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Taxa Selic é definida nesta quarta-feira (11) e mercado aguarda índice de inflação americana: confira destaques do dia

A agenda internacional está de olho na inflação do consumidor nos EUA, enquanto o Brasil olha para a decisão do Copom sobre a Selic. Leia mais.

Por Matheus Spiess

11 dez 2024, 08:56 - atualizado em 11 dez 2024, 09:01

bolsa de valores ibovespa mercado

Imagem: iStock/ y-studio

O principal destaque da agenda internacional é a divulgação do índice de inflação ao consumidor nos EUA, que deve apontar uma aceleração em novembro. Esse dado é especialmente relevante para o contexto do ciclo de corte de juros do Federal Reserve, que já sinalizou a intenção de reduzir a taxa básica em mais 25 pontos-base na próxima semana. No entanto, o verdadeiro foco dos investidores está no cenário para 2025, tornando o índice de inflação um indicador central para as expectativas globais.

A apreensão em torno do dado influenciou o mercado nos últimos dias, com as ações americanas recuando após atingirem máximas históricas na semana passada. Nesta manhã, os futuros nos EUA mostram alta, enquanto as bolsas europeias operam de maneira mista, acompanhando a mesma dinâmica observada nos mercados asiáticos.

Na Ásia, iniciou-se a Conferência Central de Trabalho Econômico, evento que pode trazer anúncios de novos estímulos econômicos. Entre as medidas em estudo, autoridades chinesas avaliam a possibilidade de permitir o enfraquecimento do yuan em 2025, em resposta às ameaças de Trump de impor tarifas comerciais mais severas.

Enquanto isso, a crise política na Coreia do Sul se agrava, com a prisão de assessores do presidente Yoon Suk Yeol. A pressão sobre o governo aumenta, e há indicações de que o presidente poderá enfrentar uma nova votação de impeachment em breve, após ter sobrevivido à primeira. Esses eventos adicionam volatilidade ao cenário global, já sensível à evolução das políticas econômicas e monetárias nos principais mercados.

· 00:53 — A difícil decisão

No Brasil, a aguardada decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) será divulgada apenas à noite, deixando espaço para potenciais surpresas. Muitos no mercado acreditam que um aumento de 100 pontos-base na taxa Selic seria a medida mais adequada (eu, inclusive), embora a possibilidade de uma alta mais moderada, de 75 pontos-base (levando a taxa para 12% ao ano), também seja cogitada (consenso hoje). Em minha avaliação, adotar uma postura menos agressiva neste momento pode ter o efeito oposto ao desejado, relembrando o episódio de maio de 2024, quando a hesitação resultou em uma perda de credibilidade da autoridade monetária.

Existem argumentos sólidos para um aperto monetário mais contundente. As expectativas de inflação permanecem desancoradas, a curva de juros apresenta um movimento de alta acentuada, e o dólar continua cotado acima de R$ 6,00. Além disso, o IPCA de novembro registrou alta de 0,39% na comparação mensal, desacelerando frente aos 0,56% de outubro, mas superando a mediana das projeções do mercado. No acumulado do ano, o índice registra alta de 4,29%, enquanto a variação nos últimos 12 meses atingiu 4,87%, acima dos 4,76% observados no período imediatamente anterior. Com a inflação rompendo o teto da meta, um ajuste mais severo parece indispensável.

Paralelamente, o debate fiscal continua a dominar o cenário doméstico. A declaração do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, de que dará prosseguimento ao pacote de corte de gastos, condicionada à publicação de uma portaria pelo governo para destravar o pagamento das emendas parlamentares, trouxe alívio aos mercados de juros futuros ontem. Ainda assim, a batalha está longe de ser vencida. Lira reconheceu que o governo não possui, até o momento, todos os votos necessários para aprovar as medidas, mas destacou o interesse da Câmara em levar o tema à votação, possivelmente ainda nesta semana. A comunicação do governo com o mercado, entretanto, continua sendo o ponto frágil que precisa de melhorias.

· 01:46 — O que a inflação pode nos dizer sobre o ano que vem?

Nos Estados Unidos, o destaque desta quarta-feira (11) será a divulgação dos dados de inflação ao consumidor referentes a novembro, considerados o último conjunto relevante de informações antes da reunião de política monetária do Federal Reserve, marcada para os dias 17 e 18 de dezembro. O consenso do mercado aponta para mais um mês de inflação estável, com o índice de preços ao consumidor projetado para registrar uma alta de 2,7% em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto o núcleo da inflação — que exclui os componentes voláteis de alimentos e energia — deve apresentar um aumento de 3,3%. Na véspera da divulgação, os índices de ações americanas registraram queda pelo segundo dia consecutivo, refletindo a cautela dos investidores diante da relevância do dado para balizar as próximas decisões do Fed. 

Os resultados desta leitura terão peso significativo no enquadramento das discussões entre os formuladores de políticas monetárias do banco central em sua última reunião do ano. O panorama de inflação no segundo semestre de 2024 tem mostrado flutuações imprevisíveis. Isso tem levado alguns integrantes do Fed a adotar uma postura mais cautelosa em relação às perspectivas para o comportamento dos preços nos próximos meses. Ainda assim, espero que o Fed realize um corte adicional de 25 pontos na taxa de juros, o que se somaria às reduções de 75 pontos já implementadas desde setembro. 2025, no entanto, permanece incerto:  é possível que o Fed decida suspender o ciclo de cortes de juros já na primeira reunião do próximo ano, em janeiro.

