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S&P 500 e Nasdaq batem novos recordes em NY; na agenda macro são aguardadas declarações do Fed nesta terça (18)

Antecipando a decisão da Selic, o Ibovespa iniciou a semana em queda, enquanto as bolsas de NY subiram ontem (17).

Por Matheus Spiess

18 jun 2024, 08:50 - atualizado em 19 jun 2024, 08:55

Bom dia, pessoal. Enquanto o Brasil discute as estratégias do governo para revisar o ajuste fiscal, que agora depende da redução de gastos, os investidores internacionais estão atentos às diversas declarações programadas para hoje de membros do Federal Reserve dos EUA.

Não espero discursos muito permissivos; na verdade, acredito que os membros do Fed se mostrarão ainda mais cautelosos do que o próprio presidente, Jerome Powell.

Embora um corte nas taxas de juros no segundo semestre ainda seja uma possibilidade, precisamos de dados concretos para justificar essa ação.

Até que esses dados estejam disponíveis, ninguém se sentirá seguro em prever um corte de 25 pontos-base. Portanto, é importante observar alguns indicadores da atividade econômica dos EUA hoje.

Os mercados europeus estão em alta nesta manhã, após a inflação ao consumidor ter aumentado 0,2% de abril para maio, conforme esperado (com uma alta anual de 2,6%). Esse movimento positivo é refletido pelos futuros americanos, que também apresentam alta, pelo menos por enquanto.

Do outro lado do mundo, os mercados asiáticos tiveram um pregão majoritariamente positivo, com destaque para as empresas de tecnologia, que registraram aumentos significativos.

Isso ocorreu apesar do presidente do Banco do Japão (BoJ), Kazuo Ueda, ter indicado que não descarta um aumento na taxa de juros na reunião de política monetária de julho, dependendo do comportamento da inflação e do ritmo da atividade econômica.

A ver…

· 00:58 — Deseja realizar o ajuste ou não?

No Brasil, a reunião de política monetária do Banco Central está em andamento, e a expectativa é que a taxa de juros seja mantida em 10,5% ao ano na decisão que será anunciada amanhã (18).

Mais do que a decisão em si, é essencial que a votação seja unânime e acompanhada por um comunicado de caráter conservador, visando corrigir, ao menos parcialmente, o desalinhamento nas expectativas causado pela atuação do Copom em maio.

Antecipando esta reunião, o Ibovespa iniciou a semana em queda, refletindo também a deterioração das previsões do Boletim Focus. Simultaneamente, o governo se empenha em redirecionar a política de ajuste fiscal, que agora demanda cortes nos gastos públicos. Curiosamente, uma postura fiscal mais conservadora é necessária neste momento para viabilizar a redução dos juros no futuro.

Ontem, o presidente Lula iniciou as discussões sobre a revisão orçamentária em reunião com os ministros Fernando Haddad e Simone Tebet, mas os investidores aguardam ações concretas antes de restaurarem a confiança no governo.

Até agora, medidas verdadeiramente transformadoras, como cortes nos gastos com previdência, saúde e educação, foram adiadas. Este cenário é agravado pela diminuição na arrecadação, exemplificada pela perda de um quarto da receita de ICMS no Rio Grande do Sul após as enchentes.

Embora o encerramento de uma disputa de R$ 20 bilhões no Carf envolvendo a Petrobras tenha trazido algum alívio, isso não é suficiente. Mais cortes de despesas são imprescindíveis, apesar das frequentes críticas do PT a essa abordagem.

Com aliados assim, surge a questão: quem precisa de opositores? Entre as alternativas válidas para o ajuste fiscal, destacam-se a revisão das renúncias fiscais, a melhoria dos registros de benefícios assistenciais e previdenciários, e a retomada da Desvinculação das Receitas da União (DRU).

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· 01:42 — Mais um recorde

Nos EUA, as bolsas em NY tiveram alta na sessão de ontem, impulsionadas pelo desempenho de ações de empresas do setor de tecnologia, especialmente aquelas ligadas à inteligência artificial, e com novos registros de recorde de fechamento de S&P 500 e Nasdaq.

O Nasdaq atingiu o seu sexto recorde consecutivo e o S&P 500 atingiu o seu quinto máximo histórico em seis dias (foi o trigésimo pregão com recorde no fechamento do S&P 500).

É um forte começo para uma semana relativamente calma, após a inundação de dados econômicos, eventos corporativos e a reunião do Federal Reserve da semana passada.

Além disso, os mercados dos EUA estarão fechados na quarta-feira em comemoração ao dia 16 de junho.

Na agenda de hoje, teremos a visão do estado do consumidor dos EUA com a divulgação do relatório de vendas no varejo de maio.

A estimativa consensual dos economistas prevê um aumento de 0,3% nos gastos no mês passado, para 707 bilhões de dólares. Isso ocorreu depois que as principais vendas no varejo ficaram estáveis ​​em abril, em comparação com março.

