Mesa Pra Quatro

Fim da onda das techs? Correção nas Bolsas americanas prosseguirá, segundo Daniel Motta, gestor da BTG Asset

No episódio #36 do podcast, o gestor expõe sua visão sobre o momento das bolsas dos EUA, relações com a China, eleição para presidente e mais; veja os ativos que ele prefere no momento

Por Isabelli Neckel

25 maio 2022, 11:08 - atualizado em 02 jun 2022, 10:14

Imagem de um notebook que apresenta gráficos e números em sua tela com uma pessoa a frente segurando a nota de um dólar
Reprodução: Shutterstock

O convidado do mais recente episódio do Mesa Pra Quatro é Daniel Motta, gestor da BTG Asset com mais de 25 anos de carreira em instituições financeiras.

Ele expôs sua interpretação sobre o atual momento do mercado, comentou o fim da “farra” das empresas techs sobreavaliadas, analisou o que é bom ter na carteira para enfrentar o atual cenário e também falou sobre influência da China, eleições no Brasil e o novo normal.

O bate-papo descontraído e cheio de insights interessantes para investidores aconteceu no episódio #36 do podcast comandado por Caio Mesquita, CEO da Empiricus, Dan Stulbach, ator e apresentador, e Teco Medina, consultor financeiro.

Mercados turbulentos e panorama complexo para techs

“Não está fácil, estamos vendo uma volatilidade muito grande nos mercados e a tendência é que isso continue nos próximos meses”. É assim que Daniel Motta resume o cenário atual.

Ele explica que o que estamos vendo hoje é uma consequência do que aconteceu no passado. “A Bolsa está caindo muito agora, mas na verdade ela subiu muito nos últimos anos”, afirma. Segundo o gestor, as empresas de tecnologia foram as impulsionadoras das altas nas Bolsas no exterior nos últimos anos, sobretudo das americanas.

“Várias dessas empresas de tecnologia que não geram caixa começaram a valorizar e chegar a preços que você já começava a pensar se aqueles múltiplos faziam sentido para aquela empresa. Mas a tendência estava lá, o pessoal continuava comprando. Isso gerava um sentimento de riqueza e aí você vai comprando mais. Só que o custo de toda essa injeção de liquidez nos mercados chegou e chegou de maneira muito rápida”, resume Daniel.

Para ele, chegou um ponto em que as ações de tecnologia nos Estados Unidos eram “praticamente uma renda fixa” e não tardaria para que esse fenômeno fosse desafiado.

Onde Daniel Motta investiria agora?

Os entrevistadores do podcast perguntaram para Motta se é o momento de aumentar os investimentos feitos nos Estados Unidos. Ele responde que atualmente não aumentaria. “Estamos falando da inflação mais alta em 40 anos e do mercado de trabalho mais aquecido desde os anos 50. O Fed vai ter que fazer essa economia desacelerar. Se não, a inflação não vai cair até a meta de 2%”, diz o gestor do BTG.

Isso leva a outra questão: segurar ou vender? Daniel Motta conta que seguraria as ações de empresas que geram caixa, pois várias delas estão em níveis atrativos. Mas para ele, vale a pena ter uma posição maior em empresas mais consolidadas como a Amazon do que arriscar.

O gestor revela estar mais conservador em suas decisões atualmente. “Tivemos uma mudança muito grande nos últimos 8 meses, então, fico pensando: será que daqui a 8 meses também não estaremos em uma situação totalmente diferente? O mundo novo é esse, de ciclos mais curtos”, justifica.

Ele conta que prefere perder um pouco de movimento do mercado, “uns 5% de valorização de uma ação”, mas ter certeza de estar tomando uma decisão com mais informação e calma. Para o gestor, tanto aqui como nos EUA, não estamos em um bom estágio do ciclo para arriscar posições mais agressivas.

Vale a pena “olhar com carinho” para quais setores?

“A gente gosta de bancos, não tem jeito”, brinca Daniel Motta. Ele também se diz a favor de setores mais defensivos, mesmo que a valorização ainda tenha distorções grandes para as outras empresas.

O gestor se surpreendeu com a atividade do Brasil no primeiro trimestre. “A maioria das instituições achava que teríamos recessão esse ano, mas já está todo mundo revisando a previsão de crescimento para 1,5% e até 2%”. Para ele, se isso acontecer, o investidor deveria privilegiar setores mais sensíveis a crescimento, como o varejo.

O futuro da China (e consequentemente do Brasil)

Será que o dólar pode chegar a menos de R$ 4,50? Segundo Daniel Motta, vai depender da China, que é importantíssima para o Brasil. 

“Já vimos que quando teve, na China, a revisão de crescimento para baixo e a moeda começou a depreciar, todos os países emergentes sofreram. Eles vão tentar estimular a economia, mas não sei se vão conseguir. Enquanto continuarem com a política ‘Covid zero’, a atividade lá vai ficar fraca. E isso é muito ruim para os emergentes, porque somos parceiros. Nós, que vivemos de commodities, podemos sofrer”, analisa o gestor.

Perspectivas para as eleições 2022

Os apresentadores do podcast e o convidado da vez concordam que, desta vez, não se fala tanto sobre as eleições e seus impactos.

O gestor destaca que, conforme chegamos mais perto da eleição, vemos os discursos começando a se dividir. Ele observa que já estamos ouvindo um lado falando mais em privatização e outro menos. De acordo com Motta, independente de qual é o certo e qual é o errado, para papéis como a Petrobras, o resultado eleitoral vai fazer diferença.

Daniel Motta usa sua experiência de 23 anos em bancos estrangeiros para analisar o cenário do ano eleitoral. “O gringo adora o Lula. O cara que está comprando Petrobras acha que o Lula é pragmático. Ele já viveu a época Lula e ganhou muito dinheiro no Brasil, então eles gostam, estão otimistas. Isso tem feito diferença nos preços”.

Para ele, papéis como Petrobras e Banco do Brasil talvez sejam as grandes oportunidades chegando perto da eleição, seja para cima ou para baixo.

O novo normal

Daniel Motta finaliza falando que o novo normal para ele significa transições cada vez mais rápidas e notícias e crises com impactos menos duradouros. Consequentemente, isso começa a afetar as decisões dos investidores, então, os mercados e ciclos econômicos estão ficando cada vez mais velozes.

Ouça o podcast:

Sobre o autor

Isabelli Neckel

Jornalista e trainee na Empiricus

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