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Reunião do Fed nos EUA, IPCA no Brasil e decisões de política monetária na Ásia movimentam a semana; confira

Brasília continua a tumultuar o cenário doméstico; nos EUA, dados inesperados sobre emprego e salários em maio aumentaram a probabilidade de o Fed manter os juros mais elevados por mais tempo.

Por Matheus Spiess

10 jun 2024, 10:13 - atualizado em 10 jun 2024, 10:18

Mercado em 5 minutos - temores bancários
Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Para a alegria de alguns e infelicidade de outros, estou de volta! E que semana para estar longe de vocês… Felizmente, contei com a competência dos meus excelentes colegas da Empiricus, que cobriram minha ausência com maestria. Agora, vamos ao que interessa.

O panorama político em Brasília continua a tumultuar a situação nacional. Declarações do ministro Haddad, mal interpretadas em uma reunião privada com investidores, catalisaram instabilidade no mercado brasileiro na última sexta-feira.

Paralelamente, dados inesperados sobre emprego e salários nos EUA em maio aumentaram a probabilidade de que o Federal Reserve mantenha as taxas de juros elevadas por mais tempo, o que levou ao adiamento das expectativas de cortes de taxas de setembro para novembro, fortalecendo o dólar e elevando os juros dos Treasuries, afetando negativamente as bolsas globais.

Nesta semana, a atenção está voltada para a reunião do Fed na quarta-feira e para os esforços de Haddad em convencer o Congresso a aceitar a Medida Provisória do PIS/Cofins como compensação para a desoneração da folha de pagamento, após a recepção crítica de suas declarações anteriores. Também serão divulgadas as inflações brasileira e americana de maio.

A China anunciará sua inflação amanhã, e a política monetária do Japão será decidida na sexta-feira. Na Ásia, um feriado na segunda-feira fechou mercados importantes, enquanto na Europa, os mercados abriram em baixa após o presidente francês convocar eleições antecipadas devido a uma derrota no Parlamento Europeu.

A ver…

· 00:56 — Versão brasileira: Encontros e Desencontros

Na semana anterior, o mercado financeiro brasileiro enfrentou intensas pressões, amplamente motivadas por rumores ligados a declarações do ministro Fernando Haddad durante um encontro fechado com investidores. Alega-se que Haddad mencionou a necessidade de conter até R$ 30 bilhões em despesas governamentais neste ano, destacando que a decisão de reduzir gastos ou modificar o arcabouço fiscal estaria nas mãos do presidente Lula, com uma definição esperada para agosto.

Essa interpretação circulou rapidamente entre os traders, gerando especulações de que o governo poderia optar por revisar a estrutura fiscal em vez de efetuar cortes diretos. Isso exacerbou a instabilidade no câmbio e nos juros futuros, contribuindo para uma acentuada queda do Ibovespa, já prejudicada por um relatório de emprego robusto nos EUA.

Mesmo após uma segunda entrevista na qual o ministro tentou clarificar suas palavras, o clima no mercado continuou pesado. O aumento nos gastos com Previdência e Assistência Social é visto com preocupação, mas ainda insuficiente para acalmar as expectativas instáveis.

Adicionalmente, conforme relatado por Laís na sexta-feira anterior, uma medida provisória que restringe os créditos de PIS e Cofins pode resultar em um aumento nos preços dos combustíveis a partir de terça-feira, potencialmente adicionando até 11 centavos por litro, dependendo do repasse aos consumidores.

Parece possível que a equipe econômica busque uma solução de compromisso frente à resistência de diversos setores e do Congresso, o que revela uma fragilidade governamental em manter sua posição de força no mercado. Olhando para frente, a agenda desta semana está repleta de indicadores cruciais: a publicação do IPCA na terça-feira, dados sobre o volume de serviços na quarta-feira, as vendas no varejo na quinta-feira e o IBC-Br na sexta-feira, que juntos oferecerão um panorama atualizado da economia brasileira.

· 01:41 — Um mercado ainda forte

Nos EUA, os dados econômicos que antecederam o relatório de emprego da última sexta-feira deixaram os investidores mais preocupados com o enfraquecimento da economia e menos otimistas quanto aos potenciais cortes nas taxas de juros. A expectativa era de que um relatório de emprego robusto ou em linha com as previsões fosse bem recebido, mas a realidade foi diferente.

O relatório surpreendentemente forte de empregos na manhã de sexta-feira provocou quedas nas três principais bolsas de valores. O Departamento do Trabalho informou que a economia dos EUA criou 272 mil empregos não agrícolas em maio, muito acima da previsão consensual de 180 mil, destacando a dificuldade atual de fazer projeções precisas. O rendimento médio por hora aumentou 0,4% em maio, superando as expectativas de 0,3%, enquanto a taxa de desemprego subiu para 4%, ante 3,9% em abril.

Embora os rendimentos dos títulos tenham se mantido em alta constante durante a maior parte do dia, o mercado de ações ficou incerto. O S&P 500 e o Nasdaq, que estavam a caminho de seus fechamentos mais altos já registrados, recuaram na tarde de sexta-feira. O relatório aliviou algumas preocupações recentes sobre a economia, mas também diminuiu as esperanças de um corte nas taxas de juros em julho.

Um corte em setembro parece ainda mais improvável agora, com as chances de não haver cortes antes das eleições de 2024 subindo para 51%, em comparação com 31,3% na quinta-feira. Nesta semana, a reunião do Fed e os dados de inflação podem trazer ainda mais volatilidade ao mercado.

