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Selic a 11,25%, reunião do Fed e de olho no avanço chinês: acompanhe os destaques do mercado nesta quinta (7) após a vitória de Trump

Os efeitos no mercado após a vitória de Trump foram gradualmente moderados ao longo do pregão de ontem no mercado brasileiro.

Por Matheus Spiess

07 nov 2024, 09:25 - atualizado em 07 nov 2024, 09:25

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Imagem: iStock/ cokada

Os efeitos iniciais da euforia pela vitória de Trump sobre Harris foram gradualmente moderados ao longo do pregão de ontem, especialmente no mercado brasileiro.

Nos EUA, contudo, o otimismo com as ações manteve-se firme até o fechamento. Na Ásia, a reação de segunda-feira indica que, diante da vitória de Trump, Pequim deve intensificar seus estímulos econômicos para fortalecer a economia chinesa, já que o novo presidente americano pode implementar tarifas de até 60% sobre as importações. Como resultado, as ações asiáticas fecharam em alta nesta quinta-feira (7).

Esse movimento reflete-se também nos índices europeus e nos futuros americanos, que apresentam altas na manhã de hoje (7), na antessala das decisões do Banco da Inglaterra (BoE) e do Federal Reserve (Fed), com ambos devendo cortar 25 pontos-base nos juros. É aguardada com interesse a coletiva de imprensa de Jerome Powell, na qual ele poderá abordar os efeitos de uma expectativa inflacionária mais alta sob Trump e como isso impacta o atual ciclo de flexibilização monetária.

No mercado de commodities, o petróleo opera em queda nesta manhã, mesmo após a China ter divulgado dados de exportação de outubro consideravelmente acima das expectativas. Em paralelo, há uma tentativa de cessar-fogo em andamento no Líbano, que também influencia o ambiente geopolítico na região.

· 00:51 — 50 pontos, como esperado

No Brasil, a resposta à eleição de Trump foi suavizada pela percepção crescente de que o governo precisará implementar um pacote fiscal substancial para lidar com os novos desafios globais.

O Ibovespa viveu um dia de intensas oscilações, mas encerrou com uma leve queda de 0,24%, um desempenho mais estável comparado à desvalorização de 1,33% observada no início do pregão. O dólar também teve um movimento significativo, fechando com queda de 1,24%, possivelmente influenciado pelo ditado clichê “compra-se no rumor e vende-se no fato”. Além disso, o “Trump Trade” já vinha impactando a moeda desde o final de setembro (já estava saturado).

Paralelamente, o aumento de 50 pontos-base na Selic, elevando-a para 11,25%, era amplamente esperado, mantendo a possibilidade de novos ajustes em aberto. A expectativa é que a taxa suba ainda mais nos próximos meses, fechando o ano em 11,75%, com potenciais aumentos adicionais em 2025 sob a liderança de Gabriel Galípolo (ele precisa manter o ritmo). O BC adotou seu tom mais hawkish, reforçando que o horizonte de atuação agora se estende até o segundo trimestre de 2026.

Curiosamente, acredito que o atual ciclo de aperto monetário depende mais das ações fiscais da Fazenda do que das decisões diretas do Banco Central. Tanto é verdade que o próprio Copom sinalizou que a necessidade de medidas estruturais para reequilibrar o fiscal justifica os níveis de juros elevados, pois tais ações ancoram expectativas inflacionárias e reduzem prêmios de risco, influenciando a política monetária. Ou seja, o ciclo de alta da Selic pode chegar a 12,5% ou até ultrapassar 13%, dependendo da profundidade dos cortes fiscais que forem implementados.

Neste sentido, a proposta de aumentos salariais de até 30% para cargos comissionados nos próximos dois anos foi recebida de forma negativa pelo mercado, por sinalizar pressões adicionais sobre o fiscal. Adicionalmente, a entrevista do presidente Lula também gerou apreensão, levando o Ministro Haddad a se pronunciar para tentar acalmar os mercados já na noite de ontem (6).

Diversos setores do governo demonstram insatisfação com os cortes, que afetarão seus orçamentos. Paradoxalmente, a resistência de figuras como Luiz Marinho e Carlos Lupi aos cortes pode ser interpretada como um indicativo positivo sobre a seriedade do ajuste fiscal proposto. Haddad terá uma reunião com Lula hoje para finalizar o pacote de medidas.

· 01:42 — Euforia

Nos Estados Unidos, a vitória de Donald Trump teve um impacto marcante nos mercados nesta quarta-feira. As ações subiram amplamente em todos os setores, com o índice Dow Jones Industrial Average, que reúne as blue chips, registrando um aumento de mais de 1.500 pontos, ou 3,6%. Esse foi o maior ganho pós-eleitoral para o Dow desde novembro de 1896.

Essa reação reflete uma verdadeira comemoração dos investidores, que veem na nova presidência do republicano uma oportunidade de estímulo ao mundo corporativo por meio de cortes de impostos e desregulamentação, fatores que tendem a impulsionar a atividade econômica.

A economia foi, de fato, um tema central nesta eleição, com mais de 70% dos eleitores demonstrando insatisfação com o direcionamento atual, em grande parte devido ao legado de um ciclo de inflação elevada. Seja como for, o S&P 500, o Nasdaq Composite e o próprio Dow Jones encerraram o dia em novos recordes históricos, refletindo um otimismo crescente com os futuros novos estímulos à economia. Ainda é incerto, porém, se essa euforia resultará em expectativas mais firmes de inflação, o que poderia, por sua vez, alterar o curso do atual ciclo de cortes de juros.

