Times
Mercado em 5 minutos

Em paralelo aos resultados corporativos, mais um caso de crise bancária dos EUA afeta mercado nesta quarta (26); confira as principais notícias

Microsoft e Google reportaram resultados do 1T23 na noite de ontem (25); no Brasil, mercado aguarda dados de inflação, divulgados hoje

Por Matheus Spiess

26 abr 2023, 09:02 - atualizado em 26 abr 2023, 09:06

resultados corporativos e crise bancária nos EUA
Imagem: Unsplash

Bom dia, pessoal. No exterior, os mercados da Ásia e do Pacífico tiveram um pregão misto nesta quarta-feira (26), depois que temores sobre o setor bancário americano foram acesos novamente em Wall Street. Para se ter uma ideia do estrago de ontem, as ações do First Republic Bank caíram mais de 49% depois que o banco regional divulgou seus últimos resultados trimestrais, dizendo que os depósitos caíram 40% para US$ 104,5 bilhões no primeiro trimestre, se estabilizando desde então. 

As preocupações com a saúde das economias globais aumentaram após a crise bancária nos EUA, apesar de alguns resultados trimestrais melhores do que o esperado. Uma crise bancária ainda presente, a constatação de que a Rússia é um adversário do Ocidente e o aumento acentuado das tensões entre China e EUA fazem do contexto atual nada trivial. Para piorar, o governo da China parece mais preocupado com a economia, propondo um novo plano para aumentar as exportações. 

Os mercados europeus têm uma manhã de queda, enquanto os futuros americanos são sustentados pelo bom resultado da Microsoft. As ações da companhia saltaram mais de 8% no after hours de ontem depois dos números terem superado as expectativas dos investidores. Ainda temos mais resultados para absorvermos, como o de Meta na noite de hoje, mas pelo menos há algum espaço para alívio. No Brasil, os investidores estão ansiosos pelos dados de inflação. 

A ver… 

· 00:58 — Entre dados de inflação e resultados corporativos 

Por aqui, o mercado lida com a continuidade da temporada de resultados do primeiro trimestre, com os números da Vale sendo divulgados depois do fechamento de hoje — a prévia operacional da companhia não foi grande coisa, então não há grande expectativa para o relatório em si. Ontem, o Santander Brasil divulgou seus números em linha com a expectativa, embora ajudado por uma reversão de provisão para contingência tributária. Ficou claro que a inadimplência segue pesando sobre o resultado do banco, que possui uma carteira de crédito mais arriscada. A entrega ajudou os bancos no interior do Ibovespa, mas a tendência pode ser alterada hoje. 

Fora da agenda corporativa, nos debruçamos hoje sobre a prévia da inflação oficial de abril, o IPCA-15, que deve desacelerar ainda mais para baixo de 5% em 12 meses, para 4,75% na comparação anual. O entendimento é de que a inflação em 12 meses deve desacelerar continuamente até o final do semestre, voltando a subir por conta de efeito comparativo (deflações artificializadas do começo do ano passado). Por fim, ainda digerimos a participação comedida do presidente do BC, Roberto Campos Neto, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Respondendo às afrontas, a autoridade monetária manteve o tom conservador na política monetária. 

· 01:50 — Algumas preocupações 

Nos EUA, os principais índices tiveram seu pior dia em pelo menos um mês durante o pregão de ontem. O declínio com foco em tecnologia veio com as grandes empresas prontas para divulgar seus resultados do primeiro trimestre — o índice Nasdaq subiu 15% este ano, estabelecendo grandes expectativas para o setor de tecnologia. 

A venda não foi apenas sobre tecnologia, no entanto. As preocupações ressurgiram sobre o setor bancário após o relatório trimestral do First Republic, o banco regional que quase quebrou durante a turbulência bancária de março e recebeu uma injeção de dinheiro de US$ 30 bilhões dos maiores bancos do país. Parece, contudo, que não foi o suficiente conter as retiradas de clientes do banco (depósitos caíram 41% no trimestre).  

Também entrou para a lista de preocupações o relatório de manufatura decepcionante do Fed de Richmond e a leitura de confiança do consumidor mais fraca do que o esperado para abril. Esses dados do consumidor foram baseados em uma pesquisa realizada após as preocupações bancárias de março, sugerindo que as falências do Silicon Valley Bank e do Signature Bank podem ter preocupado os consumidores. 

· 02:46 — A existência da First Republic Bank ainda está em jogo 

O First Republic Bank revelou a extensão da fuga de depósitos durante o pânico e exatamente quanto apoio precisava para cobrir seus livros. Os investidores estão longe de se impressionar. O problema agora não é ter dinheiro suficiente para cobrir os depósitos, mas, sim, pagar os juros dos empréstimos necessários para superar a tempestade. Com isso, os temores de mais corridas aos bancos são válidos. 

Os depósitos do First Republic Bank caíram quase US$ 100 bilhões, ou 41%, depois que os clientes retiraram quantias “sem precedentes” durante a turbulência bancária de março, durante a qual outros dois credores dos EUA quebraram. Em resposta à crise, o banco disse que cortaria de 20% a 25% de seus funcionários, além de cortar o pagamento de executivos. Mais estratégias podem ser utilizadas. 

Adicionalmente, o banco também avalia vender até US$ 100 bilhões em ativos como parte do plano de recuperação. Bancos e reguladores agora precisam evitar que a perda inicial de confiança que pode desencadear saídas cada vez maiores seja evitada. Mais fácil falar do que fazer. Embora o nervosismo de março possa ter passado, a preocupação é que haverá um novo ataque de nervos nos próximos meses. 

· 03:35 — E as gigantes? 

Após o rali da Nasdaq neste ano, os investidores estavam apreensivos com a temporada de resultados. Hoje, porém, haverá certo alívio depois dos números da Microsoft e da Alphabet. Ambas as gigantes da tecnologia relataram resultados tranquilizadores para o período encerrado em março — hoje mais tarde teremos Meta, a dona do Facebook, WhatsApp e Instagram, também gerando ansiedade entre os investidores especializados, principalmente depois de um 2022 tão difícil. 

Com números robustos, a Microsoft mostrou crescimento de receitas, margens e do lucro por ação, mais uma vez surpreendendo positivamente os investidores. Enquanto isso, o trimestre da Alphabet, controladora do Google, foi ruim, mas não tanto quanto o esperado. No geral, o resultado mostrou crescimento magro, pressão nas margens e uma queda em seu lucro por ação. A magnitude dessa desaceleração, porém, não foi tão drástica quanto os mais pessimistas entre os investidores esperavam. 

· 04:27 — O presidente mais velho da história dos EUA 

Agora é oficial. O atual presidente americano, Joe Biden, de 80 anos (fará 81 no final de 2023), lançou oficialmente sua campanha de reeleição na manhã de ontem, buscando um segundo mandato depois de derrotar o ex-presidente Donald Trump em 2020. O lema da campanha do octogenário, que se ganhar mais uma vez terminará o segundo mandato com 86 anos, mira na ideia de “deixar terminar o trabalho iniciado em 2021”. E contra quem ele poderá concorrer? Trump ainda é o principal nome. 

Uma revanche entre os dois é altamente provável, já que Donald Trump ainda comanda muita influência sobre o Partido Republicano, embora haja uma lista crescente de adversários dentro do partido que buscam uma vitória nas primárias em 2024 — o governador da Flórida, Ron DeSantis, é o favorito depois de Trump. Será uma corrida presidencial importante, uma vez que falamos do cargo mais importante do mundo em um momento tão delicado da história. Fortes emoções nos esperam. 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.