Após o dado de inflação nos Estados Unidos dominar as atenções ontem (11), o foco dos investidores hoje (12) se volta para a política monetária na Zona do Euro. O Banco Central Europeu (BCE) deve anunciar uma redução de 25 pontos-base nas taxas de juros, marcando mais um passo no ciclo de flexibilização. Detalhes adicionais sobre a estratégia para os próximos meses serão apresentados na coletiva da presidente Christine Lagarde, que acompanhará a decisão.
É esperado que Lagarde adote uma postura mais flexível, destacando o compromisso do BCE em sustentar a economia europeia, que enfrenta uma combinação de fragilidade econômica e incertezas políticas. Aliás, no âmbito político, a França permanece sob os holofotes, com o presidente Emmanuel Macron devendo anunciar hoje o nome do novo primeiro-ministro, que terá a missão de formar um governo e reiniciar o processo orçamentário, após a queda de Michel Barnier na semana passada.
Enquanto a Europa avança em direção à flexibilização monetária, o Brasil segue na direção oposta. Na noite de ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic em 100 pontos-base, reforçando um discurso conservador. Essa decisão contrasta fortemente com as políticas de afrouxamento observadas em outras partes do mundo e reflete o cenário doméstico de desancoragem das expectativas inflacionárias, impulsionado pela ausência de uma âncora fiscal clara e confiável. O mercado brasileiro agora deverá digerir os impactos dessa alta expressiva nos juros, que busca restaurar a credibilidade dos fundamentos macroeconômicos locais em meio a um ambiente de elevada volatilidade.
O contraste entre o Brasil e a Zona do Euro evidencia a divergência de prioridades: enquanto a Europa tenta reviver o crescimento econômico em um cenário de estagnação (ou até estagflação), o Brasil se concentra em conter os riscos inflacionários decorrentes da falta de previsibilidade fiscal.
· 00:53 — Reancorando as expectativas no porrete
A elevação da Selic em 100 pontos-base, levando-a de 11,25% para 12,25% ao ano, veio acompanhada de um comunicado firme e conservador, sinalizando a continuidade de um ciclo agressivo de aperto monetário. O Banco Central indicou mais duas altas consecutivas de 100 pontos-base nas próximas reuniões de 2025, já sob o comando de Gabriel Galípolo, o que levará a taxa para pelo menos 14,25% ao ano — uma decisão que coincidirá com o período do Carnaval, quase um símbolo de “brasilidade” do nosso BC. Essa postura está em linha com o que a curva de juros já antecipava e com o que, em minha visão, era o caminho mais correto. Ainda assim, confesso ter sido surpreendido pela intensidade da decisão. O BC optou por um porrete monetário certeiro para reancorar as expectativas inflacionárias — e acertou em cheio.
Além da alta na Selic, o Banco Central anunciou dois leilões de linha no câmbio, totalizando até US$ 4 bilhões. Embora tais operações sejam comuns nesta época do ano, seu impacto sobre os ativos será amplificado neste contexto. Espera-se que a pressão sobre o câmbio seja aliviada de forma significativa. O real, que já havia recuado para abaixo de R$ 6,00 ontem, poderá ganhar força adicional e romper para níveis abaixo de R$ 5,90 ainda hoje, em um movimento de recuperação expressiva.
O tom hawkish da autoridade monetária veio no momento certo, reafirmando o compromisso do Banco Central com sua independência e o combate à inflação. Esse posicionamento é especialmente relevante em um ambiente doméstico que vinha sendo profundamente contaminado por pessimismo desde o anúncio mal conduzido do pacote fiscal de contenção de crescimento dos gastos públicos.
Embora a decisão de política monetária não represente necessariamente o fim do ciclo de altas, ela estabelece um patamar mínimo de 14,25% para a Selic. Até a conclusão desse ciclo, uma série de fatores poderá alterar o cenário: a aprovação do pacote fiscal, possíveis medidas complementares, novos dados econômicos e os movimentos de outras autoridades monetárias globais. A Selic pode ir além dos 14,25%, mas dificilmente alcançará o nível de estresse precificado pela curva, que já deve começar a reverter parcialmente hoje, favorecida por movimentos de cobertura de posições vendidas.