· 02:32 — Mais um bloqueio

Tudo indica que o presidente Joe Biden está prestes a bloquear formalmente a venda da United States Steel para a Nippon Steel, em uma transação avaliada em US$ 14,1 bilhões, citando preocupações de segurança nacional. O Comitê de Investimento Estrangeiro nos Estados Unidos, que vem analisando a proposta de aquisição ao longo deste ano, deve encaminhar o caso para decisão final da Casa Branca ainda neste mês. Biden já expressou repetidamente sua oposição à transação.

Este movimento seria mais um capítulo em uma série recente de bloqueios do governo em relação a grandes aquisições. Por exemplo, o governo Biden recentemente argumentou que a fusão de US$ 24,6 bilhões entre Albertsons e Kroger reduziria a concorrência no setor de alimentos, resultando em preços mais altos para os consumidores americanos, especialmente em um contexto de inflação persistente — um tema central na campanha presidencial de 2024.

A postura mais rigorosa na aplicação das leis antitruste tem sido alvo de críticas crescentes, com opositores apontando que as ações do governo podem sufocar o dinamismo empresarial. A expectativa é de que essa abordagem rígida seja revertida sob a liderança de Donald Trump. Um governo Trump deve adotar uma postura mais pró-mercado e menos intervencionista, priorizando a redução de barreiras regulatórias para fomentar um ambiente de negócios mais flexível e competitivo.

· 03:29 — Sem competitividade

A Europa enfrenta atualmente um cenário desafiador, intensificado por uma nova alta nos preços da energia com a chegada do inverno. A dinâmica vem em paralelo a mais um revés estratégico da região: sua indústria de baterias não consegue competir com o domínio da China. Das 16 fábricas de baterias planejadas por empresas europeias, 11 foram adiadas ou canceladas. Em contrapartida, 10 dos 13 projetos liderados por fabricantes asiáticos seguem dentro do cronograma. Esse descompasso ameaça as ambições da Europa de se consolidar como uma potência na economia verde e de competir de maneira mais direta com a China, que lidera globalmente a produção de carros elétricos e seus componentes. Trata-se de mais um capítulo no preocupante declínio da competitividade europeia, que já vimos se aprofundar contra os EUA.

No cerne dessa questão está a necessidade de um programa comum de investimentos estratégicos, que seja capaz de financiar os pilares da produtividade e inovação no continente. A União Europeia carece de um mecanismo fiscal unificado que permita canalizar recursos para infraestrutura de inovação e tecnologias emergentes. Essa deficiência reflete uma estrutura empresarial pouco dinâmica, incapaz de promover avanços significativos em produtividade. A fragmentação política e econômica entre os membros do bloco, entretanto, torna essa possibilidade cada vez mais remota. A Europa permanece dividida em suas prioridades, dificultando a articulação de soluções que possam fazer frente aos desafios colocados por potências como os Estados Unidos e a China. Sem uma resposta coordenada e robusta, o continente corre o risco de ver sua relevância econômica e tecnológica continuar em declínio.

· 04:15 — Defesa

Um dos principais destaques da noite foi a queda do yuan, a moeda chinesa, em meio a especulações de que o governo da China estaria intensificando suas preparações para enfrentar uma possível guerra comercial, antecipando as políticas protecionistas esperadas com a posse de Donald Trump como presidente nas próximas semanas. Esse cenário foi reforçado com o início da reunião anual de planejamento econômico do país, onde as autoridades delinearão as estratégias para o próximo ano.

Os formuladores de políticas chineses têm adotado uma retórica que não era observada desde a crise financeira global, indicando a intenção de flexibilizar ainda mais a política monetária e mobilizar ferramentas fiscais para impulsionar a economia. Além disso, há discussões sobre a possibilidade de permitir uma desvalorização controlada do yuan em 2025, como parte de uma estratégia de longo prazo para mitigar os impactos das potenciais sanções comerciais e retaliações dos Estados Unidos. 

Esses movimentos sugerem que a China busca fortalecer sua economia para enfrentar com maior resiliência os desafios de uma relação comercial mais turbulenta sob a administração Trump. Ao mesmo tempo, as autoridades parecem empenhadas em equilibrar essas ações com a necessidade de manter um relacionamento bilateral funcional, essencial para as perspectivas econômicas do país. 

· 05:07 — Brilhante como ouro

O ouro tem se destacado em 2024, superando o desempenho do S&P 500 ao acumular uma valorização superior a 30%, além de registrar múltiplos recordes históricos. Este impressionante resultado segue-se a um sólido avanço de 13% em 2023, consolidando a posição do metal precioso como um dos principais ativos de refúgio em tempos de incerteza. A projeção para 2025 continua otimista, com muitos prevendo novos avanços para o ouro. A questão que surge é: seria esse cenário realmente factível?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.