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‘Tio Jerônimo’ fala hoje em Jackson Hole e outros destaques do mercado desta sexta-feira (23)

A aguardada fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole em Wyoming, é o destaque central para os mercados globais nesta sexta-feira (23).

Por Matheus Spiess

23 ago 2024, 09:04 - atualizado em 23 ago 2024, 09:05

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Imagem: Unsplash

A aguardada fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole em Wyoming, é o destaque central para os mercados globais nesta sexta-feira (23).

Espera-se que Powell não apenas confirme o início dos cortes de juros nos EUA em setembro, mas também forneça alguma visão sobre o caminho das taxas de juros após o primeiro corte. A apresentação de Powell ocorre após intervenções importantes, como as de Kazue Ueda, do Banco do Japão, e Andrew Bailey, do Banco da Inglaterra, durante este encontro anual.

Paralelamente, o Banco Central Europeu (BCE) deve divulgar nesta sexta-feira dados sobre as expectativas de inflação na Zona do Euro, que tradicionalmente influenciam o comportamento econômico na região.

Nesse contexto, a maioria dos mercados acionários asiáticos registrou quedas no último pregão da semana, refletindo tanto os comentários mais duros do BoJ quanto os dados mistos de inflação japonesa, enquanto as atenções se voltam para o discurso de Powell.

Na China, no entanto, as bolsas fecharam em alta, impulsionadas principalmente pelo desempenho do setor de seguros. Já na Europa e nos EUA, os índices futuros apresentaram valorização, em antecipação à fala de Powell, que poderá tanto estimular quanto conter o apetite por risco dos investidores.

Como já discutido, os ativos permanecem extremamente sensíveis às oscilações das taxas de juros nos EUA, com impacto particular no mercado brasileiro. Ontem, por exemplo, a volatilidade nos juros dos títulos do Tesouro dos EUA provocou uma realização de lucros no Brasil.

A ver…

· 00:55 — Ele não para de falar

No Brasil, após vários movimentos de alta, o principal índice de ações local recuou 0,95% ontem, fechando aos 135.173 pontos.

Esse declínio foi influenciado não apenas pela volatilidade nos mercados de juros americanos, mas também pelas repetidas declarações de Gabriel Galípolo. Como bem observou Luis Stuhlberger no evento do BTG Pactual desta semana, Galípolo tem insistido em reiterar a possibilidade de elevação dos juros a cada oportunidade. A mensagem já foi compreendida, meu caro, não há necessidade de reforçá-la em cada ida à padaria.

“Me vê alguns pãezinhos, X gramas de presunto e Y gramas de queijo, lembrando, claro, que posso subir os juros se for preciso”. O exagero tem sido tanto que há pessoas sérias considerando três aumentos de 50 pontos base.

Se já era difícil concordar com uma única alta, por mais que agora pareça inevitável, imagine concordar com algo dessa magnitude. Não, de forma alguma. Tanto que Galípolo se viu obrigado a responder às críticas, enfatizando que todas as opções estão sobre a mesa, inclusive a de não subir os juros.

A incerteza em torno da política monetária contribuiu para pressionar o dólar, que se aproximou de R$ 5,60. Esse movimento, é importante destacar, foi observado também em outros mercados emergentes, em parte devido à alta dos juros futuros nos EUA antes do discurso de Powell. No entanto, os fatores domésticos brasileiros intensificaram a pressão sobre o real. Nem mesmo os dados positivos de arrecadação conseguiram acalmar o mercado.

A Receita Federal arrecadou R$ 231 bilhões em julho, em linha com as expectativas. Em termos reais, a receita cresceu 9,5% em relação ao mesmo mês do ano anterior e 9,2% no acumulado do ano. Foi, mais uma vez, o maior resultado para o mês na série histórica, em termos reais.

Infelizmente, como já discutimos, o aumento na arrecadação por si só não é suficiente para tranquilizar o mercado, que agora anseia por medidas de contenção de gastos. Embora a receita esteja em alta, as despesas também continuam a crescer, e esse será um tema crucial para acompanharmos nas próximas semanas.

· 01:41 — Preparando o terreno

Tenho mencionado ao longo da semana como os investidores estão ansiosos pelo discurso de hoje do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Suas declarações na conferência anual do Fed em Jackson Hole, Wyoming, são esperadas para estabelecer as bases para o aguardado ciclo de cortes nas taxas de juros.

Antecipando o discurso, os rendimentos dos títulos subiram e as ações enfrentaram dificuldades, refletindo o receio dos investidores de que Powell possa esfriar as expectativas de cortes agressivos, principalmente após os dados de pedidos de seguro-desemprego mostrarem que o mercado de trabalho está desacelerando apenas gradualmente, enquanto as vendas de casas existentes subiram pela primeira vez em cinco meses, mesmo com a atividade manufatureira encolhendo no ritmo mais rápido do ano.

Em resumo, embora existam sinais de normalização econômica, o quadro é desigual, com alguns setores ainda demonstrando força. Isso sugere que Powell pode adiar qualquer esperança de um corte de 50 pontos-base. Sinceramente, prefiro minha abordagem realista: dois ou três cortes de 25 pontos até o final do ano, totalizando no máximo 75 pontos nas próximas reuniões, seria mais do que suficiente para animar os mercados.