É inevitável que surjam ruídos políticos, mas a postura técnica e ortodoxa do Banco Central já foi claramente estabelecida. Esse movimento não apenas deverá frear a escalada de pessimismo que pairava sobre os mercados domésticos, mas também abre espaço para um possível rali de fim de ano nos ativos brasileiros. Trata-se de uma excelente notícia que, ao menos no curto prazo, alivia a percepção de risco e oferece um horizonte mais construtivo para o cenário local.
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· 01:42 — Agenda em Brasília e o Efeito Biden
Quem acredita que a política monetária será capaz de resolver, sozinha, todos os desafios econômicos do Brasil comete um equívoco. O pacote de contenção do crescimento dos gastos públicos, ainda que limitado em sua eficácia, precisa ser aprovado com urgência, e medidas adicionais serão fundamentais para melhorar o cenário fiscal. De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, uma semana seria suficiente para que o pacote passe tanto pela Câmara quanto pelo Senado, graças ao avanço nas articulações políticas. Há, inclusive, especulações de que o Congresso possa estender seus trabalhos até os feriados de fim de ano, entre os dias 24 e 31 de dezembro, embora isso ainda precise ser confirmado.
Outros temas relevantes, como a regulamentação da reforma tributária e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025, também parecem avançar. Esse movimento coordenado traz sinais positivos para o ambiente doméstico, aliviando a pressão sobre a curva de juros e fortalecendo o real, que ontem já recuou para abaixo de R$ 6,00.
No entanto, uma outra notícia ganhou destaque no mercado: o novo procedimento cirúrgico ao qual o presidente Lula foi submetido para evitar novos sangramentos no cérebro. Comentei sobre esse assunto na segunda-feira (9), e ele voltou a repercutir com sinais preocupantes sobre a saúde do presidente. A análise do mercado, por sua vez, é pragmática. Lula, que completará 80 anos em 2025, enfrentará crescentes desafios para buscar a reeleição em 2026. Se reeleito, terminaria um eventual quarto mandato aos 85 anos, um cenário complicado para qualquer líder político, sobretudo considerando os delicados procedimentos médicos recentes. É um simples fato.
É prudente refletir sobre a possibilidade de Lula não se candidatar à reeleição, independentemente de juízos morais, mantendo, evidentemente, meus votos de plena recuperação ao presidente. O exemplo americano, com o presidente Biden, ressalta a complexidade de situações semelhantes. Esse “Efeito Biden” é uma variável que o mercado não pode ignorar. Caso Lula não dispute em 2026, a ala política associada a menor disciplina fiscal pode perder força, aumentando a probabilidade de uma agenda econômica mais pró-mercado ganhar espaço. É uma análise bem sóbria e que altera, mesmo que de forma sutil, a distribuição de probabilidades dos cenários futuros.
Essa possibilidade, ainda que pequena, está mais forte do que antes, e seu impacto no valor presente das expectativas teve reflexos imediatos sobre os ativos de risco. São sempre cenários e probabilidades associadas. A velocidade do movimento, aliás, sinaliza cobertura de posições vendidas. Esses efeitos devem ser amplificados pela decisão do BC anunciada ontem (11), que reforçou o compromisso com uma postura técnica e independente, trazendo um tom mais ortodoxo ao cenário doméstico.
· 02:35 — Dentro do controle
Nos Estados Unidos, o mercado de ações continuou apresentando um desempenho impressionante ontem, com o índice Nasdaq fechando pela primeira vez acima da marca histórica de 20 mil pontos. Para colocar isso em perspectiva, faz menos de cinco anos que o índice de tecnologia ultrapassou os 10 mil pontos, no verão de 2020. Esse avanço espetacular ilustra algo que tenho destacado repetidamente: o excepcionalismo americano é um fenômeno real e tangível.
O dia também foi marcado por recordes históricos para a maioria das ações do grupo conhecido como Magnificent 7. Entre elas, Alphabet (GOGL34), Tesla (TSLA34), Amazon (AMZO34), Meta Platforms (M1TA34) e Apple (AAPL34) estabeleceram novos patamares de fechamento. Um destaque especial vai para o Google, cujas ações subiram mais de 5% após o lançamento do Gemini 2.0, reforçando sua posição de liderança no setor de inteligência artificial. Enquanto isso, a Tesla continuou a impressionar, fazendo de Elon Musk a primeira pessoa a atingir um patrimônio superior a US$ 400 bilhões.
