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Selic a 12,25%, inflação nos EUA e taxa de juros na Zona do Euro: confira os principais destaques do mercado hoje (12)

Os dados de inflação no Brasil. Estados Unidos e Zona do Euro movimentam o mercado internacional nesta quinta-feira (12).

Por Matheus Spiess

12 dez 2024, 08:47 - atualizado em 12 dez 2024, 08:47

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Imagem: iStock/ Polinmr

Após o dado de inflação nos Estados Unidos dominar as atenções ontem (11), o foco dos investidores hoje (12) se volta para a política monetária na Zona do Euro. O Banco Central Europeu (BCE) deve anunciar uma redução de 25 pontos-base nas taxas de juros, marcando mais um passo no ciclo de flexibilização. Detalhes adicionais sobre a estratégia para os próximos meses serão apresentados na coletiva da presidente Christine Lagarde, que acompanhará a decisão.

É esperado que Lagarde adote uma postura mais flexível, destacando o compromisso do BCE em sustentar a economia europeia, que enfrenta uma combinação de fragilidade econômica e incertezas políticas. Aliás, no âmbito político, a França permanece sob os holofotes, com o presidente Emmanuel Macron devendo anunciar hoje o nome do novo primeiro-ministro, que terá a missão de formar um governo e reiniciar o processo orçamentário, após a queda de Michel Barnier na semana passada. 

Enquanto a Europa avança em direção à flexibilização monetária, o Brasil segue na direção oposta. Na noite de ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic em 100 pontos-base, reforçando um discurso conservador. Essa decisão contrasta fortemente com as políticas de afrouxamento observadas em outras partes do mundo e reflete o cenário doméstico de desancoragem das expectativas inflacionárias, impulsionado pela ausência de uma âncora fiscal clara e confiável. O mercado brasileiro agora deverá digerir os impactos dessa alta expressiva nos juros, que busca restaurar a credibilidade dos fundamentos macroeconômicos locais em meio a um ambiente de elevada volatilidade.

O contraste entre o Brasil e a Zona do Euro evidencia a divergência de prioridades: enquanto a Europa tenta reviver o crescimento econômico em um cenário de estagnação (ou até estagflação), o Brasil se concentra em conter os riscos inflacionários decorrentes da falta de previsibilidade fiscal. 

· 00:53 — Reancorando as expectativas no porrete

A elevação da Selic em 100 pontos-base, levando-a de 11,25% para 12,25% ao ano, veio acompanhada de um comunicado firme e conservador, sinalizando a continuidade de um ciclo agressivo de aperto monetário. O Banco Central indicou mais duas altas consecutivas de 100 pontos-base nas próximas reuniões de 2025, já sob o comando de Gabriel Galípolo, o que levará a taxa para pelo menos 14,25% ao ano — uma decisão que coincidirá com o período do Carnaval, quase um símbolo de “brasilidade” do nosso BC. Essa postura está em linha com o que a curva de juros já antecipava e com o que, em minha visão, era o caminho mais correto. Ainda assim, confesso ter sido surpreendido pela intensidade da decisão. O BC optou por um porrete monetário certeiro para reancorar as expectativas inflacionárias — e acertou em cheio.

Além da alta na Selic, o Banco Central anunciou dois leilões de linha no câmbio, totalizando até US$ 4 bilhões. Embora tais operações sejam comuns nesta época do ano, seu impacto sobre os ativos será amplificado neste contexto. Espera-se que a pressão sobre o câmbio seja aliviada de forma significativa. O real, que já havia recuado para abaixo de R$ 6,00 ontem, poderá ganhar força adicional e romper para níveis abaixo de R$ 5,90 ainda hoje, em um movimento de recuperação expressiva.

O tom hawkish da autoridade monetária veio no momento certo, reafirmando o compromisso do Banco Central com sua independência e o combate à inflação. Esse posicionamento é especialmente relevante em um ambiente doméstico que vinha sendo profundamente contaminado por pessimismo desde o anúncio mal conduzido do pacote fiscal de contenção de crescimento dos gastos públicos.

Embora a decisão de política monetária não represente necessariamente o fim do ciclo de altas, ela estabelece um patamar mínimo de 14,25% para a Selic. Até a conclusão desse ciclo, uma série de fatores poderá alterar o cenário: a aprovação do pacote fiscal, possíveis medidas complementares, novos dados econômicos e os movimentos de outras autoridades monetárias globais. A Selic pode ir além dos 14,25%, mas dificilmente alcançará o nível de estresse precificado pela curva, que já deve começar a reverter parcialmente hoje, favorecida por movimentos de cobertura de posições vendidas.

