
Imagem: iStock/Dmytro Varavin
Estamos de volta após o recesso de Carnaval. O pregão de ontem (5) foi encurtado, mas pelo menos serviu para um necessário catch-up dos dias em que o mercado brasileiro ficou paralisado. Enquanto isso, no cenário externo, o clima segue carregado, com as tarifas de Trump começando a valer, embora algumas exceções tenham sido anunciadas de última hora. Olhando adiante, estamos apenas no início do mandato, então podem se preparar para mais volatilidade — algo que já era previsível.
Além da guerra comercial, as bolsas europeias operam com tom negativo, à espera de mais um corte de juros pelo Banco Central Europeu (BCE). A autoridade monetária já reduziu as taxas cinco vezes desde junho do ano passado e deve afrouxar ainda mais a política monetária, levando a taxa para 2,5% ao ano. Por lá, o setor de defesa segue sendo um dos destaques positivos, impulsionado pela crescente percepção de que a Europa não pode mais contar com os EUA como um aliado confiável na OTAN.
Já na Ásia, o mercado teve um dia positivo, refletindo a decisão de Trump de adiar por um mês a aplicação das tarifas sobre a importação de veículos. Porém, nos EUA, os futuros amanhecem no vermelho, pressionados não apenas pela incerteza política que ronda a Casa Branca, mas também pelo ressurgimento dos temores de recessão. A incerteza beneficiou o real, além de reduzir parte do prêmio na curva de juros.
· 00:56 — Conseguiu piorar?
A quarta-feira (5) de catch-up no Brasil foi marcada por uma leve alta do Ibovespa, contida pelo tombo de Petrobras (PETR4), que acompanhou a queda do petróleo no mercado internacional. Pelo menos o dólar recuou para a faixa de R$ 5,75 e os juros também cederam um pouco. Mas não se iluda: a trégua é temporária. Depois de um janeiro positivo, fevereiro veio para lembrar ao investidor que o risco segue alto e a incerteza política continua sendo um peso relevante no mercado local.
Agora, com o Carnaval oficialmente encerrado, Brasília finalmente começa a funcionar – ao menos no papel. E a primeira grande novidade não poderia ser pior: Gleisi Hoffmann foi nomeada para a Secretaria de Relações Institucionais, substituindo Alexandre Padilha, que voltará para o Ministério da Saúde (sua posse, porém, só acontecerá em 10 de março). A sinalização é péssima. Lula postergou a reforma ministerial o quanto pôde e, quando decidiu agir, as mudanças foram irrelevantes ou francamente desastrosas. Este é um caso clássico do segundo tipo. Gleisi é mal vista pelo Congresso e tende a aumentar ainda mais o atrito com os parlamentares.
O presidente continua parecendo desconectado da realidade e do ajuste fiscal necessário. Em vez de compor um governo minimamente pragmático, ele prefere se cercar de aliados leais, ainda que ineficazes. Outro exemplo desse impulso é a possibilidade de trazer Guilherme Boulos para um cargo no Palácio do Planalto – um movimento que, além de ruim para o mercado, beira o mau gosto político. Se a intenção é recuperar a popularidade perdida, a estratégia não poderia ser mais equivocada. Pior ainda: esse jogo de lealdades e improvisos tende a minar o já frágil Fernando Haddad, cada vez mais desautorizado dentro do governo. Ele sumiu, não?
O único aspecto positivo desse descompasso é que, se o governo continuar nesse ritmo, as chances de uma mudança de pêndulo político em 2026 aumentam a cada dia. O problema é que há muito tempo até lá, e o governo segue apostando em medidas heterodoxas e paliativas para conter problemas estruturais. O foco atual? Amenizar a alta dos preços, com o Planalto pressionando empresas a reduzirem os valores dos alimentos e publicando decretos para evitar o reajuste de 5,99% na tarifa de Itaipu. Nada que ataque as raízes do problema. A solução? Para este governo, parece que não existe. Para o país, o cenário só se complica até a eleição de 2026.
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· 01:41 — Clima tenso
Nos EUA, o discurso de Donald Trump ao Congresso foi uma extensão de seus comícios de campanha: cheio de slogans, promessas e, claro, a típica retórica protecionista. Entre as declarações, o presidente sugeriu que as tarifas comerciais poderiam causar “pequenas perturbações”, mas garantiu que isso “não seria um problema”. Só que a realidade dos mercados e da economia real não costuma se dobrar à bravata política. A incerteza pode ser um método de gestão para Trump, mas também tem custos reais. Afinal, as empresas não tomam decisões de investimento no escuro e as famílias ajustam sua poupança baseadas em expectativas futuras.
E o que acontece quando essas expectativas são corroídas por ruídos e imprevisibilidade? Exatamente o que estamos vendo: a estimativa do Federal Reserve Bank de Atlanta para o PIB do primeiro trimestre desabou mais uma vez, agora prevendo uma contração de 2,8%. Para colocar em perspectiva, há menos de duas semanas, essa mesma projeção indicava crescimento de 2,3%. A reversão de expectativas é brutal – e, como esperado, os temores de recessão voltam ao radar.
O mercado agora aguarda a divulgação do payroll amanhã, um dado que poderá fornecer um termômetro mais preciso sobre a direção real da economia americana. Se o mercado de trabalho vier mais fraco do que o esperado, o discurso de “pequenas perturbações” poderá ganhar contornos mais dramáticos.
