Bom dia, pessoal. Lá fora, as ações europeias estão subindo com a recuperação econômica na China, que animou os mercados asiáticos e ajuda a compensar uma percepção crescente de que os formuladores de política monetária provavelmente permanecerão agressivos nos próximos meses. Aliás, os dados fortes de atividade chinesa animam as commodities nesta manhã, o que poderia ser positivo para o Brasil, não fosse as pressões domésticas derivadas de Brasília.
Os futuros americanos também estão em alta, depois de os índices encerrarem um mês negativo, na contramão do que havia sido em janeiro. Como havíamos conversado, o otimismo na expectativa de um pivô do Federal Reserve era fruto de uma ansiedade injustificável por parte dos investidores. Consequentemente, a realidade se impõe mais cedo ou mais tarde. Enquanto isso, os investidores locais ainda lidam com as novidades envolvendo os combustíveis e as incertezas fiscais.
A ver…
· 00:33 — Não é o suficiente para reduzir juros, bonitão
No Brasil, só se fala sobre combustíveis. Ou ficou interessante abrir posto de combustível ou o preço vai subir. Provável que seja o segundo caso. Ontem, tivemos a confirmação de que o governo seguirá com a reoneração dos impostos sobre combustíveis. Não foi os 100% de cara como a Fazenda havia prometido, mas haverá convergência para a garantia de R$ 28,9 bilhões em arrecadação em quatro meses.
Até lá, o governo se valerá de uma cobrança bizarra cheirando a CEPAL sobre as exportações do óleo cru — morde e assopra, impressionante. A taxa de 9,2% ficará em vigor por quatro meses, devendo arrecadar R$ 6,6 bilhões, compensando pela reoneração gradual nos próximos meses (de início, temos 75% do que era anteriormente, ou R$ 0,47/litro).
Como se não bastasse a taxação sobre exportações, que afetou negativamente o setor petroleiro ontem, ainda temos que lidar com ingerência sobre a Petrobras, que reduziu o preço dos combustíveis para mitigar o impacto sobre o consumidor (havia espaço para a redução em termos formais, fique claro), e a fala mais dura de Haddad pela redução dos juros, que não faz tanto sentido.
Ok, a reoneração é necessária, mas ela não é suficiente para o BC baixar os juros. Mais importante que isso será o novo arcabouço fiscal e a Reforma Tributária, que serão amplamente discutidas em março (mês bem importante). Não adianta falar grosso, tem que fazer mais. Pelo menos o diesel segue desonerado até o fim do ano, evitando problemas com os caminhoneiros.
Com altos e baixos, o saldo do dia foi positivo, tendo sido uma vitória da ala econômica e da frente moderada do governo. Haddad se sagrou vitorioso sobre as figurinhas políticas, como Gleisi e companhia. Sobre a Petrobras, que apresentará seus resultados hoje depois do mercado, sabíamos que aconteceria mais cedo ou mais tarde, podendo afetar a política de dividendos, pouco surpreendendo.
· 01:46 — Um contexto complicado
Nos EUA, depois de uma abertura estelar do ano, fevereiro trouxe um choque de realidade para os investidores. Sabemos que a inflação não foi embora e que o Federal Reserve ainda não terminou de aumentar as taxas. Tais fatores, além de resultados pouco animadores, levaram as ações a cair. O Dow Jones encerrou o mês com queda de 4,2%, enquanto o S&P 500 e o Nasdaq caíram 2,6% e 1,1%, respectivamente.
Na temporada de resultados até aqui, mais de 90% das empresas do S&P 500 já reportaram seus resultados, sendo que 68% delas registraram números acima do esperado — na verdade, no quarto trimestre do ano passado, números melhores do que o esperado ainda são piores do que o normal, uma vez que, nos últimos cinco anos, uma média de 77% das empresas do S&P 500 superaram os resultados.
Para piorar, a confiança do consumidor cedeu pelo segundo mês consecutivo em fevereiro, com o índice de confiança chegando a 102,9 pontos (esperava-se que o número subisse no mês para 108,5). Por fim, mesmo depois do sell-off do ano passado, ainda não é possível dizer que as ações estejam baratas, com S&P 500 negociado a 17,7 vezes os lucros para os próximos 12 meses, acima da média de 17,2 vezes dos últimos 10 anos. Mais correções podem acontecer.