É inevitável que surjam ruídos políticos, mas a postura técnica e ortodoxa do Banco Central já foi claramente estabelecida. Esse movimento não apenas deverá frear a escalada de pessimismo que pairava sobre os mercados domésticos, mas também abre espaço para um possível rali de fim de ano nos ativos brasileiros. Trata-se de uma excelente notícia que, ao menos no curto prazo, alivia a percepção de risco e oferece um horizonte mais construtivo para o cenário local.

· 01:42 — Agenda em Brasília e o Efeito Biden

Quem acredita que a política monetária será capaz de resolver, sozinha, todos os desafios econômicos do Brasil comete um equívoco. O pacote de contenção do crescimento dos gastos públicos, ainda que limitado em sua eficácia, precisa ser aprovado com urgência, e medidas adicionais serão fundamentais para melhorar o cenário fiscal. De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, uma semana seria suficiente para que o pacote passe tanto pela Câmara quanto pelo Senado, graças ao avanço nas articulações políticas. Há, inclusive, especulações de que o Congresso possa estender seus trabalhos até os feriados de fim de ano, entre os dias 24 e 31 de dezembro, embora isso ainda precise ser confirmado.

Outros temas relevantes, como a regulamentação da reforma tributária e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025, também parecem avançar. Esse movimento coordenado traz sinais positivos para o ambiente doméstico, aliviando a pressão sobre a curva de juros e fortalecendo o real, que ontem já recuou para abaixo de R$ 6,00.

No entanto, uma outra notícia ganhou destaque no mercado: o novo procedimento cirúrgico ao qual o presidente Lula foi submetido para evitar novos sangramentos no cérebro. Comentei sobre esse assunto na segunda-feira (9), e ele voltou a repercutir com sinais preocupantes sobre a saúde do presidente. A análise do mercado, por sua vez, é pragmática. Lula, que completará 80 anos em 2025, enfrentará crescentes desafios para buscar a reeleição em 2026. Se reeleito, terminaria um eventual quarto mandato aos 85 anos, um cenário complicado para qualquer líder político, sobretudo considerando os delicados procedimentos médicos recentes. É um simples fato.

É prudente refletir sobre a possibilidade de Lula não se candidatar à reeleição, independentemente de juízos morais, mantendo, evidentemente, meus votos de plena recuperação ao presidente. O exemplo americano, com o presidente Biden, ressalta a complexidade de situações semelhantes. Esse “Efeito Biden” é uma variável que o mercado não pode ignorar. Caso Lula não dispute em 2026, a ala política associada a menor disciplina fiscal pode perder força, aumentando a probabilidade de uma agenda econômica mais pró-mercado ganhar espaço. É uma análise bem sóbria e que altera, mesmo que de forma sutil, a distribuição de probabilidades dos cenários futuros.

Essa possibilidade, ainda que pequena, está mais forte do que antes, e seu impacto no valor presente das expectativas teve reflexos imediatos sobre os ativos de risco. São sempre cenários e probabilidades associadas. A velocidade do movimento, aliás, sinaliza cobertura de posições vendidas. Esses efeitos devem ser amplificados pela decisão do BC anunciada ontem (11), que reforçou o compromisso com uma postura técnica e independente, trazendo um tom mais ortodoxo ao cenário doméstico.

· 02:35 — Dentro do controle

Nos Estados Unidos, o mercado de ações continuou apresentando um desempenho impressionante ontem, com o índice Nasdaq fechando pela primeira vez acima da marca histórica de 20 mil pontos. Para colocar isso em perspectiva, faz menos de cinco anos que o índice de tecnologia ultrapassou os 10 mil pontos, no verão de 2020. Esse avanço espetacular ilustra algo que tenho destacado repetidamente: o excepcionalismo americano é um fenômeno real e tangível.

O dia também foi marcado por recordes históricos para a maioria das ações do grupo conhecido como Magnificent 7. Entre elas, Alphabet (GOGL34), Tesla (TSLA34), Amazon (AMZO34), Meta Platforms (M1TA34) e Apple (AAPL34) estabeleceram novos patamares de fechamento. Um destaque especial vai para o Google, cujas ações subiram mais de 5% após o lançamento do Gemini 2.0, reforçando sua posição de liderança no setor de inteligência artificial. Enquanto isso, a Tesla continuou a impressionar, fazendo de Elon Musk a primeira pessoa a atingir um patrimônio superior a US$ 400 bilhões.

