Este relatório encerra oficialmente o ciclo de 2024. Nos próximos dias, este humilde economista, que vos escreve incansavelmente todos os dias, fará uma breve pausa para recarregar as energias e se preparar para os desafios do próximo ano.
Retornaremos no dia 6 de janeiro, na primeira segunda-feira de 2025, com nossa programação habitual, prontos para retomar as análises e reflexões matinais que já se tornaram parte do nosso cotidiano.
Enquanto nos despedimos temporariamente, gostaria de expressar meus mais sinceros agradecimentos a todos que caminharam ao meu lado em 2024.Tenho plena convicção de que, juntos, continuaremos a construir um novo ano repleto de aprendizados e diálogos enriquecedores.
Desejo a cada um de vocês um Natal repleto de paz e um Ano Novo de muita alegria.
Que 2025 traga prosperidade, saúde e realizações.
Um abraço caloroso e até breve!
Matheus Spiess
Concluímos a semana nesta sexta-feira (20) com os mercados europeus operando em baixa, pressionados pela escalada nas tensões comerciais após Donald Trump ameaçar impor tarifas caso a União Europeia não equilibre seu déficit comercial com os Estados Unidos, comprando mais petróleo e gás americanos. Com a economia da zona do euro enfrentando dificuldades para crescer, uma guerra comercial neste momento seria particularmente desgastante e agravaria a já delicada situação do bloco.
Nos Estados Unidos, os futuros de ações também registram queda nesta manhã, ainda sob o impacto do tom mais duro adotado pelo Federal Reserve em sua reunião de política monetária na quarta-feira. A sinalização de menos cortes de juros continua a gerar aversão ao risco, alimentando a cautela entre os investidores.
Na Ásia, o cenário também foi predominantemente negativo. O sentimento dos mercados foi abalado pela decisão da China, na noite de ontem, de manter suas taxas de juros inalteradas, frustrando expectativas por medidas adicionais de estímulo para impulsionar a economia. A ausência de novas iniciativas reforçou a percepção de fragilidade no crescimento chinês, impactando negativamente os ativos da região.
No radar de hoje, os destaques incluem a divulgação do índice de inflação preferido pelo Fed, o PCE de novembro, nos Estados Unidos, que poderá trazer novas pistas sobre a trajetória dos juros, e o andamento dos trabalhos no Congresso em Brasília, onde as movimentações legislativas continuam no foco do mercado, especialmente no que diz respeito às pautas fiscais e orçamentárias.
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· 00:57 — Atuação pesada
Na quinta-feira (19), o Banco Central realizou uma intervenção histórica no mercado cambial, injetando impressionantes US$ 8 bilhões no mercado à vista em uma única sessão. Este montante não apenas estabeleceu um novo recorde diário, mas também mais que dobrou a marca anterior de US$ 3,5 bilhões, registrada em 9 de março de 2020, no início da pandemia. No acumulado de dezembro, o BC já alocou US$ 13,8 bilhões, consumindo cerca de 3,5% das reservas internacionais do país.
Hoje (19), a autoridade monetária deve realizar novas intervenções, somando mais US$ 4 bilhões em leilões de linha, divididos em duas operações. Caso confirme essas operações adicionais, o volume total de dezembro chegará a US$ 27,8 bilhões, superando o recorde anterior de US$ 23,3 bilhões, também registrado em março de 2020.
O impacto imediato foi sentido no mercado de câmbio, com o dólar recuando, embora ainda permaneça acima de R$ 6,10. Contudo, é importante lembrar que a eficácia dessas intervenções é limitada. O Banco Central não pode sustentar essas operações indefinidamente, sob o risco de comprometer as reservas internacionais, que funcionam como uma espécie de seguro. Por isso, o foco volta a Brasília, onde o cenário fiscal precisa urgentemente de avanços concretos para aliviar a pressão.
