Mercado em 5 minutos

Volta do feriado deve ser positiva para o investidor local

“Lá fora, os mercados asiáticos fecharam predominantemente em alta nesta quinta-feira (8), repercutindo as movimentações positivas de […]”.

Por Matheus Spiess

08 set 2022, 09:40 - atualizado em 08 set 2022, 09:40

De volta ao trabalho
Fonte: Free Pik
VOLTA DO FERIADO DEVE SER POSITIVA PARA O INVESTIDOR LOCAL  
Bom dia, pessoal. 

Lá fora, os mercados asiáticos fecharam predominantemente em alta nesta quinta-feira (8), repercutindo as movimentações positivas de Wall Street durante o pregão de ontem, enquanto estivemos em feriado (as ADRs brasileiras subiram) — entre os destaques, o mercado chinês caiu, em meio aos surtos de Covid-19 e uma forte onda de calor, e o mercado japonês subiu, depois que o PIB do segundo trimestre foi revisado para cima. 

Como pano de fundo, os investidores agora sentem que as preocupações com as taxas de juros foram precificadas nos mercados, o que ainda nos parece uma conclusão um pouco afobada, considerando o contexto geral de ansiedade dos mercados. Depois da alta de ontem, os futuros americanos flertam com a estabilidade nesta manhã, enquanto os mercados europeus não conseguem sustentar um movimento uníssono. 

A ver… 
00:39 — Dia da Independência sem violência, como conversamos  
O feriado da Independência se deu sem maiores problemas, como antecipamos que aconteceria. Havia um temor exacerbado de que atos violentos poderiam tomar as ruas, o que não aconteceu. O presidente Bolsonaro mostrou o apoio de sua base e conquistou críticas por utilizar a data nacional como campanha eleitoral. Entretanto, é inegável que o presidente demonstrou a força de seu eleitorado, levando multidões às ruas. 

A nova pesquisa Datafolha, marcada para ser entregue amanhã, na sexta-feira (9), será a primeira que trará os impactos de ontem, se é que houve algum. Caso haja, deveria manter a tendência anterior, com ganhos marginais para o incumbente, consolidando o cenário de segundo turno polarizado entre Lula e Bolsonaro. Entre os dados econômicos, a deflação de agosto pelo IGP-DI é avaliada hoje. 
 01:48 — E esse tal de Livro Bege? 
O Livro Bege do Federal Reserve dos EUA, que agrupa diferentes dados econômicos das autoridades monetárias regionais americanas, relatou desaceleração, conseguindo indicar certa moderação nos preços, o que ajudou os investidores a voltarem a ficar ansiosos com um discurso menos agressivo de Powell hoje — o presidente do Fed fala hoje e deve manter o tom hawkish (contracionistas) de seus diretores. 

Além da fala de Powell, que deve seguir o tom pouco permissivo com a inflação do discurso de ontem de sua vice-presidente, Lael Brainard, os investidores contam também com dados de crédito ao consumidor, que têm sugerido descolamento adicional entre crescimento da renda e gasto do consumidor, e pedidos de auxílio desemprego. Dados bons e falas duras podem fazer com que haja realização no mercado. 
02:32 – O corte de gás para a Europa
Por meio da Gazprom, sua maior empresa de gás natural, a Rússia cortou os fluxos de gás para a Europa por meio do Nord Stream 1, usando energia como arma econômica antes do inverno. É o pior cenário para a Europa, que corre para encher as instalações de armazenamento de gás de modo a manter as casas aquecidas da temporada de frio. 

O Kremlin disse ainda que assim manterá o fluxo até que haja a suspensão das sanções econômicas impostas pelo Ocidente, em nítida relação ao plano do G7 em impor um teto de preço ao petróleo russo (avisamos que seria problemático). Um novo choque na região pode voltar a pressionar os preços da energia, gerando inflação. 

Pior que inflação sozinha, é ela com recessão. Ao eliminar o suprimento de gás da Europa, a Rússia está atacando seu coração econômico, podendo levar o continente a uma recessão completa. Ao menos os níveis de armazenamento de gás da Europa já aumentaram para além das metas, o que poderia ajudar a evitar uma catástrofe. 
03:25 — Por falar na Europa…
O assunto do dia na Europa é o anúncio de taxa de juros por parte do Banco Central Europeu (BCE), que deve elevar em 75 pontos-base a taxa de juros da Zona do Euro, para 0,75% ao ano. Como o aperto monetário não ajuda em nada a crise energética, a ideia é que o aumento da taxa crie deflação ou desinflação em outras áreas. 

Com os preços de energia subindo — o mercado espera que as contas de eletricidade na Europa tripliquem até o início do próximo ano em relação a 2021, aumentando as contas de energia em US$ 2 trilhões, ou 15% do PIB —, o BCE se encontra em uma sinuca de bico: vale a pena controlar a inflação gerando grande recessão? 

Qualquer aumento hoje faria a taxa do BCE ficar acima de zero pela primeira vez em mais de uma década, podendo também melhorar, ao menos na margem, a relação com o dólar, que vem enfraquecendo. Ao mesmo tempo, é provável que a Europa já esteja em um tipo de “recessão”, com os dados devendo se enfraquecer nos próximos meses. 
04:19 – Um olhar sobre a China
Curiosamente, a pandemia de Covid-19 ainda não acabou na China, pois a abordagem de tolerância zero do país ao vírus provocou novas quarentenas em massa. As 21 milhões de pessoas que vivem em Chengdu, uma das maiores cidades da China, foram obrigadas a ficar em casa até que um surto seja contido. 

É o mais recente golpe sobre a segunda maior economia do mundo, que já enfrentava uma saída relativamente atrasada da pandemia e um colapso do setor imobiliário. Dado o tamanho da China e a presença comercial gigantescas, isso é uma má notícia para a economia global. 

Na última década, a China foi responsável por uma parcela maior do crescimento global do que os EUA, Europa e Japão juntos, o que significa que sua dor tende a ser sentida em todas as economias ao redor do mundo. Prejudica também os preços das commodities, com os quais nós brasileiros somos bem sensíveis.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.