministerial. Contudo, o consenso é de que as mudanças serão pontuais.
Se confirmada essa abordagem pouco abrangente, será mais uma evidência de que o governo opta por adiar a resolução dos problemas estruturais em vez de enfrentá-los de forma decisiva. O bom e velho “empurrar com a barriga” que Brasília adora. Seria mais uma decisão medíocre que arrasta o país em um ciclo vicioso de descrédito.
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· 01:48 — O payroll
Nos Estados Unidos, o relatório de emprego desta sexta-feira (10) se destaca como o principal indicador internacional da semana. A expectativa é de que os dados mostrem a criação de 150 mil vagas em dezembro, representando uma esperada acomodação após o robusto aumento de 227 mil postos em novembro, que havia compensado os efeitos negativos dos furacões e greves que impactaram os números de outubro.
A taxa de desemprego deve permanecer estável em 4,2%, enquanto o salário médio por hora, termômetro para a inflação, deve registrar alta de 0,3% na base mensal. Caso os números de criação de empregos e o crescimento salarial superem as projeções, isso pode gerar uma maior pressão sobre os juros americanos, fortalecendo o dólar globalmente. Por outro lado, dados mais fracos sobre o mercado de trabalho podem aliviar a curva de juros e reduzir a pressão sobre o câmbio em escala global.
Além do relatório de emprego, também será divulgado o índice de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan, que traz uma leitura importante sobre as perspectivas econômicas dos consumidores e suas intenções de gastos.
· 02:35 — Aplicando o Trumponomics
O segundo mandato de Donald Trump promete ser substancialmente diferente do primeiro. Impulsionado pela expressiva vitória eleitoral de 2024 e pelo alinhamento mais homogêneo do Partido Republicano em torno do movimento MAGA (“Make America Great Again”), Trump retornará ao cargo com mais experiência, melhor organização e uma administração composta por aliados que adquiriram maior familiaridade com o funcionamento do governo federal. Esse fortalecimento será amplificado por seu controle consolidado sobre os republicanos no Congresso, uma Suprema Corte com maioria conservadora de 6-3 e um cenário midiático mais receptivo, criando um ambiente favorável para a promoção de sua agenda. Será um campo fértil para a aplicação do temos chamado de “Trumponomics” no mercado.
A maior preocupação, no entanto, recai sobre um possível agravamento das já tensas relações entre os Estados Unidos e a China. Trump deve implementar novas tarifas sobre produtos chineses como forma de pressionar Pequim a ceder em questões estratégicas. Em resposta, os líderes chineses, apesar dos desafios econômicos internos, provavelmente adotarão uma postura firme para demonstrar força tanto para Trump quanto para sua própria população. Esse embate poderá intensificar as tensões em torno de Taiwan, ainda que uma crise de grandes proporções permaneça improvável no curto prazo. A verdadeira linha de frente deste confronto deve ser a política tecnológica. A administração Trump provavelmente ampliará os bloqueios impostos pelo governo Biden, aprofundando as restrições tecnológicas contra a China. Essa estratégia visa limitar ainda mais o acesso chinês a tecnologias críticas, reforçando a rivalidade estratégica entre as duas maiores economias do mundo.
· 03:29 — O povo venezuelano clama: “ainda estamos aqui!”
O presidente Nicolás Maduro assumirá mais um mandato à frente de um governo cada vez mais repressivo na Venezuela, estendendo seu controle até 2031. A posse, marcada para esta sexta-feira, ocorre em meio a evidências confiáveis de que seu oponente venceu a última eleição e após protestos massivos contra seu plano de cumprir um terceiro mandato de seis anos. Ontem (9), enquanto milhares de manifestantes anti-Maduro tomavam as ruas de Caracas, a líder opositora María Corina Machado foi brevemente detida pelas forças de segurança e forçada a gravar vídeos sob coação.
O regime ditatorial socialista pós-chavista de Maduro perdeu qualquer vestígio de legitimidade, afundando a Venezuela cada vez mais em um abismo político, social e econômico. Nesse contexto, o silêncio conivente de Lula, presidente do Brasil, a nação mais influente da América do Sul, é ensurdecedor e profundamente decepcionante. Um Brasil que já exerceu influência decisiva na região agora opta por menosprezar os valores democráticos, envergonhando sua própria trajetória histórica.
Ao enviar um representante oficial para a cerimônia de posse de Maduro, Lula chancela, ainda que de forma velada, a fraude perpetrada por Maduro. Essa postura não apenas apoia implicitamente um tirano responsável por humilhar publicamente o Brasil em ocasiões recentes, mas também simboliza a fraqueza de um governo que prefere cerrar fileiras ao lado de autocratas, em detrimento de defender os princípios democráticos. Só é democrático quando convém. É uma atitude pequena e lamentável.
· 04:14 — O Eixo Franco-Alemão vai aguentar?
O próximo evento crucial na Europa está marcado para 23 de fevereiro, quando a Alemanha realizará sua eleição que provavelmente resultará na substituição do chanceler Olaf Scholz, de centro-esquerda, por um representante dos democratas-cristãos de centro-direita. A estabilidade da coalizão emergente será uma questão decisiva, especialmente para os mercados financeiros. Um cenário otimista seria o surgimento de uma coalizão pró-mercado, preparada para implementar um orçamento robusto e impulsionar a economia alemã. O pior desfecho, por outro lado, seria uma coalizão frágil e ineficaz, semelhante ao que ocorreu com os franceses.
Na França, o impasse político persiste, já que novas eleições para tentar resolver a paralisia não são possíveis antes da metade deste ano. A autoridade do presidente Emmanuel Macron está gravemente enfraquecida, mas seu mandato segue até 2027, o que torna improvável uma resolução positiva a curto prazo. Esse cenário prolonga os desafios políticos e econômicos em dois dos maiores motores da União Europeia.
Os problemas enfrentados pelas principais economias europeias coincidem com uma perspectiva econômica em deterioração. As expectativas de crescimento estão em queda, e o Banco Central Europeu (BCE) já sinaliza cortes agressivos de juros, estimados em até quatro reduções ao longo de 2025. Isso contrasta fortemente com os Estados Unidos, onde o mercado precifica apenas uma ou duas reduções na mesma janela temporal. Tal diferença tende a pressionar o euro negativamente, ampliando a força do dólar no cenário global (o euro é muito pesado dentro do Dollar Index).
A taxa de câmbio entre dólar e euro tornou-se um dos indicadores mais importantes a serem monitorados. A estabilidade da Europa é essencial para sustentar a força do euro. Caso o euro se valorize, o dólar perde força no índice DXY, o que, por consequência, pode auxiliar moedas emergentes, como o real, a recuperar parte do terreno perdido recentemente. O equilíbrio político e econômico no continente será determinante não apenas para a região, mas também para os mercados globais.
· 05:02 — Uma grande aquisição
O desempenho positivo dos principais bancos ontem chamou a atenção, impulsionado pela precificação da possível elevação do teto de juros no consignado para beneficiários do INSS. O destaque foi o BTG Pactual (BPAC11), que registrou alta superior a 2%.
O movimento foi reforçado pelas recentes notícias de que o banco adquirirá 100% da operação da Julius Baer no Brasil, uma das líderes no segmento de Wealth Management, com mais de R$ 60 bilhões em ativos sob gestão.
A grande questão que surge é: o BTG conseguirá capitalizar essa aquisição de forma eficiente?