Bom dia, pessoal. Lá fora, as bolsas asiáticas fecharam predominantemente em baixa nesta segunda-feira (6), seguindo os sinais amplamente negativos de Wall Street da última sexta-feira, já que a queda inesperada na taxa de desemprego nos EUA, a mais baixa desde maio de 1969, levou a novas preocupações de que o Fed dos EUA manterá as taxas de juros mais altas do que níveis atualmente esperados por muitos mais meses.
Enquanto isso, ainda na Ásia, a moeda japonesa caiu para o menor nível em quase um mês contra o dólar, digerindo o novo nome que comandará o Banco Central do Japão (BoJ) a partir de abril, quando o mandato de Haruhiko Kuroda termina. O novo mandatário será Masayoshi Amemiya, atual vice-presidente da autoridade monetária. Ainda que seja mais “hawkish” que Kuroda, o nome é diferente do que se esperava, uma vez que participou da criação dos programas de relaxamento monetário.
Os mercados europeus e os futuros americanos começam a semana em queda, com investidores repercutindo não só o relatório de emprego americano, mas também os supostos balões espiões encontrados nas Américas (um na América do Norte e outro na América do Sul) — há uma consequente elevação das tensões geopolíticas. As falas de autoridades monetárias devem roubar a cena dos próximos dias. No Brasil, ficamos com a tensão entre o poder Executivo e o Banco Central.
A ver…
· 00:54 — Lula está #chateado
Por aqui, enquanto esperamos mais detalhes sobre a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na ata do encontro, a ser divulgada amanhã (7), os investidores locais ficam atentos ao confronto contratado pelo presidente Lula com Roberto Campos Neto (presidente do BC). Haveria um descontentamento por parte do governo com o tom duro aplicado pela autoridade monetária, deixando aberta a possibilidade de queda dos juros apenas em 2024.
O problema é que Lula parece desconhecer o fato de que os atritos apenas pioram ainda mais as expectativas de inflação. Sem que haja uma devida ancoragem das expectativas, os juros não vão cair, o que prejudica a expansão do crédito e atividade econômica. O governo entende a segunda parte, mas não percebe que contribuiu negativamente para a dinâmica. Se houver uma nova âncora fiscal crível e respeito às metas de inflação, os juros podem cair com maior facilidade ainda em 2023.
· 01:30 — Forte como um touro
A economia dos EUA criou 517 mil empregos em janeiro, ultrapassando a marca tímida esperada de 190 mil postos de trabalho. A taxa de desemprego também caiu para 3,4%, seu nível mais baixo desde 1969 (esperava-se que a taxa de desemprego subisse para 3,6%). Os setores com maior geração de empregos foram lazer e hospitalidade (128 mil), serviços profissionais (82 mil) e governo (74 mil).
O relatório chocou os investidores que esperavam sinais de desaceleração da economia. Em outras palavras, o processo de desinflação pode ter começado, mas um mercado de trabalho forte pode ser preocupante para as apostas de que a inflação continue caindo rapidamente. Assim, os investidores que esperavam que o Fed cortaria as taxas no final do ano foram surpreendidos — o relatório tornou improvável que a inflação esteja em níveis baixos o suficiente para justificar cortes nas taxas.
· 02:04 — E o teto da dívida?
Ainda nos EUA, houve otimismo adicional por parte dos investidores que acompanham o dia a dia em Washington quando o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, disse que teve uma discussão muito boa com o presidente Biden sobre os gastos do governo e o teto da dívida, um dos grandes temas internacionais deste primeiro semestre de 2023.
Os democratas e os republicanos possuem perspectivas diferentes sobre a questão, mas os dois partidos não querem um calote da dívida. É possível, assim, que possam encontrar um terreno comum. Hoje, medidas extraordinárias já estão sendo empregadas pelo Tesouro, com a secretária Janet Yellen alertando para grandes consequências para a economia dos EUA se o limite da dívida não for resolvido.
· 03:10 — Dados europeus
Na Europa, as encomendas às fábricas alemãs de dezembro vieram acima do esperado — o desafio para a manufatura é que os consumidores estão correndo para consumir serviços e reduzir a compra de bens. Uma atividade robusta alivia o receio sobre a possibilidade de uma recessão mais profunda na Zona do Euro.
Adicionalmente, os dados de vendas no varejo da Zona do Euro em dezembro sinalizaram uma queda de 2,7% na comparação mensal, levemente pior que as expectativas, que projetavam 2,5% de contração. A desaceleração já era esperada, então o tom mais negativo de hoje pouco tem a ver com o dado ruim.
· 04:01 — Um certo bilionário indiano
Um caso curioso vem chamando a atenção dos mercados internacionais. O bilionário indiano Gautam Adani, que já esteve entre os cinco homens mais ricos do mundo (já foi a segunda pessoa mais rica do mundo), foi alvo de um relatório de 100 páginas o acusando de fraude e manipulação de mercado.
Adani, que cresceu na classe média, abandonou a faculdade para negociar diamantes e acabou abrindo seu próprio negócio vendendo outros produtos físicos. Durante os anos 90, suas ambições se expandiram junto com a economia indiana e agora ele dirige um conglomerado que abrange energia, infraestrutura de transporte, como portos e aeroportos, defesa e mídia.
Desde a grave denúncia pelo conhecido “short seller” (especialista em vender ações) Hindenburg Research, no dia 24 de janeiro, seus negócios perderam um valor combinado de mais de US$ 100 bilhões, e seu próprio patrimônio despencou mais de US$ 50 bilhões. Dado o vasto império de negócios de Adani e seu relacionamento íntimo com a classe de liderança da Índia, essa crise ecoou nos mercados e na política. Podemos estar diante do maior golpe da história corporativa.
Adani enfatizou que os fundamentos de sua empresa continuam muito fortes e seu balanço, saudável. Ainda assim, é possível que as acusações possam deixar uma mancha duradoura na reputação das maiores corporações da Índia e prejudicar a capacidade de crescimento das empresas indianas (choque de credibilidade).
Um abraço,
Matheus Spiess