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Saída de Trudeau, China se prepara para Trump e dólar enfraquece: veja os destaques desta terça-feira (7)

A notícia de que as tarifas comerciais de Trump poderão ser mais brandas que o projetado agradou mercados globais. Confira.

Por Matheus Spiess

07 jan 2025, 09:16 - atualizado em 07 jan 2025, 09:16

ouro dólar preço eua estados unidos

Imagem: iStock/ claffra

No cenário internacional, ainda repercute amplamente a notícia divulgada ontem (6) nos Estados Unidos de que as tarifas comerciais propostas por Donald Trump não serão tão abrangentes e agressivas quanto se temia. Essa informação enfraqueceu o dólar globalmente, refletido na queda do Dollar Index (DXY) na segunda-feira e na manhã de hoje (7).

Embora Trump tenha negado os rumores, o mercado encerrou o dia anterior com um movimento de alívio na moeda americana, beneficiando, por consequência, os ativos mais sensíveis a essas flutuações. Deu o benefício da dúvida.

Como é sabido, há uma correlação significativa entre o dólar e os mercados globais de ações. Assim, qualquer enfraquecimento do dólar, medido pelo DXY, tende a favorecer índices como o Ibovespa e moedas emergentes, como o real. Aliás, um dos fatores cruciais para os movimentos do DXY é o desempenho do euro em relação ao dólar, dado o peso da moeda europeia no índice. No final de 2024, vimos o enfraquecimento do eixo franco-alemão, tanto política quanto fiscalmente, impactando negativamente a moeda do bloco. Uma melhora no ambiente econômico e político na Europa ajudaria a enfraquecer o dólar e, por extensão, fortalecer outras moedas, incluindo o real.

O Brasil, por sua vez, aproveitou esse cenário favorável, especialmente considerando a posição técnica já bastante depreciada de seus ativos. Na manhã de hoje, os índices europeus e os futuros americanos apresentaram um tom positivo, acompanhados por ganhos significativos na Ásia, principalmente no setor de tecnologia.

Além disso, destaca-se a renúncia do primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, confirmando as previsões feitas ao longo de 2024. Após mais de nove anos à frente do governo, Trudeau cedeu à queda de popularidade e à pressão interna de seu próprio partido. Como o líder atual mais longevo entre os países do G7, sua saída representa mais um exemplo do sentimento anti-incumbente que dominou o cenário global no pós-pandemia e que, ao que tudo indica, continuará em 2025. Esse movimento tem implicações importantes para o Brasil, que pode vivenciar uma mudança semelhante de pêndulo político em 2026. A saída de Trudeau também está vinculada, entre outras coisas, a desafios fiscais e orçamentários, questões que têm sido recorrentes em debates econômicos ao redor do mundo. O Brasil não está sozinho nesse barco. 

· 00:51 — Vai resolver?

Por aqui, o Ibovespa registrou sua primeira alta do ano, um movimento que pode ser interpretado como um período de acomodação após uma rodada intensa e acelerada de depreciação dos ativos locais. Esse comportamento é natural em um ambiente em que o pessimismo domina o consenso de mercado. No entanto, para que essa tendência de baixa se esgote de verdade e possamos vislumbrar uma recuperação sustentada, serão necessárias mudanças estruturais e substanciais no campo da política econômica, particularmente no velho e conhecido desafio fiscal.

Em meio ao ceticismo que paira sobre o país, o ministro Fernando Haddad interrompeu temporariamente suas férias para se reunir com o presidente Lula. Hoje, Haddad concederá uma entrevista ao vivo na GloboNews, a partir das 13h30 — um evento que merece atenção. Além disso, teremos a divulgação dos indicadores de arrecadação federal de novembro nesta manhã.

O bom desempenho da atividade econômica doméstica deve continuar impulsionando o crescimento da arrecadação de impostos e contribuições federais. Contudo, sob as diretrizes do arcabouço fiscal atual, esse aumento na arrecadação muitas vezes resulta em maior permissividade para gastos — um sinal nada encorajador para o equilíbrio das contas públicas.

