Bom dia, pessoal.
Lá fora, os mercados de ações asiáticos fecharam principalmente em queda nesta sexta-feira, acompanhando as movimentações negativas no mercado americano durante o pregão de ontem, com investidores digerindo a possibilidade de recessão global e a chance de juros mais elevados. Além disso, os dados de inflação de janeiro da China não foram especialmente empolgantes (conversaremos mais sobre a seguir) — eles indicaram que a demanda doméstica foi moderada.
Os mercados europeus e os futuros americanos começam o dia em queda. Há uma ansiedade no ar pelos dados de sentimento do consumidor americano, que serão divulgados hoje (traz consigo as expectativas inflacionárias, relevantes diante da proximidade com a inflação oficial na semana que vem). No Brasil, acompanhamos a avaliação do resultado do Bradesco, que foi péssimo (a ação caiu mais de 10% no pre-market americano por meio de suas ADRs negociadas em NY). Fora isso, contamos com volume de serviços na agenda, assim como dados regionais da produção industrial.
A ver…
· 00:47 — Conservando com Biden
Por aqui, preparem-se para um dia ruim. O resultado do Bradesco foi péssimo, impactado pelo efeito de Americanas (e há quem acredite que não há repercussão no mercado financeiro, como Lula), e deverá reverberar por entre os investidores, uma vez que o setor de bancos é relevante no índice. Ainda assim, o que mais tem chamado a atenção é a dinâmica entre o Poder Executivo e o Banco Central. Ontem, não pegou bem a informação de que o BC estaria supostamente estudando elevar a meta de inflação — não há problema em se debater isso, desde que feito de maneira técnica e não política. Da forma que vem acontecendo, não é nada bom.
A mudança deverá ser oficializada, se é que vai acontecer, no dia 16 de fevereiro, durante a próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN). Sabemos que a autonomia do BC não vai mudar (não existe clima político para isso), mas gera um efeito danoso os atritos recentes e o precedente que será aberto. Enquanto isso, Lula já está em solo americano para conversar com Biden nesta sexta-feira, devendo debater temas como meio ambiente, democracia e posicionamento do Brasil na nova dinâmica de regionalização. Fernando Haddad e Jacques Wagner acompanham o presidente, devendo pavimentar uma trégua entre Lula e o presidente do Bacen.
· 01:51 — E o sentimento do consumidor
Nos EUA, contamos hoje com a pesquisa de opinião de confiança do consumidor da Universidade de Michigan, que deverá apresentar uma leitura pessimista de 65 pontos, praticamente empatada com os números de janeiro. Paralelamente, o mercado deverá digerir as expectativas dos consumidores para a inflação, passando de 3,9% em janeiro para 4% agora, o nível mais baixo desde abril de 2021. Sabemos que as expectativas de inflação desempenham um papel importante na determinação da inflação real, por isso vale a pena prestar atenção.
Os investidores, contudo, estão apresentando um comportamento bem volátil, tendo registrado ontem seu segundo dia consecutivo de perdas. O mercado está questionando, entre outras coisas, onde a taxa do Fed se estabelecerá — em 5% ou possivelmente mais, sendo que os mercados futuros estão mirando uma faixa de 4,5% a 4,75% ao ano, o que nos parece um equívoco. Para piorar, o CEO do J.P. Morgan, Jamie Dimon, uma das personalidades mais influentes do mundo, veio à público falar que é muito cedo para declarar vitória sobre a inflação. Deve pressionar os preços.
· 02:43 — O PIB britânico
Na Europa, os dados do PIB do quarto trimestre do Reino Unido mostraram crescimento trimestral de 0% na comparação com o trimestre anterior e 0,4% de expansão contra o mesmo período de 2021. Os ingleses passam por um dos momentos mais delicados da história recente, com aperto monetário, ressaca da alta de preços recentes, perda de um chefe-de-estado histórico e incerteza política, sem falar da volatilidade no mercado de títulos da dívida (vide Liz Truss), fatores que começam a fazer efeito sobre a atividade.
Para o dia, os investidores ficam de olho em algumas falas de autoridades monetárias, entre ela a do economista-chefe do Banco da Inglaterra, talvez a mais relevante do dia, que poderá elaborar um pouco mais sobre a percepção do BoE sobre a desaceleração da atividade econômica e como isso afeta os próximos passos de política monetária. O nível de desaceleração britânica poderá servir de exemplo para onde estamos caminhando no resto do mundo desenvolvido, visto que eles subiram os juros antes.
· 03:31 — Dados de inflação chinesa
Na China, os preços ao produtor caíram um pouco mais do que o esperado (encolheu a uma taxa anualizada de 0,8% em janeiro, pior do que a leitura negativa de 0,7% de dezembro e abaixo das expectativas de uma queda de 0,5%), enquanto os preços ao consumidor foram impulsionados pelos preços dos alimentos, com os preços do setor de serviços ainda crescendo lentamente — ainda assim, a taxa anualizada do segundo foi de 2,1% em janeiro, mais do que o 1,8% registrado em dezembro, mas abaixo das expectativas de 2,2%. E o que pode explicar o movimento?
Sabemos que o aumento dos casos de Covid-19 manteve os gastos limitados apesar da suspensão da maioria das restrições, enquanto o agravamento da inflação nas fábricas mostrou que o setor manufatureiro permaneceu sob pressão. Adicionalmente, esses gastos também foram impulsionados ligeiramente pelo feriado do Ano Novo Lunar, que durou uma semana. Ainda assim, a economia chinesa enfrenta um longo caminho para atingir os níveis de crescimento pré-pandêmicos, prejudicando as expectativas do mercado de uma rápida recuperação no gigante econômico.
· 04:24 — Sobre a inversão da curva
Em circunstâncias normais, os títulos com vencimentos mais longos têm rendimentos mais elevados do que aqueles com vencimento mais curto. Mas não ultimamente. Nos EUA a curva de juros invertida não é novidade. Porém, há algo a se observar.
Historicamente, nos EUA, a previsibilidade da curva de juros é bastante alta em termos de uma recessão (acontece de seis a 12 meses após uma inversão na curva, sendo que temos a inversão por lá desde o início de julho do ano passado).
Agora, o spread entre os juros dos títulos do Tesouro de dois e dez anos está se aproximando de um nível não visto desde 1981 — o yield de dois anos esteve em 4,507%, 82,5 pontos-base acima do vencimento do título de 10 anos na quinta-feira.
Em 2 de outubro de 1981, o spread invertido entre esses dois títulos era de 96,8 pontos base. Embora a curva de rendimentos não tenha atingido essa marca, ela não está tão distante, indicando fortemente uma recessão
Um abraço,
Matheus Spiess