Esse entusiasmo no mercado foi alimentado por um relatório de inflação que, embora não tenha surpreendido, trouxe progressos animadores em sua análise detalhada. O índice de preços ao consumidor (CPI) registrou alta de 0,3% em novembro, como esperado, levando o acumulado de 12 meses para 2,7%. O núcleo da inflação, no entanto, permanece acima de 3% na comparação anual, refletindo as dificuldades persistentes em lidar com a chamada “última milha” da desinflação, dominada por componentes inerciais, como os serviços.
Apesar desses desafios, o número divulgado não deve impedir o Federal Reserve de implementar um corte de 25 pontos-base na sua taxa de juros na próxima semana. Existe, entretanto, a possibilidade de o Fed pausar esse ciclo inicial de cortes em janeiro, optando por esperar dados adicionais para avaliar a trajetória econômica. Na agenda de hoje, teremos a divulgação da inflação ao produtor, que deve ter impacto mais limitado nos mercados, dado seu papel secundário nas decisões monetárias.
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·03:24 — Vem corte de juros aí
Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) deve anunciar hoje uma redução de 25 pontos-base em sua principal taxa de juros de curto prazo, levando-a para 3%. Este será o quarto corte realizado pela autoridade monetária neste ano, em um movimento que reflete a necessidade de flexibilização em resposta ao frágil cenário econômico do bloco. Vale lembrar que os juros começaram o ano em 4%, o nível mais alto já registrado na história do euro, tornando este ciclo particularmente marcante. A trajetória projetada pelo BCE sugere que o ciclo de cortes continuará até 2025, com a taxa atingindo 2%, considerando reduções programadas em todas as reuniões até pelo menos março. O foco do mercado, no entanto, está voltado para a coletiva de imprensa da presidente Christine Lagarde, que deverá fornecer mais clareza sobre as perspectivas econômicas e a estratégia futura do banco.
Lagarde provavelmente destacará os avanços na contenção da inflação, que começa a retornar a níveis mais próximos da meta, e a realidade de um crescimento econômico modesto na Zona do Euro. Este ambiente oferece espaço para cortes adicionais até que a taxa de juros alcance um nível considerado neutro, que equilibre crescimento e inflação sem estímulo excessivo. Caso esse cenário se concretize, o BCE se tornará o primeiro banco central entre as economias desenvolvidas a adotar abertamente essa postura de normalização monetária, o que pode inaugurar uma nova dinâmica econômica para o próximo ano.
· 04:11 — Posição delicada
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus Aliados (OPEP+) revisou para baixo, pelo quinto mês consecutivo, suas previsões de crescimento da demanda global por petróleo para este ano e para 2024. A revisão, a mais significativa até agora para o próximo ano, ocorreu após a decisão do grupo de estender suas restrições de oferta, refletindo preocupações persistentes sobre a fragilidade do mercado.
No relatório mensal mais recente, a OPEP+ reduziu a projeção de aumento no consumo global de petróleo em 2024 em 210 mil barris por dia, situando o crescimento estimado em 1,6 milhão de barris diários. Desde julho, as projeções foram revisadas para baixo em 27%, evidenciando uma percepção mais cautelosa e tardia da deterioração das condições do mercado.
Essa redução nas expectativas ressalta a crescente preocupação do cartel com o enfraquecimento da demanda global, impulsionado por fatores como desaceleração econômica em mercados-chave (preços mais fracos) e incertezas geopolíticas. Nesse contexto, a decisão de adiar qualquer retomada significativa na produção parece ser uma resposta estratégica, destinada a equilibrar o mercado e sustentar os preços em um ambiente de consumo menos robusto.
· 05:06 — Lembrete importante!
Com o final do ano se aproximando, é momento oportuno para revisitar uma estratégia recorrente, mas extremamente eficaz, no planejamento financeiro. Assim como fiz no ano passado, reforço a importância de considerar uma aplicação em previdência complementar no modelo PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) para quem possui renda tributável. Investir até 12% dessa renda no PGBL proporciona um diferimento tributário que pode fazer uma diferença significativa no longo prazo, constituindo uma decisão simples e eficaz para a construção de patrimônio…