Investimentos

Volatilidade no mercado chinês é foco das atenções globais e bolsas americanas sobem – confira os destaques desta quinta-feira (10)

A volatilidade voltou a dominar o mercado chinês, enquanto os investidores estão atentos à divulgação do índice de inflação ao consumidor dos EUA.

Por Matheus Spiess

10 out 2024, 09:15 - atualizado em 10 out 2024, 09:15

Bolsas americanas

Imagem: Pexels

A volatilidade voltou a dominar o mercado chinês. Os papéis oscilaram bastante ao longo do dia, mas, em sua maioria, terminaram em alta após as autoridades chinesas revelarem detalhes de uma nova ferramenta de liquidez voltada para investidores institucionais comprarem ações (medida que já havia sido anunciada no mês passado).

Ainda sobre a China, a principal autoridade econômica da Espanha destacou que a União Europeia e a China devem continuar negociando para evitar a escalada de medidas protecionistas, que podem resultar em uma situação de “perde-perde” para ambas as economias. Neste contexto, os mercados europeus começaram o dia em queda, e os futuros americanos seguem a mesma tendência.

Os investidores estão atentos à divulgação do índice de inflação ao consumidor dos EUA. Caso o dado seja mais forte do que o esperado, pode aumentar a possibilidade de manutenção das taxas de juros na reunião de novembro. No entanto, acredito que o ciclo de afrouxamento monetário deve continuar, embora de forma mais gradual, com cortes de 25 pontos-base em vez dos 50 pontos previstos anteriormente (dados em linha com as expectativas reforçariam essa tese). Outro ponto de destaque no dia é o evento da Tesla (TSLA34), no qual a empresa vai apresentar seus avanços em carros autônomos, que devem agitar o setor de tecnologia.

A ver…

· 00:51 — Se não houver ajuste, o mercado irá penalizar

No Brasil, além das incertezas sobre a recuperação econômica da China, que afetam diretamente o setor de commodities, a situação fiscal do país continua sendo uma grande preocupação. O impacto dessa questão ficou evidente nas reações do mercado ontem, com a bolsa em queda e os juros e o dólar em alta. Isso aconteceu apesar de a inflação de setembro ter subido 0,44% no mês e 4,42% no acumulado de 12 meses, ligeiramente abaixo da expectativa do mercado, que projetava um aumento de 0,45%.

Ainda com essa leve surpresa positiva, mesmo que não mude a trajetória de alta da Selic nos próximos meses, fica claro que o governo precisa priorizar urgentemente a contenção de gastos públicos, embora ainda faltem abordagens criativas para isso. No entanto, em termos de arrecadação, novas propostas continuam surgindo.

Entre elas, destaca-se a proposta recente do governo para criar um imposto mínimo direcionado a milionários, ou seja, pessoas físicas com renda anual superior a R$ 1 milhão, com alíquotas variando entre 12% e 15%. Esse novo imposto teria como objetivo financiar a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para trabalhadores que ganham até R$ 5 mil por mês, em comparação com a isenção atual que cobre rendas de até dois salários mínimos (R$ 2.824).

A proposta prevê a aplicação de uma alíquota mínima sobre a renda total do contribuinte, que deverá complementar o valor caso o imposto calculado seja maior que o pago pelo regime atual. Além disso, ela busca tributar rendas hoje isentas, como lucros e dividendos distribuídos aos acionistas, que atualmente não pagam IR no Brasil.

Essa iniciativa está em sintonia com discussões globais sobre a criação de um Imposto Mínimo Global, já prevista em uma Medida Provisória que estabelece um adicional à CSLL para multinacionais, visando garantir uma alíquota mínima de 15%. Embora a proposta avance em termos de uma tributação mais progressiva, sem cortes significativos nas despesas públicas, será insuficiente para resolver o desequilíbrio fiscal. Com o segundo turno das eleições municipais se aproximando, marcado para 27 de outubro, espera-se que a pauta legislativa em Brasília ganhe força após o pleito.

A regulamentação da reforma tributária no Senado está prevista para novembro, e as discussões sobre o tema devem começar a ganhar tração nas próximas semanas.

· 01:46 — A inflação americana

Nos Estados Unidos, com as preocupações recentes ficando para trás, o mercado de ações continua a alcançar novos patamares. O índice Dow Jones Industrial Average subiu 432 pontos, ou 1,0%, encerrando o dia com um recorde de 42.512, enquanto o S&P 500 também atingiu sua máxima histórica, com uma alta de 0,7%. À medida que os índices avançavam, o “índice do medo”, o VIX, recuou 2,6%, fechando em 20,86. Embora ainda esteja quase o dobro do nível registrado em maio, o VIX caiu por dois dias consecutivos, após uma série de aumentos significativos neste mês.

Nesta manhã, no entanto, houve um leve retorno à aversão ao risco, com os investidores aguardando a divulgação do índice de preços ao consumidor de setembro, que deve mostrar uma desaceleração no crescimento da inflação em sua medida principal. 

Agora que o Federal Reserve iniciou seu ciclo de flexibilização monetária, a relevância desses dados diminuiu um pouco para o mercado, mas ainda é um indicador importante. Um resultado mais forte do que o esperado poderia adiar um novo corte de juros em novembro, embora eu considere mais provável uma desaceleração do ritmo de afrouxamento, com cortes de 25 pontos-base a partir de novembro, em linha com o que a ata da última reunião do Fed sugeriu.