Neste contexto, a atenção se volta para a votação no Senado, prevista para a manhã de hoje, do projeto de lei que altera as regras do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e estabelece limites para o reajuste do salário mínimo. Apesar de algumas aprovações importantes no Congresso ao longo da semana, o pacote fiscal segue enfraquecido. Originalmente, a Fazenda estimava uma contenção de crescimento dos gastos na ordem de R$ 70 bilhões — um número que já parecia otimista demais (a realidade deveria estar entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões). Agora, com as mudanças promovidas pelo Legislativo, as projeções precisarão ser revisadas.
Vale destacar que a fraqueza do pacote fiscal atual não é o ponto final da história. O governo já sinalizou que apresentará novas medidas no início do próximo ano, possivelmente acompanhadas de uma Reforma Ministerial. Até lá, entretanto, o ambiente fiscal permanece incerto, contribuindo para a deterioração do cenário econômico e mantendo o mercado em um estado de alerta. Sem avanços significativos e robustos, o fiscal continuará à deriva, alimentando a volatilidade e minando a confiança do mercado.
· 01:43 — Excepcional
Nos Estados Unidos, a curva de juros apresentou uma inclinação acentuada, atingindo níveis não vistos há cerca de 30 meses. Esse movimento foi impulsionado pelo “hawkish cut” promovido pelo Federal Reserve, que cortou a taxa básica de juros, mas indicou um ritmo mais lento de novas reduções no próximo ano. A reação do mercado reflete a crescente aversão dos investidores em manter títulos do Tesouro com prazos mais longos, diante de uma inflação persistente e uma economia muito forte.
Essa resiliência foi confirmada pela revisão final do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) real dos Estados Unidos no terceiro trimestre. A taxa anualizada ajustada pela inflação foi revisada para 3,1%, acima da estimativa anterior. O resultado superou as expectativas e foi impulsionado por revisões positivas no consumo, nas exportações líquidas, nos gastos empresariais e nas despesas governamentais. Com isso, quatro dos últimos cinco trimestres registraram crescimentos reais do PIB de 3% ou mais, um desempenho realmente impressionante em meio a um cenário global de incertezas.
Hoje, o mercado volta suas atenções hoje para a divulgação do índice de preços das despesas de consumo pessoal (PCE) referente a novembro, um indicador-chave para medir as pressões inflacionárias nos EUA. Caso o número venha acima do esperado, reforçará a percepção de que o Federal Reserve pode optar por pausar o ciclo de cortes de juros já em janeiro, consolidando uma postura mais conservadora.
· 02:31 — Conseguiu evitar
Uma paralisação do governo dos EUA foi aparentemente evitada após Donald Trump e os republicanos da Câmara alcançarem um acordo. Inicialmente, tanto Trump quanto Elon Musk tiveram um papel relevante ao criticar e praticamente inviabilizar o plano original do presidente da Câmara, Mike Johnson, que buscava financiar as despesas até 14 de março. Embora o plano completo de Trump, que incluía a suspensão do teto da dívida, não tenha sido aprovado, uma solução intermediária que incorpora parte de suas ideias foi formalizada. Assim, o risco imediato de um shutdown foi contornado.
Entretanto, é importante observar como o risco fiscal permanece um tema evidente em várias nações ao redor do mundo, conforme temos explorado nos últimos dias. Países como França, Alemanha, Canadá, Reino Unido e Coreia do Sul estão enfrentando níveis elevados de estresse político em torno de seus orçamentos nacionais. Esse fenômeno pode ser parcialmente atribuído ao clima político polarizado que vivemos atualmente e à herança de gastos excessivos acumulados durante a pandemia. A conta, inevitavelmente, chegou.
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· 03:28 — Não foi o melhor ano
O ano de 2024 foi tudo menos tranquilo para o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. Após encerrar 2023 em grande estilo, como anfitrião da cúpula do G20, Modi iniciou o ano inaugurando um majestoso templo hindu em Ayodhya, um marco simbólico que cumpria uma antiga promessa feita à sua base nacionalista hindu. A economia indiana mostrava vigor, e as perspectivas eleitorais indicavam ganhos significativos para seu partido, o Bharatiya Janata Party (BJP).
