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Tarifas de Trump começam a valer e BCE deve cortar juros novamente: veja os destaques da semana após o recesso de Carnaval

O Ibovespa acumulou uma leve alta na quart-afeira (5), na volta do feriado de Carnaval. Fique por dentro dos últimos destaques do mercado.

Por Matheus Spiess

06 mar 2025, 09:27 - atualizado em 06 mar 2025, 09:32

11 magníficas empresas europeias

Imagem: iStock/Dmytro Varavin

Estamos de volta após o recesso de Carnaval. O pregão de ontem (5) foi encurtado, mas pelo menos serviu para um necessário catch-up dos dias em que o mercado brasileiro ficou paralisado. Enquanto isso, no cenário externo, o clima segue carregado, com as tarifas de Trump começando a valer, embora algumas exceções tenham sido anunciadas de última hora. Olhando adiante, estamos apenas no início do mandato, então podem se preparar para mais volatilidade — algo que já era previsível.

Além da guerra comercial, as bolsas europeias operam com tom negativo, à espera de mais um corte de juros pelo Banco Central Europeu (BCE). A autoridade monetária já reduziu as taxas cinco vezes desde junho do ano passado e deve afrouxar ainda mais a política monetária, levando a taxa para 2,5% ao ano. Por lá, o setor de defesa segue sendo um dos destaques positivos, impulsionado pela crescente percepção de que a Europa não pode mais contar com os EUA como um aliado confiável na OTAN.

Já na Ásia, o mercado teve um dia positivo, refletindo a decisão de Trump de adiar por um mês a aplicação das tarifas sobre a importação de veículos. Porém, nos EUA, os futuros amanhecem no vermelho, pressionados não apenas pela incerteza política que ronda a Casa Branca, mas também pelo ressurgimento dos temores de recessão. A incerteza beneficiou o real, além de reduzir parte do prêmio na curva de juros.

· 00:56 — Conseguiu piorar?

A quarta-feira (5) de catch-up no Brasil foi marcada por uma leve alta do Ibovespa, contida pelo tombo de Petrobras (PETR4), que acompanhou a queda do petróleo no mercado internacional. Pelo menos o dólar recuou para a faixa de R$ 5,75 e os juros também cederam um pouco. Mas não se iluda: a trégua é temporária. Depois de um janeiro positivo, fevereiro veio para lembrar ao investidor que o risco segue alto e a incerteza política continua sendo um peso relevante no mercado local.

Agora, com o Carnaval oficialmente encerrado, Brasília finalmente começa a funcionar – ao menos no papel. E a primeira grande novidade não poderia ser pior: Gleisi Hoffmann foi nomeada para a Secretaria de Relações Institucionais, substituindo Alexandre Padilha, que voltará para o Ministério da Saúde (sua posse, porém, só acontecerá em 10 de março). A sinalização é péssima. Lula postergou a reforma ministerial o quanto pôde e, quando decidiu agir, as mudanças foram irrelevantes ou francamente desastrosas. Este é um caso clássico do segundo tipo. Gleisi é mal vista pelo Congresso e tende a aumentar ainda mais o atrito com os parlamentares.

O presidente continua parecendo desconectado da realidade e do ajuste fiscal necessário. Em vez de compor um governo minimamente pragmático, ele prefere se cercar de aliados leais, ainda que ineficazes. Outro exemplo desse impulso é a possibilidade de trazer Guilherme Boulos para um cargo no Palácio do Planalto – um movimento que, além de ruim para o mercado, beira o mau gosto político. Se a intenção é recuperar a popularidade perdida, a estratégia não poderia ser mais equivocada. Pior ainda: esse jogo de lealdades e improvisos tende a minar o já frágil Fernando Haddad, cada vez mais desautorizado dentro do governo. Ele sumiu, não?

O único aspecto positivo desse descompasso é que, se o governo continuar nesse ritmo, as chances de uma mudança de pêndulo político em 2026 aumentam a cada dia. O problema é que há muito tempo até lá, e o governo segue apostando em medidas heterodoxas e paliativas para conter problemas estruturais. O foco atual? Amenizar a alta dos preços, com o Planalto pressionando empresas a reduzirem os valores dos alimentos e publicando decretos para evitar o reajuste de 5,99% na tarifa de Itaipu. Nada que ataque as raízes do problema. A solução? Para este governo, parece que não existe. Para o país, o cenário só se complica até a eleição de 2026.

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· 01:41 — Clima tenso

Nos EUA, o discurso de Donald Trump ao Congresso foi uma extensão de seus comícios de campanha: cheio de slogans, promessas e, claro, a típica retórica protecionista. Entre as declarações, o presidente sugeriu que as tarifas comerciais poderiam causar “pequenas perturbações”, mas garantiu que isso “não seria um problema”. Só que a realidade dos mercados e da economia real não costuma se dobrar à bravata política. A incerteza pode ser um método de gestão para Trump, mas também tem custos reais. Afinal, as empresas não tomam decisões de investimento no escuro e as famílias ajustam sua poupança baseadas em expectativas futuras.

E o que acontece quando essas expectativas são corroídas por ruídos e imprevisibilidade? Exatamente o que estamos vendo: a estimativa do Federal Reserve Bank de Atlanta para o PIB do primeiro trimestre desabou mais uma vez, agora prevendo uma contração de 2,8%. Para colocar em perspectiva, há menos de duas semanas, essa mesma projeção indicava crescimento de 2,3%. A reversão de expectativas é brutal – e, como esperado, os temores de recessão voltam ao radar.