· 02:38 — Um resultado diferente do que se esperava

Na semana passada, tivemos o desfecho de uma das grandes eleições de 2024. Acompanhei com vocês desde o início as eleições indianas, que se estendem por várias semanas devido ao tamanho da população. Como esperado, Narendra Modi declarou vitória, garantindo seu terceiro mandato como líder da Índia. Contudo, ele precisará do apoio de partidos menores para governar, um resultado surpreendente que poderá dificultar a aprovação de grandes reformas econômicas.

Confesso que fiquei surpreso. A Índia cresceu significativamente durante os dois primeiros mandatos de Modi como primeiro-ministro, ultrapassando o Reino Unido para se tornar a quinta maior economia do mundo e registrando um crescimento de 8,2% no último ano fiscal.

Para sustentar esse ritmo e se tornar uma superpotência econômica rivalizando com a China, o novo governo precisará implementar mais mudanças importantes. Com um governo mais fragmentado, a formulação de políticas tende a se tornar mais complexa no futuro. Apesar do revés eleitoral surpreendente para o Partido Bharatiya Janata de Modi, de direita e nacionalista hindu, os especialistas acreditam que a economia indiana, a de maior crescimento no mundo, continuará a prosperar.

Ao que tudo indica, a administração Modi ainda tem mandato suficiente para aprovar reformas que manterão o crescimento potencial entre 6% e 7%. Isso colocaria a economia indiana no caminho para mais do que dobrar de tamanho na próxima década. Vamos acompanhar os desdobramentos.

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· 03:25 — E a África do Sul?

O partido no poder na África do Sul, o Congresso Nacional Africano (ANC), enfrenta uma escolha difícil. Seu desempenho insatisfatório nas eleições de final de maio significa que terá de encontrar aliados entre os populistas anti-livre mercado ou um partido associado ao privilégio branco. Outra opção seria tentar governar como uma minoria. Péssimo para o país. O futuro dependerá de intensas negociações, principalmente dentro do próprio ANC, antes que um acordo seja concluído.

A comunidade empresarial e os aliados do Presidente Cyril Ramaphosa favorecem uma aliança com a centrista Aliança Democrática (AD), que poderia ajudar a fortalecer o rand e resgatar a credibilidade fiscal da nação, mantendo Ramaphosa como presidente. No entanto, para muitos sul-africanos negros que levaram o ANC ao poder no final do apartheid, há três décadas, uma aliança com a AD, predominantemente branca, seria impensável. Pelo menos no passado.

Os tempos, porém, mudaram. As eleições demonstraram que, diante da pobreza crescente, desemprego em massa, cortes de energia, crime e corrupção endêmica, os sul-africanos perderam a paciência com o ANC. Portanto, o obstáculo do passado pode não ser tão insuperável hoje. Talvez essa seja a melhor solução nas condições atuais.

· 04:14 — Movimentações europeias

Na semana passada, o Banco Central Europeu implementou seu primeiro corte de taxa de juros em um longo período, reduzindo a taxa básica para os 20 países que utilizam o euro de 4% para 3,75%. Esta taxa havia sido mantida desde setembro do ano passado. A medida visa aliviar a pressão financeira sobre empresas e consumidores, que têm sentido os efeitos das rápidas elevações das taxas de juros desde o final de 2021. Contudo, o impacto desta mudança e sua continuidade dependerão dos dados econômicos recentes dos EUA.

Atualmente, o foco do mercado está nas eleições do Parlamento Europeu. Embora o resultado possa não ter um impacto imediato nos investidores, pode influenciar significativamente o cenário político na Europa. Na França, o partido de Le Pen superou o de Macron, que respondeu dissolvendo o Parlamento e convocando eleições legislativas antecipadas em dois turnos, a serem realizados em 30 de junho e 7 de julho, após a derrota.

Na Alemanha, a extrema direita avançou significativamente, passando de quarta para segunda maior força política, impondo uma derrota histórica ao partido social-democrata do primeiro-ministro Olaf Scholz.

O avanço da ultradireita na União Europeia pode ter implicações para o Brasil, especialmente em questões econômicas e migratórias, além das negociações relacionadas ao acordo com o Mercosul, que pode ganhar novo impulso após essas eleições. A UE é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, ficando atrás apenas da China.

No entanto, as projeções desta manhã sugerem que os partidos de centro devem manter o controle do Parlamento Europeu, apesar do crescimento das alas mais radicais. Os resultados oficiais serão divulgados em breve.

· 05:03 — Chegou ao clube e saiu… Fez topo?

Na semana passada, a Nvidia (NVDA), uma das ações que recomendamos neste espaço, alcançou o impressionante marco de se tornar a terceira empresa dos EUA a ingressar no clube de US$ 3 trilhões, atingindo essa valorização pouco mais de três meses após fechar com uma avaliação de mercado de US$ 2 trilhões.

A companhia ultrapassou a Apple, tornando-se a segunda empresa mais valiosa do mundo devido à demanda intensa por suas unidades de processamento gráfico e chips de inteligência artificial. No entanto, a comemoração foi breve, e logo depois a Nvidia recuou de volta para a terceira posição, ficando atrás da Microsoft e da Apple. A grande questão que surge é: a Nvidia atingiu seu pico?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.