Entretanto, a maré começou a virar. Ao longo do ano, o BJP sofreu perdas expressivas, levando Modi a buscar alianças regionais e, pela primeira vez em uma década de governo, a governar em coalizão. Essa mudança representou um desafio considerável para um líder acostumado a comandar com maioria sólida. Paralelamente, a economia indiana começou a perder força. O banco central sinalizou preocupações crescentes com a inflação, adicionando mais incertezas a um cenário já instável.
Um possível alívio veio do outro lado do mundo com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. Nova Délhi sempre viu com bons olhos a abordagem transacional e pragmática de Trump, o que poderia abrir portas para fortalecer laços bilaterais. No entanto, a aliança internacional não será suficiente para aliviar os desafios domésticos. Modi agora enfrenta o delicado ato de equilibrar sua coalizão política, enquanto se prepara para uma série de eleições regionais que testarão ainda mais sua liderança. O próximo ano promete ser o mais desafiador de sua carreira.
· 04:12 — Um sucesso
Há um ano, Javier Milei assumiu a presidência da Argentina com um plano radical e ambicioso para enfrentar os profundos problemas econômicos do país, marcados por uma inflação de três dígitos e um histórico crônico de endividamento. Sua estratégia baseava-se em uma drástica redução dos gastos públicos, acompanhada de reformas estruturais audaciosas. Felizmente, os primeiros resultados começam a aparecer.
Desde que tomou posse, Milei eliminou mais da metade dos ministérios do governo, promoveu cortes significativos nos salários do funcionalismo público, desvalorizou a moeda local e implementou restrições rigorosas ao crescimento das pensões. Essas medidas, inicialmente impopulares, visavam corrigir décadas de desequilíbrios fiscais do kirchnerismo e colocar a economia no caminho da sustentabilidade.
Agora, os dados mais recentes indicam que a terceira maior economia da América Latina começa a sair do abismo: emergiu da recessão pela primeira vez desde o terceiro trimestre de 2023. A inflação mensal, que estava em alarmantes 25% em dezembro do ano passado, caiu para apenas 2,4% no último mês. Embora o ajuste fiscal tenha elevado inicialmente a taxa de pobreza, esse indicador já mostra sinais de recuo, refletindo os efeitos positivos da estabilização econômica.
As projeções para o próximo ano são promissoras: a economia argentina deve crescer 5% em 2025, revertendo a contração de 3% registrada em 2024. Esses avanços colocam Milei em uma posição política fortalecida para as eleições de meio de mandato no ano que vem, permitindo que ele amplie sua base de apoio e ganhe fôlego para aprovar novas reformas estruturais. Se essa trajetória se mantiver, ele poderá consolidar sua posição e abrir caminho para uma eventual reeleição.
O sucesso de Milei levanta reflexões inevitáveis para o Brasil, especialmente diante do cenário político e econômico desafiador que atravessamos. Quem sabe, em 2027, com uma possível virada do pêndulo político em 2026, também não sejamos capazes de implementar reformas estruturais robustas e colher frutos semelhantes? O exemplo argentino prova que, com coragem política e determinação, mudanças transformadoras são possíveis, ainda que a custo elevado no curto prazo.
· 05:06 — Se defendendo
Mark Rutte, o recém-empossado chefe da rganização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), expressou preocupações sobre a possibilidade de uma escalada do conflito na Ucrânia para outras partes da Europa. Sua apreensão reflete o aumento da conscientização em todo o continente sobre os alegados esforços de Vladimir Putin para expandir sua influência além da guerra na Ucrânia, que já resultou na morte de dezenas de milhares de pessoas.
Embora os países da OTAN na fronteira oriental tenham alertado há anos sobre os riscos, agora as agências militares e de inteligência reconhecem o que parece ser uma campanha intensificada do Kremlin para desestabilizar a Europa.