Apesar dos desafios, há pontos positivos a serem destacados. A balança comercial brasileira fechou 2024 com um superávit de US$ 74,6 bilhões, o segundo maior da história. Para 2025, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) projeta um superávit entre US$ 60 bilhões e US$ 80 bilhões, refletindo uma mudança estrutural no patamar da nossa balança comercial. Em um cenário em que Donald Trump adote políticas menos agressivas no comércio global, o Brasil poderá se beneficiar ainda mais desse ganho estrutural. Ainda assim, o ambiente para mercados emergentes não será simples. E, enquanto o país não abordar de forma decisiva o problema fiscal com medidas concretas para conter o crescimento dos gastos, os pregões de alívio, como o que vimos ontem, serão apenas paliativos.

Por isso, os desdobramentos em Brasília continuam cruciais. A aguardada Reforma Ministerial, que já começa a ser delineada, pode trazer consigo novas medidas fiscais para reforçar o compromisso com o equilíbrio orçamentário. Este será um ponto-chave para monitorar nas próximas semanas, determinando se o governo conseguirá, finalmente, reverter o ciclo de desconfiança e recuperar parte da credibilidade perdida.

· 01:43 — A tão aguardada Reforma Ministerial

Como seria, afinal, a tão especulada Reforma Ministerial? Tudo depende, obviamente, do presidente Lula.

Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, tem reiterado a aliados que uma eventual reforma no governo deve incluir a nomeação de ministros alinhados aos interesses do Congresso. Há até mesmo rumores de que tanto Lira quanto o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, estão sendo cogitados para integrar a Esplanada. Entre os dois, acredito que Pacheco tenha maior disposição para aceitar o convite, especialmente considerando as articulações políticas em torno de 2026.

Um ponto central nessa discussão é a desproporção entre a ocupação ministerial do PT e sua força legislativa. Nota a inconsistência: apesar de controlar pastas relevantes, o partido de Lula detém apenas 12% dos votos no plenário, um número insuficiente para assegurar a aprovação de projetos estratégicos. Precisa ser corrigido. Em contrapartida, partidos como o PSD — que já controla três ministérios, mas sem uma representação de peso em áreas consideradas “fortes” —, União Brasil e MDB são vistos como potenciais beneficiários de uma redistribuição de cargos ministeriais.

Mudanças nesse sentido, poderiam destravar pautas importantes e minimizar as dificuldades nas aprovações legislativas. Esse ponto é especialmente relevante à luz da fraquíssima taxa de conversão de medidas provisórias em leis nos dois primeiros anos do governo, a mais baixa desde a redemocratização.

No contexto atual, uma alteração na Esplanada poderia não apenas reforçar a base governista, mas também criar condições para uma nova abordagem em relação às tão necessárias medidas fiscais adicionais, depois do fiasco do que foi apresentado no final do ano passado. Uma interlocução mais eficaz com o mercado, fruto de um ambiente político mais coeso, teria potencial para mitigar as incertezas que têm marcado o cenário econômico. Se, no entanto, o governo optar por manter a estrutura atual e não realizar as mudanças necessárias, o desgaste político continuará. Isso implicará não apenas em perda progressiva de governabilidade, mas também na intensificação das dificuldades de articulação para enfrentar os desafios fiscais e econômicos de 2025.

· 02:35 — Moderou o tom ou não?

Na agenda econômica dos Estados Unidos, o destaque desta semana recai sobre o relatório de empregos JOLTS referente a novembro, que abre o ciclo de dados trabalhistas que culminará com o tão aguardado payroll na sexta-feira (10). Com o mercado de trabalho ainda aquecido e a batalha contra a inflação longe de ser vencida, o Federal Reserve mantém sua sinalização de um ritmo moderado na flexibilização da política monetária ao longo deste ano (deve ser pausado agora em janeiro). Nesse contexto, a ata da última reunião do Fed, que será divulgada amanhã, ganha relevância adicional, podendo oferecer pistas sobre os próximos passos da autoridade monetária.