Falando nisso, o Federal Reserve deve anunciar hoje um corte de 25 pontos-base nas taxas de juros, levando-as para o intervalo de 4,50% a 4,75%. Embora o mercado projete mais cinco cortes de 25 pontos-base até o final de 2025, o rendimento dos títulos de 10 anos subiu de 3,62% para 4,38% desde meados de setembro. Com Trump na presidência, é provável que esse ciclo de flexibilização monetária seja mais breve do que inicialmente esperado.

· 02:38 — Avaliando algumas ideias de Trump

A política de “América em Primeiro Lugar” de Donald Trump, reafirmada com seu retorno à Casa Branca, deve impulsionar o crescimento nominal da economia americana por meio de uma estratégia que combina cortes de impostos e desregulamentação.

Resumidamente, a vitória de Trump e o provável controle republicano do Senado e, possivelmente, da Câmara, deverá fazer com que grande parte do plano tributário, cujo prazo se encerra em 2025, seja prorrogado. Adicionalmente, a agenda de desregulamentação, com foco nos setores bancário e de combustíveis fósseis, tende a impulsionar o crescimento econômico e a aumentar a confiança das pequenas empresas, minimizando impactos negativos das tarifas.

Falando nas tarifas de importação, a implementação dessas medidas pode pressionar os preços e reaquecer a inflação, embora o impacto exato dessas políticas ainda seja incerto. É provável que essas tarifas sejam usadas como uma estratégia de negociação para promover a compra de produtos americanos.

De qualquer forma, novas pressões inflacionárias devem levar o Federal Reserve a interromper o atual ciclo de cortes de juros, mantendo-os em torno de 4%. Mesmo assim, ainda pode haver um pouco mais de flexibilização no curto prazo. Para os mercados, portanto, este ambiente parece favorável para as ações americanas, sustentado por expectativas de crescimento econômico robusto e fortalecimento dos lucros corporativos.

· 03:28 — Precisamos voltar 100 anos para ver algo do tipo

O mundo se prepara para o que pode ser a maior onda de aumento de tarifas de importação nos EUA desde a década de 1930. Em vista disso, um recente artigo do National Bureau of Economic Research se tornou uma leitura interessante.

O estudo analisa um período na história americana caracterizado tanto por uma alta proteção comercial quanto por uma rápida expansão industrial, com tarifas médias em torno de 35% — significativamente superiores à taxa de 20% proposta por Trump. A principal conclusão do estudo é que tarifas elevadas tendem a limitar o crescimento da produtividade, introduzindo distorções no ambiente econômico.

Ao mesmo tempo, em setores com baixos custos para iniciar um negócio, essa proteção adicional incentivou o surgimento de mais empresas e trabalhadores, o que favorece o “reshoring” — a prática de trazer operações de volta ao país. Contudo, a produtividade, essencial para melhorar os padrões de vida ao longo do tempo, pode permanecer estagnada.

Assim, embora o aumento de empregos seja positivo, muitos desses postos são de baixa remuneração, um resultado longe do ideal. Em síntese, os efeitos das tarifas agressivas prometidas por Trump ainda são incertos, e o mercado observa essa possibilidade com apreensão. 

· 04:15 — A reação chinesa

O superávit comercial da China em outubro trouxe uma surpresa positiva, totalizando US$ 78,5 bilhões e superando as expectativas dos analistas, que estimavam um saldo de US$ 76,8 bilhões. Este resultado ocorreu apesar de um crescimento de 5,1% nas exportações, ligeiramente abaixo da previsão de 5,9%.

O cenário se desenrola enquanto o governo chinês avalia novos estímulos econômicos, respondendo ao ambiente global transformado pela reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos. Há sinais claros de que as autoridades chinesas observam de perto as movimentações de Trump, especialmente considerando a possibilidade de uma retomada da guerra comercial, com impactos potencialmente severos sobre a segunda maior economia mundial. Trump já ameaçou implementar tarifas de até 60% sobre produtos chineses, o que poderia comprometer fortemente o comércio entre as duas nações.

Mesmo diante desses riscos, a China parece mais bem preparada para enfrentar um novo mandato de Trump. Embora os esforços dos EUA para conter o avanço tecnológico chinês tenham tido algum êxito, a China ainda mantém liderança em áreas críticas, incluindo a indústria de veículos elétricos, onde se destaca como líder mundial.

Além disso, Pequim tem buscado fortalecer laços diplomáticos com países com os quais teve atritos recentes, uma estratégia que atua como seguro diante da possibilidade de uma nova escalada de tensões com os Estados Unidos. Em termos de resposta, a China também possui opções para retaliar as tarifas americanas, incluindo possíveis tarifas sobre produtos agrícolas dos EUA — uma ação que poderia favorecer exportadores brasileiros — ou até mesmo restrições à exportação de insumos essenciais para os Estados Unidos. Dessa forma, a próxima fase da guerra comercial tem tudo para ser ainda mais complexa e distinta da anterior.

· 05:06 — Forte resultado

A Petrobras (PETR4) divulgará seus resultados esta noite, atraindo grande atenção do mercado devido ao peso que a empresa exerce no índice e seu papel central na economia. Minha expectativa é de que os números possam superar as projeções de consenso.

Até o momento, a temporada de resultados tem sido positiva, com destaque para o Itaú, que apresentou os resultados do terceiro trimestre esta semana, em linha…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.