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Mercado em 5 minutos

Sinais de alívio em todo o mundo

“Lá fora, as ações da Ásia e do Pacífico encerraram o pregão em alta nesta terça-feira (4), acompanhando as movimentações predominantemente positivas no Ocidente […]”.

Por Matheus Spiess

04 out 2022, 09:46 - atualizado em 04 out 2022, 09:47

Momento de alívio
Fonte: Free Pik
Bom dia, pessoal. 

Lá fora, as ações da Ásia e do Pacífico encerraram o pregão em alta nesta terça-feira (4), acompanhando as movimentações predominantemente positivas no Ocidente. Adicionalmente, os investidores repercutem três movimentações na região: i) a inflação de preços ao consumidor japonês em setembro, que sobe 2,8% na comparação anual (a mais alta desde 2014); ii) a alta na Bolsa da Indonésia, impulsionada pelo fluxo de investimento estrangeiro e pelos preços mais altos das commodities; e iii) a alta em 25 pontos-base da taxa de juros na Austrália, para 2,60% ao ano, abaixo do esperado. 

Na Europa, também vemos forte alta nos principais mercados do continente, acompanhados pela alta dos futuros americanos. O bom presságio neste início de dia pode ser invertido ao longo do pregão, claro, mas pelo menos começamos bem a terça-feira. O Brasil pode continuar a surfar o mesmo otimismo que impulsionou os ativos por aqui na segunda-feira (3), sendo que as ADRs brasileiras listadas em NY já começam o dia em alta. As sinalizações, pelo menos por enquanto, são boas. 

A ver… 
00:43 — E a euforia pode continuar
Por aqui, no Brasil, o otimismo internacional neste início de semana permite que possamos digerir bem o resultado eleitoral do primeiro turno, que animou bastante os investidores, não pela questão presidencial, mas, sim, pela composição do Congresso. Como antecipamos por aqui, a decisão em segundo turno depois da eleição de uma legislatura de centro e de direita serviria de gatilho para os ativos de risco. 

A virada de Bolsonaro, ainda que pouco provável, está na mesa, o que indicaria mais quatro anos de um governo alinhado com ideias mercadológicas, privatizações e mais reformas. Para tal, a campanha do presidente irá focar nos votos de Zema, em MG, de Cláudio Castro, no RJ, e nos espólios de outros candidatos no primeiro turno (dedicação para ganhos no Nordeste e manutenção no Sudeste).  

Enquanto isso, a vitória de Lula, visto como favorito, não seria mais a do “cheque em branco”, forçando o ex-presidente a se afastar das alas mais radicais do PT e convergir para o centro. Os esforços estarão depositados em manter a votação no Nordeste e ganhar espaço no Sudeste, se valendo dos espólios dos demais candidatos derrotados e negociando o apoio de partidos como o PDT, de Ciro Gomes, o MDB, de Simone Tebet, o União Brasil e o PSDB. 

Devemos continuar surfando otimismo por aqui, no aguardo das primeiras pesquisas (que erraram feio no primeiro-turno em vários aspectos e precisam se redimir com o eleitorado) e da materialização da conversão ao centro dos candidatos, em busca dos eleitores mais centristas e pragmáticos. O mercado deverá seguir festejando até o segundo turno, com algumas correções pontuais (árvores não crescem até o céu). 
 01:49 — O bom andar da carruagem
Ontem (3), nos Estados Unidos, um rali tomou conta das bolsas em Wall Street, com os investidores voltando a apostar em uma movimentação mais leve sobre os juros, em linha com o que aconteceu posteriormente na Austrália. O S&P 500, por exemplo, avançou 2,6% no dia, em sua melhor sessão desde o final de julho 

A semana é relevante para essa tese, uma vez que contém os dados de emprego de setembro. Números abaixo do esperado podem reforçar essa tese, enquanto dados fortes podem voltar a fazer as Bolsas caírem. Por enquanto, o movimento tem sido positivo, mas tudo pode mudar durante o pregão, como muito bem sabemos. 

