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Rumores do cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia e nova alta do Ibovespa; confira os destaques desta quarta-feira (26)

Os mercados globais seguem no aguardo da concretização de um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia enquanto aguardam o dia das tarifas de Trump, em 2 de abril.

Por Matheus Spiess

26 mar 2025, 09:18 - atualizado em 26 mar 2025, 09:18

EUA e UE

Imagem: iStock/Ruma Aktar

Os mercados globais estão em contagem regressiva para o dia 2 de abril, quando Donald Trump promete tirar do papel suas tão ventiladas tarifas comerciais recíprocas. O problema? Ninguém sabe exatamente se vem bomba ou balão de ensaio. O vai-e-volta retórico do presidente transformou o anúncio em uma novela de gosto duvidoso — ora se fala em medidas devastadoras, ora em algo mais comedido, quase protocolar.

Tudo indica que tarifas virão, sim — mas o grau da pancada ainda é um mistério. O cenário mais provável é um meio-termo oportunista: duro o suficiente para manter a retórica populista em alta, mas palatável o bastante para não explodir os mercados logo de cara. Ainda assim, é bom lembrar: o atual time de Trump parece disposto a apertar o passo com mais agressividade do que em seu primeiro mandato.

O suspense tarifário deixa os investidores com os nervos à flor da pele. Hoje (26), os olhos se voltam para os dados de atividade nos EUA e os discursos de autoridades monetárias — em um ambiente de desaceleração que flerta com uma recessão. A Ásia fechou sem direção clara, a Europa amanhece no vermelho, e os futuros americanos seguem em queda. A boa notícia? As commodities sobem, o que ao menos pode oferecer um pequeno respiro para os ativos brasileiros no meio desse caos.

· 00:55 — Hawk ou dove?

O Ibovespa emplacou mais uma alta ontem (25) e encerrou o dia acima dos 132 mil pontos — chegou a ensaiar os 133 mil, mas perdeu fôlego no fim. Como já antecipado por aqui, o pregão foi dominado pela digestão da ata do Copom, que na semana passada elevou a Selic para estonteantes 14,25% ao ano. A leitura de parte do mercado foi que o documento soou “hawkish”, por sinalizar mais altas. E de fato foi. Mas também trouxe pistas de que o fim do ciclo está logo ali na esquina: uma alta de 50 pontos na reunião de maio e, quem sabe, mais uma de 25 pontos depois disso, levando a Selic a 15%.

Sim, os juros seguem nas alturas — mas convenhamos, estão longe do apocalipse monetário que muitos temiam no fim de 2024. Além disso, com a nova composição do Banco Central, agora mais inclinada ao perfil dovish, já começa a se formar o pano de fundo para o início de uma conversa sobre cortes, lá na virada do ano. Claro, tudo dependerá dos dados. E, como sempre, da imprevisibilidade fiscal que emana de Brasília. Afinal, a política monetária até tenta, mas sozinha não faz milagre. E do lado fiscal, o governo Lula segue empenhado em provar que responsabilidade não é prioridade. A obsessão por medidas expansionistas pode até garantir manchetes populistas, mas joga lenha na fogueira do IPCA de 2026 e, de quebra, ameaça manter juros elevados por mais tempo. Chamam de estímulo, mas soa mais como sabotagem.

Por enquanto, vamos nos beneficiando do que dá: um fluxo estrangeiro generoso em direção a mercados emergentes, valuations baratos, uma base comparativa risível (cortesia do fiscal desastroso de 2024), um posicionamento técnico saudável e, claro, a esperança — sempre ela — de uma mudança de rota na política econômica a partir das eleições de 2026. Temos, portanto, um cenário de curto prazo que anima e um horizonte político que promete. Mas não nos enganemos: o caminho até lá será tudo, menos suave. Estamos numa espécie de rali com cinto de segurança frouxo.

 · 01:44 — Indicadores penalizados

Nos EUA, os investidores simplesmente decidiram ignorar os dados decepcionantes de confiança do consumidor, que vieram abaixo das expectativas e sinalizam uma moderação da atividade econômica. E, como se nada tivesse acontecido, Nasdaq e S&P 500 fecharam em alta. A lógica de curto prazo parece simples — quase infantil: dados fracos são bons, porque abrem espaço para o Federal Reserve retomar os cortes de juros. Só não podem ser fracos demais, claro, a ponto de reavivar os temores de uma recessão — que seguem rondando os mercados, alimentados pelas constantes revisões de crescimento em meio à incerteza comercial patrocinada por Donald Trump.