· 02:37 — Mais dados
Na Europa, os infinitos dados de inflação previstos para essa semana começaram decepcionando, com leituras fortes e acelerando na França e na Espanha. Hoje o mercado digere o índice de preços na Alemanha, bem como as leituras de atividade da região (Zona do Euro e Reino Unido, por exemplo). No reino de Carlos III, o índice de preços de lojas subiu para 8,4% de inflação anual, impulsionado pelos preços dos alimentos (supermercados). O problema dos preços está longe de acabar.
Ainda na Grã-Bretanha, contamos com mais dados de crédito. Os britânicos são o povo, entre os demais do G7, que mais passam dificuldades, com uma economia enfrentando inúmeros desafios estruturais. Resta saber se o fim definitivo do Brexit, depois de uma saga que se arrastou por anos, poderá realmente ajudar o país. Considerando o contexto de contexto desafiador europeu, de mais inflação, mais juros e menos crescimento, os ativos não me parecem atrativos, ainda que o pior tenha sido evitado — um mitigador pode vir a ser a China, especialmente com turismo.
· 03:18 — A força dos chineses
Na China, novos dados mostraram a economia se recuperando ao suspender as restrições da Covid. O setor industrial chinês cresceu em fevereiro no ritmo mais rápido em mais de uma década, o que é surpreendente para a Ásia, onde o crescimento manufatureiro estagnou em outros lugares, pressionado pela desaceleração da demanda global, alta inflação e taxas de juros. O índice de gerentes de compras (PMI) oficial da manufatura da China subiu para 52,6 no mês passado, contra 50,1 em janeiro, enquanto uma pesquisa do setor privado também mostrou que a atividade aumentou pela primeira vez em sete meses.
São fortes sinais de que as fábricas chinesas estão se recuperando após a remoção das restrições contra a Covid-19 no final do ano passado, fato que pode atenuar a desaceleração esperada para a economia global neste ano, já que o Federal Reserve dos EUA permanece em sua trajetória de taxa de juros mais alta. Claro, a economia em recuperação da China, a segunda maior do mundo, pode não ser suficiente para compensar os ventos contrários da fraca demanda global, mas já ajuda bastante, fazendo com que inclusive o Brasil possa beneficiar. Em sendo o caso, o processo de amortecedor da desaceleração global funcionaria em 2023 e 2024.
· 04:08 — A florestas do mundo
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), as florestas cobrem 31% da superfície terrestre do mundo, absorvendo cerca de 15,6 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO₂) todos os anos. Mais da metade dessa cobertura verde está espalhada pelas florestas boreais da Rússia e do Canadá, pela Amazônia na América do Sul e pelas florestas de coníferas e folhosas da China.
Essas florestas sequestradoras de carbono purificam o ar, filtram a água, evitam a erosão do solo e atuam como um importante amortecedor contra as mudanças climáticas. A Rússia detém mais de um quinto das árvores do mundo em 815 milhões de hectares (maior do que a copa da Amazônia) — assim como a geografia do país, a maior parte das florestas da Rússia está situada na Ásia.
Na América do Sul, o Brasil tem a segunda maior cobertura verde do mundo. A maior parte de sua cobertura florestal de 497 milhões de hectares fica dentro dos “pulmões do planeta”, a floresta amazônica. Um dos lugares com maior biodiversidade do planeta, a floresta abriga cerca de 10% da biodiversidade mundial, incluindo mais de três milhões de espécies de vida selvagem e mais de 2,5 mil espécies de árvores.
A lista segue com Canadá (347 milhões de hectares de cobertura florestal), EUA (310 milhões), China (220 milhões), Austrália (134 milhões) e República Democrática do Congo (126 milhões). Falar de florestas é falar de preservação e, consequentemente, de créditos de carbono. O Brasil poderá ser um campeão deste mercado que ainda deverá se desenvolver muito. Foi pensando nisso que nós desenvolvemos o Empiricus Carbono, para nos expormos à expansão desse mercado nos próximos anos.
Um abraço,
Matheus Spiess