Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados da Ásia e do Pacífico fecharam mistos nesta segunda-feira, com os reguladores dos EUA anunciando planos para apoiar os depositantes e as instituições financeiras associadas ao Silicon Valley Bank, visando conter mais riscos sistêmicos. Estamos falando da maior quebra de banco dos EUA em quase 15 anos; por isso, um efeito cascata em todo o mundo gera preocupação.
Entretanto, as quedas foram relativamente moderadas por causa das garantias das autoridades americanas de que os choques financeiros seriam mitigados. Ainda assim, devemos ver na semana mais drama sobre o colapso do SVB Financial Group. Viveremos, portanto, em compasso de espera para a reunião do Federal Reserve na semana que vem. Até lá, vale prestar atenção na inflação americana amanhã.
O problema é que não teremos paz no Brasil também. Aguardamos pela apresentação formal da nova regra fiscal, igualmente em compasso de espera pela nossa reunião de política monetária, que acontecerá apenas entre os dias 21 e 22 de março. Enquanto esperamos, teremos que conviver com todos esses riscos em todo lugar ao mesmo tempo, dos EUA até o continente asiático, da Europa aos países emergentes.
A ver…
· 00:45 — Sinuca de bico
No Brasil, o maior interesse dos investidores fica por conta do novo arcabouço fiscal que Haddad preparou. Em entrevista na sexta-feira à noite, o ministro se valeu de falas bem alinhadas com o discurso esperado pelo mercado. Só falta agora combinar com o Lula e com o PT. Não sabemos o formato final ainda, mas já entendemos que não falamos aqui de uma regra de dívida, mas, sim, de uma combinação entre a Lei de Responsabilidade Fiscal e o teto de gastos, buscando um texto que os combine afastando as críticas aos dois modelos de controle orçamentário.
Resta saber se o instrumento agradará o mercado, como foi prometido pela ministra do Planejamento, Simone Tebet. O problema é que, enquanto isso, a política monetária terá que enfrentar seus próprios desafios, uma vez que a inflação voltou a acelerar em fevereiro, como vimos pelo IPCA da última sexta-feira (0,84% no mês contra 0,54% em janeiro). A autoridade monetária se encontra hoje, portanto, em uma sinuca de bico, pressionado para baixar juros, mas ainda tendo dificuldades em encontrar argumentos técnicos para tal. A dificuldade se traduz em menor perspectiva para a economia.
· 01:30 — Repercutindo a falência
Nos EUA, não se fala sobre outra coisa a não ser a falência da SVB. Passaram-se 15 anos desde que o Bear Stearns chocou Wall Street e o mundo ao enfrentar uma crise de caixa que obrigou o banco a ser vendido a um preço baixíssimo. A venda para o JPMorgan, a US$ 2 por ação, aconteceu no domingo, 16 de março de 2008. Na segunda-feira, o mundo compreendia o ato de abertura da Grande Crise Financeira que abalou os mercados e ainda é sentida até os dias atuais. Com isso, o Silicon Valley Bank é a primeira instituição segurada pelo Federal Deposit Insurance Corp, ou FDIC, a falir desde 2020 e o maior banco falido desde a crise financeira.
O problema decorre do aumento das taxas de juros. Os bancos estão sobrecarregados com títulos mais antigos e de menor rendimento que perderam valor repentinamente. Ninguém quer uma carteira de títulos com rendimento de 1,5% quando o mercado atual está vendendo títulos do Tesouro de 6 meses com rendimento acima de 5%. O SVB pegou os depósitos de seus clientes e os usou para comprar esses títulos de baixo rendimento. Na semana passada, foi forçado a vender os títulos com prejuízo, provocando a queda das ações. A partir daí, o pânico cresceu após o pânico, culminando na falência do banco.
O medo de contágio e uma corrida aos bancos à moda antiga fizeram com que as ações de outros bancos regionais também caíssem. De qualquer forma, embora as ações do setor bancário certamente permaneçam em foco na segunda-feira, a atenção dos investidores se voltará para a inflação na terça-feira, os EUA devem divulgar o índice de preços ao consumidor de fevereiro — devemos ter uma desaceleração de 6,4% em janeiro para 6%. Adicionalmente, na sexta-feira, a Universidade de Michigan divulgará seu índice de sentimento do consumidor para março. Quaisquer surpresas podem afetar a decisão do Fed na semana que vem.
· 02:47 — Alternativas
Não estamos em 2007 ou 2008. Não há bolha de crédito alimentando a economia. No entanto, o fraco poder de negociação salarial tornou os consumidores, especialmente os de baixa renda, mais dependentes do crédito. Em outras palavras, a situação de juros mais elevados pode já ser sentida por entre os consumidores — aliás, a incerteza em torno das condições de empréstimo pode levar à especulação de que o Fed possa interromper seu aperto de política.
Visando impedir uma escalada das tensões, a autoridade monetária americana anunciou planos para lidar com a quebra do Silicon Valley Bank. Todos os clientes do SVB terão acesso a todo o dinheiro de seus depósitos a partir de hoje, sendo que o Fed ainda disponibilizará financiamento adicional a instituições depositárias qualificadas, garantindo que ele garantiu que estaria preparado para lidar com qualquer pressão de liquidez que surgir. A ideia aqui é evitar o surgimento de um risco sistêmico.
· 03:24 — Que comece o jogo
No final de semana passada, o presidente Xi Jinping, da China, iniciou oficialmente um histórico terceiro mandato de cinco anos como presidente do país, no que parece ser um momento desafiador para a segunda maior economia do mundo. Xi, que chegou ao poder em 2013, deve se tornar o chefe de Estado mais antigo da China desde 1949, depois que sua reeleição foi confirmada no Congresso Nacional do Povo em Pequim (a China votou para remover o limite de dois mandatos em 2018).
Depois de descartar sua estratégia zero-Covid, a China está em meio a uma recuperação. No entanto, dados recentes lançam dúvidas sobre o ritmo dessa recuperação. As importações caíram em janeiro e fevereiro, apesar de um pico esperado de reabertura, enquanto a inflação desacelerou para a mínima em um ano. Para piorar, a modesta meta de crescimento econômico de Pequim de 5% este ano é a menor em décadas. Os próximos anos não serão fáceis para Xi.
· 04:02 — Horário de funcionamento
Vale registrar que os EUA iniciaram o horário de verão no domingo, alterando os horários dos mercados a partir desta segunda-feira. O Canadá acompanhou o vizinho, adiantando seus relógios em uma hora. Com isso, os mercados de Nova York passam a operar das 10h30 (de Brasília) às 17h00, enquanto os contratos futuros de petróleo passam a ter fechamento às 15h30.
Na Comex, onde temos a negociação de outras commodities, notadamente os metais, como cobre e ouro, as negociações encerram entre 14h e 14h30, a depender da matéria-prima — relevante para o Brasil, sensível aos preços internacionais das commodities. Por aqui, também haverá mudança de horário, acompanhando a liquidez dos mercados internacionais. O horário de abertura será mantido às 10h, mas o fechamento acompanha os EUA e vai para às 17h, ao invés de 18h.
Um abraço,
Matheus Spiess