Outro ponto de atenção está relacionado à posse de Donald Trump, programada para o dia 20 de janeiro. Apesar das preocupações iniciais com o protecionismo econômico prometido durante sua campanha, uma reportagem do Washington Post trouxe certo alívio ao indicar que as tarifas comerciais planejadas serão mais seletivas e focadas em setores específicos considerados críticos, ao invés de abrangentes e agressivas. Embora Trump tenha negado a informação, o mercado já havia absorvido o impacto positivo da notícia, que contribuiu para um tom mais otimista nos últimos dias.

Tenho argumentado que Trump parece inclinado a adotar uma abordagem econômica mais pragmática e alinhada ao mercado, em vez de seguir por um caminho de políticas econômicas excessivamente disruptivas. Ainda assim, o verdadeiro risco reside na implementação de tarifas comerciais e em sua postura frente à imigração, temas que, mesmo atenuados momentaneamente, devem permanecer no centro das discussões nos próximos anos (ele promete usar a questão comercial como barganha para negociação). A minimização das preocupações foi suficiente para trazer algum alívio, mas a cautela com os desdobramentos dessas políticas ainda é indispensável.

· 03:26 — O horizonte europeu

Em 2025, o Banco Central Europeu (BCE) inicia um novo capítulo em sua política monetária. Com a inflação na zona do euro convergindo gradualmente para a meta de 2% — já atingindo 2,4%, conforme divulgado nesta manhã —, o cenário começa a favorecer cortes adicionais nas taxas de juros. Atualmente fixadas em 3%, as taxas já foram reduzidas em 100 pontos-base desde a máxima de 4%.

No entanto, o ambiente econômico europeu continua marcado por incertezas significativas. Turbulências políticas em algumas das principais economias do bloco e os riscos geopolíticos associados ao retorno de Trump à presidência dos EUA aumentam a necessidade de cautela por parte dos formuladores de políticas. Nesse contexto, o consenso entre os membros do BCE é claro: gradualismo.

Essa estratégia torna cortes consecutivos de 25 pontos-base o cenário mais provável nos próximos meses. As expectativas do mercado apontam para pelo menos quatro reduções até junho, o que levaria a taxa do BCE a 2%. 

·04:17 — Estímulos chineses

As autoridades chinesas planejam emitir um recorde de 3 trilhões de yuans (equivalentes a 411 bilhões de dólares) em títulos do Tesouro ao longo de 2025, em uma medida que parece visar o combate à desaceleração econômica do país. Esse montante representa um aumento significativo em relação ao incremento de 1 trilhão de yuans registrado em 2024 e será destinado a estimular o consumo, fomentar investimentos e recapitalizar os grandes bancos estatais.

Pequim sinalizou sua intenção de adotar um apoio econômico mais robusto no próximo ano, antecipando-se aos possíveis desafios que podem surgir com o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos e a possível intensificação da guerra comercial iniciada por ele há oito anos. O Politburo liderado por Xi Jinping destacou, em sua reunião de dezembro de 2024, a importância de estimular o consumo interno como prioridade estratégica.

Essa mudança de foco é impulsionada pela crescente resistência de parceiros comerciais, como os EUA, contra as exportações chinesas — que foram um dos principais motores do crescimento econômico do país em 2024. O aumento no suporte econômico reflete o esforço de Pequim para sustentar a estabilidade doméstica e mitigar os impactos das pressões externas, ao mesmo tempo em que tenta reposicionar sua economia diante de um cenário global em transformação.

· 05:04 — Excesso de pessimismo pode ser um sinal positivo

O pessimismo generalizado em relação ao Brasil em 2025 pode, paradoxalmente, ser uma boa notícia. Não se trata de ignorar os desafios reais que enfrentamos — uma Selic acima de 15%, inflação em 6% e uma trajetória fiscal alarmante realmente travam o consumo e os investimentos. Esses fatores são inegáveis e merecem atenção. O ponto central, contudo, é que o mercado financeiro se antecipou à deterioração das condições econômicas, precificando os riscos antes mesmo de eles se materializarem…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.