O mercado agora aguarda a divulgação do payroll amanhã, um dado que poderá fornecer um termômetro mais preciso sobre a direção real da economia americana. Se o mercado de trabalho vier mais fraco do que o esperado, o discurso de “pequenas perturbações” poderá ganhar contornos mais dramáticos.

· 02:38 — Começou a valer

Os choques tarifários de Donald Trump continuam a remodelar o comércio global – e a volatilidade virou rotina. A partir de hoje (6), entram em vigor tarifas de 25% sobre importações do Canadá e do México, enquanto as taxas sobre produtos chineses foram elevadas em mais 20%. Vale lembrar que esses três países não são parceiros comerciais quaisquer: juntos, representaram mais de 40% das importações e exportações dos EUA no ano passado. Como esperado, as represálias vieram rápido. A China anunciou tarifas extras de 10% a 15% sobre determinados produtos americanos e expandiu controles de exportação contra os EUA. O Canadá reagiu com tarifas imediatas de 25% sobre US$ 20 bilhões em produtos americanos, com a promessa de ampliar as sanções para um volume total de US$ 86 bilhões caso as medidas de Trump persistam por mais de 21 dias. Já o México, embora ainda não tenha divulgado detalhes, deve anunciar sua retaliação ao longo do dia.

No meio desse caos tarifário, um detalhe de última hora: o setor automobilístico ganhou uma trégua de um mês, mas a mensagem foi clara – essa exceção pode evaporar a qualquer momento. E não para por aí. Trump ainda reforçou que suas “tarifas recíprocas” começarão a valer no próximo mês, ajustadas caso a caso, dependendo do que outros países impõem sobre os produtos americanos. O Brasil pode entrar nessa conta – e, como sempre, de última hora. Antes que essas tarifas entrem em cena, porém, há um outro golpe no radar: a imposição de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio. O impacto potencial sobre o Brasil é claro, já que, no ano passado, os EUA importaram 5,6 milhões de toneladas de placas de aço – sendo 3,4 milhões apenas do Brasil. Em meio a esse cenário, o vice-presidente Geraldo Alckmin se reúne hoje com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, para tentar negociar uma saída para o Brasil, possivelmente um retorno ao antigo modelo tarifário. A questão é: Trump quer negociar, ou apenas subir o tom? A dúvida tem um preço no mercado.

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· 03:25 — Lambança geopolítica

A reunião de sexta-feira (28 de fevereiro) na Casa Branca, que deveria ser um encontro diplomático entre Donald Trump, JD Vance e Volodymyr Zelensky, acabou se transformando em um verdadeiro confronto – e um desastre para a Ucrânia e os aliados da OTAN. Depois de três anos de apoio bipartidário à resistência ucraniana contra a invasão russa, a política externa dos EUA mudou de rumo abruptamente. Trump agora abandona qualquer pretensão de apoio direto à Ucrânia, declarando-se “neutro” e “do lado da paz” – um discurso que, na prática, desmantela a estratégia americana dos últimos anos.

A mudança pode até trazer algum resultado, mas não virá sem custos. Como retaliação à postura ucraniana, Trump simplesmente congelou bilhões de dólares em assistência militar que haviam sido alocados pelo governo Biden – um claro sinal de pressão para que Zelensky ceda. E funcionou. O líder ucraniano já dá sinais de recuo, e os caminhos para um cessar-fogo começam a tomar forma, cedo ou tarde. O que está em jogo, porém, vai muito além da guerra em si. O mundo do pós-Guerra Fria está sendo oficialmente redesenhado. Não vivemos mais sob o mesmo equilíbrio de forças que guiou a política internacional nas últimas décadas. Se antes os EUA eram o grande fiador da ordem ocidental, agora Trump reescreve as regras – e, no processo, transforma a guerra da Ucrânia em uma moeda de troca em seu jogo geopolítico.

· 04:12 — Manteve a meta

Apesar da escalada na guerra comercial com os EUA, Pequim não se desviou de sua meta de crescimento econômico e manteve o objetivo de cerca de 5% para 2025. Para atingir esse número, o governo chinês reforçou sua cartilha de estímulos, apostando em uma política fiscal ainda mais agressiva. Tradução: mais endividamento, mais dinheiro injetado na economia e uma tentativa explícita de garantir liquidez.

A meta de déficit/PIB foi elevada para cerca de 4%, um aumento de 1 ponto percentual em relação ao ano passado. O arsenal de medidas inclui a emissão de títulos especiais do Tesouro ultralongos e títulos de propósito específico de governos locais, além de títulos especiais do Tesouro para reforçar a capitalização de bancos estatais de grande porte. No total, o governo chinês planeja levantar impressionantes US$ 1,63 trilhão em nova dívida, garantindo uma onda expressiva de gastos ao longo do ano.

Além disso, Pequim pretende acelerar a alocação de fundos para governos locais, garantindo que o dinheiro entre na economia real o quanto antes. O impacto? A injeção de liquidez pode beneficiar mercados emergentes, especialmente o Brasil.

· 05:04 — A reserva vem, afinal?

Donald Trump finalmente deu mais clareza sobre sua reserva estratégica de criptomoedas, confirmando que seu governo está avançando com a iniciativa e que o estoque incluirá bitcoin, ethereum e tokens menores, como solana e cardano. O anúncio desencadeou uma onda de euforia no mercado, impulsionando o bitcoin de volta para acima de US$ 90.000 e fazendo com que altcoins disparassem…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.