Paralelamente, o furacão Milton atingiu a costa oeste da Flórida com ventos suficientemente intensos para destruir casas, elevando o risco de inundações que ocorrem uma vez por século em alguns dos condados de crescimento mais rápido do estado. Estima-se que o furacão possa elevar o nível do oceano em até 3,7 metros na Baía de Tampa, inundando várias cidades e vilas. No entanto, o impacto econômico do furacão deverá ser limitado.

· 02:32 — Robotáxi

A Tesla está prestes a apresentar o tão aguardado “robotáxi”. No evento mais esperado da empresa em anos, o CEO Elon Musk vai revelar esta noite o protótipo de um táxi totalmente autônomo, apelidado de “Cybercab”. Musk tem apostado o futuro da Tesla na tecnologia de condução autônoma, colocando-a como prioridade acima de outras iniciativas, como o desenvolvimento de um carro elétrico mais acessível que poderia proteger a fatia dominante da empresa no mercado diante da concorrência crescente. O robotáxi, no entanto, chega com anos de atraso: em 2016, Musk havia prometido que os carros autônomos da Tesla estariam prontos em dois anos — não se concretizou.

Mesmo assim, o anúncio de hoje promete marcar o início de uma nova era no transporte, com a visão de que veículos Tesla, sem motoristas, circulem de forma autônoma, transportando passageiros e gerando renda para seus proprietários enquanto estes dormem ou trabalham. As expectativas são altas, e atender a elas exigirá mais do que promessas; serão necessários planos concretos para superar concorrentes como a Waymo, subsidiária da Alphabet (controladora do Google), que já oferece serviços de transporte sem motorista. Este evento pode se tornar um momento crucial tanto para a Tesla quanto para Musk, podendo redefinir o futuro da mobilidade.

· 03:27 — A promessa de escalada

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, conversou com o presidente dos EUA, Joe Biden, pela primeira vez em mais de um mês — os dois não se falavam desde agosto. A ligação ocorreu em meio aos esforços de Washington para moderar a resposta de Israel ao recente ataque de mísseis do Irã. Em setembro, Israel lançou uma ofensiva importante contra o Hezbollah, grupo extremista libanês apoiado pelo Irã, neutralizando grande parte de sua liderança sênior, incluindo Hassan Nasrallah.

Tanto o gabinete de Netanyahu quanto o de Biden confirmaram a ligação, que contou também com a presença da vice-presidente Kamala Harris. No entanto, a conversa aparentemente não discutiu um possível ataque israelense. Em vez disso, Biden reiterou seu forte compromisso com a segurança de Israel e condenou veementemente o ataque de mísseis balísticos iranianos ocorrido em 1º de outubro.

Ainda assim, a tensão permanece elevada. O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou que a retaliação contra o Irã será letal, precisa e, sobretudo, surpreendente. Do outro lado, o Irã prometeu uma resposta massiva, com o lançamento de milhares de mísseis, caso seja atacado. A iminente possibilidade de uma escalada militar traz sérios riscos de consequências globais desastrosas.

· 04:15 — Produtividade

A inteligência artificial já está presente no ambiente de trabalho, e seu impacto tem se tornado cada vez mais perceptível. De acordo com uma pesquisa recente, um em cada cinco trabalhadores nos EUA já utilizou o ChatGPT para suas atividades profissionais. No mês passado, a OpenAI anunciou que ultrapassou a marca de 1 milhão de usuários pagantes para suas assinaturas comerciais, como o ChatGPT Enterprise. A comunicação é um dos principais setores beneficiados pela IA, com inúmeras horas de atendimento ao cliente sendo agora geridas por chatbots. Na área financeira, analistas de mercado também estão adotando a IA para automatizar tarefas como a criação de pitch decks e o processamento de dados – até eu utilizo no meu dia a dia.

Entre aqueles que ocupam funções administrativas, a adoção da IA já chega a 75%. No entanto, 77% dos entrevistados em uma pesquisa afirmaram que a IA não aumentou significativamente sua produtividade, em parte porque as interações geradas pelas ferramentas de IA ainda precisam ser revisadas. A McKinsey já projetou que a IA poderia deslocar até 400 milhões de trabalhadores até 2030, mas nem todos compartilham dessa visão alarmista. O economista Daron Acemoglu, do MIT, por exemplo, acredita que apenas 5% dos empregos estão em risco de serem substituídos na próxima década. Parece, portanto, que a transição para uma era de automação plena pode demorar mais do que muitos inicialmente previram.

· 05:10 — Chegaram para valer?

Como falei antes, o aguardado “Robotaxi Day” finalmente chegou e pode marcar uma virada para as ações da Tesla, que já caíram mais de 40% desde sua máxima histórica. A Tesla, que outrora liderava a inovação automotiva, agora enfrenta o risco de ser vista apenas como mais uma montadora comum. Esse é o grande temor do mercado, especialmente com a crescente concorrência vinda de várias frentes: General Motors nos EUA, Volkswagen e BMW na Europa, além de BYD…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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