· 02:38 — Começou a valer
Os choques tarifários de Donald Trump continuam a remodelar o comércio global – e a volatilidade virou rotina. A partir de hoje (6), entram em vigor tarifas de 25% sobre importações do Canadá e do México, enquanto as taxas sobre produtos chineses foram elevadas em mais 20%. Vale lembrar que esses três países não são parceiros comerciais quaisquer: juntos, representaram mais de 40% das importações e exportações dos EUA no ano passado. Como esperado, as represálias vieram rápido. A China anunciou tarifas extras de 10% a 15% sobre determinados produtos americanos e expandiu controles de exportação contra os EUA. O Canadá reagiu com tarifas imediatas de 25% sobre US$ 20 bilhões em produtos americanos, com a promessa de ampliar as sanções para um volume total de US$ 86 bilhões caso as medidas de Trump persistam por mais de 21 dias. Já o México, embora ainda não tenha divulgado detalhes, deve anunciar sua retaliação ao longo do dia.
No meio desse caos tarifário, um detalhe de última hora: o setor automobilístico ganhou uma trégua de um mês, mas a mensagem foi clara – essa exceção pode evaporar a qualquer momento. E não para por aí. Trump ainda reforçou que suas “tarifas recíprocas” começarão a valer no próximo mês, ajustadas caso a caso, dependendo do que outros países impõem sobre os produtos americanos. O Brasil pode entrar nessa conta – e, como sempre, de última hora. Antes que essas tarifas entrem em cena, porém, há um outro golpe no radar: a imposição de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio. O impacto potencial sobre o Brasil é claro, já que, no ano passado, os EUA importaram 5,6 milhões de toneladas de placas de aço – sendo 3,4 milhões apenas do Brasil. Em meio a esse cenário, o vice-presidente Geraldo Alckmin se reúne hoje com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, para tentar negociar uma saída para o Brasil, possivelmente um retorno ao antigo modelo tarifário. A questão é: Trump quer negociar, ou apenas subir o tom? A dúvida tem um preço no mercado.
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· 03:25 — Lambança geopolítica
A reunião de sexta-feira (28 de fevereiro) na Casa Branca, que deveria ser um encontro diplomático entre Donald Trump, JD Vance e Volodymyr Zelensky, acabou se transformando em um verdadeiro confronto – e um desastre para a Ucrânia e os aliados da OTAN. Depois de três anos de apoio bipartidário à resistência ucraniana contra a invasão russa, a política externa dos EUA mudou de rumo abruptamente. Trump agora abandona qualquer pretensão de apoio direto à Ucrânia, declarando-se “neutro” e “do lado da paz” – um discurso que, na prática, desmantela a estratégia americana dos últimos anos.
A mudança pode até trazer algum resultado, mas não virá sem custos. Como retaliação à postura ucraniana, Trump simplesmente congelou bilhões de dólares em assistência militar que haviam sido alocados pelo governo Biden – um claro sinal de pressão para que Zelensky ceda. E funcionou. O líder ucraniano já dá sinais de recuo, e os caminhos para um cessar-fogo começam a tomar forma, cedo ou tarde. O que está em jogo, porém, vai muito além da guerra em si. O mundo do pós-Guerra Fria está sendo oficialmente redesenhado. Não vivemos mais sob o mesmo equilíbrio de forças que guiou a política internacional nas últimas décadas. Se antes os EUA eram o grande fiador da ordem ocidental, agora Trump reescreve as regras – e, no processo, transforma a guerra da Ucrânia em uma moeda de troca em seu jogo geopolítico.
· 04:12 — Manteve a meta
Apesar da escalada na guerra comercial com os EUA, Pequim não se desviou de sua meta de crescimento econômico e manteve o objetivo de cerca de 5% para 2025. Para atingir esse número, o governo chinês reforçou sua cartilha de estímulos, apostando em uma política fiscal ainda mais agressiva. Tradução: mais endividamento, mais dinheiro injetado na economia e uma tentativa explícita de garantir liquidez.
A meta de déficit/PIB foi elevada para cerca de 4%, um aumento de 1 ponto percentual em relação ao ano passado. O arsenal de medidas inclui a emissão de títulos especiais do Tesouro ultralongos e títulos de propósito específico de governos locais, além de títulos especiais do Tesouro para reforçar a capitalização de bancos estatais de grande porte. No total, o governo chinês planeja levantar impressionantes US$ 1,63 trilhão em nova dívida, garantindo uma onda expressiva de gastos ao longo do ano.
Além disso, Pequim pretende acelerar a alocação de fundos para governos locais, garantindo que o dinheiro entre na economia real o quanto antes. O impacto? A injeção de liquidez pode beneficiar mercados emergentes, especialmente o Brasil.
· 05:04 — A reserva vem, afinal?
Donald Trump finalmente deu mais clareza sobre sua reserva estratégica de criptomoedas, confirmando que seu governo está avançando com a iniciativa e que o estoque incluirá bitcoin, ethereum e tokens menores, como solana e cardano. O anúncio desencadeou uma onda de euforia no mercado, impulsionando o bitcoin de volta para acima de US$ 90.000 e fazendo com que altcoins disparassem…