Excluindo os automóveis, que tendem a ser voláteis, as vendas no varejo deverão ter subido 0,2% em maio, mesmo com os números de abril.

Fora isso, ainda contamos com uma enxurrada de comentários de responsáveis​​ do Fed, com nada menos que seis presidentes regionais da Fed e governadores da Fed programados para falar publicamente. As falas podem trazer alguma volatilidade.

· 02:39 — E olhando para frente, para onde vamos?

A análise da semana passada sugere que os EUA estão no caminho da desinflação.

Embora tenha cometido erros nos últimos meses, o presidente do Fed, Jerome Powell, parece ter acertado ao interpretar os dados de inflação de janeiro, fevereiro e março, que foram mais altos do que o esperado, como uma pequena anomalia ou pausa, e não como uma reversão da tendência de queda rumo à meta de 2%.

Em outras palavras, estamos avançando na direção certa, ainda que de forma mais lenta.

A cautela do Fed, mantendo a possibilidade de cortes de juros, se justifica pelo seu duplo mandato de estabilidade de preços e pleno emprego.

Com o abrandamento da economia e o aumento da taxa de desemprego, o Fed pode começar a focar em garantir que a taxa de desemprego não suba demasiadamente.

Esse é o argumento para um possível corte de juros, talvez em setembro, caso os dados econômicos permitam.

É plausível supor que, embora os membros do Fed sejam mais conservadores, Powell prefira evitar uma recessão do que alcançar um controle total da inflação.

· 03:25 — A dependência

A duradoura e robusta relação entre Xi Jinping, da China, e Vladimir Putin, da Rússia, permanece firme, impulsionada por uma rejeição comum ao sistema internacional dominado por instituições políticas e econômicas ocidentais.

Contudo, antes do conflito na Ucrânia, a economia e a população da China superavam em dez vezes as da Rússia. Não é uma relação de iguais, criando espaço para dependência.

A guerra aumentou ainda mais a dependência russa em relação à China, criando uma barreira significativa para que os dois países cheguem a um acordo sobre a construção do gasoduto “Power of Siberia 2“, um projeto que aprofundaria ainda mais a sua interdependência econômica.

Sabemos que a guerra na Ucrânia privou a Rússia de seus clientes europeus de energia, e a China agora exige preços ainda mais baixos para o gás russo, valores que já são inferiores à metade do que a Europa pagava antes da invasão.

Além disso, a China reluta em se comprometer a comprar mais do que uma pequena fração da capacidade do gasoduto. Embora um acordo futuro para a construção deste gasoduto seja possível, seus termos refletirão a discrepância entre a urgente necessidade russa de recursos financeiros e a demanda menos imediata da China por gás russo. Como falei antes, não é uma aliança entre iguais. Muito pelo contrário.

· 04:16 — E por falar nos russos…

As autoridades russas estão cientes do grave desafio demográfico que o país enfrenta. Com uma população atual de aproximadamente 145 milhões, a Rússia vem experimentando uma redução constante desse número nos últimos anos.

Diante disso, aumentar a taxa de natalidade tornou-se uma prioridade tanto para o governo quanto para o presidente Putin, que declarou 2024 como o “Ano da Família” e começou a oferecer subsídios às mulheres russas que tiverem três ou mais filhos.

No entanto, essa questão demográfica é mais complexa do que parece, sendo um problema antigo que ganhou novas dimensões com a pandemia e a guerra.

Para ilustrar, a pandemia de COVID-19 resultou na morte de mais de 1,1 milhões de russos, de acordo com fontes independentes, e o conflito na Ucrânia agravou ainda mais a situação demográfica ao impactar a população em idade produtiva.

Estima-se que cerca de 150 mil russos morreram nos campos de batalha, enquanto mais de um milhão fugiram do país desde o início da invasão, seja para evitar o recrutamento, seja em busca de melhores condições de vida e trabalho.

Além disso, aproximadamente 1,26 milhões de crianças nasceram na Rússia em 2023, marcando o menor índice de nascimentos em uma geração. Esses fatores intensificam a já existente queda na natalidade e na expectativa de vida, uma tendência que começou após o colapso da União Soviética.

O único aumento populacional significativo recente na Rússia foi a adição de 2,4 milhões de habitantes com a anexação da Crimeia. Com o tempo, o declínio demográfico se tornará um sério obstáculo para o desenvolvimento econômico da Rússia.

· 05:04 — Mais barreiras

As siderúrgicas brasileiras tomaram a iniciativa de abrir processos antidumping na Secretaria de Comércio Exterior para conter as importações de aço, especialmente da China. Esta medida complementa as políticas implementadas pelo governo federal em abril, que não abrangiam todos os produtos agora visados pelos novos processos, iniciados no começo de junho. Essas ações geram expectativas de otimismo no setor siderúrgico. A dúvida: esse otimismo se justifica?

Relembrando eventos recentes, no início de março, a…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.