· 02:38 — Qual o alinhamento?

Como sabemos, mais de 100 dos principais líderes econômicos do mundo estão aproveitando o ar fresco das montanhas de Wyoming. Entre as falas já realizadas, destacam-se a do presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda, que se mostrou disposto a adotar uma postura mais agressiva, mesmo reconhecendo a recente instabilidade nos mercados financeiros. Isso resultou em um fortalecimento do iene na sexta-feira, o que pode representar um desafio para o real.

Outro destaque foi Andrew Bailey, do Banco da Inglaterra, que também participou do evento e sugeriu a possibilidade de mais cortes de juros ainda este ano. Percebe-se, assim, uma aparente perda de alinhamento entre os banqueiros centrais em relação à política de juros.

Mas será que é realmente o caso? Talvez apenas na condução dos juros, pois há um movimento subjacente de sincronização entre os principais bancos centrais do mundo desenvolvido: eles estão entrando em uma nova fase de aperto quantitativo conjunto.

A decisão do Banco do Japão no mês passado de reduzir gradualmente seu portfólio de títulos indica que agora ele também está envolvido em uma contração de balanço, juntamente com o Fed, o Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra.

Quando o Fed implementou o QT pela primeira vez, em 2019, as autoridades foram pegas de surpresa por interrupções inesperadas nos mercados monetários. Embora Powell tenha afirmado que as lições foram aprendidas, não há garantias de que o processo será tranquilo, especialmente com os investidores enfrentando uma drenagem de liquidez.

· 03:22 — Desafios no agronegócio

Neste ano, as colheitas excepcionalmente abundantes, que inicialmente pareciam promissoras, estão se revelando desafiadoras. Esses desafios estão pressionando os preços para baixo e levando os agricultores a cortar custos em diversas frentes, como fertilizantes e maquinários. Nos Estados Unidos, por exemplo, é esperada uma safra recorde de milho e soja, mesmo com a demanda global em declínio.

Essa superprodução fez com que os preços futuros da soja e do milho caíssem para os níveis mais baixos desde 2020, enquanto os preços futuros do trigo atingiram o menor patamar em quatro anos no final do mês passado, com uma produção projetada para ser 9% maior do que a do ano anterior. Como consequência, estima-se que a renda dos agricultores sofra uma queda de 26% este ano, a maior desde 2006.

Para muitos, este pode ser o pior ano em três décadas, uma virada surpreendente diante do otimismo inicial com a expectativa de uma safra recorde. Agora, os produtores adotam uma postura de contenção, evitando gastos excessivos, especialmente com a compra frequente de novos equipamentos. Nos próximos meses, ajustes nos investimentos serão necessários. As consequências virão em 2025.

· 04:19 — Movimentações entre os fabricantes de medicamentos populares para perda de peso

A semana trouxe notícias mistas sobre medicamentos populares para perda de peso. A fabricante do Mounjaro, Eli Lilly, anunciou que um estudo de três anos revelou que seu medicamento diminuiu a progressão para diabetes tipo 2 em pacientes. Entre os pacientes pré-diabéticos que tomaram a dose mais alta, a perda média de peso foi de 22,9% ao longo dos três anos, enquanto aqueles que tomaram placebo perderam apenas 2,1% do peso, em média.

Além disso, outros estudos indicaram que o Mounjaro é eficaz no tratamento da insuficiência cardíaca. No entanto, há uma preocupação crescente: alguns pacientes que interromperam o uso do medicamento começaram a recuperar o peso perdido e, em alguns casos, avançaram para diabetes tipo 2, o que sugere um risco de dependência.

Paralelamente, a fabricante do Ozempic, Novo Nordisk, respondeu a um alerta sobre potenciais efeitos colaterais na saúde mental associados ao uso do medicamento. Pesquisadores identificaram um número desproporcionalmente alto de pensamentos suicidas entre pacientes que tomavam o Ozempic. É importante notar, entretanto, que as evidências dessas associações ainda são limitadas e, segundo a própria Novo Nordisk, inconclusivas.

O estudo que levanta essas preocupações apresenta limitações, incluindo dados insuficientes, mas ressalta a necessidade de cautela no uso generalizado desses medicamentos. Mesmo assim, é pouco provável que essas questões interrompam o crescimento do mercado de drogas para perda de peso.

· 05:04 — Vamos voltar ao Trump Trade?

Ontem, Kamala Harris encerrou a Convenção Democrata ao aceitar oficialmente a nomeação do partido para a presidência, fazendo história como a primeira mulher negra e asiática a liderar a chapa de um grande partido.

Em seu discurso de 45 minutos, Harris destacou sua origem de classe média e sua trajetória como promotora, argumentando que essas experiências a tornam a melhor escolha em comparação a Donald Trump para “trilhar um novo caminho” para o país.

Desde sua entrada na campanha, Harris trouxe uma nova energia à presença democrata nas eleições, e a convenção deveria funcionar como mais um impulso positivo, assim como foi para Trump.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.