Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados da Ásia e do Pacífico fecharam em alta nesta quinta-feira, com os investidores digerindo o déficit comercial recorde do Japão de 3,5 trilhões de ienes (US$ 26 bilhões). Adicionalmente, também houve a repercussão do relatório de vendas no varejo dos EUA, que veio mais forte do que o esperado. Só as commodities que não foram tão bem, ainda vivendo a ressaca de um janeiro forte.
Na Europa, os mercados amanhecem em alta, diferentemente do que nos é apresentado pelos futuros americanos, que não possuem uma única direção, pelo menos por enquanto. Mais dados hoje nos EUA, como inflação ao produtor, devem fazer preço, sem falar nas falas de autoridades monetárias. O contexto, entretanto, é pouco impeditivo para um tom positivo para o Brasil.
A ver…
· 00:38 — Haddad afagou mais uma vez o mercado brasileiro
Por aqui, enquanto aguardamos o IBC-Br de dezembro, servindo como proxy do PIB, e o resultado trimestral de Vale, acompanhamos cuidadosamente os episódios de Brasília, que conta hoje com a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), depois das excelentes participações de Roberto Campos Neto e Fernando Haddad no evento do BTG. Sabemos que as metas até podem passar por uma revisão, mas não está na pauta de hoje. Outra coisa que tranquiliza é a antecipação da apresentação do novo arcabouço fiscal para março, ao invés de abril. O governo percebeu a urgência.
Haddad, que sempre foi conhecido como “o mais tucano dos petistas”, serviu muito bem como bombeiro, uma vez que Lula escuta o ministro com atenção. Sim, o presidente pode ter ganho a discussão sobre a meta de inflação (já conversamos aqui sobre a validade do debate — vide as falas de ontem de Rogério Xavier, da SPX, Luis Stuhlberger, da Verde, e André Jakurski, da JGP), mas antes o Executivo vai querer mostrar responsabilidade fiscal, o que é positivo. Confirma a tese sobre as falas de personalidades como Boulos e Hoffmann, que mais servem como fumaça, apenas.
· 01:35 — Depois das vendas ao varejo
Ontem, nos EUA, os investidores digeriram os dados de vendas de janeiro. Os gastos do consumidor saltaram 3% em relação ao mês anterior (ajustado sazonalmente), bem acima do esperado, mostrando uma mudança no consumo dos consumidores (gastos em bares e restaurantes caíram menos do que o normal em janeiro). Se trata do maior ganho mensal em quase dois anos e segue duas quedas mensais consecutivas.
O aumento nas vendas foi generalizado, com gastos em todas as categorias, exceto postos de gasolina. As maiores altas vieram das lojas de departamentos, que tiveram aumento de 17,5% nas vendas, revertendo a queda de 6,5% em dezembro. Se colocado ao lado do relatório de emprego de janeiro, se trata de outro sinal de que a economia dos EUA está se mostrando mais resistente do que o esperado.
· 02:15 — Política monetária e a guerra
Na Europa, os investidores acompanham as falas de algumas autoridades monetárias do BCE marcadas para o dia de hoje. Além disso, o banco central publicará seu boletim econômico, que poderá dar aos investidores uma base de dados econômicos mais robusta para as projeções. Ainda assim, entende-se que a próxima reunião do BCE deverá acabar com o aumento dos juros, restando pouco espaço para surpresas.
Enquanto isso, no Leste Europeu, a guerra na Ucrânia continua. Aliás, ela não só se mantém, como escalou ultimamente também. Tanto é verdade que os militares americanos estão sugerindo que a guerra pode exigir mais gastos dos EUA para restabelecer os estoques (como os gastos militares globais estão abaixo de 2,5% do PIB, qualquer evolução pode ter impactos econômicos relevantes).
· 03:05 — Problemas com a dívida dos países emergentes
A Índia pediu à vizinha, a China, que esteja disposta a assumir perdas com empréstimos a economias em dificuldades, pedindo ao maior credor bilateral do mundo para países em desenvolvimento que evite tomar posições que bloqueiem o alívio para nações como Zâmbia e Sri Lanka.
O pedido de clemência da Índia vem antes da realização conjunta, com o FMI e o Banco Mundial, de uma reunião inaugural para lidar com questões de dívida global. Essa reunião reunirá credores, incluindo a China, com países mutuários para tentar encontrar soluções para nações com níveis de dívida insustentáveis.
· 04:01 — E a Nigéria
Faltam menos de 10 dias para a eleição na Nigéria, em 25 de fevereiro. A Nigéria é o país mais populoso da África, tendo a sexta maior população do planeta, assim como uma das maiores economias do continente africano. Seu posicionamento coloca o país como um pivô geopolítico importante, até mesmo porque é um dos principais fornecedores de petróleo, além de outros insumos, para a China.
Chama a atenção um país com essas dimensões sustentar uma democracia. Na corrida eleitoral, três dos principais candidatos estão travados para ser o próximo presidente. Temos Bola Ahmed Tinubu, governista, Atiku Abubakar, da oposição, e Peter Obi, do Partido Trabalhista. O último, que tem aparecido em primeiro lugar nas pesquisas, prometeu reformular a política do país e criar uma “nova Nigéria”.
Os nigerianos estão frustrados com décadas de subinvestimento em infraestrutura (incluindo estradas e eletricidade), educação e saúde. Suas frustrações são direcionadas ao establishment político que governa o país desde a transição para a democracia, em 1999. Há uma expectativa de que Obi possa quebrar o ciclo de subinvestimento e pobreza.
Se eleito, o trabalho será difícil; afinal, a Nigéria passou por duas recessões desde 2015, o desemprego é superior a 30% e há subemprego generalizado, sem falar nas milícias armadas. As movimentações parecem secundárias, mas podem servir de suporte para a nova agenda internacional brasileira, uma vez que Lula prometeu revigorar as tentativas de influência sobre a África de seu primeiro governo. Algo para acompanharmos de perto.
Um abraço,
Matheus Spiess