Esse entusiasmo no mercado foi alimentado por um relatório de inflação que, embora não tenha surpreendido, trouxe progressos animadores em sua análise detalhada. O índice de preços ao consumidor (CPI) registrou alta de 0,3% em novembro, como esperado, levando o acumulado de 12 meses para 2,7%. O núcleo da inflação, no entanto, permanece acima de 3% na comparação anual, refletindo as dificuldades persistentes em lidar com a chamada “última milha” da desinflação, dominada por componentes inerciais, como os serviços.

Apesar desses desafios, o número divulgado não deve impedir o Federal Reserve de implementar um corte de 25 pontos-base na sua taxa de juros na próxima semana. Existe, entretanto, a possibilidade de o Fed pausar esse ciclo inicial de cortes em janeiro, optando por esperar dados adicionais para avaliar a trajetória econômica. Na agenda de hoje, teremos a divulgação da inflação ao produtor, que deve ter impacto mais limitado nos mercados, dado seu papel secundário nas decisões monetárias.

·03:24 — Vem corte de juros aí

Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) deve anunciar hoje uma redução de 25 pontos-base em sua principal taxa de juros de curto prazo, levando-a para 3%. Este será o quarto corte realizado pela autoridade monetária neste ano, em um movimento que reflete a necessidade de flexibilização em resposta ao frágil cenário econômico do bloco. Vale lembrar que os juros começaram o ano em 4%, o nível mais alto já registrado na história do euro, tornando este ciclo particularmente marcante. A trajetória projetada pelo BCE sugere que o ciclo de cortes continuará até 2025, com a taxa atingindo 2%, considerando reduções programadas em todas as reuniões até pelo menos março. O foco do mercado, no entanto, está voltado para a coletiva de imprensa da presidente Christine Lagarde, que deverá fornecer mais clareza sobre as perspectivas econômicas e a estratégia futura do banco.

Lagarde provavelmente destacará os avanços na contenção da inflação, que começa a retornar a níveis mais próximos da meta, e a realidade de um crescimento econômico modesto na Zona do Euro. Este ambiente oferece espaço para cortes adicionais até que a taxa de juros alcance um nível considerado neutro, que equilibre crescimento e inflação sem estímulo excessivo. Caso esse cenário se concretize, o BCE se tornará o primeiro banco central entre as economias desenvolvidas a adotar abertamente essa postura de normalização monetária, o que pode inaugurar uma nova dinâmica econômica para o próximo ano.

· 04:11 — Posição delicada

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus Aliados (OPEP+) revisou para baixo, pelo quinto mês consecutivo, suas previsões de crescimento da demanda global por petróleo para este ano e para 2024. A revisão, a mais significativa até agora para o próximo ano, ocorreu após a decisão do grupo de estender suas restrições de oferta, refletindo preocupações persistentes sobre a fragilidade do mercado.

No relatório mensal mais recente, a OPEP+ reduziu a projeção de aumento no consumo global de petróleo em 2024 em 210 mil barris por dia, situando o crescimento estimado em 1,6 milhão de barris diários. Desde julho, as projeções foram revisadas para baixo em 27%, evidenciando uma percepção mais cautelosa e tardia da deterioração das condições do mercado.

Essa redução nas expectativas ressalta a crescente preocupação do cartel com o enfraquecimento da demanda global, impulsionado por fatores como desaceleração econômica em mercados-chave (preços mais fracos) e incertezas geopolíticas. Nesse contexto, a decisão de adiar qualquer retomada significativa na produção parece ser uma resposta estratégica, destinada a equilibrar o mercado e sustentar os preços em um ambiente de consumo menos robusto.

· 05:06 — Lembrete importante!

Com o final do ano se aproximando, é momento oportuno para revisitar uma estratégia recorrente, mas extremamente eficaz, no planejamento financeiro. Assim como fiz no ano passado, reforço a importância de considerar uma aplicação em previdência complementar no modelo PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) para quem possui renda tributável. Investir até 12% dessa renda no PGBL proporciona um diferimento tributário que pode fazer uma diferença significativa no longo prazo, constituindo uma decisão simples e eficaz para a construção de patrimônio…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.