Ao longo de hoje, os dados de vagas de emprego (JOLTS) e o número de pedidos de fábrica serão devidamente avaliados. Pelo menos quatro membros do Federal Reserve (Fed boys) falam com o mercado, podendo dar sinais duros sobre a condução da política monetária. Depois de três trimestres avassaladores, em que os principais índices americanos caíram mais de 20%, uma recuperação é esperada. 
 02:49 — Inflação e recuos
Na Zona do Euro, os investidores digerem os dados de inflação de preços ao produtor de agosto, que não só acelerou para 43,3% na comparação anual (de 38% em julho), como também superou as expectativas dos investidores (mediana apontava para 43,1% de avanço em um ano) — no mês, subiu 5%. Apesar da surpresa, as bolsas sobem por lá. Como sabemos, os dados permanecem à mercê dos preços da energia. Será importante ouvir o que Christine Lagarde tem a dizer sobre isso em evento hoje. 

Enquanto isso, no Reino Unido, os mercados reagem bem ao recuo do governo ao plano mirabolante de Liz Truss — com menos de um mês do cargo, mais da metade dos britânicos acha que sua nova primeira-ministra deveria renunciar. Durante o final de semana, o chanceler do Tesouro, Kwasi Kwarteng, informou que o governo não estaria prosseguindo com a abolição da alíquota de 45% do imposto. O movimento é bom para o mercado, mas evidencia o desgaste político britânico. Começam a estipular que o Reino Unido pode estar caminhando para seus últimos anos de Partido Conservador depois de mais de uma década. 
 03:16 — Mais sobre o petróleo
Os preços do petróleo voltaram a se fortalecer hoje, com o Brent flertando com os US$ 90 por barril. Os preços do petróleo sobem diante das expectativas de corte de produção da reunião da Opep+ na reunião marcada para amanhã — um corte de mais de um milhão de barris por dia é esperado. 

O desejo do grupo liderado pela Arábia Saudita por preços elevados não é surpresa após a reunião do mês passado, quando foi anunciado o corte da produção de petróleo em 100 mil barris por dia. A medida seria uma progressão natural por parte da Opep+ para impedir volatilidade nos preços. 

Com isso, não é difícil ver como o petróleo poderia voltar para US$ 100 por barril, mesmo com a economia enfraquecida — a oferta falaria mais alto. Nitidamente, o movimento é benéfico para petroleiras, como a Petrobras, que devem ganhar com o movimento internacional de preços. 
04:02 — O problema da água 
O mundo precisa desesperadamente de água. A seca e o aumento das temperaturas ameaçam afetar quase todos os principais setores da economia, da energia à agricultura. A Europa está sofrendo a pior seca que já se viu em pelo menos 500 anos. Os rios europeus atingiram níveis mínimos de água, interferindo na produção agrícola e de energia, bem como no transporte — o Rio Reno caiu tão baixo que o transporte teve que ser severamente reduzido, causando problemas de abastecimento na Suíça e na Alemanha. Ao mesmo tempo, espera-se que os rendimentos das principais culturas caiam em pelo menos 10% a 20% devido às restrições hídricas. 

Mas não é só a Europa que passa por dificuldades. A seca também envolve o sudoeste dos Estados Unidos, que passa pelo seu período mais seco da história moderna — os rendimentos agrícolas podem cair até um terço este ano em comparação com o ano passado por causa da seca e do calor extremo. As secas, que antes ocorriam apenas uma vez a cada 10 anos, agora estão acontecendo cerca de 1,7 vezes por década, em média. Se o problema continuar, caminhamos para uma ocorrência de 2,5 vezes por década, o que vai trazer problemas alimentares graves para o mundo. 

O estresse nos orçamentos públicos tornará difícil para os governos de todo o mundo resolverem por conta própria os problemas de acesso à água e secas. Por isso, as empresas de capital aberto são cada vez mais propensas a fazer parte da solução, com oportunidades de crescimento — à medida que essas demandas por água potável aumentam, as empresas envolvidas em atividades de negócios relacionadas à água devem crescer nos próximos anos (hoje, a indústria global de água vale cerca de US$ 480 bilhões). Foi pensando nisso que desenvolvemos o Vitreo Água, justamente para ganhar exposição a essa tese. 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.