Esse é o cabo de guerra atual: números mornos viram estímulo, números ruins demais viram pesadelo. A leitura rasa de que qualquer desaceleração pode ser uma bênção monetária continua sustentando os ativos de risco — pelo menos até que a realidade bata à porta. Por ora, a dinâmica tem favorecido ativos fora dos Estados Unidos, como os brasileiros, na clássica rotação de capital em busca de preços menos esticados e menor saturação técnica. Mas essa maré pode virar a qualquer momento, conforme os dados forem sendo digeridos. Hoje (26), teremos o relatório de bens duráveis referente a fevereiro (termômetro de atividade), seguido amanhã pela nova leitura do PIB americano. Serão mais duas peças nesse quebra-cabeça disfuncional que o mercado finge montar com convicção, mas cujas bordas continuam mal encaixadas.

· 02:39 — Incerteza tarifária

Na contagem regressiva para o chamado Dia das Tarifas, em 2 de abril, o mercado já ensaia sua costumeira posição fetal: retraído, cauteloso e sem coragem para grandes apostas. A apreensão cresce com os alertas sobre o impacto nebuloso que o novo pacote comercial de Donald Trump poderá causar na inflação e no crescimento econômico. Circula nos bastidores que o presidente planeja implementar o novo regime tarifário em duas fases — uma com medidas recíprocas imediatas, outra baseada em um sistema de investigações que pode abrir caminho para tarifas ainda mais severas.

O problema é simples: ninguém consegue precificar esse troço. E quando o mercado não sabe calcular o estrago, o risco se multiplica. A preocupação com a saúde da economia americana, já desgastada por dados inconsistentes e pela incerteza generalizada, só aumenta. Enquanto parte dos investidores ainda se agarra à ideia de que o tarifaço trumpista pode vir mais brando, eu prefiro manter o ceticismo em dia. Vale lembrar: estamos no início de um mandato que promete ser tudo, menos previsível. E a volatilidade é praticamente cláusula pétrea no trumpismo econômico.

· 03:23 — Cessar-fogo?

O governo Trump anunciou que Rússia e Ucrânia teriam finalmente concordado com um cessar-fogo parcial no Mar Negro e que ambos os lados estariam dispostos a desenvolver mecanismos para evitar ataques à infraestrutura energética. Mas, como era de se esperar, a versão russa veio com um asterisco do tamanho da Crimeia. Moscou deixou claro que “concordar” é um termo elástico e que o cumprimento depende de contrapartidas bastante específicas, como a remoção de sanções. A proposta original dos EUA busca, essencialmente, garantir navegação segura.

Zelenskiy sinalizou que está disposto a seguir com o cessar-fogo parcial imediatamente. Enquanto isso, a Europa, mais uma vez colocada de escanteio, observa o desenrolar das negociações com um misto de desconforto diplomático e impotência estratégica. O bloco europeu, que há tempos deixou de ser protagonista e virou plateia nas mesas de negociação, agora precisa lidar com o fato de que os EUA estão mais preocupados em administrar a tensão do que em preservar princípios.

· 04:18 — Descolados

Apesar de toda a tensão diplomática, um cessar-fogo na Ucrânia, se realmente sair do papel, seria uma notícia positiva — especialmente do ponto de vista humanitário. Para o mercado, a simples possibilidade de trégua já está servindo de combustível para os ativos europeus, que sobem embalados também pelas promessas de aumento nos gastos com defesa feitas pelos líderes do Velho Continente.

Apesar da correção dessa manhã, a bolsa alemã segue firme e forte, surfando na expectativa de uma nova rodada de estímulos fiscais. O euro se valoriza, refletindo o bom humor dos investidores. Até a coroa sueca entrou na onda — e com razão: a Suécia abriga uma das indústrias bélicas mais robustas da Europa, e qualquer sinal de que o cofre da defesa vai se abrir tende a encher os bolsos de Estocolmo. Não à toa, suas exportações de equipamentos militares já figuram entre as maiores, proporcionalmente ao PIB, nas economias desenvolvidas.

Assim, a primeira leitura dos novos pacotes fiscais foi recebida com entusiasmo — um raro momento de sintonia entre mercado e política na Europa. Agora, é esperar para ver se a guerra comercial versão Trump 2.0 vai estragar a festa. 

· 05:06 — O mercado americano seguirá forte

Muita gente ainda levanta a sobrancelha com a ideia de um cessar-fogo na Ucrânia, imaginando que isso poderia prejudicar a indústria militar americana. Ingenuidade. A realidade é que estamos vivendo uma nova corrida armamentista — mais sofisticada, mais cara e mais global. E, como sempre, o setor de defesa dos EUA lidera o jogo, com tecnologia de ponta e um apetite insaciável dos aliados por armamentos de última geração. A paz, nesse cenário, é só um intervalo entre compras bilionárias…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.